16 de outubro de 2007

livreiros entre outras coisas ( I )



Há dias entrei numa livraria em Setúbal e, entretido a ver uns cadernos e uns dossiês antigos, dei por mim a escutar a conversa entre o livreiro e uma família. Uma menina perguntou o que era o IVA.

O dono da livraria, senhor a caminho dos setenta, figura esguia e olhos muito vivos, virou-se para a menina como se tudo o resto deixasse de ter importância e a hora de fechar para almoço (era sábado) pudesse ser atirada lá mais para a frente e dispôs-se a explicar a uma criança de cinco ou seis anos o que era o Imposto Sobre o Valor Acrescentado. E fê-lo de tal forma que até os adultos (entre eles um avô) ficaram a saber. A criança só não percebeu porque se chamava IVA ao imposto. Possivelmente tem algum coleguinha de infantário chamado Ivo e a coisa estava a fazer-lhe confusão, pensei eu.

O livreiro então levou-a para junto de uma mesa, pegou num papel e numa caneta e perguntou:


Como te chamas?
Irene.
Irene quê?
Irene Marques.
Então se eu escrever aqui um I e um M, as pessoas que te conhecem sabem que és tu. Com o IVA é o mesmo..., continuou ele até concluir a explicação.
E lá se despediram com o livreiro a expressar as saudades que também tem dos netos.

Depois ficámos ali a sós ainda uns minutos e não me lembro como lá fomos parar, mas seguramente relacionado com a dificuldade de uma livraria ter tudo o que um cliente pode procurar, falávamos da profusão editorial dos dias de hoje e do muito lixo que por aí circula. Surpreendeu-me ama vez mais quando me fitou (com o cigarro apagado ao canto da boca que mantinha desde que o vi) e me disse:
Sabe? Também já pensei que isso era mau. Tudo se editava, muita coisa sem qualidade... mas depois pensei que teria que haver algo de bom nisso. Há muita palha e pouco grão? Temos que procurar melhor; o grão está lá!

Ficámos por ali porque entretanto chegaram a C e a A e começou outro episódio que merece um outro poste.

1 comentário:

CCF disse...

Lugares únicos e pessoas singularmente especiais :)
Beijo
~CC~