2 de agosto de 2005

Janelas para a terra


Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
Só suspenso por fios dum lado
E do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão
Levo a dormir
Sonhos que andei para trás
Ergo o porvir
Trago nos bolsos a paz
Tenho um corpo na morte espetado
Só suspenso por balas de um lado
E do outro a escapar
a escapar
de raspão
de raspão



Ponho a girar
Cantos que ninguém encerra
De par em par
Abro as janelas para a terra
Tenho um quarto na fome espetado
Só suspenso por água de um lado
E de outro a cair
a cair
no alçapão
no alçapão
Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
Só suspenso por fios dum lado
E do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão

Sérgio Godinho, in "os sobreviventes"

Por acaso até fiz umas curvas no destino. Logo de pequinino.
E aprendi a nadar e a amar e a sobreviver a todas as estradas e romances.
A liberdade continua a passar por aqui (por muito que lhe queiram cobrar portagens).

Sérgio Godinho hoje à noite no Forum Algarve




3 comentários:

Português desiludido disse...

Sérgio Godinho um dos "maiores"!
A não perder.
Pedro

mariomar disse...

Por
também passa. E por muitos e insuspeitados lugares.
Mário

Anónimo disse...

Por aqui (www.umafotopordia.blogsppot.com) também passa. E por muitos e insuspeitados lugares.
Mário