24 de abril de 2007

abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia

Vamos por aí
Pelas portas que abril abriu
Pelo sonho aberto
Pela luz acesa na magia de um sorriso
Pela serenidade conquistada
Pela paz construída a mãos

A liberdade passa por aqui

Sempre


menina dos cravos (Amadeu de Sousa-Cardoso)

23 de abril de 2007

indomável arlete

Há redes incríveis
Fiquei a saber primeiro pelo respirar o mesmo ar
A seguir puxei uns fios e fui ter a este joão donde trouxe esta foto
É bem possível que nos tivéssemos todos cruzado um dia na casa em que até as paredes falavam
Fiquei a saber que a arlete morreu e continua viva porque se continua numa geração que soube beber da sua intuição do seu saber da sua coragem da sua generosidade do seu combate permanente
Morreu uma grande mulher
O seu corpo será cremado no dia vinte cinco de abril
A saudade fica em nós


rosa rosae rosae rosarum rosis




Há uma certa horta que dá rosas
Dá rosas mesmo
Assim
Toma lá uma rosa
E tem também couves decorativas e crescem alfarrobas na palma da mão
Milho verde com saudades de matilde vê crescer uma estalagem para tartarugas do campo

Depois recebe. Recebe um sorriso sem segredos a lembrar a carly simon E mais quem vier por bem

Um dia ainda conseguirei explicar como é que se mete tudo isto em cerca de vinte metros quadrados de sociologia da acção organizada.
Toma uma rosa
Aceito um crepúsculo com chá

livro é livre em frança

Parece que havia um hábito antigo de no dia de são jorge os cavalheiros oferecerem à mulher que amavam ou admiravam uma rosa Elas correspondendo ofereciam-lhes por sua vez um livro provavelmente com algumas pétalas de rosa ou um escrito encorajador entre as folhas
Terá sido por esta razão que a UNESCO consagrou o dia de hoje como Dia Mundial do Livro
Não sei se esta história é verdadeira mas isso não importa Conta de amores flores e livros e isso confere-lhe beleza Ouvi-a por aí ou sonhei-a ou li-a num livro

Há quem diga que este dia do livro está relacionado com uma tradição nórdica de venda de livros em bancas ao ar livre por estes dias de sol de primavera

Mas eu sei de uma história por contar que poderá ter começado num livro e continuar-se num cacho vermelho das primeiras rosas bravas e mais adiante com brincos de cereja e outras caminhadas num sítio chamado primavera Às vezes até nascem lilases no meio das páginas do livro que se vai escrevendo E fica-nos esse cheiro nos dedos

16 de abril de 2007

dias felizes

O crepúsculo matinal eleva das águas da lagoa uma delicada bruma de encanto
E o rio ali largo como a cumplicidade dos olhares todo a avançar-se para eles
Têm que partir porque lhes doem os ossos de tanto serem esmagados por esta beleza
São mar e rio e desaguam simultaneamente um no outro na magia das marés
São vale e arribas sendeiros planalto Gaivota que pedala e pede alma até o'neil
E sempre vigiadas de perto por um cão chamado bruno que ladra por dever de ofício mas que é mais dado a reflexões silenciosas
Acho que um dia destes o bruno vem aqui contar tudo como deve ser
Como deve ser
Digo eu

9 de abril de 2007

reforma ou revolução

Quando escolhi este ofício de contador não tinha bem a noção de que isto era uma actividade de desgaste rápido Contar gaivotas cansa Elas às vezes são inquietas e fazem-me voltar ao princípio como sísifo a escrever na areia
Pensei que devia meter os papeis para a reforma Já vi quem por menos serviço público acumule reformas
Depois pensei que podia fazer assim uma espécie de trespasse gracioso a quem prometesse cuidar bem da praia Terá que vir cá de vez em quando nem que seja só para cheirar a maresia e acenar às gaivotas Tenho a certeza que o resto virá por acréscimo
Mas acho que não vou fazer nada disso
Vou fazer uma revolução Edição de bolso Mas uma revolução a sério
Começo por tirar a roupa Só venho à praia completamente nu

8 de abril de 2007

agarrar a lua

Há coisas impossíveis de sonhar São só desejo nascido no horizonte quando apenas se contempla o rasto crepuscular Uma luz que faltava para dissolver o ritmo programado dos dias
Há coisas difíceis de agarrar Quando pensamos ter lá chegado parece que mudaram de sítio Chocamos com a sombra Ou com o reflexo que afogamos na água
Há coisas que não se repetem Inútil ficar à espera
É preciso nadar e salvar o poema

A propósito da Estória do gato e da lua E outras estórias inacabadas

http://www.youtube.com/watch?v=LrPKYf--Rmw
(agradeço à amiga helena o envio por mail)