
O Cavaco sem bigode é horroroso!
Pim!
Variações sobre a imensa metafísica do azul musical
Cartaz de Tanja Ostojic, para assinalar a presidência austríaca da UE, posteriormente retirado por ordem da censura protofascista europeia.
Bom dia ano novo!
Não há meio de me refazer desta preguiça blogueira. Com tanto mundo para ver e pensar e dizer. E tanto caminho para andar...
Este ano já prometi:
hei-de matar todas as saudades que tenho e todas as que me aparecerem pela frente.
É bom colher medronhos na fonte Benémola.
Os passos sincopavam na calçada portuguesa nesse ajustamento do desencontro do comprimento das pernas. Brubeck e Desmond urdiram o TakeFive nesse andar alla turca de cinco por quatro e estiveram bem longe da metafísica reflectida nas montras pelo meio da tarde. Mãe e filha discorrem sobre a consubstanciação das estrelas sem tropeções e sem engolir a pastilha elástica.
Assim. De pequenino.
(O título é do Afonso)
("Clair de Lune" - DigitalArt por Corine Baron)
Sérgio Godinho hoje à noite no Forum Algarve
Já só me falta morrer nas punhaladas de um tango bendito em esquinas maiores.
As cinzas, já sabem, são para espalhar pelos oceanos.
A presença dos corpos perturba as conversas junto ao mar. Perturba em todos os sentidos. Perturba os sentidos.
Vou procurar outras falas.
Procurei numa agência de viagens o destino de férias Ribeira dos Milagres. Disseram-me que não existe. Mas é pena. Uma invasão de veraneantes este ano talvez mudasse aquilo que não se resolve há muitos anos. Que nenhum governo quer resolver. Nem nossa senhora de Fátima, nem o bispo de Leiria, nem o movimento pró-vida, nem o padre Borga, nem a Lili Caneças, nem o Quim Barreiros, nem o Luís Figo...
Não custa nada. À Ribeira dos Milagres vai-se pelo cheiro e pelo roncar de quatrocentos mil porcos e meia dúzia de mercedes dos reis do gado.
Boas férias.
Ma'qu'jeite!...
Levantaram-se em bandos com o estrondo, as gaivotas, ainda mal refeitas da noite mal dormida. Dizem-me que sentiram a terra tremer. Um pequeno sismo, assim como um suspiro de desalento do planeta a cismar sobre as poderosas conspirações.
E ainda há quem perca tempo em olímpicas disputas sobre qual das cidades merece o título de Capital da caca de cão!...
Se não houvesse gente a morrer à fome, a coisa até tinha piada...
Mas hoje já morreram bem mais do que cinquenta... e daqui a uns anos pouca gente se lembrará onde fica Quioto.
Olhá bolacha americana torraaaaaaaaaaada!...
Ontem acho que não choveu naqueles dez granzin di terra.
A festa foi outra.
30 anos de independência com que de bom e de mau isso tem.
Pela noite dentro, ainda vi o meu amigo Djurumani a tentar fintar o destino e a lembrar-me o canto (tude drêto, ermon?).
Um abraço aos amigos de Cabo Verde.
E no cantar da Cesária:
La na ceu bo é uma estrela
Ki cata brilha
Li na mar bô ê uma areia
Ki cata mojá
Espaiote nesse monde fora
Sô rotcha e mar
Terra pobre chei di amor
Tem morna tem coladera
Terra sabe chei de amor
Tem batuque tem funaná
Sentámo-nos ali no areal e desembrulhámos o farnel. E por causa de uma formiga começámos a falar de vida e de morte e do que aconteceria se conseguíssemos matar a morte.
Já o sol se abalançava ao mergulho poente...
- Acho que as pessoas que morrem, depois voltam a nascer.
- E porque é que não pensas que morrem umas pessoas e nascem outras?
- E tu achas que era possível estar sempre a fazer pessoas e caras diferentes? Já não haveria imaginação!...
O silêncio encheu-se completamente de metafísica misturada com maresia.
Vinte cinco anos de músicas hoje mesmo na pontinha do dia.
Parabéns Rui e... break a leg!
é uma dor pequenina
quase como se não fosse
e como uma tangerina
tem um sumo agridoce
de onde vem essa dor
se a causa não se vê
se não é por desamor
então é uma dor de quê?
não exponhas essa dor
é preciosa é só tua
não a mostres tem pudor
é o lado oculto da lua
não é vício nem costume
deve ser inquietação
não há nada que a arrume
dentro do teu coração
certo é ser dor de quem
não se dá por satisfeito
não a mates guarda bem
guardada no fundo do peito!
(A Tua Pequena Dor - Carlos Tê/Rui Veloso)
Há palavras que ficam coladas à história. Aprendi a palavra "Rumo" num panfleto clandestino a anunciar a vitória de um profético "homem novo".
Cresci a acreditar num "amanhã". Nunca entendi muito bem porque é que as utopias, sejam elas quais forem, se guardam sempre para amanhã...
Hoje não vou ao teu funeral.
Despeço-me:
Até amanhã...
Hoje é o dia nacional de Luta Contra a Dor.
O alívio da dor é um Direito Humano.
A vocação de observador da praia e do horizonte e o exercício de contador leva-me muitas vezes ao encontro com sofridos gestos espalhados pelo areal como despojos devolvidos pelo mar.
E dói-me a tua dor.
Hoje é o Dia Mundial dos Oceanos.
Foto de Valter Matos (roubada aqui)
Deve ser por isso que hoje nenhum petroleiro lava os tanques no alto mar; nenhum país deposita lixo radioactivo; nenhum arrastão anda a varrer o fundo; nenhum banhista descartou para as praias os plásticos dos seus excessos...
Hoje vou, talvez, embrulhar-me numa onda e dançar com ela.
Depois acordarei com a sensação de lhe ter jorrado sémen no seio.