16 de dezembro de 2010

Prodígios do campus


Uma personagem levantou-se e disse. Isto é uma história.
E eu disse. Sim. É uma história.
Por isso podem ficar tranquilos nos seus postos.
A todos atribuirei os eventos previstos, sem que nada sobrevenha de definitivamente grave. Outro ainda disse. E falamos todos ao mesmo tempo.
E eu disse. Seria bom para que ficasse bem claro o desentendimento.
Mas será mais eloquente. Para os que crêm nas palavras.
Que se entenda o que cada um diz. Entrem devagar.
Enquanto um pensa, fala e se move, aguardem os outros a sua vez.
O breve tempo de uma demonstração.

Lídia Jorge - O dia dos prodígios


Foi ontem. Ou foi há trinta anos. Acabado de chegar a esta terra já tinha percorrido uma boa procura das tradições. Dos falares e cantares que em alguns sítios parecem ser uma e a mesma coisa. Das pragas dos marítimos às rezas a santa bárbara para afastar trovoadas lá para onde nem cresça ramo verde ou alma cr'stã. Das toadas do 'leva' aos romance carolígeo. Da ti' Bi' Fitas aos Velhos da Torre. Da Pinha de Maios e 'abarcas' às charolas. Dos comeres da serra e do mar. Destas terras de gente marafada, afeleada nos seus afazeres, alvoreada com levantes, suestes, besaranhas e sirocos capazes de xaringar um pacato montanhero. Ah, punhão. Mundo. Mesmo que não se acredite em assombrações, encantamentos e se pense que esta ou aquela estória contada naquele falar de boca cheia de Monchique ou nas vogais dobradas do barlavento. Debe. Tem que haver aqui algo de mágico e prodigioso por estas terras e gentes que ainda resiste como mouras encantadas aí pelos poços e noras. Móce. Foi mesmo uma coisa desmarcada.


Lídia Jorge recebeu ontem o grau de doutor honoris causa na Universidade do Algarve. A laudatio pelo vice-reitor Pedro Ferré e o agradecimento da escritora foram no seu conjunto uma das mais emocionantes lições de literatura e ao mesmo tempo uma viagem à minha infância, aos livros e às searas. O meu barrocal era a charneca e o mar sempre foi o Tejo. E pelo Tejo vai-se para o mundo.

Ontem li todos os livros de Lídia Jorge, mesmo os que nunca abri. Talvez por um mero bom acaso, daqueles que nem uma equação diferencial estocástica (os meus amigos matemáticos vão adorar esta) pode admitir como hipótese prever, eu tenha assistido ao Dia dos prodígios em teatro, no Trindade e tenha ido procurar o livro da cobra voadora, com as páginas amarelecidas e tenha iniciado a sua releitura quase trinta anos depois e tenha tido o privilégio, o prodigioso privilégio de poder participar nesta festa que, apesar de todo o cerimonial académico cheio de rituais de liturgia paramentada, foi por largos momentos um largo terreiro de ouvir e contar histórias estórias.

wikilíricos

Todos os dias sabemos novidades publicadas no sítio WikiLeaks. As rádio e televisões abem as antenas para o debate público o cidadão acha que sim e mais também e antes pelo contrário, mas parece que isto não passa de um circo mediático como já vimos tantos.
Há quem acredite e espere sebastianosamente uma revelação importante - talvez, A revelação - capaz de fazer cair governos, acender a revolução, mudar o paradigma da governação mundial, acabar com as desigualdades, reduzir a pobreza a zero ou erradicar a fome. Mas, desenganem-se, muito antes do wikileaks já toda a gente soube que foi enganada por aqueles que democraticamente elegeu e que voltou a eleger os mesmos, mesmo depois de saber o que toda a gente sabe. Não precisámos de revelações secretas para sabermos todos que há partidos no governo (agora e antes) cujos ministros fizeram negócios ruinosos para o Estado com empresas para onde foram ser administradores quando deixaram de ser ministros e isso não os impediu de ganhar eleições e voltar ao governo e fazer o mesmo; para sabermos da qualidade moral de uma série de gente muito bem colocada e que pugna por bem colocar outra série de gente numa espécie de nova aristocracia dita democrática.
O wikileaks não nos fez saber mais do que sabíamos antes, embora isso não tivesse impedido que figurões como GW Bush, Berlusconi, Cavaco ou Jardim fossem eleitos.
Afinal o que é que se passa? O wikikoiso não diz?

Há quem opine que isto acontece porque o povo é um pouco estúpido... Não sei se esta informação é reservada, confidencial ou secreta, nem como foi obtida, mas parece que não consta do wikipois...

9 de dezembro de 2010

Segredo de justiça


Depois de tantas fugas de informação sobre questões em segredo de justiça e com as embaraçosas revelações do wikileaks, a Justiça (assim com um merecido jota xxl) portuguesa mostra que está muito à frente e numa jogada antecipatória, quando ainda nem se falava em wikileaks e já o portentoso sindicato dos magistrados tinha adquirido por ajuste directoà SLN (para os compensar das perdas, porque as coisas não têm corrido bem nos últimos anos) um sistema de codificação para ser usado por todo o povo judicial. Eles bem sabem que providências cautelares e caldos de galinha nunca fizeram mal e melhor é prevenir que chorar o leite derramado e melhor é o burro nas couves que o gato ir às filhoses e prontos.
É espantoso o que esse sistema faz. Torna ininteligível qualquer douta sentença, ou simples dilgência processual, ou até os actos compulsados dos apóstolos se for caso disso. Assim, mesmo que algum documento saia de debaixo da saia do segredo, não há problema, porque ninguém vai entender nada sem a ajuda do tal sistema, que tirando umas comissões para uns afilhados de uma certa pessoa que não convém nomear, até ficou bastante em conta.
Como prova disso, tenho aqui um documento secreto que por artes que não revelo me veio parar às mãos. Suponho que não seja nada de muito importante, mas se fosse?...
Alguém pode saber? Ora experimentem:



=CLS=


Nos presentes autos de acção especial para cumprimento de obrigações pecuniárias que a Empresa ----- intentou contra o Condomínio ------, sito na ----, em -------, pedindo a condenação deste a pagar-lhe a quantia de x.xxx,xx €, acrescida de juros de mora calculados à taxa de 4% desde a propositura da acção e até integral pagamento, juntaram A. e R., representada a primeira por mandatário com poderes especiais para o acto, a transacção que antecede, cujo teor se dá aqui por reproduzido.
Nos termos do art.º 300º, nº 3 do CPC, atenta a qualidade dos intervenientes e o objecto da transacção efectuada, que aqui se dá por reproduzido, julgo a mesma válida, homologando-a por sentença, condenando e absolvendo as partes em conformidade.
Custas conforme acordado – art.º 451º, nº 2 do Código de Processo Civil.
Fixo à acção o valor de xxxx,xx € - art.º 315º e art.º306º do Código de Processo Civil


Not. E reg.

Set.,d.s.
A Juiz de Direito
(Dr.ª ---------------)


Então agora, se alguém conseguir desencriptar a coisa, faça favor. Assim, sem dar muito nas vistas, pode deixar a tradução na caixa de comentários.

8 de dezembro de 2010

FMI




Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual.

José Mário Branco


Estás muito enganado. Não é um ou outro pormenor...
Depois de SCP já ninguém teme o FMI. Eu explico: Sócrates, Cavaco e Passos já garantem o pior cenário, e como são mais papistas que o FMI, o BCE e a CE juntos, nada a temer.
Agora são eles que cantam o FMI (dida didadi dadi dadi da didi) para nos entreter enquanto bancos e umas quantas empresas que se acolitam em negócios com o Estado, ou têm a sua actividade de quase monopólio protegidapelas leis do Estado acrescentam mais uns pontos percentuais ao crescimento dos lucros.
O resto (o resto é a Deolinda, António Pedro) nem sequer pode ser atribuído a estes entretainers SCP que não passam de uns palermas que os imbeceleitores elegem para cumprirem que aquilo que outros que ninguém elege decidem.
Desprezo este sistema. De alto abaixo.
Infelizmente, parece não haver uma alternativa credível dentro deste paradigma capitalista selvagem. A continuar assim, dirigimo-nos para um buraco negro, donde só escaparão os muito poderosos, guardados por verdadeiros exércitos, como já vimos todos em filmes de ficção futurista.
Parece-me inevitável a curto prazo uma convulsão generalizada com focos de violência nas ruas e outras situações indesejáveis que o sistema aproveitará para legitimar o endurecimento da repressão, da coacção e da violação da privacidade. Tudo em nome da segurança, da liberdade e da democracia.
Uma forma de gerar uma alternativa poderá estar naquilo a que já chamei de insurreição criativa. Não há um programa para isso, mas de vez em quando aparecem alguns sinais do que poderia ser essa insurreição, baseada em actos do dia a dia, não violentos, mas se globalmente participados podem pôr em causa muita coisa. Se é possível pôr quase toda a gente a sorrir uns para os outros na cidade de São Paulo, é possível muita coisa.




Façamos destas tretas do FMI um outro FMI - Forte Motivo de Inspiração

29 de novembro de 2010

Austeridade viciosa

Eu não percebo nada de economia e, provavelmente muitos dos economistas que falam na televisão, escrevem nos jornais ou mandam bitaites partir do palácio de Belém, também não. Já aqui tinha perorado sobre esta ciência dever passar a chamar-se economância por, cada vez mais, em vez de basear as suas previsões em modelos científicos estar a socorrer-se de artes divinatórias e oráculos para tentar interpretar os misteriosos e insondáveis desígnios dos santos mercados. Pode ser. A alternativa não é muito melhor e também é bastante plausível. Haverá um exército de arautos a propagar todos mais ou menos as mesmas coisas, ainda que parecendo às vezes discordar, de forma a ocupar todo o espaço para que mais ninguém fale, apenas com o objectivo de nos entreter enquanto a «austeridade» se vai apurando? Ponho mesmo aqui um ponto de interrogação. Não tenho a certeza de que seja assim. Não percebo nada de economia, mas ao longo da vida fui aprendendo a ler alguns sinais e o que digo é por mera intuição. Afinal, não é assim tão diferente do que dizem os que estudaram para economistas.

Acho estranho que não apareçam nos meios "oficiais" da comunicação, vozes discordantes como esta. Ou então, alguém que defenda a verdade "oficial" com esta clareza.

Mark Blyth é professor de Economia Política Internacional na Brown University (Providence, EUA) e o seu currículo pode ser consultado aqui.

27 de novembro de 2010

Ciência rap



Fui lá por esta notícia e levei a filhota em tarde molhada mais ou menos a puxar para o sofá e televisão.
Este jovem autodesigna-se como science communicator e o que faz é falar de conceitos científicos de uma forma simples e eficaz, procurando sempre ir ao encontro dos códigos dos destinatários.
Começou por explicar o que faz utilizando apenas umas folhas A4 impressas e, apenas com isso, mostrou claramente que há várias formas de comunicar com uma plateia e que umas são mais eficazes que outras. Curiosa a forma como demonstrou que uma folha feita avião transporta a mensagem pelo ar num voo impreciso e mais ou menos aleatório e se for feita numa bola é atirada para mais longe e com maior precisão.
Depois cantou um rap a explicar o que acontece com a luz do sol: como chega à terra, o tempo que demora, a distância que percorre, os efeitos bons e maus, a importância para a vida na terra e para cada um de nós... Ele sabe que isto cantado em inglês rap é difícil de entender e repete, agora ao mesmo tempo que visualizamos um video com imagens , esquemas, animações sincronizadas com as palavras que canta. Já se percebe melhor, mas mesmo assim, inglês cantado em rap, custa mesmo a entender. Mas ouvindo as palavras, vendo as imagens e podendo ler as palavras que ele canta já se vais mais longe na compreensão. É o que ele faz: acrescenta legendas. Só faltou mesmo a tradução para português.
Num outro momento pediu que todos desenhassem o que julgavam ser um cientista. Depois de recolher as folhas pediu que levantasse o braço quem tinha desenhado com uma bata, com óculos, com barba... Muitos braços se levantaram para todas estas alternativas. Pergunta ainda quem desenhou um cientista velho, mulher, não europeu... Elucidadivo.

A menina parece que conseguiu entender muita coisa, treinou o ouvido para o inglês e gostou.
E eu também. Gostei de ir e de ir com ela. De fazermos isto juntos.

Desassossego

Cinco ésses sinuosos na mesma palavra. Um livro cheio de desassossego. Um filme cheio de palavras e tantos filmes lá dentro. Foi ontem no grande auditório da UAlg onde entrei supranumerário e só consegui sentar-me nas escadas. Um verdadeiro desassossego. Tudo por culpa de João Botelho e do Cineclube de Faro.

24 de novembro de 2010

Há filmes para ver de mão dada


A rapariga que me dá a mão e beijos no cinema sabe habitualmente ao que vai. E está sempre a levar-me para a sala escura. Desta vez foi na cidade da outra ria onde tinha que ir congressar e onde, por mero acaso estreou o fime-documentário José e Pilar. E digo por acaso, e não é por acaso, porque das 7 cidades onde o filme se exibe, todas são a norte do Tejo. Sobre filmes eu não sei escrever. Sobre o filme e as emoções ela já escreveu e muito bem, como sempre faz. E fiquei també a saber que outros o fizeram e faço eco do apelo para que se veja este fime. E para quem queira ter uma visão privilegiada como eu que o faça, se puder, de mão dada.



Como era de esperar de quem habitualmente troca os nomes às coisas e aos lugares, o filme passa a ser Pilar e José. Não é por distracção. É mesmo por feminismo imparavelmente ímpar.

Saímos do filme mais ou menos a concordar que seremos assim como uma espécie de palavra de ordem para escrever por aí nos muros: mais ateu que saramago e mais feminista que pilar. De mãos dadas.

23 de novembro de 2010

De como estes deuses modernos andam ainda mais loucos que os outros


Não se fala de outra coisa. Uma febre. Um delírio. Algo capaz de arrebatar as consciências e impor-lhe humildade, resignação e obediência. Todas as homilias em toda a parte e a toda a hora (apenas um parêntesis para assinalar um pequeno intervalo futebolístico em que Portugal derrotou a Espanha, mas aquilo era a caramelos de Badajoz e, por isso, não teve a jactância habitual - ou então estamos mesmo em crise), na televisão, nos jornais, em quilómetros de rádio. Só se fala dos mercados. Uns deuses modernos de quem ninguém conhece a cara que têm os seus caprichos, às vezes acordam nervosos e tal como os deuses tradicionais acabam sempre a descarregar as suas iras sobres os mais fracos. Ninguém sabe, ou ninguém explica, bem o que são os mercados, o que fazem, onde moram - deve haver quem creia que habitam os céus da economia global - e poucos se atrevem a nomear os seus verdadeiros bispos, apesar dos muitos sacerdotes conhecidos não se cansarem de profetizar sobre as vontades dos deuses. Ainda há dias o oráculo de Belém iluminou Obama sobre os destinos da economia portuguesa e o homem lá foi tranquilo. Resta saber se a taróloga Maya o o professor Mambo usando outras abordagens da trancendência não fariam exactamente o mesmo (uma situação para a ciência estudar). É
que com este PSEC (processo de sacralização em curso) a economia enquanto disciplina do saber ficaria melhor com o nome de Economância.
Na antiguidade as pessoas acreditavam em inúmeros deuses e alimentavam o poder dos seus sacerdotes com oferendas e obediência. Depois os múltiplos deuses foram perdendo a sua importância e a maior parte do mundo ficou dominada por três ou quatro religiões, uma espécie de grupo económico de um só deus. Estas religiões ainda têm muito poder sobre as pessoas no mundo, mas muito menos do que tinham e, tirando aquelas regiões em que o poder religioso se confunde com o poder do estado, já pouco condicionam a vida dos cidadãos. E isto porque já há muita gente que não é crente e já percebeu toda a patranha em que assentam todas as religiões. O papa pode falar contra o uso do preservativo. Os movimentos civis continuaram a combatê-lo e o coitado não teve outro remédio a não ser capitular e já acabou a admitir que em certas circunstâncias vá lá então... (quanto às circunstâncias, ainda não disse, mas lá chegará, que o uso do preservativo embora tolerado é uma espécie de via verde para o inferno, mas isso é cada um que escolhe porque deus nos concedeu esse dom na sua imensa bondade) o que só demonstra que a força destas forças está apenas na importância que lhes damos.
Com os ditos mercados é mais ou menos o mesmo. A sua força vem do medo que causam. No dia em que toda a gente se estiver nas tintas para a liturgia que nos entra pelos dias dentro sob a forma de notícias, análises, comentários, debates, os deuses começam a cair. Afinal, têm todos pés de barro.
ps: Acabei de ouvir que a Brisa com as portagens de autopagamento já despediu uma data de funcionários e se prepara para mais acordos de despedimento. Era o que se previa. Já passei por uma dessas e apeteceu-me avariar a máquina. Ainda por cima, em algumas portagens só há uma ou duas saídas e rapidamente se forma uma fila. São os automobilistas que se pressionam uns aos outros. A Brisa deve ter estudado estes comportamentos e não precisa de fazer nada. A alternativa é "aderir" à via verde, ou seja, poupar ainda mais a intervenção humana porque tudo se processa automaticamente.

14 de novembro de 2010

Cimeira danato

Imagem laboriosamente roubada e publicada sem autorização daqui.

Na próxima semana os Natívos reúnem-se em Lisboa, mais propriamente, no Parque das Nações num sítio que ainda não percebi bem onde era porque andam a guardar segredo, mas alguns dizem que é na sumit, outros na cumbre, mas pelo que percebi é mais na parte cimeira. Na ciumeira. Ou se quiserem, em inglês, na see you, meira... se é que estão a perceber.
E o que é que eles vão fazer de facto? Na realidade ninguém sabe. Está em segredo de justiça. Por isso podemos afirmar, sem qualquer margem para erro, que vêm disputar o campeonato mundial de paintball, uma modalidade em pleno desenvolvimento no âmbito da estratégia político-militar/religiosa a nível global.
Na imagem, gentilmente cedida pelos serviços mais-que-secretos (de porco preto), podem ver-se já devidamente equipados Sócrates e Sarkozy, este último facilmente reconhecível na foto por estar em bicos de pés.
No final da prova parece que há frangos assados para todos e distribuição de gravatas de cortiça aos capitães de cada equipa.

11 de novembro de 2010

São Martinho

Não me lembro bem se tive uma colega de liceu chamada Conceição Martinho ou se a inventei assim chamada porque me dava jeito cantar-lhe uma canção. É claro que toda a gente a tratava por São Martinho. Só nos encontrávamos na aula de Ciências ou Biologia porque ela era de outra turma e já não sei porquê tinha aquela disciplina na minha. Nunca tivemos grande relação e terão sido raras as vezes que nos vimos fora das aulas, mas pelo menos nas duas vezes por semana que nos juntávamos na aula cruzámos um olhar cúmplice que transportava dizeres nunca verbalizados. Ficámos sempre nesse entendimento doce e mudo. O seu olhar era sempre triste e sereno apenas com um leve sinal na comissura dos lábios como que a dizer sei que me estás a ver. Um dia a professora advertiu-me e ainda fui a tempo de me ouvir a trautear a música. Para mim estaria apenas a cantar mentalmente enquanto recriava a letra em português:
São Martinho
Como a vida é fácil
Saltam peixes
Dos teus olhos de algodão
Tens um pai rico
E uma mãe bonita
Por isso, minha linda
Não chores não


Coisas dos 17 anos...
Durante algum tempo associei esta cantiguita às festas de S. Martinho pelas adegas dos pais dos meus amigos para depois me esquecer dela completamente.
Hoje, 11 de Novembro, tradicionalmente conhecido como dia de S. Martinho padroeiro das castanhas, água pé e geropiga - que santíssima trindade!... - (sendo que na minha terra não há confusão nenhuma com a grafia de geropiga: escreve-se mesmo vinho abafado), pois hoje dia de S. Martinho, enquanto caminhava de pasta na mão dei por mim a cantar isto e a visitar estas memórias. Só não tenho a certeza se apelido da São era verdadeiro ou inventado por mim.

9 de novembro de 2010

Os dias de outono...

Este outono meridional escava nostalgias nas horas. O cinza de nuvens carregadas alterna com o brilho do sol e soltam-se da terra todos os cheiros da chuva. O Mezzo vai-me dando a banda sonora a esta verde e breve paisagem. Dia de trabalhar em casa.

8 de outubro de 2010

Imaginemos...

John Lennon faria hoje setenta anos e o google assinala aasim:
Imagine all the people...
A atirar pudins molotov contra as repartições de finanças!

"Repartições" é um nome algo duvidoso. Será que repartem os imposto? Com quem?

Bandidos!


EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR

Roubam-me Deus,
outros o Diabo
- quem cantarei?

roubam-me a Pátria;
e a Humanidade
outros ma roubam
- quem cantarei?

sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
- quem cantarei?
roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo- aqui del-rei!

Jorge de Sena
Consulte aqui a tabela do roubo para tapar a administração criminosa das últimas décadas pelos governos que tivemos e as oposições complacentes. Já agora, por que é que a tabela pára nos 4200 euros? Tão criteriosos que são a estabelecer escalões entre os 1500 e os 4200... e daí para cima?
Não há dúvida que andamos a ser governados por uma corja de bandidos cuja finalidade é enriquecer os amigos com quem organizam os grandes negócios que lhes garantem a seguir o devido retorno.
Só há um caminho: insurreição criativa!
Sugiro que façamos um ataque com pudins molotov quando esta gente aparecer.

25 de setembro de 2010

Uma letrita capaz de mudar tudo...



Faltava-me ver e fui hoje. Acho que foi a primeira vez que me sentei sozinho numa sala de cinema e tirando um ou outro pormenor, o filme nem me deu tempo para pensar muito nisso.
Sabemos todos que o cinema tem esta magia de não nos mostrar apenas um filme. Enquanto vemos o que passa no ecran passam dentro de nós inúmeros filmes. Mas, até nisso O segredo dos teus olhos é um bom aliado e faz frequentemente isso com o espectador, não só nas narrativas sobrepostas como na forma. Também se reconhecem ali uma data de filmes (policial, acção, drama) e tão depressa parece cinema americano como europeu. Na realidade, este filme não inventa nada e também não é preciso para ser um grande filme que nos toca e agarra pelas nossas dúvidas íntimas.
Dos diálogos ficam-nos por vezes umas ideias bailarinas. A frase (cito de memória) pode mudar-se de tudo, menos de paixão é uma das emblemáticas, mas a que guardei foi a que diz se podes escolher as memórias que guardas fica com as boas.
O final é para mim impressionante. Numa espécie de paráfrase de cena final de filme policial revela-se, não o assassino que foi descoberto há muito, mas, numa síntese espectacular, como se pode mudar o medo em amor. Com a força de uma letrita corajosa o medo diz-se amor.

24 de setembro de 2010

Trabraço e bicicleta

De vez em quando tenho uns ataques de espirros. Durante cerca de dez minutos espirro exuberantemente uma média de catorze espirros (sim, até já fiz uma estatística) e há sempre alguém entendido por perto que assegura que é alergia, ou então se for mesmo especalista diagnostica logo uma rinite alérgica. Eu, logo que posso, aproveito uma pausa entre dois espirros e respondo que não é nada alergia e que a única alergia que tenho é a trabalho. Por acaso é uma grande mentira, apesar de me assumir como preguiçoso militante e ainda assim mais militante que preguiçoso se é que alguém vai entender isto.
Pois eu que tanto peroro a favor da preguiça ando agora tão abraçado ao que geralmente se chama trabalho. E o mais grave é que estou a gostar apesar do cansaço desta primeira semana com aulas.
Rememoreei este sabor das aulas, do desafio ali frente aqueles jovens, a tentar contagiá-los com o entusiasmo necessário para que as aprendizagens se tornem fáceis. A resposta é boa sobretudo nos do segundo ano, com quem já tive duas sessões e até parece que já interagimos há mais tempo. Os do primeiro chegaram agora e só tive uma sessão no início da semana.
Ontem até já dizia a um aluno que me interpelou no final da aula que o bom disto não é "dar aulas", é criar encontros onde todos possamos aprender algo. É isso que eu tento e gostaria de conseguir. Às vezes fico com a sensação de chegar lá.
Ah. E outra sensação da semana de quem esteve bastante tempo afastado desta actividade. è como andar de bicicleta.

16 de setembro de 2010

Manifesto



(...) Para lá da janela atinjo a linha azul do horizonte que se desvanece na tarde. Não, não penso: procuro. Outra vez, outra vez. Não, não quero «saber», sei já há tanto tempo… Mas nenhum saber conserva a força que estala no que é aparição. Porque o escrevo de novo? A verdade é que nada mais me importa. E, todavia, um estranho absurdo me ameaça: quero saber, ter e uma aparição não se tem, porque não seria aparecer, seria estar, seria petrificar-se. Queria que a evidência me ficasse fulminante, aguda, com a sua sufocação, e aí, na angústia, eu criasse a minha vida, a reformasse. Mas uma reforma, uma regulamentação é já do lado de fora. Quem é fiel a uma certeza e a pode ver quando lhe apetece? A fidelidade é então só teimosia ou cedência à parte convencional da «nobreza de carácter», da «honradez». Não é isso, não é isso que eu quero. Em que iluminação eu acredito quando falo em nome dela e a imponho (….) aos outros? Falo de cor – a iluminação é então a minha noite de secura. Por isso, quando ela volta eu me abro à sua devassa, à acidez da sua presença. Por isso eu a recebo ainda agora e falo dela e me aqueço e me queimo ao seu lume. Não escrevo para ninguém, talvez, talvez: e escreverei sequer para mim? O que me arrasta ao longo destas noites, que, tal como esse outrora de que falo, se aquietam já deserto, o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.
(...) E, como tantas outras vezes, de novo me assalta a presença obcecante de mim próprio, esta terrível presença, esta coisa, isto que mora comigo, que é brutalmente vivo, independente, que desaparece, que volta, num jogo de reflexos em que me vejo, me perscruto, me sinto «eu», e breve me foge e está apenas sendo o mundo em roda, estas paredes, estes livros. Fixar bem, apanhar em flagrante esta realidade medonha que emerge de mim, me estonteia, se me some. Fixá-la a essa luz subtil, não a esquecer, mergulhar até onde sou, para que nada de mim se perca no que hei-de decidir, sentir, ser no mundo, para que eu saiba bem o que há a salvar, o que está condenado, para que a construção que vier brote desde as raízes. Canso-me, insisto, canso-me. Um acto de presença não se define, não cabe nas palavras. SOU. Jacto de mim próprio, intimidade comigo, eu, pessoa que é em mim, absurda necessidade de ser, intensidade absoluta no limiar da minha aparição em mim, esta coisa, esta coisa que sou eu, esta individualidade que não quero apenas ver de fora como num espelho mas sentir, ver no seu próprio estar sendo, este irredutível e necessário absurdo clarão que sou eu iluminando e iluminando-me, esta categórica afirmação de ser que não consegue imaginar o ter nascido, porque o que eu sou não tem limites no puro acto de estar sendo, esta evidência que me aterra quando um raio da sua luz emerge da espessura que me cobre. E estas mãos, estes pés que são meus e não são meus, porque eu sou-os a eles, mas também estou neles, porque eu vivo-os, são a minha pessoa e todavia vejo-os também de cima, de fora, como a caneta com que vou escrevendo…
Vergílio Ferreira (1959). Aparição

Tantas vezes em tantos anos voltei a este trecho. Tantas que já o sinto como meu. Tê-lo-ei roubado ao autor e tornado meu por usucapião. Agora gostaria de aprender a dizê-lo de cor. Percorrê-lo par coeur, ou seja, pelo coração.

13 de setembro de 2010

Uma pessoa educada...

"prezo-me de ser uma pessoa educada..." (por favor não reparem no meu ar de varina ofendida que ponho sempre que me fazem uma crítica) "...e gosto de respeitar os outros" (e deixem-se lá de invejas façam lá as vossas campanhas que eu ando a fazer a minha)

O homem até pode ser educado, mas não anda aqui como mestre sala. A função que desgraçadamente ocupa é política e está sujeita a escrutínio e a crítica e não me lembro deste sujeito alguma vez ter respondido directamente a alguma questão que lhe foi colocada. Nem sobre economia de que tanto saber apregoa.

O pior é que não sei ainda em quem votar para evitar que isto volte a ocupar o lugar de representação dos portugueses.

12 de setembro de 2010

Serão. Seremos.

Ainda não tinha calhado ir aos serões do Convento apesar dos muitos convites do meu amigo. Fui hoje quando se comemorava o quarto aniversário desta iniciativa e fiquei com pena de ter faltado a quatro anos de encontros de gente com a cultura e a arte. Descubro que estou no meio de amigos, alguns já com décadas e sinto-lhes a alegria de fazer coisas e de se darem. Afinal, mais ou menos a mesma matéria com que se faz um poema na vida.
O Daniel, artista de Alte, conta estórias e ainda se lembra da letra de uma cantiga de quando percorria o país nas recolhas da música tradicional e canta "bate padeirinha do meu coração". A Tânia, economista e actriz canta, como quem respira, versos de Florbela e Natália. O Paulo conduz Outras Vozes de impressionante harmonia. O Mário traz-nos um bolero e uma cançaõ da Guiné de protesto ao trabalho escravo infantil. O Beto, angolano, mago das percussões desassossega-nos com ritmos quentes e envolve-nos em coros de Mama Makudelé. O Francisco tira do coro Ideias do Levante pérolas de dedicação.
O meu amigo ganhou esta aposta que enche de muitos amigos e, no final, numa cúmplice concessão à brejeirice ainda comentamos "e muitos mais caberão".
Força companheiro.

11 de setembro de 2010

j'Aziza


Descobri-a numa pequena loja de discos onde apareciam umas preciosidades, há cerca de dez anos. Agarrou-me pelas sonoridades do piano e da voz numa fusão de muitas latitudes dançando num terreiro a que habitualmente chamamos jazz. Ao longo de vários anos fui ouvindo e mostrando aos amigos. Esta noite fui ouvê-la no auditório municipal de Olhão.

A solo com piano. Mais piano que voz. Andou comigo em viagens sucessivas, como num vento encantatório, entre o médio oriente e os ocidentes juntando povos que tanto choram as suas mágoas como gritam a sua felicidade. É a música ao serviço da alma, para ela num sentido espiritual místico, para mim metáfora de todos os sentires das belezas do mundo e da humanidade.

Acompanhou-me o desejo de partilhar este concerto com todas as pessoas de quem gosto. Estive acompanhado por três e senti a falta de ti e de ti e de ti e de ti...



8 de setembro de 2010

Pois, se a casa pia, nunca se ouviu

Imagem roubada aqui

Dizia hoje uma colega no bar comentando com descrédito o pseudo desfecho do caso Casa Pia: pois eu sei o que lhes faria se soubesse que algum deles tinha tocado num filho meu. Fiquei uns segundos a pensar naquilo e relevei o aspecto da justiça por mãos próprias (tendo em conta que se trata de uma católica militante, averbe-se na rubrica do olho por olho, dente por dente) e sou assaltado por uma tenebrosa paisagem mental. E respondi-lhe que aquelas palavras serão impossíveis aplicadas às crianças da Casa Pia. Foram lá parar exactamente por não terem pais ou não os terem capazes de os proteger, de os defender, portanto aquele desabafo fará sentido (?) para pais que o são, para crianças que os têm, não para as da Casa Pia.

Independentemente da trapalhada em que se transformou, daquilo que é visível, o processo CP, há uma evidência clara: os principais responsáveis ficaram de fora. A sociedade deveria acusar todos os agentes do Estado que em seu nome tomaram decisões ou se demitiram de as tomar que permitiram que aquela instituição mantivesse a estrutura e as características obsoletas, as que tiveram conhecimento de abusos e não os denunciaram tornando-se cúmplices de actos criminosos, os que (dizem) não tiveram conhecimento, mas cuja obrigação era ter tido e pactuaram com uma cultura de abuso e violação não apenas de carácter sexual. Essas pessoas, naturalmente, não poderão ser acusadas de pedófilos, mas têm responsabilidades noutros crimes nomeadamente de negligência, de recusa de protecção às vítimas e por aí fora. Porque é que nunca foram acusadas? O processo CP deveria ser muito mais que um caso de pedofilia. E também acho estranho que a justiça tendo identificado, acusado e condenado (vamos ver) uns quantos indivíduos como abusadores de menores, não tenha investigado outras ligações. Então agora temos pedófilos em dedicação exclusiva na Casa Pia? Não cometeram outros abusos? Não apareceu mais ninguém a queixar-se?

Continuo a achar que há uma grande cortina de silêncio cuja finalidade é proteger uns quantos intocáveis.

Há um outro aspecto de que quase ninguém fala e que tem a ver com as vítimas. As vítimas são sempre as vítimas e têm a minha compreensão e solidariedade. Ainda que alguns dos comportamentos possam ter acabado por se tornar por assim dizer, "voluntários" , de prostituição mais ou menos consciente a troco de benefícios materiais, isso não iliba os abusadores, nem os responsáveis pela instituição. Sabe-se que esses comportamentos de uns induzem outros à sua prática. As relações de poder, as trajectórias individuais e de grupos no seio destas instituições, incluindo a gestão das relações priviligiadas com os dirigentes, têm sido objecto de estudo de muitos especialistas ao longo de décadas. Os dirigentes tinem obrigação de saber, procurar saber e proteger quem precisava de ser protegido. Foram nomeados e pagos para isso. O mínimo que teriam que saber era como tinham conseguido dinheiro para comprar os bens (roupas de marca, relógios, gadjets vários...) que exibiam, situações ao que parece várias vezes relatadas por trabalhadores, vigilantes, educadores, aos altos responsáveis e que tudo meteram na gaveta e deram sumiço.

Falta sentar estes senhores e estas senhoras, todos os que calaram as denúncias, no benco dos réus.

A minha revolta é imensamente amarga.

1 de setembro de 2010

Ai a Çultura!...

Tudo começou com este cartaz da campanha "Guimarães: Capital Europeia da Cultura 2012". E logo umas mentes brilhantes que se arrogam de representar os interesses dos algarvios (pelos vistos muito justamente, a avaliar pelo nível das reacções nas caixas de comentários das notícias e dos blogues) vieram a terreiro tercer armas com os promotores vimaranenses.
O cartaz mostra uma praia (supostamente) algarvia e (supostamente) fotografada às 11.30h do dia 2 de Agosto de 2012. Confesso que tenho algumas dúvidas sobre a praia que pela direcção das sombras projectadas poderia ser em qualquer ponto da costa ocidental e seguramente muito mais cedo. Mas isso não é relevante. Relevante é a reacção quer das entidades responsáveis pelo turismo e pela hotelaria do Algarve quer da populaça que está sempre pronta a julgar e apedrejar todos aqueles que no seu magro entender lhes estarão a pisar os calos.
Isto aqui e mais isto e mais aquilo e ainda os comentários a esta posta ilustram bem o estado mental de uma região que se propõe receber turistas e visitantes de todo o mundo.

Toda a gente opina, mas ninguém parece ter a mínima ideia do que está a exibir de si próprio.
1º. A ideia da campanha. É extraordinária, original, provocatória e irónica. Afinal o que se pede a uma campanha publicitária.
2º. As personalidades que se manifestaram, incluindo a maioria dos ilustres cometadores deste blogue, mais não fizeram que reagir à provocação, o que em si só valoriza o mérito da campanha.
3º. Os responsáveis (AHETA e RTA) estiveram bem à altura do provincianismo chauvinista que mantém o Algarve no atavismo crónico. Tem medo de quê? Que Guimarães leve o sol e as águas mornas do Algarve para o Minho?
4º Há felizmente atitudes inteligentes que ficariam bem melhor ao Algarve. Por exemplo: "Obrigado Guimarães por mostrar as belas praias do Algarve. Fiquem descansados que os amantes da cultura não faltarão em Guimarães (depois da praia, claro)". Isto é que me parecia uma resposta com classe.
5º Um evento como Capital Europeia da Cultura é capaz de trazer gente a Portugal e o cartaz até pode ser convidativo: "já agora, dê um salto ao Algarve, onde as praias estão vazias".
Um pouco de sentido de humor resolveria isto muito bem. Mas para o humor é preciso inteligência e não esta burrocracia.

O Algarve também teve a sua capital da cultura em 2005. E ainda hoje me pergunto para que serviu. O que se faz de importante na área da cultura deve pouco a esse evento e até foi em muitos casos ignorado na altura pelos comissários. Estes eventos deveriam ser algo mais que uma razoável programação de espectáculos com nomes sonantes (e seguramente alguns valores indiscutíveis) em regra vindos de fora para nossa delícia.
Isto deveria preocupar-nos mais a todos do que a fotografia de uma praia vazia.

25 de agosto de 2010

Educação para a Saúde em Angola

Há um canal de televisão chamado AfroMusic que passa vídeos de música 'africana', se se lhe posso chamar moderna, para distinguir da música mais tradicional africana.
Em regra são de muito baixa qualidade quer as músicas quer os vídeos. Pimba do pior, por vezes.
O meu canal de música é o Mezzo que fica quase encostado ao AfroMusic e hoje na subida e descida de canais deparo-me com com este curioso "Lava a mão" (com água e sabão). Uma coisa tipo kuduro, mas parece que afinal é ladjum. Seja. Primeiro pensei que fosse assim uma metáfora ao sistema de corrupção em cadeia que parece ser aceite por toda a gente em Angola, mas tentando perceber a letra e olhando para as imagens o assunto é outro. Parece uma campanha sanitária para parar a cólera e as diarreias. É pena não se perceber melhor a letra, de qualquer modo a ideia é louvável. Lavar as mãos é uma prática que pode salvar vidas.
O que é que faz antes da refeição?
Lava a mão
com água e sabão
Acho bem.

20 de agosto de 2010

Teerão há 43 anos

Teerão recebeu a Conferência Intenacional sobre Direitos Humanos em 1968.
A conhecida Declaração de Teerão comprometia todos os Estados membros das Nações Unidas a lutarem pela paz e contra o colonialismo e todas as formas de opressão e discriminação baseadas na raça, na crença religiosa e particularmente contra as mulheres.


15. The discrimination of which women are still victims in various regions of the world must be eliminated. An inferior status for women is contrary to the Charter of the United Nations as well as the provisions of the Universal Declaration of Human Rights. The full implementation of the Declaration on the Elimination of Discrimination against Women is a necessity for the progress of mankind;

Pedradas




Numa altura em que se assiste a alguma mobilização contra as condenações à morte por lapidação é bom lembrar que o fundamento religioso que está na base destes crimes é o verdadeiro veneno. Engane-se quem julga que isso é uma bizarria do Islão. A Bíblia dos cristãos está igualmente cheia dessas prescrições e fundamentalistas cristãos também não são difíceis de encontrar.

Vale a pena escutar este senhor e ler o livro e pensar.
Obrigado Afonso, pela sugestão

19 de agosto de 2010

13 de agosto de 2010

O livro vermelho de um presidente estival

O homem apanhou mesmo sol na moleirinha.
Ficamos sem saber se está a pensar no do Car Jung ou do Mao...
O senhor professor é uma autêntica ostra: cada cagadela uma pérola!
Mas o mais interessante é tentar deduzir desta resposta a pergunta que lhe foi colocada.

"No Verão, com alguma frequência, pede-se a indicação de livros de leitura. Se eu tivesse que indicar um livro de leitura aos comentadores estivais, aconselharia o livro dos professores Vital Moreira e Gomes Canotilho sobre os poderes do Presidente da República", disse hoje Cavaco Silva.
"Era muito mais útil que os comentadores estivais lessem esse livro, que foi o livro vermelho dos meus antecessores e continua a ser o meu"


Confesso que apenas ouvi a resposta e não retive nada da pergunta, portanto vou-me deitar a adivinhar:
P1- O que recomendaria aos jornalistas que fazem a cobertura da Volta a Portugal em Bicicleta como leitura entre duas etapas?
P2- Sr. Presidente já leu algum livro de leitura?
P3- Então, recandidata-se ou não?
P4- Tem a certeza de que o papa ainda se lembra do nome das suas netas?
P5- O sr. sindicalista Palma já o informou do que procuram os procuradores?

Enfim... a coisa não é fácil. Aceito sugestões.

Dos amores


esfumam-se os encantamentos
persistem os poços
as fontes
os rios
e as palavras que os guardam

13 de julho de 2010

Finalmente, a grande obra


Compare-se com o que consta de alguns planos de pormenor (propostas) patentes no site da CMF

Isto merecia uma inauguração com foguetes e banda a tocar e justificava o regresso de Cavaco ao local (onde viria pela primeira vez depois do último 10 de Junho).
Foi esta obra que motivou um comunicado da Câmara, e comentários incendiários em alguns blogs contra os "privilégios" dos moradores da Horta das Figuras. E tudo isto porque, uns quantos cidadãos farenses, entre os quais, também, meia dúzia de residentes nesta zona da cidade, acham que o que se está a preparar para esta entrada de Faro é aumentar a carga comercial, densificar o tráfego automóvel e desfigurar uma área onde existe um importante equipamento cultural, o Teatro Municipal e mais três ou quatro edifícios classificados. E porque estes cidadãos se acham no direito de discutir os destinos da cidade em que vivem, têm voz e capacidade de se fazerem ouvir, o que faz a Câmara e o seu presidente? Em vez de darem a cara pelos seus projectos fogem à discussão pública com o de que o assunto está nos tribunais (é parcialmente verdade, mas o que está na justiça não constitui a substância da discussão e tem a ver com decisões anteriores a esta Câmara), lança a ideia absurda de que os moradores desta zona querem um condomínio fechado e um parque verde para seu usufruto. Com isso convocam ódios antigos relacionados com a contestação da decisão da Câmara/Assembleia Municipal de desanexação de uma parcela de terreno do domínio público municipal para o domínio privado com o fim de o ceder ao SCF para aí instalar um posto de combustíveis. Criado o "bode expiatório" Horta das Figuras e anunciando acção imediata sobre a casta de "ricos" fica o caminho aberto para mais um atentado à racionalidade urbanística, à estética e funcionalidade de uma entrada (a principal) da cidade e sabe-se lá ( a suspeita é mais do que legítima) a que negócios pouco transparentes.
Estes procedimentos até poderão ser legais (do que duvido), mas abrem duas grandes feridas no estado de direito, na democracia e na cidadania:
Por um lado, há claramente uma apropriação daquilo que foi consig nado como património público para o colocar nas mãos e ao serviço de interesses privados, por outro, não promover uma discussão aberta sobre uma matéria tão importante para a cidade atenta contra o viver e o conviver cidadão e contra um exercício básico da participação democrática.

10 de julho de 2010

Obrigado, Macário!

Depois de ler aqui e aqui a referência ao comunicado da Câmara Municipal de Faro sobre uma importante medida para a cidade e, porque o Contador é um espaço aberto à participação cidadã, publico aqui uma reacção de um feliz habitante da Horta das Figuras, recebido por e-mail:

Obrigado Macário
A Câmara Municipal de Faro veio informar os munícipes que a partir da próxima sexta feira, dia 8 de Julho irá finalmente libertar os moradores da Horta das Figuras do seu enclausuramento urbano, uma espécie de condomínio concentracionário a que têm sido obrigados pelas anteriores administrações autárquicas. Acontece que apesar de a próxima sexta feira dia 8 de Julho só se verificar daqui a um ano, registamos com agrado que a maldita vedação de rede ali colocada e mantida pelos torcionários de anteriores vereações, já tinha sido retirada há cerca de dois meses e hoje já se encontrava derrubado o intransponível lancil que impedia a circulação entre a cosmopolita rotunda do fórum e a ostracizada Horta das Figuras.
Esta medida, para além de descongestionar a entrada de Faro, a Nacional 125 e, quiçá, mesmo a Via do Infante vem abrir novas perspectivas ao desenvolvimento do bairro. Inspirados noutras experiências como o projecto “Sabura” da Cova da Moura, os moradores já pensam em lançar o projecto “Na m’xaringues”, projecto baseado no empreendedorismo turístico com o qual pretendem dar a conhecer aos visitantes os amplos espaços verdes que cobrem os passeios (agora completamente secos de acordo com a época estival), os cuidados com o pavimento com intervenções artísticas pós-modernas a fazer lembrar vagamente a paisagem lunar, o eficiente e cómodo sistema de recolha de resíduos sólidos, tudo isto a par de uma exposição permanente dos recibos de IMI, taxas variadas e outras habilidades municipais. Tudo isto tem estado guardado há anos apenas para gozo dos privilegiados moradores o que tem gerado uma legítima inveja de todos os outros munícipes e é, na verdade, uma grande injustiça para os poderes edílicos.
Mas não se ficam por aqui os benefícios desta medida em boa hora antecipada em um ano e um dia. Os moradores da Horta das Figuras podem agora ir a pé fazer compras ao Jumbo e trazer o carrinho do supermercado até à porta de casa. Beneficia o Jumbo e beneficiam os moradores. Aliás o Jumbo, num gesto de agradecimento ao corajoso Presidente da edilidade vai erguer uma estátua em sua homenagem, a colocar junto dos bonecos que deitam água na praça do Fórum, em que sua excelência se apresenta vestido de Manneken-pis e também deita água com fartura.
E aqueles que acusam de desNorte e exagero o comunicado da Câmara quando refere que
o espaço público é de todos e nesse sentido, importa zelar pela circulação livre, sem constrangimentos ou embaraços de qualquer natureza, o que manifestamente não estava assegurado até esta intervenção’ um dia terão que se render às evidências, porque há coisas que ficam para a História e esta não tem tempo a perder com fracotes e é nas grandes obras que se vêem os grandes homens. Um dia Faro iluminará em leds multicolores uma rotunda com a lapidar e sábia divisa: O espaço público é de todos e nesse sentido.

Faro, 9 de Julho de 2010, sexta-feira
Morador da Horta das Figuras recém-libertado


Na verdade, nem sei como não se lembraram disto há mais tempo. Um verdadeiro ovo de Colombo, de Cristóvão Colombo. Tanta congestão rodoviária na entrada da cidade e a solução tão fácil afinal.

6 de julho de 2010

O meu pai lê o Mirante

e diz que é um semanário de "grande circulação" em todo o Ribatejo (região que parece que já não existe) maior que os jornais nacionais que traz notícias de todas as terras e descobre muitas carecas autárquicas. Além disso não dispensa a leitura da "Voz" la da terra, um mensário da paróquia de que é assinante há mais de 40 anos.
E foi a folhear o Mirante que que me chamou a atenção do título Voto de pesar pela morte de José Saramago chumbado na Chamusca. Achei curioso porque me lembrava que a câmara deveria ser, no mínimo, do PS ou da CDU e fui ler. A proposta feita pelo único eleito do BE para a AM teve os votos contra (7) do PS e do PSD e (pasme-se!) 12 abstenções da CDU e mais 3 dos outros.
De repente reeditei na minha cabeça as inúmeras discussões e confrontos de há trinta e tal anos com a malta do PC para quem as propostas dos "esquerdistas" eram sempre para deitar abaixo, isolá-los como se tivessem peste e, se necessário dar-lhes um enxerto de porrada.

As idas à terra e à família são sempre uma viagem estranha. É bom vê-los, visitar os sítios da infância (e deixar que me conheças também por esses sítios), mas há sempre qualquer coisa de regressivo neste reencontro. Parece que estamos sempre a ser o que nos lembramos de ter sido numa espécie de ajustamento involuntário aquele modo particular de existir a que já só nos sentimos ligados pelo passado.

Ao fim de cerca de trinta anos sem nos vermos, estive com o meu amigo Rui. Foi meu companheiro de adolescência, cúmplice de aventuras e namoricos dos bailes de fora da terra e camarada "esquerdista". Interlocutor das mais variadas discussões em múltiplos desacordos sobre tudo e mais alguma coisa, mantivémo-nos amigos durante muitos anos.
Deixámos de ter contacto sem haver uma razão explícita, mas eu sempre pensei que os motivos talvez estivessem relacionados c om o facto de a minha deriva freak da altura e o seu conservadorismo essencial já não terem muita pachorra para se aturarem.

29 de junho de 2010

O jogo mundial da bola

A minha rapariga
embora não pareça
também vê o mundial
E até há já quem diga
que adora golos de cabeça
por ser uma intelectual.

Retrato subtil de uma rapariga que pára a escrita da tese quando ouve gritar golo.

22 de junho de 2010

SCUT zé ninguém

Oiço as notícias de buzinões e outras comichões de reacção à introdução de portagens das SCUT e não posso deixar de pensar numa espécie de remake do filme que viria a apear Cavaco e o PSD do governo. Estávamos em 1994 e já tinha havido a crise do feriado do Entrudo e a coisa começou com uma buzinas e acabou com a ponte bloqueada por camiões carregados, cargas policiais e um jovem paralizado por uma bala perdida. E tudo em directo, pelas rádios e televisões. O Presidente não dissolveu a AR e o governo não caiu, mas nas eleições a seguir o PSD caiu da maioria absoluta para a oposição e o Cavaco hibernou durante dez anos para preparar a sua candidatura a Belém, com excepção de raras aparições para que o povo não esquecesse a tabuada.
O que se está a passar não augura nada de bom. Há uma série de grupos organizados de interesses com grande pó a este governo e em especial ao Sócrates e não perderão a oportunidade de produzirem grande estrago. Há dias uma "greve" dos transportadores para terem combustíveis subsidiados falhou porque não interessava aos camionistas, mas contra as portagens os interesses podem muito bem convergir.
Em suma, o governo está metido numa alhada e será preso por ter e por não ter cão, com tantos a morder-lhes as canelas. Com a inevitável agitação social e Cavaco com contrato de arrendamento do palácio de Belém renovado só não dissolve o Parlamento se a crise ainda for demasiada para a camioneta do PSD. Sinceramente, não acredito que o PSD queira ou seja capaz de governar, mesmo que consiga ganhar as eleições à vontade.
Agora as portagens.
Não me parece que haja alternativa. Vai haver portagens. Com PS ou com PSD. Mas a questão fundamental não é essa, do meu ponto de vista.
No tempo do Cavaco primeiro ministro entrou dinheiro a rodos em Portugal e o que aconteceu foi um maná para as empresas de obras públicas. Foram as pontes para o futuro, as Lusopontes e as Brisas de sucesso e, apesar de tanto dinheiro Social Europeu o resultado dos negócios foi uma factura para pagarmos a seguir. O PS veio a seguir e fez mais ou menos o mesmo e agora é que está aflito. Ou seja, aflitos estamos nós pagantes.
O que está errado não é pagar portagens. É ser obrigado a pagar por não ter alternativa.
O conjunto dos impostos associados aos meios de transporte (IA, IVA, IUC e ISP) só fazem sentido se forem utilizados para proporcionar condições satisfatórias de circulação e de segurança rodoviária. As autoestradas pagas deveriam representar uma opção por uma qualidade extra de velocidade e segurança. Ora o que acontece é que o Estado gasta o dinheiro dos impostos noutras coisas em vez de criar e melhorar as vias normais de circulação.
Não o fazendo, o Estado faz duas coisas: prima, opera grandes negócios com grupos privados onde não é de estranhar que no meio de tantos milhões de derrapagens haja alguns que derrapem para bolsos privados e sempre se arranja um lugar para quando se sai do governo; seconda, como não deixa alternativas viáveis, obriga os condutores a serem clientes das autoestradas para garantirem a rendibilidade do investimento, mesmo quando os contratos já prevêm cláusulas compensatórias quando essa rendibilidade baixa.
Assim, onde deveria haver boas vias de comunicação, sem rotundas e dupla via quando isso se justifique constróem-se autoestradas que, ou não eram necessárias ou não cumprem mais do que o normal de uma estrada nacional (engarrafamentos em muitos troços, reduções de velocidade, alta densidade de tráfego) pela qual se paga.

Os liberais gostam de se embriagar com o "princípio do utilizador-pagador" e com isso pretendem justificar a justeza das portagens. No entanto, quem paga nas portagens já pagou também para a estrada por onde não vai, muitas vezes porque ela não existe ou não tem condições mínimas. É neste sentido que acho que devia aplicar-se o "princípio do pagador-utilizador". Quem paga adquire direito a um serviço. Neste caso dos impostos, um direito a um serviço a ser usado por todos.
O Estado o que faz muitas vezes são investimentos não necessários para o bem colectivo, mas altamente favoráveis a meia dúzia de grupos económicos e, ainda por cima arranja forma de proteger os negócios dos privados com quem emparelha.

19 de junho de 2010

Um bando de inúteis

A coisa chama-se assim:
Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à relação do Estado com a Comunicação Social e, nomeadamente, à actuação do Governo na compra da TVI

Ralizou 31 reuniões a tentar provar uma tese, a de que o primeiro ministro mentiu ao parlamento, claramente fora do âmbito enunciado na designação (outros detalhes estão omissos na página da AR) e nem isso conseguiram.
Não se sabe quanto custou ao país esta Comissão a secção Plano de Actividades e Orçamento aparece vazia o que por si revela uma falta de transparência dos órgãos de soberania. Podemos pensar que aquilo foi gastar à Lagardère.
Estes senhores prestaram um muito mau serviço ao país e o facto de terem sido eleitos e terem legitimidade democrática, não a têm para fazzer o que bem lhes apetece e mal. Se tivessem vergonha demitiam-se por manifesta inutilidade.
A lista é esta. Vejam em quem votam nas próximas eleições.

Mota Amaral (PSD, Efectivo, Presidente )
Osvaldo de Castro (PS, Efectivo, Vice-Presidente )
João Pinho de Almeida (CDS-PP, Efectivo, Vice-Presidente)
Ana Catarina Mendonça Mendes (PS, Efectivo)
Manuel Seabra (PS, Efectivo)
Miguel Laranjeiro (PS, Efectivo)
Ricardo Rodrigues (PS, Efectivo)
Sónia Fertuzinhos (PS, Efectivo)
Vitalino Canas (PS, Efectivo)
Agostinho Branquinho (PSD, Efectivo)
Carla Rodrigues (PSD, Efectivo)
Francisca Almeida (PSD, Efectivo)
Pacheco Pereira (PSD, Efectivo)
Pedro Duarte (PSD, Efectivo)
Cecília Meireles (CDS-PP, Efectivo)
João Semedo (BE, Efectivo)
João Oliveira (PCP, Efectivo)
Maria José Gamboa (PS, Suplente )
Fernando Negrão (PSD , Suplente )
Nuno Encarnação (PSD , Suplente )
Pedro Mota Soares (CDS-PP , Suplente )
José Manuel Pureza (BE , Suplente )
Bernardino Soares (PCP , Suplente )

18 de junho de 2010

O meu nome é Mago. Saramago

José Saramago morreu hoje e deixou-nos mais pobres.
A magia com que levantava as palavras deixou em mim, leitor, um rasto de lucidez para todas as leituras.
Sempre chegaremos ao lugar onde nos esperam. Escreveu um dia.
Ainda tenho umas coisas para ler...
Hoje é o ano da morte de Saramago.

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago Os Poemas Possíveis
Curiosa, a mensagem de Cavaco sobre a morte de Saramago.
É mais do que dever de um presidente de Portugal manifestar em nome de todos os portugueses, a homenagem a um escritor maior por ocasião da sua morte, mas neste caso deve ter-lhe dado algumas voltas às tripas. Ou ter-se-á esquecido que quando era primeiro ministro um seu serviçal deu a cara a um acto de censura sobre Saramago. Já era uma referência nessa altura. Quase apostava que Cavaco nunca leu uma linha de Saramago e, se o tentou fazer terá achado que o homem não sabia escrever e fazer pontuação. Ponto.


(Isto foi escrito depois como correcção de um erro de postagem)

16 de junho de 2010

"Vendedor planetário"

Levaste-me à praia. Lavaste as saudades de mar e eu ensaiei passos cautelosos na areia. Saboreámos o sol deitados na beira das ondas da maré baixa. Fantasiámos sobre a ausência das gaivotas e despertámos com o rappel dos pregões estivais. "Barquilhere..." clama o vendedor ambulante daquela espécie de bolacha torrada e poucas são as paragens. A praia quase vazia não é muito propícia ao negócio.
Passado pouco tempo ouvimos o peculiar pregão de outro vendedor já nosso conhecido. Já tínhamos feito várias conjecturas sobre o seu estado mental e persistiam dúvidas sobre se realmente vendia as bolas de berlim que apregoava com rimas:
"Bola de berlim
para a Joana e para o Delfim"
(continuo mentalmente: para a Mariana e o Serafim/ Para a Sara e o Martim...)
E continua:
"Olhem para mim que já venho tão cansado
comprem bolas de berlim para não ir tão pesado"
A sua figura podia ter saído dum filme fantasioso. É um sexagenário atarrecado de rosto redondo avermelhado de cabelos totalmente brancos (teriam sido louros em tempos). Chapéu de palhinha de abas levantadas a terminar em bico para a frente. Camisa larga sobre uns calções também largos pelo joelho. Usa uma meia elástica decontenção de varizes. Traz um cesto de piquenique montado no esqueleto do que terá sido um carrinho de ir às compras que sspende na mão direita e um saco térmico enfiado no braço esquerdo, segurando nessa mão a tenaz de inox ou alumínio. Interpela as pessoas tratando-as por "vossas excelências" incluindo nesse trato um grupo de adolescentes. Insiste nas rimas para elogiar a beleza desta praia e apresenta-se como "Mário: o vendedor planetário".
Penso para mim que este poderia ser o verdadeiro contador de gaivotas. Elas hoje, por solidariedade com a greve dos maquinistas ou por estarem a vigiar os exames de português, não compareceram e não se deixaram contar.
Mas, para que fique esclarecido, Mário, o vendedor planetário vende efectivamente bolas de berlim. As rimas dá-as a toda a gente e espalha-as na areia para quem as queira.

8 de junho de 2010

HD

High Definition? Hard Disk?
Nada disso!
Em português é hérnia discal. Agora vou ali deixar umas dores e já venho.

4 de junho de 2010

O estado de sítio

Aqui vê-se melhor.


O meu bairro vai ficar sitiado para que uma cambada de inúteis venha sacudir o penacho. Nunca o Sítio das Figuras foi invadido por tantos figurões. O meu bairro vai ficar interdito à circulação. De carro, só se pode sair e andar a pé. É claro que todas as zonas à volta vão ficar saturadas de carros e de circulação alternativa.

Podiam fazer a coisa no Estádio do Algarve. Afinal a gente já o está a pagar e assim não chateavam.
Mas o mais triste é esta demonstração salazarenta dum país pimbo-militar.




2 de junho de 2010

Dia de quem?

E eu a pensar que o 10 de Junho era o dia de Camões e o dia de todos os portugueses espalhados pelo mundo...
Este ano as comemorações oficiais são em Faro. Já sabíamos que Cavaco tinha já transformado este dia em «dia da raça» (da dele, certamente) e em dia suplementar das forças armadas e também sabemos que Cavaco anda informalmente em campanha para a sua reeleição desde que foi eleito, mas, pronto, tem a legitimidade que a democracia lhe confere para isso tudo e ainda lhe sobra tempo, para ensinar o nome dos netos ao papa.
O que me pergunto é que sentido faz, nos dias de hoje esta manifestação masturbante militarista, belicista e parola. O culto da guerra, dos seus instrumentos e símbolos devia ser coisa a banir da vida pública. Ofende-me que seja usado como expressão mais relevante do que chamam «dia de Portugal».
Além disso, parece que fazem um simulacro da lei marcial durante três horas e meia. A informação a que tive acesso não deixa dúvidas:

As comemorações do dia 10 de Junho obrigam a condicionamentos de trânsito no acesso à Escola Superior de Saúde, nas zonas circundantes e no estacionamento no parque da Escola.
Face ao exposto, informa-se a Comunidade Académica das alterações de trânsito e estacionamento no dia 9 de Junho:
Ø O acesso e estacionamento no parque da Escola só são permitidos das 8:00 h. às 12:30 h. Todas as viaturas têm que ser retiradas do parque até às 12:30 horas.
Ø Durante as 14:00 h. até às 17:30 h. o trânsito encontra-se encerrado nas seguintes ruas:

- EN 125 – Nó do Aeroporto (cruzamento da EN 125 com a EN 125-10) até à rotunda do Teatro Municipal de Faro.
- Avenida Calouste Gulbenkian – desde a Rua do Alportel até à rotunda do Teatro Municipal de Faro.
- Avenida Prof.º Dr.º Adelino da Palma Carlos.

Assim , a partir das 14:00 do dia 9, o acesso à Escola só será possível por via pedonal
.

Não se pode estacionar à volta do arraial militar. Deve ser por questões de segurança (toda a gente se lembra da paranóia securitária de Cavaco que manda interditar o espaço aéreo quando vai à praia) e começa logo na véspera. E eu que pensava estacionar lá o meu carro e pôr a tocar toda a tarde, com o volume no máximo "la cucaracha", já não posso.
Talvez convoque uma manifestação de gaivotas para sobrevoar o recinto das festas e cagar-lhes em cima.

31 de maio de 2010

Inter vs rogações

Quando um escritor ou uma escritora medíocre tem um estrondoso sucesso editorial, estamos perante uma besta célere?

30 de maio de 2010

Domingo

Praia, xadrez e bicicleta.
Contigo, seria mesmo perfeito.

Lembrei-me de outros domingos de outros olhares
Aqui fica um domingo-poema de um dos meus poetas


Poema de domingo
Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio algremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.

Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.


É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos

20 de maio de 2010

FaroVille

É quase à minha porta. No meu quintal. Praticamente.Primeiro interrogávamo-nos o que se estava ali a construir com a ajuda e o empenho da tropa. As máquinas eram verde-militar e os uniformes não deixavam dúvidas. Em vão procurei os cartazes obrigatórios, parece-me, em todas as obras que informam do que se está ali a fazer. Quando se trata de obras públicas até costuma estar lá o orçamento e as fontes de financiamento e o prazo de construção.


Aquele terreno está envolvido numa polémica desde há meia dúzia de anos. Assim em breves palavras, era um terreno do domínio público municipal que por proposta do presidente Vitorino e a concordância do PSD e do PS na A. Municipal, passou a domínio privado da Câmara, para o oferecer ao SCFarense, para este clube aí explorar uma bomba de combustíveis de modo a poder pagar as dívidas ao fisco e à segurança social, acumuladas por gestão danosa da SAD.
E isto só não seguiu assim porque os moradores do bairro interpuseram uma providência cautelar.
E fui vendo o avanço da obra com algum regozijo, porque fosse o que fosse, sempre era melhor que uma gasolineira redentora da delinquência fiscal. Mas continuava a não haver informação visível o que me fazia pensar que estaríamos perante uma obra ilegal, uma construção clandestina.
Ouvia vários comentários e alguém com ar de bem informado garantia que aquela obra era para as comemorações do 10 de Junho (e já nem sei bem o que se comemora nesse dia) e que vinha cá o Cavaco. Pensei logo que a coisa se deveria vir a chamar cavacódromo. Sua celência aroveita o feriado, vem à terra e faz um discurso para os magalas ali em sentido, ao sol, a desidratar.
Mas sempre é melhor que uma gasolieira.
Ainda procurei ali um rego directamente ligado à ria para passarem os submarinos do Portas, mas não vi nada. Ah... ainda não vieram da Alemanha...
Mesmo assim, eu que sou um bocadinho céptico e às vezes mesmo pirrónico não estou la muito convencido dessa coisa do 10 de Junho e das paradas militares.
Então não se está mesmo a ver que isto é a FarmVille farense.
Em tamanho real.

Até as crianças percebem!
Nota: Com tudo isto não está ainda afastada a possibilidade de nascer ali uma bomba de gasolina, o que é uma lamentável opção para a entrada da cidade. Vamos ver.



17 de maio de 2010

Realmente...

Vamos lá ver se alguém adivinha quem foi o real idiota que desovou estas pérolas.

Considera que o país está mais preocupado com as causas fracturantes do que com a realidade?
Claro! Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene. Praticamente é só isso, em vez de dar referências éticas e morais em relação ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Ao mesmo tempo, desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses.

Há questões, como o divórcio, que na Monarquia seriam impossíveis!
Hoje em dia é mais fácil despedir a mulher ou o marido do que um funcionário de uma empresa. Ora, a estabilidade de um emprego não é mais importante do que a estabilidade da família.

A questão do aborto também?
A lei do aborto livre é para muitos uma lei que escraviza as mulheres porque hoje ela pode ser obrigada a abortar pelos patrões, amantes e pais. Esta é a situação de muitas mulheres, pois é raro que queiram abortar por vontade própria. Esta lei, que as escraviza, é ultraliberal e ultracapitalista e não percebo como é que a esquerda em Portugal apoia isto.

Uma esquerda que também apoia o casamento homossexual...
Esse é um problema mais complicado porque há uma confusão entre o direito a viver junto, a ter alguns benefícios fiscais, a ter certo reconhecimento legal para pessoas que querem partilhar a sua vida e que muitas vezes até podem ser duas velhas amigas, vizinhas ou irmãos. A legislação sobre o casamento tem basicamente o objectivo de proteger as crianças e creio que não se devia confundir o casamento como unidade que pode produzir uma futura geração, educá-la e ter responsabilidades nela, com as uniões de facto que podem ser aquelas que interessam aos homossexuais. Dizia alguém – a brincar claro – que hoje os padres e os homossexuais é que se querem casar, os outros preferem as uniões de facto porque dão-lhes menos responsabilidades.


Não não foi o Cavaco. Esse apenas veio explicar ao papa que estava de mãos atadas e não tinha outro remédio que não promulgar a lei que permite que pessoas do mesmo sexo possam casar. Não disse, mas a gente percebeu que continua homofóbico graças a deus e à virgem santíssima.

13 de maio de 2010

Papanços e papalvos

A RTP, televisão pública continua a espremer Fátima. É a Fátima Campos Ferreira que já deve estar estar na fila para a próxima época de beatificação a fazer desfilar todos os beneméritos do amor ao próximo. As outras televisões já retomaram as suas programações e a RTP continua na sua missão apostólica. É caso para dizer que é mais papista que o papa.
A TSF também fez a sua emissão pastoral a partir de Fátima logo desde manhã cedo. Ainda ouvi uns comentadores a falar da dor e do sofrimento e de um deus que é bom e se não fosse deveríamos ser ateus. Uma freira aproveita para desancar no Saramago e eu a pensar que esta gente ou não lê a bíblia ou tem uma visão muito selectiva e quanto mais o ouço mais me espanto como é que gente que considero inteligente acredita nestas histórias. As histórias que se contam sobre um suposto deus e que são objecto de fé, negam-se a si próprias.
Então meu caro Anselmo Borges, estará lembrado do sacrifício que o deus da bíblia (suponho que é o mesmo de que falava) pediu a Abraão? Para ser coerente, deveria engolir as suas palavras e declarar-se ateu.

O apóstolo Cavaco acaba de dar mais um ar de labreguice presidencial, na RTP N (18:35). O ar com que conta como o papa até foi capaz de repetir o nome dos netos... Sinceramente!... Logo a seguir vem o testemunho de uma cura milagrosa da virgem maria. Nem sei para que é que ainda gastamos dinheiro no Serviço Nacional de Saúde. Deve ser porque o sistema divino dos milagres também tem as suas falhas que como se sabe começou logo por deixar morrer (negligência?) dois dos pastorinhos que dizem ter visto a aparição em Fátima.
Mas parece que somos poucos a dar por isso.

12 de maio de 2010

Quem semeia bento... um dia destes bai ber se chobe

Ouvir os discursos de Cavaco ao papa tratando-o por sua santidade e por santo padre, ainda por cima dizer que fala em nome de todos os portugueses dá-me vómitos. Aliás, em todo este processo, Cavaco não se tem comportado minimamente como chefe do Estado português, mas apenas como um vulgar chefe de família temente a deus e à virgem santíssima que recebe o papa como se estivesse em sua casa e chama os parentes mais próximos para virem cumprimentar o papa. Um nojo. Não me lembro de alguma vez olhar para este sujeito e ver nele o presidente de todos os portugueses. A mim, só me faz sentir vergonha. Pode ser que isso agrade e seja ao jeito da maioria dos portugueses, mas não passa a ser ético por isso. Ainda há dias foi à República Checa e ouviu o que outro quis dizer e amochou. Agora com o papa comportou-se como submisso sacristão. O homem tem demonstrado que não tem jeito nenhum para o cargo. Um verdadeiro lèche-bottes (ia escrevendo culs, mas até isso exigiria mais elevação) não pode ser chefe de um estado soberano.

Sócrates também foi à missa e hoje reuniu-se com o papa. Também lhe estou com tremendo asco, mas isso são contas de outro rosário (vejam como estou contaminado por esta overdose católica!) Ouvi Sócrates à saída do encontro com o papa e de facto não tem nada a ver com o comportamento de Cavaco. Teve uma pequena hesitação, mas tratou o papa por "sua eminência", foi respeitador e protocolar. Este contraste ainda me faz sentir mais a completa inadequação do comportamento de Cavaco.
O papa bem o podia levar para o vaticano. O homem farta-se de dizer que sabe de economia e isso deve fazer jeito ao Vaticano, embora eu não tenha grande fé nisso. Lembrei-me que se se aplicar à economia o que Abel Salazar dizia da medicina ("médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe") a coisa fica difícil. Por outro lado, também não há qualquer evidência de que os conhecimentos de economia de Cavaco tenham servido para alguma coisa. Bom, temos aquele bom desempenho ao nível da economia doméstica com as acções do BPN ou da SLN, mas aí também eu teria feito boa figura...
O homem dos tabús continua em campanha e um dia destes vem aqui a esta paróquia inaugurar o cavacódromo, mas sobre isso há-de haver outro escrito com bonecos e tudo.



Só por curiosidade, no Priberam, dicionário online, a palavra do dia é:
mirmecófago (grego múrmeks - ekos, formiga+ -fago) adj. Que se alimenta de formigas. = FORMICÍVORO. Ou seja, PAPA formigas.

11 de maio de 2010

O Tony Carreira faria o mesmo mais barato

Cheguei a casa e ligo a televisão que abre na RTP N (parece que qualquer um que fosse) e e stá a dar (é o que está a dar) a transmissão directa do terreiro do passo. A locutora diz que faltam 21 minutos para a eucaristia (de vida) celebrada pelo papa. A câmara percorre em panorâmica a primeira fila e tenho a impressão que lá estão as mesmas caras que estavam no concerto do Tony Carreira, no pavilhão Atlântico, ou no Campo Pequeno... já não me lembro.
Ontem alguém fazia as contas e dizia que se contabilizava em 75 milhões os custos observáveis desta visita papal. Não se incluem aqui os prejuízos das tolerâncias de ponto e do estado de sítio de meia cidade de Lisboa.
Eu sei que as pessoas precisam disto, mas não abusemos. Esta semana já houve a vitória do Benfica com 48 horas de festejos e recepção oficial na Câmara de Lisboa. Foram milhares e milhares de pessoas em celebração até de madrugada, incluindo inúmeras crianças em idade escolar e não houve sequer um dia de tolerância para os benfiquistas de alma e coração.
Isto prova que as pessoas, quando animadas pela fé não precisam de feriados nem tolerância de ponto e até são capazes de pagar para estar junto dos seus ídolos.
É bem verdade que a malta do futebol também gasta muito em segurança
e em cada jogo jogam cerca de trinta polícias por cada futebolista e que ao fim de um ano isso custa-nos um ror de dinheiro.
O Cavaco trata o papa por santo padre e diz que fala em nome de todo o povo português...
Estou a ver que de Portugal se pode dizer que é tanto um estado laico, como do vaticano que é um estado pedófilo.

Esta visita junta o delírio místico com a paranoia securitária. Para além do ridículo de que ninguém se parece importar.