18 de outubro de 2005

O orvalho aljofra
os bambús verdes.
Dir-se-iam lágrimas.
O vento dormente
perpassa no loto
fazendo tombar
uma pétala rósea.

Devagar a noite
estende o seu manto.
Pelo meu caminho
passam pirilampos.
Das bandas do leste
vem o canto suave
de uma flauta distante.

Huang Wan-Chiung (1712-1763)
China

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville.

Verlaine


Quando se não dorme acaba-se sempre voando sobre qualquer coisa. E assim foi. Um voo sobre um grande amor ou um grande equívoco (porque a vida real é tão simplesmente aquilo que lhe quisermos chamar) num tapete de poesia.
É verdade que a poesia pode servir para tudo. Até para comer. E ser seta envenenada na aparência bucólica e contemplativa dum lago chinês no século XVIII... E há setas fatais. O curare mata porque paraliza os músculos que nos fazem respirar. Morre-se de asfixia... e sem se matar a saudade lembrada na música que chega sobre as águas...

Estaciono o meu tapete. A vida segue dentro de momentos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Verlaine

Anónimo disse...

Pensava ela sem pensar que não conseguia dizer desse seu tempo com que o Tempo a presenteava.
Nada mais certeiro que os sons das gaivotas na boca do contador.

E havia um vazio que consentia em se preencher no chão derramado de um futuro cansado... espreguiçando-se.

Buganvília