23 de abril de 2010

Um dispositivo tecnológico impressionante



Video sugerido por mail pelo meu amigo L. Moreira a quem deixo um abraço

Interessante peça de marketink que ilustra como as palavras não se deixam aprisionar.
Muito apropriado para este dia.

11 de abril de 2010

Quando falaste...

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Mas voámos todos um pouco e de repente toda a Serra era uma imensa escola verde e o Sado o recreio e a Pedra Anicha uma sala de aula frente ao Portinho ou era mesmo só a Pedra Anicha sobrevoada por gaivotas que éramos nós todos.
Por um tempo deixaste de ser a rapariga dos brincos de pérola e tornaste-te no poeta professor e toda aquela sala voou num caminho por ele fora sem tempo nem asas/almas encarceradas. Ficámos todos meninos a aprender e até o "Fosco" rabino desta vez ficou até ao fim.

Sessão comemorativa do nascimento de Sebastião da Gama, ontem em VN de Azeitão, no museu que tem o seu nome.

Melhor ainda é ler-te na primeira pessoa.
Singular.


Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, em 10 de Abril de 1924, e faleceu em Lisboa em 1952


"Encarcerar a asa é encarcerar a alma. Isso sim. É que há muita asa que não pensa; asas que não sintam é que não.Mas eu não preciso do símbolo para ver os pássaros na gaiola. Basta-me ser fraterno. Para que vivemos no mundo há tanto tempo, se não sabemos ainda que os bichos são criaturas com alma?... Até os das fábulas, quando calha... Ora pensem lá um bocadinho no " Leão Moribundo"... É um leão mesmo, ou é principalmente um leão. Quantas vezes se esquecem os fabulistas de que era de homens que queriam falar!
Asa encarcerada não. Nem asa de pássaro nem asa de grilo. Uma fê-la o Senhor e disse-lhe: " Voa!" À outra: " Canta!" A nenhuma ( nem a nós deu a ordem, claro está) que se metesse numa gaiola. No entanto é a gaiola o domicílio habitual muito habitual do pássaro e do grilo. Ao grilo prendem-no as crianças, sob o sorriso dos pais. Ao pássaro os pais sob o sorriso dos filhos. Má escola esta. Principalmente porque se diz: "Que bem que canta!, Que bem que canta!". Nem se chega a aprender a diferença que vai do canto ao choro. Pois um pássaro encarcerado canta lá?!... Os pássaros cantam é nas linhas do telefone, nas árvores, nas beiras do telhado... Os grilos é na toca ou ao pé da serralha. Na gaiola choram. É o fado dos ferros."

Sebastião da Gama (1947). O segredo é amar



3 de abril de 2010

Reflexão PazCalma

Não perceberam que não podiam exigir que a lei contemple a prisão das mulheres que abortam ao mesmo tempo que os seus crimes se resolviam com meia dúzia de ave-marias e uma oportuna mudança de paróquia. (in Jumento)

Ora aqui o esencial da questão. A igreja católica não é má porque alguns dos seus membros são maus e cometem crimes. É má quando protege os criminosos e permite que persistam nos seus crimes noutro local. Impunemente. É socialmente iníqua quando é uma força de pressão organizada sobre a regulamentação da sociedade laica e depois se furta ela própria às leis dessa sociedade.
Neste tempo de festas católicas (na verdade roubadas ao calendário de tradições pagãs) a igreja tem tido um tempo de antena gratuito que só rivaliza com os grandes clubes de futebol. Neste tempo em que continuam a vir à luz mais notícias sobre os abusos sexuais cometidos por padres, que têm feito os mais destacados membros desta organização? Contrição? Penitência? Arrependimento? Pedir desculpa às vítimas? Entregar os acusados à justiça? Nada disso. Antes, salvo raras excepções, têm sido unânimes na desculpabilização, no silêncio e até, pasme-se, na vitimização de uma campanha semelhante à anti-semita (não percebi se à dos nazis com quem pactuaram durante décadas se à sua própria perseguição e matança de judeus que sempre acusaram da morte de um alegado Jesus). Considero isto é um verdadeiro insulto à humanidade, incluindo os crentes cristãos.

Também por estes dias, e ainda nos domínios da fé religiosa, horrorizamos com os atentados de Moscovo e sabemos que pelo menos uma jovem de 17 anos se fez explodir espalhando a morte à sua volta. São as chamadas "viúvas negras" instrumentalizadas por um qualquer líder político-espiritual. Não se compreende como em nome da fé se pode causar a morte e o sofrimento de inocentes, mas a história das religiões, está cheia de episódios destes.

Um libanês muçulmano vai em perigrinação a Meca (obrigação religiosa islâmica para todos fazerem pelo menos uma vez na vida) é preso, acusado de bruxaria, julgado e condenado à morte por decapitação em público. Isto na Arábia Saudita, país que integra a Organização das Nações Unidas desde 1945.

Eu que me concebo como ateu, atinente a uma enorme curiosidade transdisciplinar, iconoclasta dos quatro costados, não consigo parar de me interrogar e inquietar sobre estes acontecimentos. Espanta-me que toda a gente inteligente não o faça. Como é possível que em nome de uma convicção íntima num suposto deus que apelidam de bom, de amor ao próximo, que pode tudo e mais alguma coisa e ainda lhe sobra tempo porque é infinito e por aí fora, se espalhe tanta morte e sofrimento no mundo?
Devem ser mesmo os mistérios da fé...