26 de março de 2007

my fairy lady

Já tinha ouvido falar de milagres na ponte da feijoada guiness Mas isto de ouvir a gente ouve muita coisa e nem sempre podemos comprovar empiricamente e assim podemos dizer café é que nos salva muitas vezes É por isso que alguns esgravatam no iogurte para sugarem apenas os bífidos activos em que já se viciaram enquanto outros vão parar à urgência com uma overdose de l. casei immunitas Mas não é de nada disso que quero falar Escute-me bem my fairy lady Uma pequena gota Ou seja Mais ou menos um décimo de centímetro cúbico Dá para quatro pratos Dois copos Duas chávenas de café E ainda colheres e garfos e facas e ainda fica espuma para passar na placa do fogão
E tudo isto porquê Pergunto eu que sou curioso
Não é seguramente por causa dos quinze a trinta por cento de tensioactivos aniónicos Não senhora Nem dos cinco a quinze por cento de tensioactivos não iónicos Também não Muito menos será por causa dos perfumes citronellol e geraniol e linanool e limonene Ai não
Eu explico Na melhor das hipóteses a soma dos tensioactivos nunca ultrapassa os quarenta e cinco por cento Os perfumes são essências sintécticas concentradíssimas e não ultrapassarão seguramente os cinco por cento E o resto Os outros cinquenta por cento Perguntar-me-á
Pois my fairy lady A resposta é simples
Cada frasco traz cinquenta por cento de magia
Está explicado o milagre À luz da ciência positiva

Com os meus respeitosos cumprimentos

psr (post-scriptum redundantis) Pode vossa excelência comunicar esta análise a um tal grande português e nuno que a saberá apreciar certamente

grandes equívocos portugueses

Tinha ouvido falar e nunca levei muito a sério Afinal aquilo era mais um programa de televisão para preencher um espaço entre uns blocos de publicidade e pago por todos nós na conta da electricidade Ontem depois dos fedorentos (a coisa mais séria da televisão portuguesa) ficamos a saber que aquela figura tenebrosa tinha ganho o concurso do preço certo ou do malato mestre das moças giras Ou não era bem isso nem floribela com morangos nem o pito dourado da carolina Bem seja lá como for a salazarosa figura de combadão ganhou o euromilhões ou o totoloto da santa casa da erre-tê-pê
Logo alguém que não percebi se era concorrente ou simplesmente treinadora de um outro atleta que também corria ali Disse cobras e inconstitucionalidades daquilo e que não podia ser e tal.
Pois. Mas agora é tarde Devia ter-se demarcado daquela macacada em vez de a legitimar com a sua presença
Mas isto levantou-me outra questão Não haveria uma única portuguesa digna de figurar entre os dez Pergunto
Não sei se a padeira de aljubarrota realmente existiu Mas já conheci muitas grandes portuguesas que foram capazes de gerir um parco rendimento proveniente da sua força de trabalho e ainda amealhar algum para o caso de haver alguma fatalidade de saúde Criaram filhos sem creches nem amas nem licenças de maternidade e sempre a trabalhar E para isso não precisaram de mandar a pide torturar nem assassinar ninguém Nem precisaram de fazer uma guerra que estropiou uma geração aquém e além
Afinal o gajo foi grande em quê Pergunto

21 de março de 2007

diapoesia

Hoje é dia mundial da poesia
E isso bastava para meter lá dentro a primavera toda
E plantar árvores a florir no quotidiano

Hoje é também o dia internacional da eliminação da discriminação racial
E tanta coisa que me enche o coração e que também não cabe num só dia




(olha uma andorinha)


Um dia destes vou mesmo lá
À primavera


A Meu Favor

A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer



A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
(Alexandre O'Neil)

16 de março de 2007

lágrima

A palavra não é triste não Tem uma agógica estranha que nos faz demorar o lá Demorar lá E fugir rapidamente de lá em duas átonas sílabas sem sal. O sal está lá No lá que se demora O lá de distância De ausência O lá de fora E também o lá de dentro Sobretudo o lá de dentro

Pensei isto tudo porque li no troll que me levou até à notícia do choroso estudo
Eu fui educado para não chorar Porque os homens não choram Mas cedo me revelei um verdadeiro caso de insucesso educativo E caiam-me gotas nas páginas dos livros e borrava a escrita a tinta nos cadernos No cinema era bom Ninguém via no escuro O pior era assim o intervalo inesperado
Na verdade levei muitos anos a aceitar este meu insucesso Agora choro quando a alma me pede Ou sempre que as emoções não cabem dentro das palavras Ou quando cabem tão bem que até apetece chorar
Enfim
Já vivi a experiência de chorar em vários sítios e confesso que gostava de poder experimentar em punta arenas ou em ilhas mais próximas e mornas ou na baía de luanda ou numa praia de goa



Se tudo isto coincidir com o que acontece exactamente com outro homem Pode não ser coincidência É que somos muito íntimos e às vezes vestimos a pele um do outro

Numa pesquisa no google sobre lágrimas o que mais aparece são mulheres a chorar



14 de março de 2007

pi ar

Hoje é dia de fantasias eróticas e outras experiências subjectivas verdadeiramente arrePIantes
DesPI-me na praia em cálculos infinitos que afinal são pedrinhas alinhadas a bordar o areal
Mas a ciência positiva é implacável e teima em estragar estes romantismos poéticos (poiéticos)
É objectivamente muito mais fácil ir ao fundo do mar que ao fundo do PI

12 de março de 2007

universário ou anos luz


Não sei se alguém reparou mas esta praia em que se contam gaivotas e assim foi inaugurada fez três anos E mais uma data de gente querida e ainda e também pois fez anos que nasceu Um verdadeiro universo em ponto pequeno Mas em franca expansão como o outro Aquele dos cientistas e do biguebengue E assim já são muitas as estrelas a florir em março E vamos todos à boleia até à primavera
Parabéns

2 de março de 2007

olha pá


Tenho andado a evitar mas não passa de hoje Tenho que ter uma conversa a sério contigo De homem para homem Seja lá isso o que for
É que ando preocupado contigo Com a tua saúde
Já não tens propriamente vinte anos para ofereceres o peito assim às emoções Olha o coração pá Elas não matam Mas
Eu bem te vejo O mar em que às vezes ficam os olhos só de ler meia dúzia de palavras alinhadas Há quem simplesmente diga que os dicionários estão cheios delas Mas ambos sabemos que um texto pode ser como o açúcar Que é doce sem que nenhum dos componentes o seja Isto de encontrar beleza e poesia até na química orgânica tem naturalmente os seus custos Olha o outro que se emocionava até com uma expressão matemática Acabou a guardar rebanhos nos prados da metafísica


A ti ainda te vou encontrar na soleira daquela casa a regar canteiros de palavras e silêncios E a tomar chás ao crepúsculo com uma gaivota pousada no ombro.
Depois não digas que não te avisei











Joan Miró
Le crépuscule rose caresse les femmes et les oiseaux