22 de janeiro de 2009

Todo o cuidado é pouco



Mário-Henrique Leiria pisca o olho a Daniel Filipe

A subversão é o único alimento que se pode comer fora de prazo.
Não mata, nem engorda, mas faz umas cócegas danadas na pasmaceira oficial.
Um pires de tremoços.
Faxavor.

21 de janeiro de 2009

Tu podes, pá!


Yes, you can!
Muito se tem dito sobre esta onda de esperança com a eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos da América. Eu próprio, antiamericano quase natural, me deixei contaminar por esta onda que vem bem ao encontro daquilo que são os meus desejos para o mundo. Paz, justiça, equidade entre as pessoas e os povos no acesso aos recursos, respeito pelos direitos humanos, respeito pelo ambiente.
Gostei sinceramente de alguns discursos que li e acho que tirando uma ou outra coisa, são de fazer inveja a muita prosápia que se diz de esquerda e progressista (mas o homem também nunca disse que era de esquerda nem eu sei o que é isso nos EUA). Soube ontem que os seus discursos são escritos por um rapaz de 27 anos, mas a força e convicção não se pedem emprestados (li há dias, a propósito de histórias bíblicas, que as belas narrativas não tem autores, têm contadores) e este homem já foi capaz de fazer acreditar a meio mundo que algo vai mudar.
Quem me conhece sabe que, apesar de tudo isto, eu, que sofro de um cepticismo quase crónico, mantenho algumas reservas até que se cumpram algumas condições:
- retirada das tropas de ocupação do Iraque, cedendo o lugar a uma força de paz, se for esse o entendimento das Nações Unidas
- sujeição plena às regras do Tribunal Penal Internacional
- adesão voluntária à Plataforma de Quioto, com todas as consequências em plano de igualdade com todos os outros países
- tomada de posição clara e equidistante relativamente ao conflito do Médio Oriente
- encerramento do campo de concentração de Guantánamo e libertação de todos os presos sem culpa formada
Yes, you can!
Fiquei a saber hoje nas notícias que já foi dada ordem para suspender todos os processos relativamente a Guantánamo. Fico contente, mas é preciso muito mais. Sei que não vai ser fácil e que isso vai mexer com interesses muito poderosos, mas se assim não for o mundo nada colherá da esperança semeada durante os últimos meses.
Yes, you can!
Só mais uma coisa em jeito de rodapé: fiquei a saber que um descrente como eu, ou um devoto de uma outra religião não cristã, mesmo que ganhasse as eleições não poderia tomar posse como presidente dos Estados Unidos. Pelo menos assim. É que o protocolo oficial de tomada de posse inclui o jurar sobre a bíblia e invocar a ajuda de deus para cumprir o mandato.
Já agora, e na linha do seu discurso sobre a tolerância religiosa, seria bom retirar das notas de dólar a frase in god we trust, quanto mais não seja, porque essa confiança não tem dado resultados e deve ser antes procurada e fomentada nos que gerem a banca e outros grupos financeiros.

20 de janeiro de 2009

Luz


Deve ser bonito o Universo olhado do sítio que se deseja. Mais bonito com a cúmplice mão-dada e o sorriso a iluminar-se quente mesmo quando o sol se inverna assim preguiçoso.

Mas eu não estava e sempre estive lá. A olhar o Universo com os teus olhos.

Entretanto os meus amigos, de outros saberes também universalistas, enviaram-me a habitual newslwtter e não resisti a esta epígrafe:


«Il faut conserver dans nos esprits et dans nos coeurs la volonté de lucidité, la netteté de l’intellect, le sentiment de la
grandeur et des risques, de l’aventure extraordinaire dans laquelle le genre humain, s’éloignant peut-être des conditions
premières et naturelles de l’espèce, s’est engagé, allant je ne sais où
. »

P. Valéry ‘La Politique de l’Esprit’, 1932

Que é mais ou menos o mesmo que (tradução minha):

«É necessário conservar nos nossos espíritos e nos nossos corações a vontade de lucidez, a clareza do intelecto, o sentimento da grandeza e dos riscos, da aventura extraordinária na qual o género humano, afastando-se talvez das condições iniciais e naturais da espécie, se comprometeu, indo sei lá onde.»

E não consegui deixar de pensar em todas as complexas coisas que se passam e estão a acontecer hoje aqui e ali; deste e do outro lado do Atlântico; deste e do outro lado do equador.


O Bolero de Ravel inicia o seu ostinato no telemóvel e nem preciso de ver quem me liga.

Do outro lado brilham constelações.


É por isso que este post vai todo escrito em Lucida Grande.

19 de janeiro de 2009

DesemBUSHemos, pois

E se de repente... assim de um dia para o outro... o mundo ficasse melhor?
Eu sei que as coisas não são assim, mas sou capaz de acreditar na possibilidade de uma esperança colectiva. Um dia acordamos com vontade de viver em paz e somos capazes de nos contagiar uns aos outros e esse querer propaga-se como uma doença. Boa.
O mundo sobreviveu à era Bush. Bush vai-se embora. Desembuche.


Tom Zé e Jarbas Mariz cantam "Companheiro Bush"

Então e o Cavaco? Nunca mais acaba?
Aceitam-se contributos para: "Uma canção para cavaco".
Mas com estilo.

Imagem apanhada no calçadão

16 de janeiro de 2009

ESEanima. Ânimo!


Parece que já não há lugar para mais inscrições

Pode sempre ver em directo na CNN ou ler depois
a reportagem na TIMES

AniMO

Em nome do quê?

Seguindo um pouco algumas ideias daqui e outras dali e talvez dacolá, vêm-me às vezes razões para um proselitismo ateu, se é que essa coisa existe. Provavelmente, não, mas não me parece que seja impeditivo de nada.


Não tenho nada contra quem acredita num deus ou em vários deuses, desde que o façam na esfera privada ou no interior da sua comunidade de crentes. Sempre que isso se torna público e é trazido para a vida social e política sou contra. Quando isso acontece, causa-me sempre alguma brotoeja. Até parece que é suposto que eu, não crente, tenho obrigação de estar a par das conversas que cada um tem com o seu deus e, sobretudo que terei escutado o que deus lhes disse. Nas suas cabecinhas crentes está embutida a ideia de que o seu deus é universal e que portanto fala para todos e que todos ouvem e se há uns que não ligam ou não acredita é porque têm uma deficiência neuronal na área da fé. Enfim, também tenho direito aos meus delírios.


Se a fé, a crença num deus salvador, justiceiro, bom, mau ou como calha, se reservar ao âmbito privado, parece que não vem mal nenhum ao mundo. Pelo contrário, quando uns se armam em iluminados de uma capacidade, conferida e legitimada apenas pela sua fé, de atribuir a outros uma classificação (inclusiva ou exclusiva) que no limite pode acabar numa guerra a matarem-se uns ao outros, há aqui alguma coisa que não está bem e eu não consigo ficar indiferente e respeitador da "liberdade religiosa". Se pensarmos que acontecem guerras em nome de um deus que ainda por cima dizem ser único e o mesmo para todos, não sei mesmo que nome dar a isto. Estou indeciso entre procurar aqui ou aqui.


Já me têm chamado intolerante e arrogante perante a fé dos outros por ter esta posição de confronto. Costumo responder que o facto de não acreditar na existência de um deus não condena ninguém à fogueira, ao apedrejamento, ao ostracismo e por aí fora. Não há conhecimento de que um ideal ateu tenha dado origem a uma "guerra santa", "jihad", ou "cruzada" em que uma parte da humanidade quer eliminar outra parte a quem designa reciprocamente como infiel, apenas porque, ou não acredita em deus, ou, acreditando, acredita de forma ligeiramente diferente.


Se deus existisse, já teria posto cobro a isto. mas deus, dizem, concedeu aos homens o "livre arbítrio". Então está bem. Podem matar-se uns aos outros em seu nome.





Há dias recebi por mail um video em que Obama fala sobre tolerância religiosa. Vinha legendado em português, não tinha som e era uma nítida colagem de partes embora aparentemente do mesmo momento. Duvidei da sua autenticidade e fui pesquisar. Esse discurso existiu mesmo e terá ocorrido em Junho de 2008 e logo no início diz assim:


Whatever we once were, we're no longer just a christian nation; we are also a jewish nation, a muslim nation, a buddhist nation, a hindu nation and a nation of non-believers...



Não consegui a transcrição integral, mas do que me lembro da legendagem em português é bem interessante. Também li nessas pesquisas que este discurso causou bastante polémica no seio dos meios católicos e evangélicos mais conservadores, acusando-o de pôr em causa a herança cristã e fundadora da América (também todos sabemos do valor dessas heranças em sangue) e o tom é de tal modo ameaçador que não me admiraria que um dia destes Obama sofra um atentado com essa motivação. Tudo em nome de deus, claro.

13 de janeiro de 2009

Resiste

Eram outras lutas e outras as formas de lutar. Lembro-me da audição clandestina, mas ao mesmo tempo capaz de puxar o som ao máximo, num desafio adolescente. Era sentido como uma forma de resistência e luta. Causava-nos um arrepio e uma vertigem como se o regime e a guerra fosse acabar já a seguir.
Ontem, como hoje, resistir é já vencer.




Resiste, meu Amor, resiste,
Nas grades do país-prisão,
Não mostres esse ar triste,
Não mostres desolação.

Não, meu Amor,
Não penses que te deixei,
Eu tenho milhões de irmãos
E como eles te salvarei.

De vermelho a nova aurora,
De vermelho vai chegar,
Sorrirá quem chora agora
Quando eu cantar novo cantar
.


Luís Cília
Pode ouvir-se aqui.

4 de janeiro de 2009

Deleituras

Eu que me vejo ateu já devo ter lido mais da Bíblia que muitos dos que se afirmam crentes (ou querentes que exista um deus) e com genuíno interesse em entender o significado daqueles escritos, conjugando-os com o que sei da história da antiguidade e também com as estórias que fui ouvindo da tradição popular. Quando, do Saramago, li O Evangelho segundo Jesus Cristo, tentei encontrar no Novo Testamento a correspondência daquelas narrativas que li em simultâneo. Entre duas ficções, a do Saramago tem, para mim uma qualidade literária incomparável. No entanto, e de acordo com a minha visão não religiosa dos escritos, ditos, "sagrados" é possível, a partir deles, talvez entender o entendimento que os crentes mais fanáticos têm do mundo.

O mundo está em guerra. Muita desta guerra é mais ou menos religiosa.

A mulher que eu amo e que diz amar em mim a "infinita curiosidade" ofereceu-me pelo natal um livro delicioso de José Tolentino Mendonça, de quem já conhecia vagamente alguma poesia, chamado A leitura infinita: Bíblia e interpretação. O título não engana ninguém. A gente sabe logo ao que vem.
A páginas 58, reza (!) assim:

«O estatuto do texto sagrado confirma-o como geneticamente plural: ele junta o elemento histórico com a intencionalidade ampla e descontínua que é necessário perscutar. O sujeito desta perscutação é o leitor, elemento requerido, suposto e esperado pelo próprio texto. O acto da leitura é uma espécie de pacto selado entre ambos. Por um lado, o leitor (não um qualquer, mas aquele dotado de competência) activa a mecânica textual, preenchendo os espaços vazios e indeterminados que vão depois permitir compreender o texto. Há uma história do texto que o leitor é chamado a explorar com o auxílio de instrumentos diversificados e complementares. Ele não pode ignorar a proveniência, a cultura, a linguagem, a composição ou a finalidade do texto. Sem esse levantamento dificilmente pode chegar-se à compreensão» (*)

Eu diria que isto vale para toda a literatura. Mas, pronto. Lá fui eu, de novo, mergulhar na Bíblia, assim ao acaso e encontro:
Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão.
Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.
(Salmos 2: 8,9)

Não posso deixar de pensar que anda aí muita gente a seguir isto à letra.


(*)José Tolentino Mendonça. A leitura infinita: Bíblia e interpretação. Lisboa. Assírio & Alvim. 2008.

1 de janeiro de 2009

Olá 2009


para o mundo

para aqueles que amo

para mim

para todos os outros



saúde e energia para


a construção da paz

respeito entre os povos

combate à fome e à doença e à pobreza


a força e tenacidade para concluires a tese

estabilidade para continuares a fazer o que tanto gostas

mais aventuras com as meninas


um lugar especial no teu coração

compromisso maior na inovação e mudança

generosidade


inteligência e sabedoria para não deixar o mundo pior do que estava quando nascemos.


um bom resto de ano 2009