31 de julho de 2007

noventa e seis segundos


Noventa e seis segundos de fogo de artifício

É quanto custa aplicar a lei da ivg na madeira

24 de julho de 2007

ibéria ou e-béria




O saramago devia ganhar mais um prémio nobel O nobel da incon(s)ciência E não é que vem o laureado escritor ribatejano-canarino dizer que isto de portugal e espanha serem assim dois estados não tem graça nenhuma porque tem que casar duas vezes e logo com a mesma Mas faz mal andar por aí a propagandear essas coisas sem explicar como é que é porque o pessoal daqui põe-se logo a pensar em mil seiscentos e quarenta e em restauração quando esta ainda não era negócio de comes e bebes Enfim O pessoal começa logo a filipar só com a ideia de portugal poder ser uma província espanhola E depois há o caso da madeira e de olivença que seguramente entravam em luta pela independência para já não falar das berlengas e da ilha do pessegueiro


Por acaso também acho que estas fronteira já não fazem sentido nenhum e uma ibéria de povos e regiões respeitando as diferenças culturais e a liberdade de cada um morar e trabalhar onde lhe dá mais jeito é que era bom Mas não sou tão incon(s)ciente como o saramago Isso não é possível A esta hora já há muito castelhano a praguejar entre duas cañas Coño Nosotros una província portuguesa Nem que la vaca tussa Ou como dice el ministro da ota Jamais Jamais


Só por esta amostra se vê a dificuldade para um castelhano em arranhar o portunhol quanto mais entender o tranquilês do treinador bento


20 de julho de 2007

Sementes (três)



O rapaz mergulhou então numa espécie de sonho. Também ele conhecia esse mundo de tanto o percorrer. O hábito de observar as aves era mais do que um simples olhar. Voava com elas e com o seu olhar, no ir e vir das suas migrações, falava de terras distantes como se as tivesse calcorreado e até parecia entender o falar estranho de gentes longínquas.

O rapaz olhava para as cinco sementes e só agora começava a vê-las no seu essencial. Sentiu-lhes uma força contida de algo que quer nascer e pousou-lhes suavemente as mãos quase sem lhes tocar.

Eram muito mais que sementes de germinar e fazer crescer árvores e flores e frutas que é o que fazem todas as sementes. O rapaz que sabia de sementes raras, na posse de mestres que as guardavam como pedras preciosas e as protegiam da extinção, teve a clara visão de que estas não eram apenas sementes raras. Cada semente era única.

A rapariga mantivera o sorriso em silêncio e parecia seguir os pensamentos do rapaz como se os adivinhasse antes dele os ter. E disse-lhe: sim, cada semente é realmente única.

E a rapariga contou que lhe tinham sido dadas pela mulher velha antes da grande tempestade que se apropriou de todo o céu no tempo em que os homens ainda guardavam os rios.

19 de julho de 2007

Sementes (dois)


O rapaz das aves lembrou-se então de saberes antigos e talvez um pouco enjeitados pela vida, mas que lhe vinham de herança juntamente com meia dúzia de courelas. Crescera no meio dos cheiros do mosto e do azeite e sofrera a brotoeja das favas. Aprendera a reconhecer os pássaros pelo cantar e das plantas sabia os códigos de leitura da forma da copa, da nervura da folha, dos veios da madeira e, naturalmente, das sementes.


O rapaz cujo olhar voava com as aves, pousou os olhos no mar e as ondas eram já as do vento nos trigais da sua meninice com o marulhar das agulhas dos pinheiros quando a nortada esfriava o fim de tarde.


Sabes, disse para a rapariga, não sei se sou capaz... O sorriso dela baixou suavemente as asas como que a pontuar a espera serena do olhar.


As sementes encerram demasiados segredos e há coisas que não cheguei a aprender. Deixei-as a meio e fui atrás de outros saberes, continuou o rapaz.


O sorriso da rapariga voltou a erguer as pontas e parecia levá-la num voo a sítios distantes e desconhecidos para o rapaz. Por momentos o rapaz teve a sensação que dela se exalava um cheiro a terra vermelha dos lugares da sua infância.

Preciso que me contes a história de cada semente, disse o rapaz.

A rapariga mudou de posição e sentou-se como só as sereias sabem fazer. Alisou a areia com a mão e começou a desenhar umas linhas que depois se encontravam e voltavam a separar. Era um mapa do mundo. Não como habitualmente o vemos com os continentes separados dos oceanos, mas como espaços de vida que atravessam terra e mar, explicou.

18 de julho de 2007

Sementes (um)


A rapariga do sorriso abriu um pequeno pano na areia e disse, estendendo as duas mãos para as cinco sementes: isto é o que eu tenho e também o que eu sou. O rapaz encantou-se com a beleza e a poesia do acto, mas teve muito pouca consciência de estar perante um verdadeiro tesouro. Não daqueles que nos tornam ricos de repente. Não. Um tesouro não é bem isso. É algo que nos enriquece sim, mas por dentro. E é uma coisa por fazer.


A rapariga do sorriso falou como se lhe estivesse a confiar o seu tesouro e ele nem percebeu na altura que ela também estava a dizer: toma bem conta de mim.


O olhar do rapaz, demasiado habituado a seguir o voo sereno das aves, tornou-se inquieto e saltava das sementes para a rapariga e da rapariga para as sementes, ávido de respostas para perguntas que não se atrevia a fazer. O rapaz reparou então melhor na rapariga e viu como ela era bonita e como desejava mostrar a sua beleza. Mas também se sentia intrigado com as sementes. Duas eram mais ou menos vulgares, mas vendo melhor podiam não ser bem o que pareciam. As três outras eram-lhe abolutamente estranhas.


Perante este interesse do rapaz, o sorriso da rapariga iluminou-se e foi então que ela lhe disse: é tudo o que tenho; partilho-o contigo se souberes entender e sentir o que te ponho nas mãos.

12 de julho de 2007

Ex itinere


Acho que natureza própria tenho tendência a pensar-me mais em movimento que parado. Apanho-me sempre a caminho de qualquer lugar, mesmo que seja um lugar interior. Nos últimos tempos tem-me apetecido muito parar. Parar-me e olhar à volta. Sentir os movimentos dos outros, adivinhar-lhes os passos e a respiração. E perceber com isso que também tenho um lugar onde posso parar e pertencer-lhe.
Talvez, por tudo isso, tenha acordado hoje com uma estranha energia e absolutamente convencido que o dia seria bom.
Esta vida é feita de muitos caminhos e paragens. E às vezes também vamos longe nelas.
Há um rio na minha vida. Recordo-o desde sempre com salgueiros nas margens. Há um rio na minha vida e tem cada vez mais pontes.

2 de julho de 2007