11 de novembro de 2010

São Martinho

Não me lembro bem se tive uma colega de liceu chamada Conceição Martinho ou se a inventei assim chamada porque me dava jeito cantar-lhe uma canção. É claro que toda a gente a tratava por São Martinho. Só nos encontrávamos na aula de Ciências ou Biologia porque ela era de outra turma e já não sei porquê tinha aquela disciplina na minha. Nunca tivemos grande relação e terão sido raras as vezes que nos vimos fora das aulas, mas pelo menos nas duas vezes por semana que nos juntávamos na aula cruzámos um olhar cúmplice que transportava dizeres nunca verbalizados. Ficámos sempre nesse entendimento doce e mudo. O seu olhar era sempre triste e sereno apenas com um leve sinal na comissura dos lábios como que a dizer sei que me estás a ver. Um dia a professora advertiu-me e ainda fui a tempo de me ouvir a trautear a música. Para mim estaria apenas a cantar mentalmente enquanto recriava a letra em português:
São Martinho
Como a vida é fácil
Saltam peixes
Dos teus olhos de algodão
Tens um pai rico
E uma mãe bonita
Por isso, minha linda
Não chores não


Coisas dos 17 anos...
Durante algum tempo associei esta cantiguita às festas de S. Martinho pelas adegas dos pais dos meus amigos para depois me esquecer dela completamente.
Hoje, 11 de Novembro, tradicionalmente conhecido como dia de S. Martinho padroeiro das castanhas, água pé e geropiga - que santíssima trindade!... - (sendo que na minha terra não há confusão nenhuma com a grafia de geropiga: escreve-se mesmo vinho abafado), pois hoje dia de S. Martinho, enquanto caminhava de pasta na mão dei por mim a cantar isto e a visitar estas memórias. Só não tenho a certeza se apelido da São era verdadeiro ou inventado por mim.

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