31 de maio de 2010

Inter vs rogações

Quando um escritor ou uma escritora medíocre tem um estrondoso sucesso editorial, estamos perante uma besta célere?

30 de maio de 2010

Domingo

Praia, xadrez e bicicleta.
Contigo, seria mesmo perfeito.

Lembrei-me de outros domingos de outros olhares
Aqui fica um domingo-poema de um dos meus poetas


Poema de domingo
Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio algremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.

Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.


É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos

20 de maio de 2010

FaroVille

É quase à minha porta. No meu quintal. Praticamente.Primeiro interrogávamo-nos o que se estava ali a construir com a ajuda e o empenho da tropa. As máquinas eram verde-militar e os uniformes não deixavam dúvidas. Em vão procurei os cartazes obrigatórios, parece-me, em todas as obras que informam do que se está ali a fazer. Quando se trata de obras públicas até costuma estar lá o orçamento e as fontes de financiamento e o prazo de construção.


Aquele terreno está envolvido numa polémica desde há meia dúzia de anos. Assim em breves palavras, era um terreno do domínio público municipal que por proposta do presidente Vitorino e a concordância do PSD e do PS na A. Municipal, passou a domínio privado da Câmara, para o oferecer ao SCFarense, para este clube aí explorar uma bomba de combustíveis de modo a poder pagar as dívidas ao fisco e à segurança social, acumuladas por gestão danosa da SAD.
E isto só não seguiu assim porque os moradores do bairro interpuseram uma providência cautelar.
E fui vendo o avanço da obra com algum regozijo, porque fosse o que fosse, sempre era melhor que uma gasolineira redentora da delinquência fiscal. Mas continuava a não haver informação visível o que me fazia pensar que estaríamos perante uma obra ilegal, uma construção clandestina.
Ouvia vários comentários e alguém com ar de bem informado garantia que aquela obra era para as comemorações do 10 de Junho (e já nem sei bem o que se comemora nesse dia) e que vinha cá o Cavaco. Pensei logo que a coisa se deveria vir a chamar cavacódromo. Sua celência aroveita o feriado, vem à terra e faz um discurso para os magalas ali em sentido, ao sol, a desidratar.
Mas sempre é melhor que uma gasolieira.
Ainda procurei ali um rego directamente ligado à ria para passarem os submarinos do Portas, mas não vi nada. Ah... ainda não vieram da Alemanha...
Mesmo assim, eu que sou um bocadinho céptico e às vezes mesmo pirrónico não estou la muito convencido dessa coisa do 10 de Junho e das paradas militares.
Então não se está mesmo a ver que isto é a FarmVille farense.
Em tamanho real.

Até as crianças percebem!
Nota: Com tudo isto não está ainda afastada a possibilidade de nascer ali uma bomba de gasolina, o que é uma lamentável opção para a entrada da cidade. Vamos ver.



17 de maio de 2010

Realmente...

Vamos lá ver se alguém adivinha quem foi o real idiota que desovou estas pérolas.

Considera que o país está mais preocupado com as causas fracturantes do que com a realidade?
Claro! Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene. Praticamente é só isso, em vez de dar referências éticas e morais em relação ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Ao mesmo tempo, desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses.

Há questões, como o divórcio, que na Monarquia seriam impossíveis!
Hoje em dia é mais fácil despedir a mulher ou o marido do que um funcionário de uma empresa. Ora, a estabilidade de um emprego não é mais importante do que a estabilidade da família.

A questão do aborto também?
A lei do aborto livre é para muitos uma lei que escraviza as mulheres porque hoje ela pode ser obrigada a abortar pelos patrões, amantes e pais. Esta é a situação de muitas mulheres, pois é raro que queiram abortar por vontade própria. Esta lei, que as escraviza, é ultraliberal e ultracapitalista e não percebo como é que a esquerda em Portugal apoia isto.

Uma esquerda que também apoia o casamento homossexual...
Esse é um problema mais complicado porque há uma confusão entre o direito a viver junto, a ter alguns benefícios fiscais, a ter certo reconhecimento legal para pessoas que querem partilhar a sua vida e que muitas vezes até podem ser duas velhas amigas, vizinhas ou irmãos. A legislação sobre o casamento tem basicamente o objectivo de proteger as crianças e creio que não se devia confundir o casamento como unidade que pode produzir uma futura geração, educá-la e ter responsabilidades nela, com as uniões de facto que podem ser aquelas que interessam aos homossexuais. Dizia alguém – a brincar claro – que hoje os padres e os homossexuais é que se querem casar, os outros preferem as uniões de facto porque dão-lhes menos responsabilidades.


Não não foi o Cavaco. Esse apenas veio explicar ao papa que estava de mãos atadas e não tinha outro remédio que não promulgar a lei que permite que pessoas do mesmo sexo possam casar. Não disse, mas a gente percebeu que continua homofóbico graças a deus e à virgem santíssima.

13 de maio de 2010

Papanços e papalvos

A RTP, televisão pública continua a espremer Fátima. É a Fátima Campos Ferreira que já deve estar estar na fila para a próxima época de beatificação a fazer desfilar todos os beneméritos do amor ao próximo. As outras televisões já retomaram as suas programações e a RTP continua na sua missão apostólica. É caso para dizer que é mais papista que o papa.
A TSF também fez a sua emissão pastoral a partir de Fátima logo desde manhã cedo. Ainda ouvi uns comentadores a falar da dor e do sofrimento e de um deus que é bom e se não fosse deveríamos ser ateus. Uma freira aproveita para desancar no Saramago e eu a pensar que esta gente ou não lê a bíblia ou tem uma visão muito selectiva e quanto mais o ouço mais me espanto como é que gente que considero inteligente acredita nestas histórias. As histórias que se contam sobre um suposto deus e que são objecto de fé, negam-se a si próprias.
Então meu caro Anselmo Borges, estará lembrado do sacrifício que o deus da bíblia (suponho que é o mesmo de que falava) pediu a Abraão? Para ser coerente, deveria engolir as suas palavras e declarar-se ateu.

O apóstolo Cavaco acaba de dar mais um ar de labreguice presidencial, na RTP N (18:35). O ar com que conta como o papa até foi capaz de repetir o nome dos netos... Sinceramente!... Logo a seguir vem o testemunho de uma cura milagrosa da virgem maria. Nem sei para que é que ainda gastamos dinheiro no Serviço Nacional de Saúde. Deve ser porque o sistema divino dos milagres também tem as suas falhas que como se sabe começou logo por deixar morrer (negligência?) dois dos pastorinhos que dizem ter visto a aparição em Fátima.
Mas parece que somos poucos a dar por isso.

12 de maio de 2010

Quem semeia bento... um dia destes bai ber se chobe

Ouvir os discursos de Cavaco ao papa tratando-o por sua santidade e por santo padre, ainda por cima dizer que fala em nome de todos os portugueses dá-me vómitos. Aliás, em todo este processo, Cavaco não se tem comportado minimamente como chefe do Estado português, mas apenas como um vulgar chefe de família temente a deus e à virgem santíssima que recebe o papa como se estivesse em sua casa e chama os parentes mais próximos para virem cumprimentar o papa. Um nojo. Não me lembro de alguma vez olhar para este sujeito e ver nele o presidente de todos os portugueses. A mim, só me faz sentir vergonha. Pode ser que isso agrade e seja ao jeito da maioria dos portugueses, mas não passa a ser ético por isso. Ainda há dias foi à República Checa e ouviu o que outro quis dizer e amochou. Agora com o papa comportou-se como submisso sacristão. O homem tem demonstrado que não tem jeito nenhum para o cargo. Um verdadeiro lèche-bottes (ia escrevendo culs, mas até isso exigiria mais elevação) não pode ser chefe de um estado soberano.

Sócrates também foi à missa e hoje reuniu-se com o papa. Também lhe estou com tremendo asco, mas isso são contas de outro rosário (vejam como estou contaminado por esta overdose católica!) Ouvi Sócrates à saída do encontro com o papa e de facto não tem nada a ver com o comportamento de Cavaco. Teve uma pequena hesitação, mas tratou o papa por "sua eminência", foi respeitador e protocolar. Este contraste ainda me faz sentir mais a completa inadequação do comportamento de Cavaco.
O papa bem o podia levar para o vaticano. O homem farta-se de dizer que sabe de economia e isso deve fazer jeito ao Vaticano, embora eu não tenha grande fé nisso. Lembrei-me que se se aplicar à economia o que Abel Salazar dizia da medicina ("médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe") a coisa fica difícil. Por outro lado, também não há qualquer evidência de que os conhecimentos de economia de Cavaco tenham servido para alguma coisa. Bom, temos aquele bom desempenho ao nível da economia doméstica com as acções do BPN ou da SLN, mas aí também eu teria feito boa figura...
O homem dos tabús continua em campanha e um dia destes vem aqui a esta paróquia inaugurar o cavacódromo, mas sobre isso há-de haver outro escrito com bonecos e tudo.



Só por curiosidade, no Priberam, dicionário online, a palavra do dia é:
mirmecófago (grego múrmeks - ekos, formiga+ -fago) adj. Que se alimenta de formigas. = FORMICÍVORO. Ou seja, PAPA formigas.

11 de maio de 2010

O Tony Carreira faria o mesmo mais barato

Cheguei a casa e ligo a televisão que abre na RTP N (parece que qualquer um que fosse) e e stá a dar (é o que está a dar) a transmissão directa do terreiro do passo. A locutora diz que faltam 21 minutos para a eucaristia (de vida) celebrada pelo papa. A câmara percorre em panorâmica a primeira fila e tenho a impressão que lá estão as mesmas caras que estavam no concerto do Tony Carreira, no pavilhão Atlântico, ou no Campo Pequeno... já não me lembro.
Ontem alguém fazia as contas e dizia que se contabilizava em 75 milhões os custos observáveis desta visita papal. Não se incluem aqui os prejuízos das tolerâncias de ponto e do estado de sítio de meia cidade de Lisboa.
Eu sei que as pessoas precisam disto, mas não abusemos. Esta semana já houve a vitória do Benfica com 48 horas de festejos e recepção oficial na Câmara de Lisboa. Foram milhares e milhares de pessoas em celebração até de madrugada, incluindo inúmeras crianças em idade escolar e não houve sequer um dia de tolerância para os benfiquistas de alma e coração.
Isto prova que as pessoas, quando animadas pela fé não precisam de feriados nem tolerância de ponto e até são capazes de pagar para estar junto dos seus ídolos.
É bem verdade que a malta do futebol também gasta muito em segurança
e em cada jogo jogam cerca de trinta polícias por cada futebolista e que ao fim de um ano isso custa-nos um ror de dinheiro.
O Cavaco trata o papa por santo padre e diz que fala em nome de todo o povo português...
Estou a ver que de Portugal se pode dizer que é tanto um estado laico, como do vaticano que é um estado pedófilo.

Esta visita junta o delírio místico com a paranoia securitária. Para além do ridículo de que ninguém se parece importar.

Cenas dos próximos capítulos...

Cavaco recebeu a brigada do reumático.
Ex-ministros das finanças, orgulhosos do trabalho que fizeram por este país foram visitar Cavaco Silva que se encontra temporariamente no palácio de Belém no intervalo de duas acções de campanha para a sua reeleição e antes do seu trabalho temporário de salamalequear o papa que protege pedófilos.
Gostei de ver a brigada do reumático em romaria com direito a uma declaração à porta, a dizer não sei bem o quê, mas que era mais ou menos o mesmo que o Cavaco diz que já tinha dito há tempos e com ar de que todos ainda se lembram muito bem do que é a economia. Gostei. Fez-me lembrar outra visita mais antiga... O que se vai seguir?
Alguém vai cair da cadeira?

9 de maio de 2010

Pontuacções

Vem aí o papa, meninos!




Nota posterior:
O título desta posta não contém nenhum erro ortográfico. Aquela palavra não existe, acho. Será um neologismo que funde duas ideias numa só palavra (o Mia Couto é mestre nesta arte) e é nessa dupla leitura que a ironia se descodifica.
Voltei a pensar nisso e constatei que se já todos usássemos o acordo ortográfico e nos tivessemos esquecido do antigo português de Portugal essa leitura não seria possível.
De qualquer forma, apesar de achar que este acordo não era necessário, não sou dos que juram que lhe vão resistir até à morte, até porque isso será inútil . Aprendi a ler antes de 1963 e lembro-me que havia palavras que o meu pai escrevia de maneira diferente (escrevia à antiga) e passados uns anos foi assimilando as alterações ortográficas.

1 de maio de 2010

Viva o 1º de Maio

Acácias do meu bairro.

O 1º de Maio é dia do Trabalhador. Dia de luta e dia de festa. Também ligado a memórias tristes. Luto. Às vezes o sentido da vida parece pôr os ponteiros a rodar ao contrário e o que deveriam ser referências para o nosso viver colectivo perdem-se em residuais rituais folclóricos.
Quando vim para este sul, há trinta anos encontrei dois dias distintos e também misturados.
Dia de Maio: dia de "atacar o Maio" logo de manhã com um bom medronho; dia de ir para o campo comer panelões de caracóis a cheirar a orégãos; da "festa da pinha", das "abarcas", da entrada com archotes na aldeia de Estoi ao anoitecer, dos "maios" à beira da estrada...
O Primeiro de Maio: dia da festa sindical; dia das bandeiras vermelhas, dos discursos, das canções da memória revolucionária e de outras que se quiseram ligar a essa memória...
São festas populares. Já participei nas duas. A primeira acaba por ser a mais pagã mesmo que inclua missa na igreja matriz.
Dia de luta e dia de festa. Há muitas razões para lutar e a gente gosta mais de festa. Que fazer, Lenine?
Eu cá para mim era capaz de aderir a uma teoria absolutamente revolucionária, capaz de derrotar a actual deriva capitalista selvagem e louca.
Vamos vencê-los pela festa!