25 de setembro de 2008

Conversa de caserna

Eu não posso dizer que o nosso ministro da administração interna é um «giraço» a não ser numa qualquer alusão forçada à polícia de giro que me arrastaria inevitavelmente para o beco das piadas de mau gosto. Também não diria que é «actriz» porque embora se esforce por fazer o seu teatro mediático às vezes é completamente atroz.
O nosso ministro foi a Bruxelas fazer não sei o quê numa reunião e toca de falar da mulher
do Sarkozi, mas depois lembrou-se dos microfones direccionais que captam tudo e estava uma câmara de televisão a filmar e acabou com a conversa.
Lembrei-me do que li aqui há dias sobre o comportamento dos seus subordinados e também acho que a quem representa a autoridade do país se deve exigir uma postura exemplar mesmo que esteja de folga.
O ministro de facto não é um «giraço», mas já vi um que girou por contar uma anedota.
Espero que a mulher e a filha tenham assistido.

Hoje também é

Dia de flor.

Dezasseis mil e setenta e quatro dias é a medida que já leva o poema.
Há sempre uma flor e um verso perfumado quando nasce o dia.



24 de setembro de 2008

Tempus fugit





O céu encontra-se parcialmente nublado, a temperatura ronda os 23 ºC e o teor de humidade do ar atinge os 69%. O BCE decide mais uma subida das taxas de juro e a Remax pendura mais uns cartazes nas varandas. O ponto de orvalho situa-se nos 17 ºC o que proporciona condições bastante favoráveis para a prática de carjacking, mas altamente desaconselháveis para o subprime. O vento sopra de sudoeste a uma velocidade de 3,1 metros por segundo e sugundo as notícias mais recentes, a Galp baixa dois cêntimos no preço do gasóleo, o que não é mau embora se situe ainda acima dos valores esperados para a época. A pressão atmosférica é de 1016 hPa, considerada estável no PSI20. A visibilidade vai até às 6,2 milhas, ou seja, mais ou menos 10 quilómetros, o que significa boas condições para os projectos a médio e longo prazo. Com o nível de radiação UV de apenas 4 em 16 não é de admirar que Manuela Ferreira Leite venha a terreiro dizer aos portugueses o que Cavaco vai dizer nas Nações Unidas.
Hoje o sol nasceu às 07:21 e o ocaso terá lugar às 19:25
Temos o Crepúsculo civil às 06:55 e às 19:51, o Crepúsculo náutico às 06:25 e às 20:21 enquanto que já o Crepúsculo astronómico ocorre 05:54 e 20:51. A Lua minguante está visível entre 01:54 e 16:46.
O dia de hoje tem a duração de 12h 03m. Amanhã o dia terá menos 2m 20s .
Por agora e até ao solestício não haverá amanhãs que crescem, mas a gente canta sempre.

17 de setembro de 2008

Radex e coisas assim mais ou menos mágicas


A Marlene era uma adolescente dos seus quinze ou dezasseis anos, loira oxigenada e brilhava nas festas das vindimas a dançar ié-ié com o Fialho no palco da Mesericórdia. Eu era dos poucos que sabiam que ela passava os seus dias fechada num escritório a lançar facturas e a dactilografar ofícios.
Aos onze anos, fui trabalhar para a loja que tinha tudo o que havia para vender. Atendia os fregueses ao balcão que pediam desde parafusos com cabeça de embeber dum tamanho que era uma esquisita fracção de polegada (do tipo 6/38) a uma mão de papel almaço.
De vez em quando lá ia ao pé da Marlene que me tinha quase adoptado e até me queria arranjar uma namorada que era uma amiga sua chamada Teresa e que trabalhava no escritório de um armazém de vinhos ali ao pé. Um dia, estava a escrever à máquina e enganou-se. Soltou umas pragas e raios te partam, mas não parecia muito chateada com o sucedido. Vi-a abrir a gaveta da secretária e tirar uma espécie de selo rectangular e dizer-me que aquilo era mágico. E a seguir premiu duas ou três vezes a tecla de retrocesso, colocou o selo sobre o papel, voltou a bater as mesmas letras com muita precisão e, magia!, onde estava um erro ficou o papel em branco e podia escrever-se de novo.
O selo de papel que utilizou tinha escrito de um dos lados várias vezes a palavra RADEX.
Aprendi aquela palavra mágica e voltei a lembrar-me dela anos mais tarde quando dactilografava os primeiros trabalhos académicos. Hoje nas arrumações caiu-me de entre papeis velhos um pequeno envelope com meia dúzia de selos correctores mágicos RADEX. É um produto da marca KORES, diz que "elimina erros dactilográficos" e duvido que alguém ainda consiga comprar.
Nunca mais vi a Marlene. Acho que voltou para a França que a viu nascer e onde tinha os pais emigrados. Provavelmente, hoje escreve num computador, mas tenho a certeza que não será mulher para utilizar corrector no ecrã como já ouvi numa anedota.

Portas

Abre-me essa porta mesmo que não saibas para onde dá.
Havemos de fazer o tal caminho que só se fará andando.

10 de setembro de 2008

Projectos

Quando for grande quero ser adulto.
Disse há dias G., filho de um colega meu e que ainda não fez 4 anos.

7 de setembro de 2008

Sal picos



Salinas do Ludo, Faro. Esta manhã
(Foto de telemóvel)



5 de setembro de 2008

Vindima

Vão a caminho dos oitenta e repetem os mesmos gestos rurais todos os anos.
Repetem também os discursos com umas pequenas alterações, como se fosse uma matriz de dados que se preenche todos os anos: daqui do Valdaque já tirámos três mil e quinhentos quilos de uvas este ano; o Casalinho está um pouco melhor, mas tem menos grau, é da rega; na Guarita estragou-se muito, foram as geadas...
De muitas décadas de volta das vinhas sobra-lhes a angústia de não saber o que vai acontecer quando não conseguirem cuidar delas. Sei que para eles ver as terras por amanhar os fará morrer mais depressa. O rendimento que dali tiram não paga o trabalho e isso torna a exploração agrícola praticamente inviável. Isso é o que pensará qualquer agricultor, ou engenheiro ou qualquer pessoa. Mas não estamos a falar de uma exploração agrícola; é um modo de vida. Vivem do trabalho, do amor à terra e não do seu rendimento. Subsistem com uma parca reforma donde ainda tiram para comprar uns adubos ou gasóleo para o tractor.
Foi daqui que nasci e me criei. Comecei menino a fazer vindimas de sol a sol, um dia inteiro de mãos pegajosas do mosto, dores nas costas e algumas picadas de abelhas. Devia lá estar agora para o rancho ser maior.



4 de setembro de 2008

Hesito. Êxito. Exit. Existo.


Entre o silêncio e a fala sibila-se um tremor nos lábios
nascido no peito

Desfiam-se e desafiam-se lembranças dum sol maior
de quinta perfeita

Acordo com a cor da fuga estupidamente gravada
no frio do espelho

Entre o luto e a luta há uma ponte suspensa de bruma
quase a esfumar-se

1 de setembro de 2008

Silêncios

4'33" de silêncio.

Uma composição de John Cage.
Já fiz melhor, mas sem público.


Este post vem em diferido e não corrresponde ao estado de alma.