24 de dezembro de 2007

Prenda

Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos.
Encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar.
Encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.

Chegada da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver, em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei
às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem,
encosta-te a mim.


Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes.
Vizinha de mim,
deixa ser meu o teu quintal,
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como foi.

Eu venho do nada
porque arrasei o que não quis
em nome da estrada, onde só quero ser feliz.
Enrosca-te a mim,
vai desarmar a flor queimada,
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo, e o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar,
mas quero-te bem.

Encosta-te a mim

Encosta-te a mim

Quero-te bem.

Encosta-te a mim


A canção que ia fazer para te pôr no sapatinho.
O Jorge Palma adiantou-se. Paciência...
Beijo na tal

12 de dezembro de 2007


a Felicidade consiste em resistir com teimosia a todas as infelicidades

José Gomes Ferreira. Aventuras de João Sem Medo - Panfleto Mágico em Forma de Romance

Transpoética



iremos pois de mão dada
como costumamos adormecer
sempre de mão dada
como nos sonhos
percorrer o mundo
este e todos os outros
porque todos os outros também são este


pousar os olhos nas marés de todos os oceanos
lambuzar-nos com o doce das frutas
aprender os ritmos de cada lugar
perdermo-nos na aventura da dança
deixar para trás os desertos
afogarmo-nos no verde das searas
escutar os apelos da terra e do corpo
porque corpo e terra também são voz


marcar o compasso das ilhas
despirmo-nos no espelho das fontes
contar luas pelos dedos
embriagarmo-nos de virtude
semear melodias no vento
escutar em muita línguas
o que dizemos em silêncio

6 de dezembro de 2007

Metanças gregas





Todo o mundo é composto de metáfora.
A amiga Xantipa explica porquê.


imagem daqui

Sementes (cinco)


O rapaz que durante toda a sua vida seguiu com o olhar as aves que partiam e sentia-se a ir com elas para terras para lá do mar experimentava agora um desejo ardente de partir com a rapariga do sorriso e com as suas cinco sementes. E disse à rapariga:
Tu és como as aves.
O olhar da rapariga encheu-se de luz e isso encorajou o rapaz a continuar.
As aves tanto são das terras donde nascem como daquelas onde têm os filhos. Tu trazes contigo sementes raras; se nunca as plantares elas nunca irão germinar.
O sorriso da rapariga parecia dizer que ela já sabia tudo isso e que estava à espera que alguém lho dissesse. E o rapaz acrescentou:
Bem sabes que no dia em que as lançares à terra elas vão ganhar raízes que te vão prender também a ti a um lugar que é também a tua terra.
A rapariga humedeceu os lábios, o que dão mais brilho ao seu sorriso em forma de estrela do mar e disse:
É por tudo isso que algo me faz querer confiá-las a alguém e também confiar-me. Queria muito que isso fosse contigo e já está a ser. Mas preciso de mais muito mais. Preciso que vás buscar ao fundo de ti, também as tuas sementes e as tragas e as partilhes comigo. Então serás o meu homem e eu a tua mulher.
A rapariga deixou ficar o sorriso e o rapaz ofereceu-lhe os olhos brilhantes de comoção. Ficaram ali muito tempo, não se sabe se a pensar no futuro se simplesmente a observar o mundo com o mesmo olhar.

4 de dezembro de 2007

Design & Branding


Uma filha entra verdadeiramente na idade adulta quando atende o telefone e diz com voz de empresária:

Agora não posso falar, estou com clientes.

E depois liga mais tarde por sua iniciativa.


Torço para que tudo corra bem.

Fico feliz com os seus sucessos.

E pai orgulhoso.

20 de novembro de 2007

Desejos simples


Assim mesmo, com palavras simples e a transparência índica do sorriso, ela formulou um desejo que tinha a força de uma profecia. Havemos de aqui vir!... Escreve isto!.

Iremos.

Está escrito.
Imagem roubada aqui

10 de novembro de 2007

Pó de ser


Já me tinha soado que havia qualquer coisa no ar... Afinal era poeira.
Pós. Pós modernos, claro.
Acabaste de inventar um novo produto blogoliterário.
Estórias em pó.
Basta juntar água.
Gande abraço à Cristina -que ninguém lia (!)- e boas estórias.
Água, meto-a eu

Partida


Lembro-me da praia da Nazaré dos meus tempos de menino muitos anos antes de alguém sonhar com telemóveis e comunicações por satélite. Os pescadores entravam nos botes que os levavam às traineiras e partiam para a faina de dias ou semanas. As mulheres ficavam sentadas na areia a entoar um murmúrio que eu não entendia (alguém me explicou que eram rezas para que nada acontecesse aos seus homens), até a traineira se sumir no horizonte. Depois, iam às suas vidas, de canastas viradas para baixo à espera do próximo quinhão. Mas se havia notícia de temporal no mar, lá voltavam elas como um bando que pousava na areia e retomavam as ladaínhas sentadas nas suas sete saias de esperas.


Desta vez custou menos vê-la partir. Custou mais ficar em terra a mastigar a dor da falta de coragem de enfrentar as outras dores e todos os riscos que afinal se correm mesmo ficando.


Foi bom ouvir-lhe a voz outra vez do lado de lá do equador. E trazia um sorriso em forma de estrela. Do mar. Do Índico.

6 de novembro de 2007

Bem me parecia

Encontrei por aí esta brincadeira e fui experimentar.
E depois de me sujeitar a um apertado inquérito concluiu-se que afinal

***You Belong in Paris***
(quer dizer, eu mesmo)
You enjoy all that life has to offer, and you can appreciate the fine tastes and sites of Paris.You're the perfect person to wander the streets of Paris aimlessly, enjoying architecture and a crepe.
experimenta!

5 de novembro de 2007

Também eu, às vezes


Assistia hoje a um painel sobre Igualdade de oportunidades e não discriminação enquanto factor de cidadania e uma das oradoras citou um trabalho de uma deputada dinamarquesa que caracterizava cinco estratégias masculinas de desqualificação das mulheres nos grupos de trabalho, sobretudo quando estas estão em minoria que passavam por ignorar a sua presença, não responder aos seus argumentos, torná-las invisíveis, juntarem-se em grupo durante as pausas para “conversas de homens”, etc. Contava ainda esta participante que a dita deputada tinha tido grande sucesso no estabelecimento de uma cumplicidade entre as deputadas dos vários partidos que já comunicavam umas com as outras por sinais como quem diz olha a estratégia número dois, ou outra que já todas identificavam claramente.
Ao contrário do que sugeria esta oradora não me pareceu que esta estratégia fosse a mais adequada por parte das mulheres quando se sentem de alguma forma discriminadas. Ao colocarem-se em simetria face às posições e aos estereótipos culturais fundados no machismo, numa espécie de guerra-fria-dos-sexos, não contribuem para a mudança. Os homens vão continuar a achar que são muito evoluídos culturalmente que não discriminam, que respeitam a mulher na sua natural dignidade e outras coisas politicamente correctas e a pensar que as queixas delas não fazem sentido, sobretudo se elas não forem jovens e bonitas.
E pensei também como têm sido para mim estas diferentes atitudes. Fizeram-me muito mais homem e crescer como pessoa, as mulheres que ao longo da vida me confrontaram, fazendo-me ver e reconhecer em mim os traços sexistas, machistas e marialvas. Isso sim, foi-me transformando e continua a transformar, e mais ainda quando vem de quem se ama.

31 de outubro de 2007

livreiros entre outras coisas ( I I )


Descobri a Culsete há pouco. Ou melhor, ela é que veio ter comigo dentro de um livrinho que já não se vê por aí nos escaparates e que conta mistérios da nossa existência. A Culsete veio com amor por mão própria e, mesmo antes de lá ter entrado já lhe tinha apreendido o fascínio. Não tive ainda tempo para a explorar. Estive lá uma vez e muito pouco tempo. Mal passei da entrada e já acontecia tanta coisa. Senti-me como na entrada de uma misteriosa gruta onde apetece voltar com tempo para explorar demoradamente. Ali os livros têm o cheiro facilmente reconhecido por quem gosta dos livros e dos sítios deles. E tem um livreiro que é dono e é capaz de saber o sítio exacto de cada livro apenas pelo título, ou pelo autor ou, até mesmo por uma palavra solta do título. Foi na altura da divulgação do Nobel da Literatura e, confesso que nunca tinha lido nada nem sequer ouvido falar em Doris Lessing, mal falámos no assunto e se tinha alguma coisa dela vimo-lo desaparecer por detrás de uma estante, baixar-se e levantar-se já com um livro na mão.


Só tenho este... (um título que não me entusiasmou por aí além e que não retive sequer).


Entretanto prosseguíamos na conversa em que falava do seu percurso com os livros e a leitura e a animação de leitura comentada com grupos de operários até que a A. pergunta por um livro que fala de uma menina cega. Não sabia dizer o título nem o autor, mas isso não impediu de em segundos ter na mão um livro protegido por um invólucro de celofane a que limpou o pó com um pano antes de o rasgar. O livro assim pedido era "Helen, a menina do silêncio e da noite" de Anne Marchon (Desabrochar–Editorial, 1988) , uma obra invulgar incorporando a versão em Braille e uma cassete audio. Foi com visível e partilhada emoção que se virou para A. :
Que idade tens?
Onze.
Olha, quando este livro saiu ainda não eras nascida e a minha filha tinha a tua idade. O primeiro exemplar foi para ela. Este é o último. É para ti.
Nesta altura já a emoção tomava conta da gente, capaz de nos embargar a voz. A C. quis saber o preço que iria pagar por aquela raridade, mas também, pareceu-me, porque temeu que ele quisesse oferecer o livro a A.
O preço é o que menos importa num livro. Quando se quer muito uma coisa não se pergunta o preço.
Depois deixou-nos ver a etiqueta branca colada na capa com um preço de antigamente: 1300$00.
É isto em euros, mais IVA. Sou livreiro e não alfarrabista. Era o preço na altura e não actualizo. São sete euros e oitenta e cinco.

Era sábado, mais do que horas de almoço. Horas de fechar a livraria. Veio conosco até à porta e, depois de nos despedirmos com a cumplicidade de quem viveu um momento extraordinário em comum, acendeu o cigarro que mantivera ao canto da boca durante todo este tempo.

Imagem daqui

30 de outubro de 2007

Outonomia


Vens lembrar-me o tempo em que nascem coisas belas.
E semeias assim as palavras que são sementes e depressa se incendeiam em flor.
Obrigado.

Já flutuavas aqui sobre a terra e sobre o mar há uns dias e ainda não tinha escrito nada. E não sei que palavras bastem para o gosto que as tuas me dão.
Leio-te nas cores todas, mesmo que risque pouco.

Eu pensava que já sabia umas coisas de blogues...
Ainda não descobri como é que se faz um post com o cheiro da terra húmida e das frutas e dos salgueiros dos rios e dos ventos do levante e dos doces de mãe e do pão quente e da serra e do mar...
Vê lá se me ensinas.

Tenho esperança que nasça aqui uma acácia rubra.

16 de outubro de 2007

livreiros entre outras coisas ( I )



Há dias entrei numa livraria em Setúbal e, entretido a ver uns cadernos e uns dossiês antigos, dei por mim a escutar a conversa entre o livreiro e uma família. Uma menina perguntou o que era o IVA.

O dono da livraria, senhor a caminho dos setenta, figura esguia e olhos muito vivos, virou-se para a menina como se tudo o resto deixasse de ter importância e a hora de fechar para almoço (era sábado) pudesse ser atirada lá mais para a frente e dispôs-se a explicar a uma criança de cinco ou seis anos o que era o Imposto Sobre o Valor Acrescentado. E fê-lo de tal forma que até os adultos (entre eles um avô) ficaram a saber. A criança só não percebeu porque se chamava IVA ao imposto. Possivelmente tem algum coleguinha de infantário chamado Ivo e a coisa estava a fazer-lhe confusão, pensei eu.

O livreiro então levou-a para junto de uma mesa, pegou num papel e numa caneta e perguntou:


Como te chamas?
Irene.
Irene quê?
Irene Marques.
Então se eu escrever aqui um I e um M, as pessoas que te conhecem sabem que és tu. Com o IVA é o mesmo..., continuou ele até concluir a explicação.
E lá se despediram com o livreiro a expressar as saudades que também tem dos netos.

Depois ficámos ali a sós ainda uns minutos e não me lembro como lá fomos parar, mas seguramente relacionado com a dificuldade de uma livraria ter tudo o que um cliente pode procurar, falávamos da profusão editorial dos dias de hoje e do muito lixo que por aí circula. Surpreendeu-me ama vez mais quando me fitou (com o cigarro apagado ao canto da boca que mantinha desde que o vi) e me disse:
Sabe? Também já pensei que isso era mau. Tudo se editava, muita coisa sem qualidade... mas depois pensei que teria que haver algo de bom nisso. Há muita palha e pouco grão? Temos que procurar melhor; o grão está lá!

Ficámos por ali porque entretanto chegaram a C e a A e começou outro episódio que merece um outro poste.

7 de outubro de 2007

Hoje

Pode ter sido pelo caminho da pele que chegámos para ler nos olhos um do outro coisas que nem um nem outro sabíamos lá haver.
Mas os dedos nasceram lá longe e andaram errantes por aí carregados de estórias e de repente (não mais que de repente, diria o poeta) souberam-se ávidos de abraços.
E os abraços cresceram com outros abraços e também no abraçar das belezas do mundo. E foram viagem e alegria e festa e força regeneradora quando algo em nós adoecia.
Foi bom voltar aos beijos de areia e mar

26 de setembro de 2007

Voa voa que o amor chega a Lisboa

Agora vou-me embora e parto sem dor...









25 de setembro de 2007

sui genericídios

Através de blogamigos tomei conhecimento da morte do actor pedro alpiarça que se defenestrou do quinto andar do hospital de santa marta provavelmente em desespero com a falta de respostas do serviço nacional de saúde Hoje soube que o filósofo andré gorz e a sua mulher Dorine se suicidaram em casa como quem escreve la dernière lettre d'amour Amor e morte Desespero e morte Há quem diga que são escolhas Não sei
O próprio gorz disse um dia
On ne fait jamais ce qu'on veut et on ne veut jamais ce qu'on fait.[...] Et pourtant, on fait ce que l'on juge devoir faire parce qu'on se sent et donc se rend capable de le faire

Tento compreender este querer não querer de quem escolhe em determinado momento fazer o que julga nesse momento fazer O drama é que não há forma de saber que consequências teve essa escolha

programa de troca de guardas prisionais

ou pelo menos daqueles que falam por eles

Imagem gamada aqui
Por cromos da bola ou pokemons ou actiomen ou assim e talvez não fosse necessário fornecer seringas aos presos que consomem drogas nas cadeias Se entra droga e uma seringa para cinco ou seis (quando não é uma seringa artesanal feita com uma carga de esferográfica) é porque alguém está a dormir ou é pago para isso E vêm os gajos agora dizer que é um perigo e tal que alguns até estão presos por assaltos com seringas E estas políticas hesitantes (como diz o editorial do público) têm andado a reboque do senso comum e mais das imbecilidades do pinto coelho da doninha avestruz ou do vaca galo em vez de seguirem as experiências estudadas e comprovadas

A coisa vai ser assim e pedagógica que é para ver se eles aprendem Pode ser que fiquem a saber quantas pessoas não teriam sido infectadas com vih e hepatites se a medida tivesse sido implementada quando se começou a falar que noutros países já se fazia

23 de setembro de 2007

Meu amor doente

Há momentos em que parece que o mundo todo pára. Param os relógios, ou começam mesmo a andar ao contrário. Os semáforos avariam no vermelho. As cancelas não sobem.
A orquestra, já na cadência final suspende-se numa inexplicável fermata.
Neste tempo equador ecoa a dor.

Acho que é nestas alturas que os crentes invocam os seus deuses e a divina protecção. Eu que de crente só chego à alma (anima) convoco a força regeneradora que nos faz resistir e vencer.
Imagem pescada pelo google


Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias...


Eugénio de Andrade ( As Mãos e os frutos)

22 de setembro de 2007

Rosa de porcelana


Descobri-a no sítio do costume e fiquei a saber que se chama Etlingera Elatior, que é da família do gengibre, mas isso não muda nada. Nunca vi nem cheirei nenhuma. Não sei explicar. Gosto dela. Gosto dela porque gosto dela e porque é de lá.
Toma-a

Parabéns

minha flor


Minha flor minha flor minha flor.
Minha prímula meu pelargônio meu gladíolo meu botão-de-ouro.
Minha peônia.
Minha cinerária minha calêndula minha boca-de-leão.
Minha gérbera.
Minha clívia.
Meu cimbídio.
Flor flor flor.
Floramarílis.
floranêmona. florazálea. clematite minha.
Catléia delfínio estrelítzia.
Minha hortensegerânea.
Ah, meu nenúfar. rododendro e crisântemo e junquilho meus. meu ciclâmen. macieira-minha-do-japão.
Calceolária minha.
Daliabegônia minha. forsitiaíris tuliparrosa minhas.
Violeta... amor-mais-que-perfeito.
(...)

Carlos Drummond de Andrade


na terra que te viu nascer e onde se multiplicam emoções todos os dias.

Beijo

20 de setembro de 2007

Setenta e duas horas

E estava eu no 4 de Fevereiro à tua espera quando arribas do sul para mais perto.
Depois pousavas de mansinho do teu voo e abraçavas-me ali para que o que resta do dia nos visse com toda a luz. O resto contar-me-ias no breve crepúsculo porque a noite cai muito depressa.
A meia lua crescente testemunha que mais uma vez me calo e guardo para mim a visão da beleza que me ofereces.

18 de setembro de 2007

correr com eles


O nosso primeiro (em americano praim'inistar) e também presidente da ué foi aos seteites da américa Ele tem aquela mania do joguingue assim como aquele papa tinha de beijar a placa dos aeroportos e eu já estava a pensar cá com os meus botões e teclas Agora é que ele corre com o jorge buxo (buxus sempervirens) Mas não ele foi lá só treinar o inglês tecnico-geográfico do midueste
Enfim Também gostava de correr com eles Ou seja em americano técnico dampedeme

11 de setembro de 2007

À sombra


Aqui o sol nasce às seis horas e o trabalho às sete. Já chamo amigos aos que vou encontrando e que sem darem por isso me vão ajudando a percorrer esta cidade. De modo que já sei: uma hora antes de o sol se pôr encontramo-nos à sombra, ali na rua da ilha da madeira, a uns escassos duzentos e cinquenta metros da praia. Então contar-me-ás ao ouvido o que te lembra o cheiro do maboque. É que ouvi contar por aí que leva consigo o cheiro dos lugares onde foi criado e lembrei-me logo que devia ser como os búzios: trazem dentro de si o som do mar.

onze de setembro

Imagem roubada

O outro Ninguém se lembra já Então aqui fica para os que ainda não eram nascidos

Foi há trinta e quatro anos e terá causado mais vítimas e desaparecidos que este Um golpe de estado empinochou uma ditadura tenebrosa que perseguiu torturou matou exilou milhares e milhares de chilenos

Allende resitiu até à morte

As suas últimas palavras são uma exortação à esperança


Trabajadores de mi patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.
¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!



10 de setembro de 2007

Paralelo 13


Desde que partiste que viajo como há muito não fazia.

Talvez a culpa seja de não ter aprendido a despedir-me assim para tão longa distância. Esse equador separa e coa as mensagens por um ralo muito finhino e só deixa matar gota-a-gota as saudades que crescem mais depressa.

Mas não me conformo e vou por aí em busca desses lugares e vejo acácias rubras mesmo antes de começarem a florir e sento-me a teu lado ao pôr do sol na Morena. E oiço dizer que antigamente faziam uns bailes fantásticos no «porta aviões».

Por acaso já descobriste onde se come um bom calulú?

Do lado de baixo do equador

POEMA DOS OLHOS DA AMADA Foto daqui

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

Vinícius de Moraes


6 de setembro de 2007

Aqui ficas, Clara


Aqui ficas, melodia
Que nunca encontrei
Por mais que a buscasse
Nas bocas, por lei,
Cosidas na face…

Aqui ficas, minha sombra,
Na terra deitada
À espera, sozinha
Da noite da espada
Fora da bainha.

Aqui ficas, minha raiva,
A sonhar que furas
Os olhos das rãs
Com estas mãos puras
De tecer manhãs.

Aqui ficas, meu sonho,
Para um dia pores
Todo o sol que queiras
Nas cristas das flores,
E inventar bandeiras.

Aqui ficas, morte,
Que a morte é assim,
Este dar ao mundo
O que ao mundo em mim
Gela num segundo.
(...)
José Gomes Ferreira
Pensei que chegava ao pé de ti e dizia:
A luta continua!
Não me deste tempo.
Foste...

3 de setembro de 2007

Hoje a tristeza é Clara

Há coisas com as quais ainda não sei lidar. Não sei se aprenderei. Se viverei tempo suficiente para isso.
Que se faz quando se recebe um sms assim: A Clara está em fase terminal, pouco mais há a fazer do que proporcionar-lhe uma partida digna e com o menor sofrimento (...) ?

Que se faz quando Clara nos transporta até à infância e adolescência (aos lugares da infância, pois é...) com o seu olhar vivo e inquieto (não me recordo se alguma vez lhe disse que me lembrava um olhar de rato) num tempo em que a liberdade tinha que ser inventada?

Só consegui responder ao fim de meia hora. Que tristeza... Dou-vos o meu abraço solidário e amigo.

Sementes (quatro)


A rapariga guardara as sementes durante tantos anos e tinha-se habituado a olhar para elas sempre que na sua vida acontecia ou estava para acontecer algo de importante. Contou que tinha sonhado com os lugares da sua infância e o rapaz escutou-a a falar como se estivesse ali a sonhar. A voz da rapariga foi baixando até ao nível do sussurro e o rapaz acercou-se mais. Nessa proximidade sentia claramente o odor que se desprendia da pele da rapariga. Um cheiro doce que lembrava baunilha e canela inebriava-lhe os sentidos ao mesmo tempo que uma estranha força o colocava cada vez mais próximo. Tão próximo que quase se tocavam.
Talvez pudesses ir lá comigo um dia, disse a rapariga como se despertasse. Ou pelo menos foi isso que pareceu ao rapaz no seu próprio despertar.
Contigo, aonde? Perguntou o rapaz ainda mal refeito da vertigem.
Aos sítios da minha infância, respondeu a rapariga iluminando o sorriso e estendendo a mão. O rapaz pegou-lhe com doçura e ali ficaram os dois num olhar de olhos que se procuram no fundo.

Por cima desse olhar líquido de adivinhar viagens, a rapariga disse-lhe:
Há muito que ninguém se interessava assim pelas minhas sementes. Queria muito que fosses capaz de as compreender e de as respeitar.

2 de setembro de 2007

Reverberações das figuras


Calei tudo.
Nem Mezzo.
Nem rádio.
Nem mesmo o novo CD da Susana Baca.

Procurei o silêncio.
Escutei as paredes a ver se me confessavam a tua presença.

A casa está realmente vazia e enorme.

27 de agosto de 2007

Muito que contar


Acordar assim como quem vem dos sonhos.
Percorrer o teu corpo antes que o dia lhe mostre a luz.
À mistura com com abraços, nasce como a água a vontade de contar.
Sementes.
Muito provavelmente.

31 de julho de 2007

noventa e seis segundos


Noventa e seis segundos de fogo de artifício

É quanto custa aplicar a lei da ivg na madeira

24 de julho de 2007

ibéria ou e-béria




O saramago devia ganhar mais um prémio nobel O nobel da incon(s)ciência E não é que vem o laureado escritor ribatejano-canarino dizer que isto de portugal e espanha serem assim dois estados não tem graça nenhuma porque tem que casar duas vezes e logo com a mesma Mas faz mal andar por aí a propagandear essas coisas sem explicar como é que é porque o pessoal daqui põe-se logo a pensar em mil seiscentos e quarenta e em restauração quando esta ainda não era negócio de comes e bebes Enfim O pessoal começa logo a filipar só com a ideia de portugal poder ser uma província espanhola E depois há o caso da madeira e de olivença que seguramente entravam em luta pela independência para já não falar das berlengas e da ilha do pessegueiro


Por acaso também acho que estas fronteira já não fazem sentido nenhum e uma ibéria de povos e regiões respeitando as diferenças culturais e a liberdade de cada um morar e trabalhar onde lhe dá mais jeito é que era bom Mas não sou tão incon(s)ciente como o saramago Isso não é possível A esta hora já há muito castelhano a praguejar entre duas cañas Coño Nosotros una província portuguesa Nem que la vaca tussa Ou como dice el ministro da ota Jamais Jamais


Só por esta amostra se vê a dificuldade para um castelhano em arranhar o portunhol quanto mais entender o tranquilês do treinador bento


20 de julho de 2007

Sementes (três)



O rapaz mergulhou então numa espécie de sonho. Também ele conhecia esse mundo de tanto o percorrer. O hábito de observar as aves era mais do que um simples olhar. Voava com elas e com o seu olhar, no ir e vir das suas migrações, falava de terras distantes como se as tivesse calcorreado e até parecia entender o falar estranho de gentes longínquas.

O rapaz olhava para as cinco sementes e só agora começava a vê-las no seu essencial. Sentiu-lhes uma força contida de algo que quer nascer e pousou-lhes suavemente as mãos quase sem lhes tocar.

Eram muito mais que sementes de germinar e fazer crescer árvores e flores e frutas que é o que fazem todas as sementes. O rapaz que sabia de sementes raras, na posse de mestres que as guardavam como pedras preciosas e as protegiam da extinção, teve a clara visão de que estas não eram apenas sementes raras. Cada semente era única.

A rapariga mantivera o sorriso em silêncio e parecia seguir os pensamentos do rapaz como se os adivinhasse antes dele os ter. E disse-lhe: sim, cada semente é realmente única.

E a rapariga contou que lhe tinham sido dadas pela mulher velha antes da grande tempestade que se apropriou de todo o céu no tempo em que os homens ainda guardavam os rios.

19 de julho de 2007

Sementes (dois)


O rapaz das aves lembrou-se então de saberes antigos e talvez um pouco enjeitados pela vida, mas que lhe vinham de herança juntamente com meia dúzia de courelas. Crescera no meio dos cheiros do mosto e do azeite e sofrera a brotoeja das favas. Aprendera a reconhecer os pássaros pelo cantar e das plantas sabia os códigos de leitura da forma da copa, da nervura da folha, dos veios da madeira e, naturalmente, das sementes.


O rapaz cujo olhar voava com as aves, pousou os olhos no mar e as ondas eram já as do vento nos trigais da sua meninice com o marulhar das agulhas dos pinheiros quando a nortada esfriava o fim de tarde.


Sabes, disse para a rapariga, não sei se sou capaz... O sorriso dela baixou suavemente as asas como que a pontuar a espera serena do olhar.


As sementes encerram demasiados segredos e há coisas que não cheguei a aprender. Deixei-as a meio e fui atrás de outros saberes, continuou o rapaz.


O sorriso da rapariga voltou a erguer as pontas e parecia levá-la num voo a sítios distantes e desconhecidos para o rapaz. Por momentos o rapaz teve a sensação que dela se exalava um cheiro a terra vermelha dos lugares da sua infância.

Preciso que me contes a história de cada semente, disse o rapaz.

A rapariga mudou de posição e sentou-se como só as sereias sabem fazer. Alisou a areia com a mão e começou a desenhar umas linhas que depois se encontravam e voltavam a separar. Era um mapa do mundo. Não como habitualmente o vemos com os continentes separados dos oceanos, mas como espaços de vida que atravessam terra e mar, explicou.

18 de julho de 2007

Sementes (um)


A rapariga do sorriso abriu um pequeno pano na areia e disse, estendendo as duas mãos para as cinco sementes: isto é o que eu tenho e também o que eu sou. O rapaz encantou-se com a beleza e a poesia do acto, mas teve muito pouca consciência de estar perante um verdadeiro tesouro. Não daqueles que nos tornam ricos de repente. Não. Um tesouro não é bem isso. É algo que nos enriquece sim, mas por dentro. E é uma coisa por fazer.


A rapariga do sorriso falou como se lhe estivesse a confiar o seu tesouro e ele nem percebeu na altura que ela também estava a dizer: toma bem conta de mim.


O olhar do rapaz, demasiado habituado a seguir o voo sereno das aves, tornou-se inquieto e saltava das sementes para a rapariga e da rapariga para as sementes, ávido de respostas para perguntas que não se atrevia a fazer. O rapaz reparou então melhor na rapariga e viu como ela era bonita e como desejava mostrar a sua beleza. Mas também se sentia intrigado com as sementes. Duas eram mais ou menos vulgares, mas vendo melhor podiam não ser bem o que pareciam. As três outras eram-lhe abolutamente estranhas.


Perante este interesse do rapaz, o sorriso da rapariga iluminou-se e foi então que ela lhe disse: é tudo o que tenho; partilho-o contigo se souberes entender e sentir o que te ponho nas mãos.

12 de julho de 2007

Ex itinere


Acho que natureza própria tenho tendência a pensar-me mais em movimento que parado. Apanho-me sempre a caminho de qualquer lugar, mesmo que seja um lugar interior. Nos últimos tempos tem-me apetecido muito parar. Parar-me e olhar à volta. Sentir os movimentos dos outros, adivinhar-lhes os passos e a respiração. E perceber com isso que também tenho um lugar onde posso parar e pertencer-lhe.
Talvez, por tudo isso, tenha acordado hoje com uma estranha energia e absolutamente convencido que o dia seria bom.
Esta vida é feita de muitos caminhos e paragens. E às vezes também vamos longe nelas.
Há um rio na minha vida. Recordo-o desde sempre com salgueiros nas margens. Há um rio na minha vida e tem cada vez mais pontes.

2 de julho de 2007

29 de junho de 2007

Estudos da previsão do tempo


O temporizador permite estas coisas.
Dez exactos segundos é quanto falta para um beijo.
(Não sei se o Klimt gostava disto...)
Tudo isto e tudo resto é tempo.
Imprevisível.

28 de junho de 2007

Previsão do estado do tempo

Não é muito comum responder-se a uma agência comercial em pleno processo de negócio, "depois de uma análise cuidadosa da sua proposta decidimos que nos vamos beijar na ponte Carlos". Mas se calhar ainda o é menos receber como resposta "o vosso beijo(s) na ponte Carlos será mais belo que o beijo de Klimt".








O beijo é este.





Fazemos um bocadinho melhor, não?...
Se de repente o tempo ficar luminoso e apetecer largar tudo e mergulhar no mar, num rio ou num lago, já sabem o que aconteceu.


23 de junho de 2007

sócrates versus balbino

O cidadão josé sócrates de sousa moveu um processo ao cidadão antónio balbino caldeira Eu devo é dizer alegadamente porque apenas sei de ler nos jornais e nos blogues E vai daí a blogolândia começou a agitar-se e é um nunca mais acabar de postes e comentários sobre o assunto Neste momento o último poste do balbino tem mil quatrocentos e sete comentários O do sócrates não sei E até há quem diga que já há dois partidos blogais
Do lado do antónio balbino caldeira
São os balbinos
Pois claro
Do lado de josé sócrates de sousa
São sócretinos
Alegadamente Como é óbvio

22 de junho de 2007

Flor nascente

Pode ser aqui?

o teu rio já nasce ao pé de uma flor
e soltam-se pétalas que ele leva até à foz
por isso me cheiras a rio e flor
a serra e a mar

na nascente a água é pura
e
diz-se por ali
que quem dá de beber a quem ama
pela concha da própria mão
faz um pacto de amor
capaz de resistir aos maiores quebrantos

20 de junho de 2007

lembra-me a outra

Juro que gostava de acreditar que tudo isto não passa de teoria da conspiração E que este senhor não passa de um louco furioso atacado de delírio paranóide a vomitar pensamentos persecutórios suficientes para encher três páginas de uma diessieme revista e aumentada meia dúzia de vezes





Ainda me lembro de coisas assim Mas isso era no tempo em que nem computadores havia e que uma simples máquina de escrever era considerada instrumento subversivo Tempos de atraso civilizacional

Agora não Agora temos empresas na hora Despedimentos a la minute Mobilidade especial em carrinhos de flexisegurança Cursos de torneiro mecânico por sms
E simplex e evax e tampax sed lex



Também me lembra daquele poema do brecht

Primeiro, vieram buscar os comunistas.
Não disse nada, pois não era comunista.
Depois, vieram buscar os judeus.
Nada disse, pois não era judeu.
Em seguida foi a vez dos operários, membros dos sindicatos.
Continuei em silêncio, pois não era sindicalizado.
Mais tarde levaram os católicos.
Nem uma palavra pronunciei, pois sou protestante.
Agora, vieram buscar-me.
E, quando isso aconteceu, não havia mais ninguém para falar

Mas esse era comprovadamente louco varrido porque até fazia teatro e escrevia poemas




A soletrar solstício parei em ti.
A sílaba tónica, atónita, de repente repleta de luz. Enquanto tento vencer este ataque aliterante alguma coisa está a acontecer à distância que separa a terra do sol. Dizem que é o universo na sua infinita expansão. Deve ser por isso que ficamos longe da pele e do respirar. Deve ser...

Amanhã começa o verão.
Haja luz!

15 de junho de 2007

O triunfo do chá

Erythraea centaurium: Centaury
The genus of this herb was originally named Chironia after Chiron, a centaur of Greek mythology who was famous for his knowledge of medicinal plants. According to legend, Chiron healed himself with this plant after accidentally wounding himself with one of Hercules’s poisoned arrows. Dioscorides alluded to the myth and prescribed Centaury as a treatment for wounds. He also recommended the herb for lung disorders, namely “the old cough” and “blood spitting.”

Há uma loja aonde vou pelo cheiro. Hoje deixei-me prender por um chá apenas pela sua aparência. Nada sabia dele e isto é coisa rara de me acontecer.

Não me importa que se diga que tem um travo amargo e que é bom para a digestão. Chamam-lhe "Fel da Terra", mas vou chamá-lo de "Centauro Vermelho".

bat ota


Eis a grande solução E muito politicamente política
Construir o aeroporto da ota em alcochete

13 de junho de 2007

com ficção


O meu amigo chega ao pé de mim bastante triste e pergunto-lhe o que se passa Ele ainda hesita mas depois diz-me Tenho quase a certeza que a minha namorada tem um amante inglês Pergunto-lhe como é que ele soube E ele Quando estamos na cama ela chama-me pelo seu nome mattew e repete várias vezes e chama-o também pelo diminutivo oh matt mattew Queres mais evidência

Foi então que o aconselhei a responder-lhe também em inglês Diz-lhe assim Meu amor adoro fac Ela vai perceber logo que fac significa "fazer amor contigo"

12 de junho de 2007

Jogo de espelhos

Quando o meu telefone fixo toca é na maioria das vezes para publicitar qualquer coisa. Ou é a PT a querer vender-me chamadas de borla, ou a TVcabo a querer que eu adira ao funtastic life, ou então alguém a dizer-me que ganhei um prémio qualquer. Habitualmente dou alguma resposta aos operadores dizendo que estão a fazer muito bem o seu trabalho e que a única coisa que quero da PT é que saia da minha vida, que queria de volta o canal Arte da TVcabo, ou que façam o favor de me trazer o prémio a casa porque estou muito ocupado a pastar caracóis no quintal e a coisa fica por ali com um "muito obrigado" e "desculpe o incómodo, boa noite".


Ontem o telefone tocou e eu que ia preparado para mandar mais um recado à dona PT, surpreendi-me com a voz ali tão próxima, tão sentada ali em frente de mim. De repente percebi que tinha ganho um prémio funtastic life sem ter que pagar "assinatura" telefónica.





Não sei porque acontecem estas coincidências, mas a verdade é que com alguma frequência encontramos pessoas a pensar nas mesmas coisas sem aparentemente saberem que de alguma forma, se reflectem umas às outras. Se calhar sou apenas eu a estabelecer estas relações a partir de pequenas coisas...





Ontem comentei um post da ~CC~ e hoje fui ter por acaso a um mundo perfeito e leio sobre um menino e um fasco de veneno. E penso que nos últimos dias já fui várias vezes aos sítios da minha infância buscar tristezas e alegrias e que cada vez mais as conjugo com os verbos daqui.

11 de junho de 2007

portugal não leves a mal





A ~CC~ escreve muito e bem onde ninguém lê e comenta a visita do excelentíssimo à terra da beira do sado ou seja mais ou menos aquém deserto A maria das dores apesar de muito dorida com as finanças da municipais parece que não olhou a despesas para receber o senhor e o seu séquito militar e civil e mais quinhentos convidados para o faustoso almoço

Isto está tudo bem Afinal é dia de portugal e a pátria merece tudo Ou quase

Mas o melhor da festa parece que foi mesmo a leitura dos lusíadas assim naquele estilo relatório e contas que seguramente fará carreira na tendência estética neoliberal É verdade que segundo dizem aproveitou para fazer uma revisão em baixa substituindo "edificaram" por "identificaram" o que só lhe fica bem em tempos de contenção económica Edificar fica muito mais caro que identificar e é preciso pensar que temos que edificar o aeroporto da ota em alcochete e o comboio tgv numa linha qualquer das berlengas

Tenho pena que o excelentíssimo senhor não tivesse ficado ali a ler os cantos todos (quantos?) o que daria provavelmente para dois mandatos e a criar novas versões Gostaria de o ver chegar a esta parte



Oh! Que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.


Imagino que soaria bem embora o manuel maria

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando os cotejo!


e o sebastião
Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto


que ele também fez o favor de convidar se mijassem a rir se lá tivessem ido





Confesso que às vezes partilho do desalento do poeta luis vaz

Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.

Enfim Gentes de portugal no seu melhor


Imagens pescadas com o google algures na Lei do funil

5 de junho de 2007

Dia de feira

Já é uma tradição. Mais coisa menos coisa, os primeiros dias de Junho trazem calor e projectos de inserção profissional. É uma coisa que faço com muito gosto a pedido do meu amigo HFR ali no curso EIC. Vou lá e depois vêm tentar vender-me projectos naquele workshop de negociação. Hoje talvez compre dois ou três, mas o que eu precisava era de uns bróculos para o jantar... ou uns grelos de nabo e uma morcela de assar.

(Devia ter deixado esta parte final do post para ti, Gregório)

30 de maio de 2007

serviços mínimos




A deco andou aí pelos centros de saúde do país a ver como estava o acesso dos jovens a consultas de planeamento familiar Na maior parte dos casos nem passaram da recepção Ou seja Nicles Se quiserem saber como é vão ao centro de saúde da vossa terra e esperem por uma consulta



Pela amostra podemos fazer uma pequena ideia de como vai ser aplicada a lei sobre a interrupção voluntária da gravidez

O melhor mesmo é dirigirmo-nos todos ao santuário de fátima e mais a todas as capelinhas providas a ver se há consultas