26 de agosto de 2004

Eh!... de Estrela-do-Mar

E chamei-lhe assim porque teria inventado uma paixão de cinco pontas sem saber como lhe pegar. Paixão de olhar apenas. E de a escrever na memória das tardes poentes frente ao azul.
Só conheci o Palma depois. Não devemos estar a falar da mesma. O mar tem constelações delas para que cada um reconheça a sua. E todas têm luz própria.

"Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
e em que o sono parecia disposto a não vir
fui estender-me na praia sozinho ao relento
e ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
e uma cara sardenta encheu-me o olhar
ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

Sou a estrela do mar
só a ele obedeço, só ele me conhece
só ele sabe quem sou no princípio e no fim
só a ele sou fiel e é ele quem me protege
quando alguém quer à força
ser dono de mim

Não sei se era maior o desejo ou o espanto
mas sei que por instantes deixei de pensar
uma chama invisível incendiou-me o peito
qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
inscrevemos no espeço um novo alfabeto
já passaram mil anos sobre o nosso encontro
mas mil anos são pouco ou nada para a estrela do mar"
(Jorge Palma, 1984)

19 de agosto de 2004

Dê... de Dizionário

Um mar de dizeres à deriva como palavras náufragas na desordem alfabética.
Passam no vento. Desvelam-se de vírgulas. Bailam lestas. Insinuam-se matreiras de sentidos.
Dialógicas de reverso.
Não sei se mergulho. Ou ciano-me simplesmente...
Cê... de Concha

Aconcho ego sumo.

Ostra cismo mare moto roí doses
Vi eiras diz lates demo tantos
Vi balves laborentos em seus mantos
Mexe ilhão turbo lento das artroses

Amei joa na lagoa alva mansa
Lingue eirão calote à formosura
Buzi nas parchas casca dura
Burri é de atleta não se cansa

Cara mujo séssil haliomonte
Craca ságil a verme litosfera
Cara col mirante bem de fronte

Búzi o nei talassa pia fera
Nau til palíndromo horizonte
Argo nauta parado desespera

12 de agosto de 2004

Bê... de Bolina

Estibordo-zigue. Bombordo-zague. Até ao lavar da vela porque as uvas ainda se aprontam à madureza da nortada. Jogam-se as cinturas mais ou menos industriadas para calculadas rentrées de leão. O mar cheira a terra queimada. É o vento. Vem todo nimbado de bemóis.
Ah! de Azul...

Acordei na humidade da areia ainda com nuvens de lã nos olhos. E tinha ali uma estrela ao lado ainda em pontas da valsa decadente da noite embriagada. Não sei por onde lhe pegue. Pensei.
E deu-me assim um sorriso a lembrar uma dor disfarçada de baleias e golfinhos a morrer na praia à revelia de gregas maratonas.
Ah!... Este azul. A matar-me de fome.

11 de agosto de 2004

Obicedário
Empeço-me de dificuldades com o verão. Não sei por que letra começar. O verão... sim, mas...
O mar inventa-me trambolhos em fato de banho e garrafas de plástico na areia. E eu anseio a escrita limpa na limpidez das ondas. Abandono o meu posto de vigia e vou beber um copo. Até as aves andam a falar uma língua estranha.