30 de junho de 2005

~~~ ^^ *«^»* ^^ ~~~

Porque há piações destituladas, fica assim com uns sinais que nem eu percebo...
Comecei por explicar a desconstrução criativa como quem destrói uma construção de legos-mecanos. A coisa é feita assim bonita e certinha para estar na montra e depois a vida não nada assim e a gente percebe que nem precisa de metade das peças.
E que também, sim senhora, tinha percebido tudo desde o início e até era capaz de repetir tudo, porque aquela data tinha algum significado para mim, porque mais coisa menos coisa, fazia anos ou meses ou talvez dias que tinha dado por falta de uma estrela. E era capaz de repetir tudo o que me tinha dito. Que era promoção e ficava isento do pagamento por toda a vida e ainda tinha um bónus de seis meses.
Como se tinha aguentado bem com a tempestade, sugeri que pusesse lá nos registos que estava muito interessado e que ia pensar e assim. E assim podíamos continuar a conversa a compasso de ondas e aragens.
Só não disse que tudo isto era uma bruma com que me enrolava antes do jantar.

28 de junho de 2005

Contando...


Faço contas. Faço de conta. Perco-me na conta, peso e medida. E também nos rumos, azimutes, horizontes...

Espraio e rio. Contemplo.
Demoro nas memórias lavradas na areia.
O que há-se ser nem nós o sabemos.
Mas há-de ser.
E a resposta - di-la-ão sempre os poetas - é que todas as respostas virão no vento.

27 de junho de 2005

Todas as praias...

E ainda dizem que morreste!...

Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.
Sophia de mello Breyner Andresen

Mas fiquei a saber que apareceste a espalhar um tempo futuro como quem semeia utopias para nascerem no vento. Não sei se é justo servires assim de senha de acesso nacional... a tua voz fica bem melhor tatuada nas cascatas.
E porque também me sinto capaz de florir em todos os jardins.
E beber das fontes sem me saciar nunca.
E abraçar florestas...
Posso ficar a olhar o rio, a saborear o travo de uma Guiness.
O pé bate-se sozinho. Celta-se numa jig ali tocada.
E sem desassossegos grandes... assim - à beira-rio.



O meu amigo Manel perdeu o pai hoje.
A única coisa que sei fazer é dar-lhe um abraço em silêncio.

21 de junho de 2005

Metalogos


Sentámo-nos ali no areal e desembrulhámos o farnel. E por causa de uma formiga começámos a falar de vida e de morte e do que aconteceria se conseguíssemos matar a morte.
Já o sol se abalançava ao mergulho poente...
- Acho que as pessoas que morrem, depois voltam a nascer.
- E porque é que não pensas que morrem umas pessoas e nascem outras?
- E tu achas que era possível estar sempre a fazer pessoas e caras diferentes? Já não haveria imaginação!...

O silêncio encheu-se completamente de metafísica misturada com maresia.

17 de junho de 2005

Ouver a Sul...

Vinte cinco anos de músicas hoje mesmo na pontinha do dia.

Parabéns Rui e... break a leg!

é uma dor pequenina
quase como se não fosse
e como uma tangerina
tem um sumo agridoce

de onde vem essa dor
se a causa não se vê
se não é por desamor
então é uma dor de quê?

não exponhas essa dor
é preciosa é só tua
não a mostres tem pudor
é o lado oculto da lua

não é vício nem costume
deve ser inquietação
não há nada que a arrume
dentro do teu coração

certo é ser dor de quem
não se dá por satisfeito
não a mates guarda bem
guardada no fundo do peito!

(A Tua Pequena Dor - Carlos Tê/Rui Veloso)

16 de junho de 2005

Morrer na praia


"Lovers" by Njogu
Eles foram viagem, descoberta, aventura, espanto.
Foram riso e sal, suor e sonho. Equilibristas, peregrinos, grãos de areia, saltimbancos clandestinos.
Amantes ao sol, náufragos de searas e planícies, contempladores de constelações e crescentes.
Domadores de marés e tempestades.
Desfalecem agora na praia na carícia das ondas a lamberem-lhes as feridas.

E hoje está um belo dia.

15 de junho de 2005

Até amanhã...


palavras que ficam coladas à história. Aprendi a palavra "Rumo" num panfleto clandestino a anunciar a vitória de um profético "homem novo".
Cresci a acreditar num "amanhã". Nunca entendi muito bem porque é que as utopias, sejam elas quais forem, se guardam sempre para amanhã...
Hoje não vou ao teu funeral.
Despeço-me:

Até amanhã...

14 de junho de 2005

Contradores


.

Hoje é o dia nacional de Luta Contra a Dor.

O alívio da dor é um Direito Humano.

A vocação de observador da praia e do horizonte e o exercício de contador leva-me muitas vezes ao encontro com sofridos gestos espalhados pelo areal como despojos devolvidos pelo mar.
E dói-me a tua dor.


13 de junho de 2005

Onde estão as barcas? Onde são as ilhas?

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos

Também eu, génio, te quis matar. Tal como todos os poetas que conheço.
Porque andaste uma vida a encher as palavras de sal, a espremê-las com as mãos, sempre rente ao mar, na urgência do pólen que te brotava do peito...
Porque inclinaste as noites e partiste os dias um a um, e de palavra em palavra deste às romãs a cor do lume...
Porque inventaste o riso breve, desbravaste a síncopa dos peixes verdes e o contratempo do adeus...
Porque sempre me avisaste que irias com as aves...

Agora só me resta beber-te a sede.

8 de junho de 2005

Ondança

Hoje é o Dia Mundial dos Oceanos.


Foto de Valter Matos (roubada aqui)

Deve ser por isso que hoje nenhum petroleiro lava os tanques no alto mar; nenhum país deposita lixo radioactivo; nenhum arrastão anda a varrer o fundo; nenhum banhista descartou para as praias os plásticos dos seus excessos...
Hoje vou, talvez, embrulhar-me numa onda e dançar com ela.
Depois acordarei com a sensação de lhe ter jorrado sémen no seio.

7 de junho de 2005

gaivota

A partir de hoje, no Contador de Gaivotas, já é possível vir só ver os bonecos.

6 de junho de 2005

Resort danada

Sagrou-se ali o ambiente passerelle porque era dia e, já se sabe, todo o turista viu. E nestas performativas falações é sempre bom levantar alguma areia ao vento e dirigida aos óculos escuros. E depois são mil e tal e coisa assim em cima das dunas, mais uma que é uma Pina colada no farol... E logo as presidentadas vozes a tentarem chegar à estratosfera re-lixando o verbo ali remendado...
A piação das gaivotas é sabia. Elas vêem lá de cima e não entendem como alguns crimes se chamam empreendimentos. E eu não lhes consigo explicar que isso meteu muito dinheiro e outras vantagens nas mãos de alguns e mais umas bandeiradas contrapartidas. Não entendem! Precisam de se renaturalizar, talvez.

1 de junho de 2005

வம்சி - ரஜினியின் அடுத்த படம்

Namasté!...

O Contador tem uma versão em hindi.
Falará de praias de ondas rasteiras com mais corvos que gaivotas.
Por isso é que no título se escreve "o grasnar dos corvos".
Alguém que me traduza isto.

சந்திரமுகியில் வேட்டைய ராஜா கெட்டப்பில் வில்லன் போல் நடித்தது ரசிகர்களுக்கு மிகவும் பிடித்துப் போனது. விக்காக இருந்தாலும் வாக்கெடுத்து தலை சீவி லக்கலக்கலக்கலக்கா என்று சொல்லும் வில்லத்தனமான நடிப்பு ரஜினி பட்டய கெளப்பியிருந்தார். அதனால் அடுத்த படத்தில் வில்லனாக நடிக்க ரஜினி முடிவெடுத்திருக்கிறார்.ஆனால் வேறொருவர் கதாநாயகனாக நடித்து தான் வில்லனாக நடிப்பதை ரசிகர்கள் விரும்ப மாட்டார்கள் என்பதால் அவரே கதாநாயகனாகவும் வில்லனாகவும், ஆக மொத்தம் இரு வேடங்களில் நடிப்பதாக முடிவெடுத்திருக்கிறார். ஜக்குபாய் மூலமாக ஏற்பட்ட மனக்கசப்பை போக்க இதை கே.எஸ்.ரவிக்குமாரையே டைரக்ட் செய்ய அழைத்திருக்கிறார். இதன் பெயர் வம்சி என் சூட்டப்பட இருக்கிறது. இசை மீண்டும் வித்யாசாகர்.என்னால நம்ப முடியலன்னு சொல்லரீங்களா...ரஜினி இப்ப வில்லனா நடிச்சா சூப்பரா இருக்குமேன்னு தோணுச்சா... அதோட ரொம்ப நாளா எதுவுமே பதியலையேன்னு கொஞ்சமே கொஞ்சூண்டு சங்கட்டமா இருந்துச்சா... அதேன்... ச்ச்ச்ச்ச்சும்ம்ம்ம்மா.

Hic et nunc

"... pero que todos sepan que no he muerto;
que hay un establo de oro en mis labios;
que soy el pequeño amigo del viento Oeste;
que soy la sombra inmensa de mis lágrimas ..."
Federico García Lorca

Às vezes o tempo e o modo estão na sola dos pés e ficam inscritos na areia até à próxima maré. Só até à próxima maré. Ou só até que uma lambidela de um vento mais agreste os arrase.
E assim, matinal e breve, me visto de contrários. Aqui e agora. O primeiro passo de um longo caminho que se faz apenas andando. E logo hoje que tenho que desenhar os mapas e os percursos futuros.