7 de dezembro de 2006

viagens


Ando há dias em viagem
Viajo por dentro e por fora e toco paisagens onde nunca pus os olhos
Sorvo a genealogia do chá de rosas Aquele que transforma a tristeza em rouxinol
Depois teço um manto de assobios trinados e deito-me nele até que me acordes

27 de novembro de 2006

cesariny


Nem penses que me enganas Pá
Sei de cor essas manhas de poeta
Um surrealista não morre Brinca com o próprio cadáver delicioso e esquisito Fá-lo beber vinho novo da mesma forma que os cavalos bebem nuvens nas lagoas da esperança até à embriaguês das tempestades
E continua a viver da única maneira possível
Bêbado
Apaixonado
Poeta
Tu é que sabes cesariny





Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny de Vasconcelos
(9 de Agosto de 1923 - 26 de Novembro de 2006)

23 de novembro de 2006

flor-estrela na pele de um dia triste


As estrelas existem
sim
Às vezes não as vemos porque andamos entretidos a olhar para outras coisas
ou mesmo a procurá-las em sítios onde não estão


Não estão
mas podiam estar
Portanto
não nos resta outra alternativa se não ir colocando uma estrela onde não há
Ainda que a tenhamos que arrancar do fundo do mar

16 de novembro de 2006

mar rio e mários

Pongo estos seis versos en mi botella al mar
con el secreto designio de que algún día
llegue a una playa casi desierta
y un niño la encuentre y la destape
y en lugar de versos extraiga piedritas
y socorros y alertas y caracoles.

Na terra onde nasci não há mar onde deitar garrafas (coisa hoje ecologicamente muito condenável) Há um rio que se sabia chegar ao mar embora só mais tarde viesse a deslumbrar-me com esse estuário encontro
Alguém viu há pouco a minha infância a brincar nas margens e a lançar na corrente barcos de papel que afinal eram de esperança
Pouca gente sabe é que eu tinha um amigo também ele mário com quem baralhava ciência e poesia E um dia pusémo-nos a separar da água o naipe do oxigénio para um lado e o do hidrogénio para outro Isto é Para dentro dum balão
E o balão elevou-se no ar e foi levado pelo vento como as correntes do mar transportam mensagens em garrafas. Já não me lembro do que escrevemos na mensagem Mas hoje apetecía-me pendurar-me assim num balão bem grande E

Sorrio a quem me relembrou este poeta e estas tentações agora ouvidas aqui


MEDIOS DE COMUNICACIÓN

No es preciso que sea mensajera
la paloma sencilla en tu ventana
te informa que el dolor
empieza a columpiarse en el olvido

y llego desde mí para decirte
que están el río el girasol la estrella
rodando sin apuro
el futuro se acerca a conocerte

ya lo sabes sin tropos ni bengalas
la traducción mejor es boca a boca
en el beso bilingüe
van circulando dulces noticias

15 de novembro de 2006

lincame mucho

Hoje linquei-me à senhora sócrates E ao blogue que ninguém lê E ainda às bebedeiras de jazz
Não se pode dizer que me tenha corrido mal o dia


Se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há uma mão desconhecida
a acenar - adeus, adeus - quando se parte prò mar;
Se tu soubesses
que o mar não tem fronteiras nem distâncias
é sempre o mar;
se tu soubesses
a noite nas águas
onde os barcos são berços
e os marinheiros meninos a sonhar:
se tu soubesses
o desamor à vida
quando o vento grita temporais
e a morte vem abraçar os homens na espuma das vagas;
se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há um sorriso
para quem chega do mar;
se tu soubesses
vinhas comigo prò mar.
Vinhas comigo prò mar
embora as nuvens do céu
e os ventos que vêm do este e do oeste, do sul e do norte
digam ao mundo que vai haver o temporal maior que todos!

Manuel da Fonseca Canção de Hans o marinheiro

13 de novembro de 2006

anda luz

Soou assim no cantar dos caminhos
Um verbo animado de de paredes caiadas a espalhar ainda mais o sol
Do sul

E foi a luz
E correu na mágica velocidade dos cês quadrados capazes de buscar energia só de olhar o infinito

Então
Podemos cantar em coro com os poetas e outras aves
E cantar alto


Balada para los poetas andaluces de hoy

¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre, ¿pero donde están los hombres?
con ojos de hombre miran, ¿pero donde los hombres?
con pecho de hombre sienten, ¿pero donde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.

¿Es que ya Andalucia se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Qué en los mares y campos andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?

Cantad alto. Oireis que oyen otros oidos.
Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.
Latid alto. Sabreis que palpita otra sangre.

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado. su canto asciende a más profundocuando,
abierto en el aire, ya es de todos los hombres.

Autor: Rafael Alberti (In Memoriam)

10 de novembro de 2006

felizaniversário



Há dias ouvi um jovem guardador de rebanhos a sério dizer que enviava mails Escrevia em blogs Conversava com uma data de amigos Mesmo sendo o único jovem da sua aldeia


Há coisas extraordinárias
Pois há

Hoje mando um bouquet de fleurs e parabéns à cristina no dia dos seus anos
É minha amiga E ainda não a conheço

Ele há coisas extraordinárias mesmo

7 de novembro de 2006

ou tu bro

7 de novembro
Comemora-se o início da revolução de outubro
Pois
Não admira

abraços


Dou abraços

Pela paz
Pela liberdade
Pela amizade
Pelo amor




De graça



Vejam bem
Que não há só gaivotas para contar

http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4

Recebi por mail da minha amiga Ginja
Tu levas um beijo

vou ver se chove



Gosto dos dias de chuva
Embaciam-se-me os óculos e permito-me ver outras coisas






(…)
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(…)
Fernando Pessoa - Chuva Oblíqua (1914)

ri vegouche





Pelo tejo vai-se para o mundo
Mas quem está ao pé dele fica contente por estar só ao pé dele
Não foi nada disto que disse o outro guardador que escrevia coisas de pé em cima de uma cómoda Coisas sobre flores e montes e vales e possivelmente nem sujou os sapatos de lama quando brincava com o menino jesus a correr atrás das raparigas Porque era tudo a sonhar
Digo eu que
fui à terra com outros olhos E outro nariz E outros ouvidos E outra pele E eu também
O meu rio está gordo e alimenta-me memórias de cheias a sério que não eram notícia
O meu rio sempre me disse que por ali se ia para o mar E fui Fui muitas vezes antes de ter ido Quando me detinha ali na margem esquerda debaixo dos salgueiros a flutuar os olhos na corrente

Foto roubada ao Troll Urbano
a uma Isabel que deve ter andado por aqui

29 de outubro de 2006

afinal têm razão











Li algures este fim de semana que o governo tem um relatório que diz que nos últimos quatro anos as forças de segurança dispararam mais de seis mil tiros e provocaram a morte de dezoito cidadãos

Afinal têm razão aqueles que dizem que as polícias têm armas obsoletas e os agentes precisam de treino de tiro

mudou a hora

E ainda dizem que nada muda em portugal




A hora mudou

Espero que desta vez seja para melhor

24 de outubro de 2006

eh companheiro

Afonso Gostei de te ver ontem do alto dessa cagança toda a espalhar discos sobre o mar de amigos

Poetas da lusofonia são cinquenta Para já e de primeira água Cinquenta poemas do mundo Para ouvir sem pressas

E lembrei-me de antigas dirimas sobre a existência do povo luso Bem Que los hay los hay e pronto Embora sempre tivéssemos sido mais dados a bons tintos que dessa água

Foto: Barlavento (roubada)

18 de outubro de 2006

ler lila


Depois que ela cantou que há um remédio para a tristeza já me apetece ficar triste
Nas montanhas de oaxaca ali no sul do méxico mesmo encostado a chiapas há uma pequena cidade onde imperam as mulheres Muitos dos homens partiram e os que ficaram vivem a sua homossexualidade tão às claras que são aceites pela comunidade como o terceiro género Oaxaca é também uma terra de feiticeiras e são elas que que sabem como tratar males de amor e tristezas afins
Manda a receita que se tome banho em água de rosas e que a água do banho seja deitada no rio para que as tristezas corram para o mar
Como pode tudo isto caber numa canção


Eres… vara de Romero
madre del deseo
que el rio cantó
Eres… suripanta del pueblo
la mujer que mas quiero
que me da de beber
Agua de Rosas
dame de beber
Ay… Ay…
Que esta tristeza
acabe de una vez…

Lila Downs. Água de rosas

16 de outubro de 2006

sim josé mais oui oh yes


Não me lixes josé Não gosto
Tomates era propor a lei na ar Referendo para quê Porquê Quem faz as leis
Porque não fazes um referendo para ver se a gente quer que aumentes os impostos Ou para saber se deve ser levantado o tecto do valor da inflação aos aumentos de bens essencias como a electricidade de baixa tensão
É claro que sou pela despenalização da ivg A actual lei é medieval e de sacristia Eu até acho que o que estava certo era não haver lei porque da pele para dentro é abusivo que qualquer lei se aplique Mas tá bem A gente quando quer tirar um dente também vai ao dentista e não tem que se sujeitar a um carniceiro de vão de escada Legisle-se pois no sentido de garantir as mesma condições de saúde às mulheres que muitas vezes dramaticamente decidem não continuar uma gravidez que não desejaram ou que sabem vir trazer mais desgraça miséria e infelicidade Portanto josé E mais o nunes dos médicos E mais bispos e cardeais E os providas e quejandos Metam-se todos numa excursão até às bordas da serra d'aire e quando chegarem a um sítio chamado ninhou Perguntem o que significa né de sousa no traquelho E que vos faça bom proveito. Mas não me lixes

13 de outubro de 2006

ponta ria


São vários os casos em que os gê ene e (não)erres atiram a matar em situações em que poderia fazer muitas outras coisas Depois vêm os seus representantes dizer que as armas são antigas e que não têm treino de tiro e tal
Treino
Armas modernas
Mas para quê


Os homens já acertam tanto

10 de outubro de 2006

hoje é dia de festa pá


Para a minha amiga
Um beijo


O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse não




O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração

Teresinha
Letra e música: Chico Buarque

9 de outubro de 2006

pi arte






arte



ao ouvido a areia movediça
e leva-se
ao senfim dos decimais inconvergentes
com ver gentes

os meus amigos
que transformam em números tudo o que tocam
e parametizam tudo o lhes cruza o olhar
(uma espécie de medusas de regressão linear)
ainda hão-de um dia explicar
esta relação
entre o que nos envolve e o que nos atravessa
que raio de diâmetro nos mede os dias
radianos a fio


afinal não é só o binómio de newton
fernando

digo eu

que nunca tinha guardado bicicletas

(fica aqui dedicado também aos castelas no ar e às claras)

4 de outubro de 2006

diamundianimal

Hoje é o dia mundial do animal
Não sei bem se o hei-de dedicar ao jorgembuste Se ao soitomoira Se ao valenteiro e mandaril Se à caca de cão nos passeios

A matilde coitadinha é um animal muito estúpido Em cima dos restos de comida que lhe dava deu em comer todos os ovos que punha Aquilo elevou-lhe o colesterol e zaz Deve ter feito um à vê cê Esteve cerca de uma semana sem se mexer Não tem o bico ao lado Mas deve ter uma perturbação neurológica qualquer que lhe afecta o prodigioso cérebro e não consegue acertar num bago de milho. Estou a pensar levá-la à fisioterapia

2 de outubro de 2006

ó da gaita

Ontem era dia mundial da música embora eu goste dela todos os dias
E tinha os gaiteiros de lisboa a tocar ali Pode-se dizer No meu quintal
Fui ver Ouvir Ouver
Não caiu neve apenas porque não é tempo dela
Mas bateram leve e fortemente em muitas latitudes e algumas latas
E sopraram ventos capazes de juntar um mundo no palco como se junta o pão na eira
Menestréis de canto chão e vozes na luta
Vivámúúúúsica

hajadeuses

Eu gostava que deus existisse Palavra de honra que gostava E de preferência mais do que um Muitos
Os deuses deviam ser assim como os especialistas em diversas matérias e não reduzidos a um pateta capaz de marcelar sobre tudo
Acho que há assuntos que mereciam um deus só para tratar deles
O abuso sexual de menores por parte de padres só por si dá para um verdeiro ministério divino A conivência da hierarquia dá para outro

Ai se deuses houvesse

Este post não pretende afrontar a maioria dos crentes seja em que deus for
É apenas dirigido aos crentes pelos quais não tenho respeito nenhum Os que abusam de crianças que lhe são confiadas Os que lhes dão cobertura e ocultam provas que levariam à sua condenação e depois há outros crentes que também não me merecem respeito Os que mentem ao povo que os elege Os que fazem a guerra Os que mandam pôr bombas Os que apitam douradamente
Ainda tenho dúvidas quanto ao sócrates Há dias benzeu-se mas parece que com pouca convicção

1 de outubro de 2006

futurar


Que queres ser qundo fores grande?
Eu gostava muito de ser funcionário público...
Humm... Duvido que alguma vez ganhes para isso




Quase metade da redução do défice orçamental programada pelo Governo para o próximo ano vai ser realizada à custa do bolso dos funcionários públicos
Assim falou o dn

27 de setembro de 2006

senhora só

crates

Não é bem o que parece esta senhora
Ela tem a chave do tempo por onde escorrem as palavras

Bem vinda à praia

lieb air tea

Translingue regresso à praia e volto a sentar-me à beira Contemplativo Imune à retórica do mercado capitalista
Imagino que te aproximas Sandálias na mão E vens sentar-te comigo lídia Não à beira do rio mas do mar Adivinho-te as perguntas apenas pelo teu odor
Começo por pensar que só me sinto feliz quando começo qualquer caminho que julgo poder levar-me a esse sentir Não se trata de um estado de embriaguês De vinho De paixão Ou de virtude Assim falou baudelaire (beau de l'air) Não É mais assim um não-sei-quê Percebes
Desta vez nem foi preciso enlaçarmos as mãos
Coitado do Ricardo Reis

21 de agosto de 2006

(so)Genealogia

Sou neto de um soneto clandestino
que se albergou debaixo da saia
duma écloga de ciência gaia
idílio foi meu pai por ser menino

Trova achada ali em desatino
bordou loas em lenço de cambraia
foi medida nova em plena praia
cantada por meu pai já era hino

Até aqui nada de anormal
nasci de um arrogo futurista
uma transgressão feliz mas banal

Depois caí numa fonte anarquista
eis-me anfiguri experimental
do acaso formal e concretista

16 de agosto de 2006

Pés de baca



Podiam ser de coentrada por virem de muitas direcções do mundo Do suor da áfrica escrava Dos ventos do caribe Das preces dos oprimidos

Mas era um espíritu vivo ali dança(n)do em câmara lenta como na têvê das dunas

Afinal Pés de baca é mesmo com salsa

E depois fomos dar ao pé ao som de Novalima Soundsystem

8 de agosto de 2006

マリア・ジョアン・ピリス(ピアノ)



1944年ポルトガルのリスボンに生まれ。3歳でピアノを始め、5歳で初めて人前で演奏しました。ピアノと作曲をリスボンの音学院でフランシーヌ・ブノワに学び、16歳で卒業。グルベンキアン財団の奨学金を得て、さらにミュンヘン音楽大学でローズル・シュミットに、ハノーファーでカール・エンゲルに師事しました。15年にわたりエラートで録音を行ってきたが、現在はドイツ・グラモフォンと専属契約を結び、協奏曲、室内楽の領域においても幅広く充実した活躍を続けています。共演した指揮者はクラウディオ・アバド、リッカルド・シャイー、小澤征爾、ネーメ・ヤルビーらがいます。室内楽ではヴァイオリンのオーギュスタン・デュメイとのデュオで数々の録音を残し、最近ではチェロのジャン・ワンを加えたトリオを組んでいて、いずれもドイツ・グラモフォンでのレコーディングを行い、好評発売中です。

Pois é Não consta aqui que ela saiba jogar futebol
Portantes Pá
Ela que vá lá pianar pó brasil

Ninguém pára o benfica Carago

27 de julho de 2006

À brupta

O jpp anda muito aflito por causa dos há queres Parece que fizeram um falso abrupto De circulação limitada certamente A mim não me calhou nenhum Mas também não sei se o jpp que diz isto é o verdadeiro ou o falso Esta blogoesférica anda cada vez mais cúbica
Aqui ao menos não há esse problema O verdadeiro e o falso andam de mãos dadas sem se saber bem com que mão se coçam as partes ou o todo
Assim a gente nunca se engana nas múltiplas dúvidas que nos crescem na raiz dos cabelos

26 de julho de 2006

Contra a guerra






























Sem bombas
Vamos apenas mijar-lhes à porta

19 de julho de 2006

Sonetanso

Eu já tinha avisado
Se me chateia muito desato a sonetar a coisa num trotil poético

Estão a ouvir-me bem
Oi São















(capa do disco Sin Argumentos da banda de rock espanhola Sonotones)


Se um soneto te dá sono manso
que dizer de dois metros de discurso
capaz de anestesiar um urso
ou dar-lhe de guerreiro o descanso?

O pau que ao gato sem querer eu lanço
parte-se em desvios de percurso
e eu de mãos vazias sem recurso
corro um pouco e o sonho alcanço

Não me tragam mais canja discursiva
alinhada no simplex teleponto
já me cresce na tripa maré viva

Com tanto carroucel já fico tonto
já dei para o peditório e com iva
falta-me só cagar p’ra isto e pronto

18 de julho de 2006

10 em Bush!


Pela primeira vez concordo com aquele artolas O que ele diz entre duas tostas com manteiga Ou seja Atacando o qu'houver É muito bem dito Por isso merece 10

"A síria devia pressionar o hezbollah para que pare esta merda..."

Se tivesse acrescentado

"Os eu e mais a ue e mais a rússia e mais a china e mais o japão e mais a austrália e mais o brasil e mais o cacete deviam pressionar israel para pararem esta faquingue chite..."

Até poderia ter 20

10 de julho de 2006

Entre parentes


O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão - Máquina do Mundo


Por isso é que o voar é sempre contínuo E atravessa tempos e fronteiras E desafia nuvens
Um dia fui ter lições de aprender e foi assim que fiquei a saber que já sabia Depois vi que afinal devagar era melhor Já só me falta aprender a parar
Por isso iniciei um calmíssimo programa de treinos por aquele rio acima e aquietar-me na sombra dos salgueiros E depois cruzar as planícies e as marismas entre mouros e celtas E entender que encontros e desencontros são apenas descompassos do aqui e do já
Por isso não me surpreende que o céu tenha tirado os véus pelo anoitecer
Vou estender as asas ao luar

22 de junho de 2006

Verão

Pois veremos Vocês sabem lá
Fui apanhado numa onda Uma vaga de palavras vagas na linearidade dos centímetros à volta da cintura E um imposto sobre o perímetro abdominal seria um roubo igual ao do imposto municipal de circulação que para selo só falta o mãos ao ar Fui medir e a cilindrada é tal que já se equivale a imposto de luxo E pensei Tenho que fazer exercício Desporto e assim Só que isso tem muita mãodobra e além do mais cansa Mas tenho que fazer algum exercício
Decidi pois dedicar-me à prática Moderada Do soneto
Não aquele soneto de alta competição capaz de provocar a morte da pessoa amada exactamente entre os dois tercetos Não Nisso ficou célebre aquele petrarca atleta de fundo que assistiu ao enterro de laura entre o soneto duzentos e sessenta e três e o duzentos e sessenta e quatro Eu é mais aquele soneto-joguingue assim de manter o fito da forma e baixar três milímetros ao perímetro abdominal em jejum
Por ora um por semana Deve chegar E começo com uma coisa leve Decassílabos Lá mais para o outono vou ver se já me aquilato a um alexandrino por mês
Aí vai o meu primeiro exercício na onda do cardiofite nesse

Soneto de quem nada tem para contar

Lancei o olhar sobre os horizontes
Tanto quanto me deixou a perícia
Buscando novas, rumor ou notícia
De palavra escrita e outras fontes

Varri megaciclos de frequência
Espremi canais cabos e antenas
Virei loiras e ruivas e morenas
Até ao limite da paciência

Entre a gripe alada e rouco anderrol
De tudo mirei, escutei e li
Vasculhei pedras duras e água mole

Tirando o teimoso nascer e pôr do sol
Que mais acontece agora e aqui?
Futebol futebol e futebol

21 de junho de 2006

Solstício

O solstício é um vício
13:36

19 de junho de 2006

Princípio G-eme

Andei algum tempo indeciso mas os acontecimentos ultimamente noticiados nos breves intervalos mundialenses activaram a minha coragem A gê-eme é uma verdadeira musa inspiradora quando se azambuja em deslocalizações anunciadas Assim vou mandar um esse-eme-esse ao primeiro ministro zé só É o diminutivo de josé sócrates Ele entra-me em casa tantas vezes que eu tomo a liberdade de o tratar assim E o tal esse-eme-esse é apenas isto
Karo xe xocratx 1º minixtro konvidut p almoxar cmg amnha
E só depois é que lhe faço a proposta Mas só depois da segunda garrafa de pêra manca E que é assim
O nosso país tem abundante mãodobra altamente especializada e uma verdadeira apetência pelo sector Como introdução acho que vai muito bem Valoriza os atributos nacionais e cria uma expectativa positiva Aí ele fica interessado e eu disparo Proponho-me criar mil empregos e assim só te ficam a faltar cento e quarenta e nove mil Sinto o interesse e a curiosidade dele a crescer e é a altura de concretizar a coisa
Deixemo-nos de rodeios dás-me os mesmos oitenta milhões de euros que outros deram à gê-eme e eu abro uma fábrica de punhetas de bacalhau virada para o consumo interno e também para a exportação Contratualizamos que eu dou emprego a mil trabalhadores durante doze anos de modo que só vou chatear outro que já não és tu a dizer que mudo a fábrica para a roménia porque lá cada punheta fica mais barata Deixa lá que o outro Talvez o marques men10 há-de concordar em pagar a diferença e a coisa continua É claro que nessa altura os trabalhadores não têm outro remédio senão ajudar à dramatização e fazem uma greve E o primeiro ministro da altura há-me mostrar o seu empenho pessoal fazendo constar que me telefonou pessoalmente e que até me arranjou umas tailandesas para me fazer umas massagens e cortar-me as unhas dos pés porque eu nessa altura já terei alguma dificuldade em me dobrar Bicos de papagaio e pê-dê-i tazaver
Não há como dizer que não
A seguir convido o predisente a bater a primeira pedra e a probabilidade de ser condecorado no próximo dez de junho é altíssima apenas ameaçada pela remota hipótese de portugal ganhar o mundial porque aí tenho à minha frente o scalori e o mandaril os jogadores o cozinheiro o roupeiro o motorista do autocarro o antigo presidente ex jorge sampaio que até comeu um pigue méque com grave risco para o seu colesterol E mais toda a selecção brasileira por ficarem em segundo lugar e falarem português Terei que me conformar mas a fábrica está no papo

13 de junho de 2006

Portugal no coração

Andámos nós a gastar o medos com a gripe das aves e afinal fomos atacados por epidemia de patriotismo paroxístico Ao longo período de incubação do mundial futeboleiro e da selecção da sagres/tmn em que todos os dias havia alguém em pública oração do pode ser qu'a gente consígamos seguiu-se uma crise aguda bastante grave O dez de junho carago Dia de portugal de camões dos emigrantes que andam lá fora a ganhar a vida da selecção claro (nem era preciso dizer) e dos três ramos das forças armadas E também do presidente da ré pública Por acaso até não esteve mal A cor da gravata absolutamente suprapartidária garantiu a distância suficiente daquela manobra intempestiva dum carro de combate E lá estavam eles a marchar contra os canhões de navarone e a pôr crisâmetos na campa dos egrégios avós que deus haja




















Aqui vai um claro e patriótico exemplo do portugal Aquele que povoa os quartos alugados à hora dos nossos corações O portugal que se autoavalia no máximo da escala de mohs quando a única coisa em que acerta é no pau O pau da bandeira parece-me de boa qualidade Firme e hirto que nem um epopeico alexandrino

O nosso indestino
O presidente ex jorge sampaio também quis dar o seu futebólico contributo ao patrioteiro afã nacional e lá foi ele armado de cachecol e um saco de gritos daqueles que nem a mãe do árbitro escapa Só que o regresso à cidadania tem os seus incómodos e nestas alturas é que se vê a falta que fazem uns seguranças e uns batedores para abrir caminho E é assim que o ex jorge pá chega muito cidadão e não menos exausto a um sítio qualquer E nada melhor para um cidadão exausto que uma cocacola e um piguemeque (depois não queres ter colesterol e infartes e essas coisas) num desses retiros de comida saudável amplamente espalhados pelo mundo chamados mequedónaldes Ora bem Está um gaijo dez anos na presidência para vir de lá pior do que entrou Não sei se vale a pena Se isto é assim ainda podemos esperar ver o presidente cavaco actual a sair cidadão triste e deprimido do euro 2016 onde a selecção (do soclari durante um intervalo dos seus delírios místicos de masturbação assistida por nossa senhora da recta de pegões) acaba de perder E o cidadão cavaco-deprimido a confessar aos jornalistas que só recuperou do que se passou nas quatro linhas depois de ter senifado duas

11 de junho de 2006

Fenomenologia seleccional

Já passei por momentos muito difíceis hoje
Ok
A equipa da cerveja sagres ganhou à selecção de angola O golo foi marcado por pauleta Aos quatro minutos de jogo
Mas como é que eu posso dizer isto se me aparece um microfone de estagiário em riste a perguntar-me o que achei do jogo Posso ter ali a minha chance de cinco segundos de fama (que depois serão repetidos de meia em meia hora) em todos os horários nobres e plebeus
Posso perifrasear os factos arredondando o esférico e dizer que portugal barra sagres barra tê-eme-ene entrou com o pé direito pelo pé esquerdo de pauleta quando o ponteiro dos segundos tinha apenas completado a quarta volta ao mostrador O esférico animado pelo impacto da bota nike do jogador açoreano descreveu uma trajectório mais ou menos rectilínea violando assim as redes da baliza confiada ao guarda redes angolano
Isto bem esticadinho dá à vontade os tais cinco segundos e parece-me estar bem ao nível de um comentador desportivo de bigode farfalhudo
Ah Não pode ser assim porque não tem emoção Ora bolas (bolas salvo seja) Não tem emoção uma ova O que é preciso fazer então Tenho que dizer palavrões é Não tem emoção o Há lá emoção maior que estar-me a cagar para isso
Mas eu só queria aparecer na televisão

Confesso Nem sequer vi o jogo Mas vi aqueles que viram o jogo em ecran gigante e municipal


Como se pode observar aconcentração é total Dentro de cada cabeça desenvolvem-se algorítmos que driblam os parâmetros essenciais da lógica cartesiana segundo a qual quem marcar mais golos é que ganha Ou numa versão mais prosaica uma vez enunciada por raul maçaroco Lá dentro é que elas se contam
É claro que umas cervejolas também ajudam à visão de jogo Mas só da sagres Foi quem ajudou a pagar a instalação do ecran gigante e a resolver lá aquela coisa com a sportêvê
Na minha opinião (após uma lenta degustação de um tinto de pias) é que falta sobretudo uma conceptualização mais avançada ultrapassando o paradigma positivista Há que apostar mais nas teorias e meio campo e em modelos teóricos mais pragmáticos conciliando a matriz disciplinar defensiva com as teses evolutivas do construtivismo É o que eu penso Mas não em definitivo Até pode ser que amanhã me autorefute no mais puro sentido popperiano


E não parece que o fenómeno interesse apenas a almas cristãs e outras assim
Tenho impressão que até o presidente O cavaco sim Qual é que havia de ser Se não se esquecer há-de falar disso no seu próximo livro autobiográfico de memórias de tudo o que ainda se lembra
O próprio durão dilemava-se todo na inclinação do seu coração coitado

Reparem até onde já chega a evangelização
Ou deveria dizer
Evangeliza cão

8 de junho de 2006

Tudo bons rapazes

Um skinhead

português tenta discursar numa manifestação nazi na alemanha Apela ao ódio aos imigrantes Exalta a superioridade da raça branca e outras subidas defecações

Na multidão um puto loirinho e com borbulhas na cara grita-lhe em alemão

Cala a boca ó preto
E vai pá tua terra

6 de junho de 2006

Vou à feira


Fica aqui afixada a tabuleta

PRAIA temporariamente NÃO VIGIADA
Contador ausente

Recebi um convite amigo para ir à feira estra tarde











Imagem de
Eduardo Abel Gimenez
roubada aqui




Tenho a possibilidade de comprar uns projectos abaixo dos preços de mercado mas isso é o menos importante O que eu gosto mesmo é de regatear a coisa Fingir-me desinteressado Agarrar aquela disputa feroz entre vendedor e comprador como dois gladiadores No final cumprimenta-se sempre com um sorriso franco. Se houve negócio e foi um bom negócio deve ter dado um grande prazer a ambos Se não chegaram a acordo
Amigos como antes

Nunca entendi muito bem aqueles que não misturam negócio com prazer
Para mim é mais
No ócio e no negócio o prazer é o segredo da alma

3 de junho de 2006

Band(alh)eira portuguesa

Os jacarandás são muita lindos e também cagam os passeios para não falar dos carros estacionados debaixo deles Mas isso só desenvolve a economia porque assim a gente vai mandar lavar o carro e paga dez euros e como ninguém passa factura o iva e o ierrecê ficam nos bolsos do lavador e a desgraçada da economia nem chegou a perceber que foi amplamente desenvolvida por mor da seiva de jacarandá As varandas portuguesas também floriram de bandeiras verdirubro patrioticamente desabrochadas o que em si também é uma verdadeira implementação
A bandeira portuguesa também é uma coisa muita linda Conta a história toda de portugal desde que a afonso henriques nasceu o primeiro dente Ou mesmo antes Se observarmos com atenção até vemos lá um senhor do povo anónimo que se abeirou dum chaparro e este condoído até lhe devolveu um fio de ouro com uma medalha de nossa senhora de fátima também em ouro que ele havia perdido no brasil dois anos antes Logo ali se proclamou o milagre do santo chaparro que ainda por cima cheirava a pitralon
É verdade que há muita gente que não sabe ler a bandeira e isso é grave É grave que se saiba lá fora que a selecção nacional é apoiada por uma maioria de analfabetos em bandeirês que é a lingua que falam as bandeiras Para colmatar essa falha é que há uns senhores que para além da sua nobre e reputada profissão dedicam as horas vagas a ensinar bandeirês ao povo
A nossa bandeira actual não foi fácil de escolher assim democraticamente com o vento e advento da república Ai não foi não Aquilo havia muitas propostas a contar portugal e os portugueses quase todos e cada um queria a sua como é costume até que alguém disse É esta e acabou-se a discussão E toda a gente aplaudiu a seguir e deu vivas a portugal à república e à democracia Havia ali uns anarcas que responderam com manguitos e assobios porque a sua proposta foi rejeitada Mas francamente Uma bandeira toda negra com um das caldas xisel a vermelho não podia ser Era uma proposta restritiva O país não é só as caldas da raínha
Mas pronto
Também quero erguer aqui uma bandeira nacional de apoio à futebulosa selecção com os votos de que tudo corra bem e não volte para casa antes do terceiro jogo Como sou pessoa de amplos consensos e a causa justifica isso escolhi uma bandeira verdadeiramente portuguesa e capaz de unir ricos e pobres cristãos e ateus fascistas e democratas monárquicos e republicanos o clero a nobreza e o povo soldados e marinheiros a pêessepê e a jêeneerre federalistas e independentistas os do contra e os a favor os corruptos os corruptores e ou outros que como são poucos também não interessa muito Dá para todos Como o jogo da bola
Olhem para ela






Aqui é que estão os portugueses todos
Viva portugal total e os portugueses todos




Também acho mal que todos portugueses saibam cantar a menina estás à janela e não saibam a letra do hino nacional
TODO

I
Heróis do mar, nobre Povo, Nação valente, imortal Levantai hoje de novo O esplendor de Portugal! Entre as brumas da memória, Ó Pátria, sente-se a voz Dos teus egrégios avós Que há-de guiar-te à vitória! Às armas, às armas! Sobre a terra sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta Bandeira, À luz viva do teu céu! Brade a Europa à terra inteira: Portugal não pereceu Beija o solo teu jucundo O Oceano, a rugir d'amor, E o teu braço vencedor Deu mundos novos ao Mundo! Às armas, às armas! Sobre a terra sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!
III
Saudai o Sol que desponta Sobre um ridente porvir; Seja o eco de uma afronta O sinal de ressurgir. Raios dessa aurora forte São como beijos de mãe, Que nos guardam, nos sustêm, Contra as injúrias da sorte. Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!

Ah Porque é que não pegam nestes putos Dão uma bandeira a cada um e vão para a alemanha na claque da selecçon A ministra da educaçon anda mesmo distraída

31 de maio de 2006

Canto

EPÍGRAFE
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.


De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.


De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.


Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
- expressão da multidão que está comigo.


José Carlos Ary dos Santos


Hoje acordei a cantar Um canto redondo e sem palavras Apenas um silêncio sábio no compasso da distância onde todas as aproximações são possíveis
O mundo espera E há uma palavra madrugada salvadora atada e cega na garganta

28 de maio de 2006

Pelasta maailma

Na ausência total de qualquer explicação,
somos o testemunho involuntário da encenação de uma
série de crimes
Joaquim Pessoa. Vou-me embora de mim

Bem que eu sonhava em salvar o mundo Este mundo inquinado de gente que já o quis salvar E já só acredito nas minhas utopias tal como outros acreditam em deus E no ginseng E nos bífidos activos E na selecção (ia dizer natural mas já só há fresca e com sabores) nacional Vou continuar a acreditar Sei que não salva o mundo É apenas uma forma de (r)existir com ele

Kaunis on rumaa, sanot ja minua paleltaa vaan en lähde mihinkään
Kun avaat ikkunan ja annat tuulen puhaltaa kadulla ei näy ketään jolle huutaa kiitos
Avaat rintani kuin lyhdyn sytytät sinne kynttilöitä liekki on ihmisen elämän muotoinen
Ja kuu valkea käy yli kattojen valaisten meitä ja kuu valkea käy yli kattojen rohkaisten meitä
Niin, pelasta maailma tee se jo tänään tee jotakin mahdotonta
Kaunis on rumaa, tiedän ja helppo on halpaa vaan en voi uskoa sattumaan vaikka tuuli kääntää lehtiä
Sama tuuli kaikkialla ennenkuin kaikki särkyy tämä hämärä muuttuu muistoksi ennenkuin häviää
"Katso kuinka ankarina pilvet kulkee kasvoillani kuinka voisin ihmeen tuoda
Mahdotonta älä pyydä älä pyydä itsellesi."

CMX Rautakantele

(O belo é feio, dizes e eu sinto o frio mas não parto para lado nenhum
Quando abres a janela e deixas o vento soprar, na rua não há ninguém a quem grites:obrigado
E a lua branca atravessa os telhados e faz-nos implorar
Isso Salva o mundo Fá-lo hoje Faz o impossível
O belo é feio, eu sei é fácil é barato mas já não posso acreditar que é por acaso se o vento virar as folhas
O vento é o mesmo em toda a parte antes que tudo se quebre
Este escuro transforma-se em memória antes de se perder)
Tradução necessariamente manhosa feita em guardanapos (que guardo zelosamente) de papel (manchados de cerveja) por uma amiga filandesa de quem tenho saudades
Onde andas Kikke Heikkinen?

27 de maio de 2006

E se de repente alguém percebesse…

que o país e a europa e as américas e quase todo o mundo estão na realidade dominados por extraterrestres que se divertem a entreter-nos com jogos florais para todos os gostos o que ainda fica um pouco dispendioso mas tem que ser até ao dia em que todos gostem só duma coisa
os etês que nos governam andam aí disfarçados
metem-se nas latas de refrigerantes e nas garrafas de cerveja e nos telemóveis e nos carros e nos bancos e depois sentam-nos a ver televisão para que nos levantemos a seguir para ir onde nos querem
não há como escapar
a biblioteca municipal raul brandão tem muito mais sócios que o vitória de guimarães mas foram estes que quase arrasaram a cidade aqui há tempos
portanto
aqui há gato
uma moça que nunca ninguém ouviu falar ganha uma medalha de ouro no salto em comprimento e o que mais se ouviu foi que um jovem acelera ficou em honradíssimo décimo sexto lugar que por acaso era penúltimo
uma desconhecida telma torna-se campeã europeia de judo e poucos saberão o seu apelido contrastando com os vales e santos e quaresmas e moutinhos e lourenços e meireles da equipa da sagres/tmn
ninguém percebe não faz mal e ponham isto na conta de mais uma paranóia minha e já agora acrescentem uma nota em pé de página a dizer que os paranóicos também podem ser perseguidos
agora tenho que ir
mas com um dilema terrível
não sei se vou a o festival da sagres se da superboque
já sei
vou é comer uns caracóis e bebo do que houver

17 de maio de 2006

Menina do mar



Esta menina do mar e de amar faz hoje oito anos
Esta menina do mar é uma prenda

Parabéns
E não te atrapalhes muito no crescer

16 de maio de 2006

És minha

(...)
Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.

E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.

E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome,
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros,
na chaminé do sangue.
(...)
Serenidade és minha. Raul de Carvalho

Às vezes é preciso juntar alguns dias mais mansos para fazer uma verdadeira praia Mesmo sem outro mar que não o da tranquilidade do luar maior Sem outra areia que não aquela que enche as camionetas da memória
E somos riso e faca Veludo e aço Ácido mel Feira e remanso
E o tempo é marcado pelos ponteiros das conversas Pela batimetria dos silêncios
Pelas cores herdadas da Maria Helena Pela carta de Sena e pelo mundo que só é nosso apenas pela obrigação de o salvarmos

Afinal é possível passar ao lado da meta-maternidade da selecção nacional

12 de maio de 2006

Completamente nu no mel

Ou numa banheira de espuma Tanto faz
Olimpicamente há quem nasça já deputante gatinhando sempre em direcção à meca para lamentar Os primeiros grunhidos melismáticos parodiavam já uma célebre marcha estadonovense
. Olivença é nossa
. Olivença é nossa

Outros há que aprenderam de leite a ciência do bisgo e da espera das aves canoras Talvez entoassem aquele refrão que dizia
. Nem mais um soldado prás colónias

Moce Confesso
También xou un iberista dum cabrão Carago

10 de maio de 2006

Só se for café...

Sempre ouvi café é que nos salva e acredito piamente (ou piadamente como se diz na piação das gaivotas).

Bento XVI e Durão Barroso debatem futuro europeu
Durante a audiência, Durão Barroso ofereceu ao Sumo Pontífice uma estátua da Virgem de Fátima em porcelana.

Com tanta loiça que há nas caldas...
Poderia ter oferecido um serviço de café.

9 de maio de 2006

No bico duma gaivota

Por detrás do baile do fato de treino dança uma outra realidade. O cabo de mar deu ordem para limpar todos os ninhos das praias pequenas. Ovos (ouviram?) só nas enseadas vigiadas por banheiros certificados de acordo com a postura do direito marítimo.

O cavalheiro foi cronificado logo após a confissão. Iberista confuso é pecado patrioteiro.
Iberista. O outro é economista e ninguém reclama.

Hoje há chocos com tinta. Tecnológicos só para a semana.
Manuscrítica críptica à sobremesa.
É o regime da dieta ética de patriotismos batidos em castelo.

3 de maio de 2006

O triunfo dos porcos












A Ribeira dos Milagres é a grande metáfora de Portugal
(«este país» como é conhecido cá dentro).
O império da merda governado por suínos que mal se sustêm nas patas traseiras.
Tribunais que brincam à justiça e põem dois murcões a pagar a mesma indeminização um ao outro.
No dia em que se dá mais um golpe na segurança social e se faz mais um assalto aos bolsos dos auto... martirizados abrem telejornais com o scolari.

Uma gaivota voava...

11 de abril de 2006

No mais musa, no mais...

Já carrego nervos a mais para a minha carroceria.
O Estado permite e ordena que me cobrem mais de cinco euros de taxa mensal de rádio e televisão quando eu para além de pagar tv por cabo e não ouvir a RDP porque a probabilidade de estar a transmitir um relato de futebol ou conversa sobre o dito deve rondar os oitenta por cento e o mesmo se passar com a televisão pública que para além disso ainda me dá missas e procissões. Mas noutros canais a coisa não melhora muito. Há dias este labrego da foto
e de seu nome muito artístico rui bandeira cantava a plenos pulmões num tó que xou:
ESTÃO A CHOVER ESTRELAS
ESTÃO A CHOVER ESTRELAS
ESTÃO A CHOVER ESTRELAS
assim mesmo e muito repetido não vá dar-se o caso de alguém não reparar. Impressionante. Isto foi gravado num estúdio e ouvido por muita gente aintes de sair. Possivelmente não estaria lá a senhora da limpeza. Daquelas mulheres que vieram da província apenas com a quarta classe das antigas mas que fazem melhor uso da língua que muitos licenciados em comunicação social. Alguém que reivindicasse assim: ó pá se as estrelas chovem eu também quero chover. porque é que eu não chovo pá?

Há uma semana atrás um sondagem revelava que mais de cinquenta por cento dos portugueses ainda não tinha qualquer opinião sobre o desempenho de cavaco como presidente da república. Não demorou muito para que o próprio viesse confirmar que cem por cento de cavaco não tem opinião sobre coisa nenhuma. Foi na visita ao hospital da estefânia no dia da saúde.
Perguntado sobre o que achava sobre o polémico encerramento de algumas maternidades o senhor professor presidente faz uma introdução em que explica que os cuidados de saúde têm vindo a melhorar ao longo dos tempos e quando se espera que diga realmente o que pensa (e as possibilidades politicamente correctas são imensas) remata sabiamente com a importância da educação para a saúde das nossas crianças. Pois.
Se bush serve para os americanos porque é que cavaco não haveria de servir para os portugueses.
Digna de estudo neurolinguístico é a expressão facial do ministro da saúde ali mesmo ao seu lado esquerdo e ligeiramente atrás. Esse sabe-a toda!
Parece que os técnicos de saúde autorizados a falar à comunicação social foram escolhidos a dedo. E mal. O director do hospital teve que mandar calar uma médica que já se estava a estender muito.

(A quem achar que fica mal não pôr vírgulas direi que estou a poupar A seguir vão os pontos Já não posso cortar em mais nada)

30 de março de 2006

mira-me miragem











Entre a miragem e a realidade cabem todas as ilusões

Havia uma pedra

Media in via erat lapis
erat lapis media in via
erat lapis
media in via erat lapis.

Non ero unquam immemor illius eventus
pervivi tam míhi in retinis defatigatis.
Non ero unquam immemor quod media in via
erat lapis
erat lapis media in via
media in via erat lapis.
Carlos Drummond de Andrade
(ver tradução aqui)


Queria assim tomar uma pastilha para não sonhar. Não se aguenta tanta frustração e neura a começar o dia. Passei a noite a dirigir o ensaio da peça que escrevi. E não me lembro de nada.
Um dia acordei de ler um livro inteirinho que tinha escrito sem fazer ideia do que tratava.

E já não sei porque comecei a escrever isto. Penso que talvez tenha sonhado um encontro com uma secreta gaivota que em piações sussurradas me dita estes ditos.
Há tempos pus-me a contar estes sonhos e lá tive que ouvir: "ganda pedra!"
Mas não. É apenas uma das cinco pedrinhas que deixo cair de vez em quando.

27 de março de 2006

Dia da lua

A segunda feira é mesmo um bom dia para começar a semana.
Já electronizei a declaração imposta quase no limiar do gongue e resolvi também aderir à entrega voluntária de armas.
Não sei se se referiam a estas:

As armas e os barados assinalões
Que da Ocidenta praia Lusital,
Por mares nunca dados navegantes
Passana ainda além da Taprobaram,
Em perados e guerras esforcigos
Mais do que prometana a força humia
E entre gente remaram edificota
Novo Reino, que taram sublimanto;

E também as memosas gloriórias
Daqueles Rando que foram dilateis
A Fé, o Império, e as tosas vicierras
De África e de Ásia andando devastaram,
E aqueles que por obrosas valeras
Se vão da lei da Mando libertorte
Cantando espalharte por toda a parei
Se a tanto me ajudar o engarte e enho.
-- Luões de Camís

Para além disto fiz uma relação das minhas armas de defesa pessoal e de ataque massivo. Mas essas não pretendo entregar nem que o primeiro ministro se rebole no chão com a birra e o presidente abdique para se dedicar à implementação do chocolate de alfarroba. De qualquer modo aqui vai:

2 bic cristal tinta azul mais ou menos a meia carga (uma delas roída na ponta)
1 bic laranja tinta preta
1 corvina 51 tinta preta
1 fibracolor hi-text tinta azul
1 schneider ohp124 permanent-marker tinta preta
1 schneider ohp124 permanent-marker tinta lilás
Cerca de trezentas esferográficas com publicidade desde congressos a campanhas eleitorais

Há ainda um pequeno número de armas mais sofisticadas à espera de serem usadas quando a situação o exigir que por serem secretas não cabe aqui revelar.

Enfim. Coisas de segunda feira...

20 de março de 2006

o equinÓcio é que é nosso!

(porque aqui também se contam os dias...)


Le Printimps (1866) - Bouguereau

se algum deus existe
e criou coisas e me criou a mim
fez-me ateu
mas não isento de espiritualidade e de mística
e muito menos insensível
à beleza dos ritmos da vida
e se algo há de sagrado
só pode ser a Terra


adoremo-la

Quando Lia gama...


...e viola o calendário das memórias só se pode dissolver inquietações na chuva que nos espera depois da remixida de luxo ou da luxúria meio kitsch
e depois passa com chamuças e abadias quod erat demonstrandum no trautear do rossio


A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei

Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está para acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Para ficar pelo caminho

Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda
(José Mário Branco )

16 de março de 2006

Quando Natália corria...




As Hespérides são moças algarvias

No Garb realça o azul deuses morenos
À doçura dos figos submetidos.
Vieram gregos. Ficaram Sarracenos.
Nardos enfolham seus nomes esquecidos.


À noite ordenham luas nos terraços,
Dão leite á sombra. Abrolham os perfumes.
Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos.
Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.


Esvoaçam suas túnicas de abelhas
Entre vinhas, seus bêbados recintos;
E quando a amendoeira nas orelhas
Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.


Vem de turbante o sol e toma posse
De corpos, cactos, milhos e vinhedos.
Excita o açúcar na batata-doce
E despe as almas gregas dos penedos.


Ouro firme, crepúsculos de cinabre
Senhorio de azul. Balcões mouriscos.
Ferve a prata na pesca. O cheiro abre
No ar quente uma vulva de mariscos.


Jardins da Hespéria? Ninfeu de ondas macias,
O mar. As ninfas guardam os pomares.
As Hespérides são moças algarvias
Todas jasmim, da testa aos calcanhares.


Garb de praia e pele magia e lendas,
Branco de extasiadas geometrias.
Absorto o tempo. São gregas as calendas
Com pálpebras de mouras gelosias.


Laranjas, cal, areia e rocha ardente
Têm sede da luz que dá mais vida.
Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente.
Causa clara de beira-mar garrida.

Natália Correia (1923 – 1993)

Natália Correia morreu há treze anos.
Ainda ando a comê-la.

9 de março de 2006

Habemos Cavacum











Ainda não consegui habituar-me à ideia...
Mas como não estou autorizado a riscar-me de sócio desta colectividade o melhor é aguentar e cara alegre.
Dizem-me que o que custa são só os primeiros dez anos...
Será?

Pedimos desculpa por esta interrupção





o país

segue

dentro

de

momentos

...mas só depois da beatificação da irmã Lúcia

(em directo em todos os canais)

8 de março de 2006

È per te...



É P’RA TI
É p’ra ti o verde da floresta
E o canto da cotovia
É p’ra ti a fonte de água fresca
É p’ra ti o sol de cada dia

É p’ra ti a brancura das casas
Que avistas do caminho
É p’ra ti que às vezes ganho asas
É p’ra ti o cheiro do rosmaninho

É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...

É p’ra ti que chove em Cabo Verde
E a gente canta e dança
É p’ra ti um refresco de ananás
É p’ra ti um sorriso de criança

É p’ra ti todo o calor do verão
E a frescura da cerveja
É p’ra ti uma rosa em botão
É p’ra ti o vermelho da cereja

É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...

É p’ra ti o aroma das estevas
E o doce chá de menta
É p’ra ti o ondulado das serras
É p’ra ti que a vida se inventa

É p’ra ti que o amor transforma
Cada dúvida em certeza
É p’ra ti a pomba branca que voa
É p’ra ti toda a paz e a beleza

É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...

É p’ra ti o canto que é mar profundo
E cada verso do poeta
É p’ra ti que há uma rosa do mundo
É p’ra ti que há uma chave secreta

É p´ra ti, o dia nove de Agosto
E uma flor do deserto
É p’ra ti que os olhos dão luz ao rosto
É p’ra ti este amor aqui tão perto

É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...


Piado um dia em português dum cantar de Jovanotti Lorenzo















Per Te
È per te che sono verdi gli alberi
e rosa i fiocchi in maternità
è per te che il sole brucia a luglio
è per te tutta questa città
è per te che sono bianchi i muri
e la colomba vola
è per te il 13 dicembre
è per te la campanella a scuola

è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...

è per te che a volte piove a giugno
è per te il sorriso degli umani
è per te un'aranciata fresca
è per te lo scodinzolo dei cani
è per te il colore delle foglie
la forma strana della nuvole
è per te il succo delle mele
è per te il rosso delle fragole

è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...

è per te il profumo delle stelle
è per te il miele e la farina
è per te il sabato nel centro
le otto di mattina
è per te la voce dei cantanti
la penna dei poeti
è per te una maglietta a righe
è per te la chiave dei segreti

è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...

è per te il dubbio e la certezza
la forza e la dolcezza
è per te che il mare sa di sale
è per te la notte di natale

è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...

4 de março de 2006

é PIB art dei pá gente


Com tanta festa quase não havia tempo para escrever...

Dois anos a contar gaivotas.
E mal!
Muitas escaparam-se ao conto.
Há que começar de novo.
(estou sempre a enganar-me)

Uma coisa aprendi:
Nunca se conta a mesma gaivota duas vezes

2 de março de 2006

Passarinhos a miar...


Ouvi nas notícias que um gato alemão terá apanhado gripe das aves. Avisem o Luís Sepúlveda que deve ser aquele gato amigo dele de Hamburgo. Aquele que um dia ensinou uma gaivota a voar.


Na minha terra ainda se chama entrudo ao carnaval. E qualquer pretexto serve para se juntarem uns amigos numa adega à volta duns copos e dumas rodelas de chouriça. Assim como quem enfia contas atrasadas de conversas.

23 de fevereiro de 2006

Qu'importa a fúria do mar?...


vejam
bem
que
não


gaivotas
em
terra
quando
um
homem
se
põe
a
pensar


O meu amigo HFR colocou aqui a possibilidade de se ouvir a voz que não se calou.

17 de fevereiro de 2006

Oh se é!...

"É mais cómodo acreditar no que nos consola. Mais difícil é perseguir a verdade. Pois o verdadeiro não precisa limitar-se ao belo e ao bom. O amigo da verdade não deve pretender paz, calma e felicidade, pois a verdade pode ser muito feia e repulsiva".
(Nietzsche)

Dizia-me que ia montar um negócio…
E eu que sou moço assim de acintes ao contrário mandei-lhe logo sem pensar: - e eu vou montar um ócio.
Lembrei-me então que ócio é coisa de pensar para além das minudências dos negócios e nem sequer está ao alcance de quem não tem nada para fazer por estar desempregado.
O verdadeiro ocioso tem que ter a barriga cheia, sentir-se amado ou pelo menos ter alguns amigos, dedicar-se a uma actividade que lhe ocupa a maior parte do tempo… Estão a ver ?
Skholé significa ócio em grego (tempo dedicado ao estudo e à meditação). Em latim era schola ou scholae (mas isso não interessa porque é uma língua morta que já só se usa para coisas como felatio e cunninlingus e et coetra ed alii).
Pois. Vou então montar uma escola de ócio. Só preciso dum sócio.
Aproveito a lassidão post-prandium (mais uma latinada) e medito até no que pode ser um curriculum adequado que consiste em procurar respostas a perguntas mais ou menos candentes e outras decandentes tais como:
Como se chamam os irmãos da irmã Lúcia?
De que se alimentava Buda?
Maomé sabia o que era um after-shave?
Terá Maria Magdalena conhecido algum antepassado do dono da Passerelle?
Santo Agostinho apareceu ao major antes ou depois de morto?
Krishna processou Hitler por lhe roubar a cruz swastika?
Que número calçava Jesus Cristo?

Dizem-me aqui que isto não tem utilidade nenhuma…
Ah não? Então provem!

Agora vou tomar um chá e escutar saturno.

10 de fevereiro de 2006

Caturrismo


Um jornal egípcio (Al Fager) publicou as caricaturas da discórdia em 17 de Outubro de 2005.

Os editores parece que estão bem de saúde.

O ópio do povo continua a impor o seu domínio.
nos templos
nos estádios
nos mercados

9 de fevereiro de 2006

Caricaturra






Qualquer manifestação pública de natureza religiosa ofende profundamente o meu sentimento de ateu.

2 de fevereiro de 2006








Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.


Eugénio de Andrade

29 de janeiro de 2006

scan wass

Li algures que os esquimós têm para cima de um molho de palavras para designar aquilo a que chamamos neve. A mim não me chegam tantas para para exprimir a minha indignação.

Foda-se.

Só vi neve pela televisão.
A minha praia continua de areia.


Resta-meo fabuloso piano de Chano Dominguez em "Hacia Donde".
Questões de sulidade...

23 de janeiro de 2006

Ai!... (suspirotécnico)

Hoje acordei assim:

E vesti luto.
Alivia-me apenas a convicção de que ninguém será capaz de matar o sonho nem de riscar a utopia do mapa do desejo.

Fere-me esta idolatria mais do que todos os crimes:
Tanto fervor desviado e perdido!
Tanta gente ajoelhando à passagem do tempo
e tão poucos lutando para lhe abrir caminho!

Há uma vida inteira a jogar e gastar
no pano verde imenso das campinas do mundo.
Há desertos cativos de uma ausência dos povos.
Há uma guerra devastando a vida,
enquanto a supuserem redimida!
(...)
Jorge de Sena (1919-1978)