2 de março de 2007

olha pá


Tenho andado a evitar mas não passa de hoje Tenho que ter uma conversa a sério contigo De homem para homem Seja lá isso o que for
É que ando preocupado contigo Com a tua saúde
Já não tens propriamente vinte anos para ofereceres o peito assim às emoções Olha o coração pá Elas não matam Mas
Eu bem te vejo O mar em que às vezes ficam os olhos só de ler meia dúzia de palavras alinhadas Há quem simplesmente diga que os dicionários estão cheios delas Mas ambos sabemos que um texto pode ser como o açúcar Que é doce sem que nenhum dos componentes o seja Isto de encontrar beleza e poesia até na química orgânica tem naturalmente os seus custos Olha o outro que se emocionava até com uma expressão matemática Acabou a guardar rebanhos nos prados da metafísica


A ti ainda te vou encontrar na soleira daquela casa a regar canteiros de palavras e silêncios E a tomar chás ao crepúsculo com uma gaivota pousada no ombro.
Depois não digas que não te avisei











Joan Miró
Le crépuscule rose caresse les femmes et les oiseaux

1 comentário:

CCF disse...

Diálogos intímos entre o actor e a sua personagem. Aguardo o desfecho ou próximos capítulos. É belo isto que escreves.

~CC~