23 de junho de 2008

Alma algarvia


Têm nove e dez anos. Completaram agora o primeiro ciclo da sua vida escolar e intitulam-se de finalistas. No Centro de Actividades de Tempo Livres formaram um «rancho». O «ensaiador» é um jovem Animador Sociocultural e também anima um centro de idosos. De lá trouxe um velho acordeonista e uma senhora que toca ferrinhos.

Com as tradicionais saias de barras, coletes, chapéus e lenços algarvios, mesmo que por vezes cruzados com sapatilhas allstar ou sapatos de vela, é uma delícia vê-los bailar o corridinho.
Esta manhã no Mercado Municipal

18 de junho de 2008

Fazer de conta


Tinha a cabeça cheia de números no deve e haver das quadrículas que ameaçam determinar o destino de pessoas. O meu fantasma de estimação que passa a sua eterna vida a sonhar com a libertação dos povos oprimidos e revoluções socialistas antes do pequeno almoço entretém-se a espetar alfinetes num vodu que tem a minha cara, com óculos e tudo. Cada vez que mudo um número de uma célula para outra, e ainda antes que a fórmula do excel reformule os resultados, lá vem alfinetada. Até parece que lhe oiço o riso sarcático: toma que é para não alinhares com estas políticas neoliberais!


Já não aguentava. Fiz de conta que aquelas contas não me interessavam e fui dar uma volta até à baixa a pensar que estaria muito mais feliz do outro lado do espelho. Onde as coisas são iguais ao lado de cá mas está tudo ao contrário.

Entrei na Europa-América e comprei.

É para oferecer às princesas.


Estás a ouvir a neve a bater nos vidros da janela, Kitty? Como é agradável e suave o som que faz! É como se alguém lá fora estivesse a encher a janela toda de beijos.

Lewis Carroll. Alice do outro lado do espelho.

15 de junho de 2008

€urocoisa

Maria aí ao frigorífico e traz umas minis que o jogo vai começar


Parece que a semana de trabalho pode ir até às 60 horas.
É uma decisão tomada pela maioria dos ministros do trabalho dos governos da UE que ainda falta ratificar pelo Parlamento Europeu.
Os ministros do trabalho de Portugal e Espanha estão entre os que se opuseram. Justiça lhe seja feita.
A comunicação social quase não falou disto.
Ah. A Suiça, pois...

Os flamingos

Fazer o caminho das salinas é sempre uma viagem muito maior que a distância percorrida. No exercício solitário e lento do pedalar também se sonha. E hoje sonhava assim com aquela bicicleta era viajeira e ia assim pelo mundo e transportava histórias de uns povos para os outros.
Ia nesta fantasia montado quando avisto o bando de flamingos. Tive sorte porque era hora de almoço e os bichos estavam muito entretidos com a refeição e deixaram-me aproximar mais do que é costume. Andam por ali outros pássaros que têm por missão dar o alarme quando alguém ou algo potencialmente perigoso. Desta vez bem piaram, mas os flamingos apenas levantaram a cabeça e mudaram de direcção ficando todos alinhados para o lado donde o vento sopra.
O que é surpreendente é a sincronia dos seus movimentos. Viram-se todos ao mesmo tempo sem sequer olharem uns para os outros numa coreografia ensaiada ao longo de muitos milénios. É isto que sigo conversando com a bicicleta. Até chegarmos à estrada ainda há tempo para discorrer sobre o nome desta ave que faz lembrar fogo. Chama. Flamingo é um pássaro em chamas. Já ouvi dizer que aquelas cores flamejantes resultam do limpar dos bicos sujos de marisco nas penas brancas, mas a bicicleta teima que não e afirma que aquilo é fogo mesmo. É o fogo do acasalamento.
Enfim. É melhor não a contrariar.

Fruta de um domingo a sul





Vencida a vertigem (coisa pouca) levanto-me devagar e abro as portadas e encho-me de sol, logo ali. A meus pés balouçam vinhas verdes que se misturam com goiabas.


O sol faz saltar a fruta que amadurece ao seu ritmo.
A ritmos diversos, como as pessoas.
Como eu sinto também que me amadureço a tempos diferentes. E me sinto ainda verde, em tantas coisas (e salta-me aqui na lembrança algo que li ainda criança, atribuído a Paracelso que dizia mais ou menos assim: Aqueles que pensam que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo que as cerejas é porque nada sabem das uvas) e com tanto ainda para aprender.


É claro que penso isto como uma forma de dizer a mim próprio que ainda me sinto jovem e tal. Mas, por outro lado, sem aquilo que vivi e deixei amadurecer em mim, talvez não fosse capaz de o dizer.



Na mesma árvore há fruta completamente madura e outra que lá chegará se antes não cair ao chão com uma rabanada de vento mais forte.

Quando soube que tinhas falado em domingo como fruta fora de tempo amadurecida em estufa, já tinha colhido esta manhã de domingo para trazer aqui fruta da época temprada pelo sol.









Acho que depois da próxima lua cheia podemos comer pêssegos.




13 de junho de 2008

Porra Pá


O tratado de lisboa foi assim assim mal tratado na irlanda Mas também não admira Aquela gente tirando os u2 e a guiness e o guliver parece que não tem mais nada de jeito É verdade que em menos de vinte anos atingiram um nível de desenvolvimento invejável mas isso é por serem muito católicos e serem contra o aborto Foram assim cobertos de graças divinas a que já se chama o milagre irlandês E depois parece que a maior parte não se conseguiu levantar antes das dez da noite para ir votar e mais uns quantos que levaram o dia a treinar sapateado e a beber black bush Só foram mesmo os que sairam de casa para ir à missa Para irem maltratar o tratado bem podiam ter ido antes beber uns pints Dizem eles que não iam votar uma coisa que não entendem tal como ninguém assina um documento sem o ler antes Estes irlandeses são muito tolos Se percebessem alguma coisa de política já tinha entendido que isso é o que faz a maior parte dos deputados que são porreiros votam sim sem hesitar Assim é que se trata bem o tratado

Agora dizem que está morto

Vaso de manjerico


Ocimum minimum L.


Meu amor soma vitórias,

bem melhor que a selecção.

É uma ardósia de estórias,

meu amor, minha paixão.


6 de junho de 2008

€urobola e outras manhas

Hoje visto-me de comentador desportivo. Desculpem-me a presunção com que o faço e assim me apresento, já que pouco competente sou na grande área júridica ou no meio campo da corrupção desportiva ou na defesa do tráfico de influências. Mas se começar por dizer que estou de consciência tranquila, penso garantir já uns créditos no assunto. Afinal, esta coisa da bola não sendo propriamente uma disciplina fácil e linear também não é um bicho de sete cabeças. É um assunto bem capaz de reunir na mesma discussão um arrumador de automóveis, um juíz, um cientista e vários deputados de todos os partidos da extrema esquerda à extrema esquerda, incluindo os ponta de lança.
E assim sendo, já lá vão uma data de linhas e ainda não disse nada, passemos à análise dos factos mais recentes. A selecção nacional foi primeiro para Viseu e não sei se passou por Fátima. Se não passou devia porque se essa santa foi capaz de livrar Portugal do Prestige mais facilmente soprará uma bola para dentro da baliza do inimigo, digo, adversário. E pelo que tenho observado a ajuda divina é tão importante como as tácticas. Em Viseu o povo saiu à rua e o Tony Carreira também. É o destino, dizem.
E o destino é a Suiça com bandeiras portuguesas nas janelas e sardinhas assadas com minis da Sagres. Os nosssos emigrantes que andam lá fora a ganhar a vida estão de alma e coração com a selecção. E com o Tony Carreira também.
Mas a bola não é só isto, ou não é sobretudo isto. Há um capítulo dourado e um outro final que pertencem a uma modalidade designada justiça desportiva. Há quem não entenda este aparteid judicial, mas isso é porque não vêem os telejornais. As televisões e os rádios gastam metade do seu tempo a tentar explicar estas coisas aos portugueses, todos os dias e mesmo assim há quem não entenda. Eu confesso que também resistia, mas assumo que era por puro preconceito. Agora entendo melhor porque tem que haver uma justiça desportiva, uma fiscalidade desportiva, uma ética desportiva e sobretudo uma consciência tranquila desportiva. Esta não sei muito bem o que é, mas se tanto o Valentim como Pinto como o Madaíl estão sempre a referi-la, é porque existe e é importante.
Entretanto, e seguramente para desviar as atenções do povo que está mobilizado para esta grande missão de apoiar a selecção, fazem uma manifestação contra as políticas laborais do governo que alguns teimam em afirmar que juntou quase um quarto de milhão de trabalhadores quando todos sabemos que pouco passou dos duzentos mil. Enfim, as confusões do costume.
E depois ainda são capazes de dizer que a bola é que dá discussões sem sentido.

Parece que a entrevista do Pinto da Costa teve mais audiência que a do Manel Alegre.
(Faz mais poemas ao Figo, faz!)
imagem daqui

Os preços do petróleo caem há mais de uma semana nos mercados internacionais.
A Galp aguenta-se, segura-se bem lá em cima e só se deixa escorregar meio cêntimo.

5 de junho de 2008

Teatro de roda

Parece que foi ontem. Começa assim o post do meu amigo HFR que sem ele saber me conduziu a uma viagem para trás e para a frente e a encontrar-me com amigos que fui mantendo desde aí e com outros que por motivos vários lhes fui perdendo a presença , mas não a memória.

Também eu passei pelo Teatro Laboratório de Faro. Tinha feito o primeiro curso logo em 1981/82 e era, simultaneamente "actor estagiário" na companhia. Percorremos o Algarve a fazer a "Alice no país das maravilhas" com cenários e adereços às costas desde Aljezur a Vila Real de Santo António, passando pela ilha da Culatra (muito antes de ter sido descoberta pela Olga Roriz). E quando digo, às costas, não é figura de estilo. Era mesmo a carregar. E a Isabel Pereira já tão grávida naquele verão tão quente. Depois foi o "Pic Nic" do Arrabal onde fui substituir o Zé Ananias e fazia de soldado acompanhado pelo "inimigo" Pedro Rosado visitado pelos pais Zé Louro e Isabel Pereira na frente de combate. O desempenho era seguramente melhor nos happenings que na peça, mas pronto.

No meio disto tudo lembrei-me da Veva que foi para a Comuna e depois disso só a vi uma ou duas vezes em faro e em Lisboa, assim por acaso. Lembrei-me dela, há dias também por outras conversas com a minha rapariga, sobre a Comuna e sabia que tinha feito uns coros com o José Mário Branco.
Descobri, numa rápida pesquisa que a moça anda aí com imensos projectos para crianças e não só.



Associo-me também aos parabéns pelos 25 anos do Teatro Análise da Casa da Cultura de Loulé.

Um forte abraço.