16 de março de 2007

lágrima

A palavra não é triste não Tem uma agógica estranha que nos faz demorar o lá Demorar lá E fugir rapidamente de lá em duas átonas sílabas sem sal. O sal está lá No lá que se demora O lá de distância De ausência O lá de fora E também o lá de dentro Sobretudo o lá de dentro

Pensei isto tudo porque li no troll que me levou até à notícia do choroso estudo
Eu fui educado para não chorar Porque os homens não choram Mas cedo me revelei um verdadeiro caso de insucesso educativo E caiam-me gotas nas páginas dos livros e borrava a escrita a tinta nos cadernos No cinema era bom Ninguém via no escuro O pior era assim o intervalo inesperado
Na verdade levei muitos anos a aceitar este meu insucesso Agora choro quando a alma me pede Ou sempre que as emoções não cabem dentro das palavras Ou quando cabem tão bem que até apetece chorar
Enfim
Já vivi a experiência de chorar em vários sítios e confesso que gostava de poder experimentar em punta arenas ou em ilhas mais próximas e mornas ou na baía de luanda ou numa praia de goa



Se tudo isto coincidir com o que acontece exactamente com outro homem Pode não ser coincidência É que somos muito íntimos e às vezes vestimos a pele um do outro

Numa pesquisa no google sobre lágrimas o que mais aparece são mulheres a chorar



1 comentário:

Anónimo disse...

Quando ele chorou olhei calada para o outro lado de mim e era um grande escuro