11 de junho de 2006

Fenomenologia seleccional

Já passei por momentos muito difíceis hoje
Ok
A equipa da cerveja sagres ganhou à selecção de angola O golo foi marcado por pauleta Aos quatro minutos de jogo
Mas como é que eu posso dizer isto se me aparece um microfone de estagiário em riste a perguntar-me o que achei do jogo Posso ter ali a minha chance de cinco segundos de fama (que depois serão repetidos de meia em meia hora) em todos os horários nobres e plebeus
Posso perifrasear os factos arredondando o esférico e dizer que portugal barra sagres barra tê-eme-ene entrou com o pé direito pelo pé esquerdo de pauleta quando o ponteiro dos segundos tinha apenas completado a quarta volta ao mostrador O esférico animado pelo impacto da bota nike do jogador açoreano descreveu uma trajectório mais ou menos rectilínea violando assim as redes da baliza confiada ao guarda redes angolano
Isto bem esticadinho dá à vontade os tais cinco segundos e parece-me estar bem ao nível de um comentador desportivo de bigode farfalhudo
Ah Não pode ser assim porque não tem emoção Ora bolas (bolas salvo seja) Não tem emoção uma ova O que é preciso fazer então Tenho que dizer palavrões é Não tem emoção o Há lá emoção maior que estar-me a cagar para isso
Mas eu só queria aparecer na televisão

Confesso Nem sequer vi o jogo Mas vi aqueles que viram o jogo em ecran gigante e municipal


Como se pode observar aconcentração é total Dentro de cada cabeça desenvolvem-se algorítmos que driblam os parâmetros essenciais da lógica cartesiana segundo a qual quem marcar mais golos é que ganha Ou numa versão mais prosaica uma vez enunciada por raul maçaroco Lá dentro é que elas se contam
É claro que umas cervejolas também ajudam à visão de jogo Mas só da sagres Foi quem ajudou a pagar a instalação do ecran gigante e a resolver lá aquela coisa com a sportêvê
Na minha opinião (após uma lenta degustação de um tinto de pias) é que falta sobretudo uma conceptualização mais avançada ultrapassando o paradigma positivista Há que apostar mais nas teorias e meio campo e em modelos teóricos mais pragmáticos conciliando a matriz disciplinar defensiva com as teses evolutivas do construtivismo É o que eu penso Mas não em definitivo Até pode ser que amanhã me autorefute no mais puro sentido popperiano


E não parece que o fenómeno interesse apenas a almas cristãs e outras assim
Tenho impressão que até o presidente O cavaco sim Qual é que havia de ser Se não se esquecer há-de falar disso no seu próximo livro autobiográfico de memórias de tudo o que ainda se lembra
O próprio durão dilemava-se todo na inclinação do seu coração coitado

Reparem até onde já chega a evangelização
Ou deveria dizer
Evangeliza cão

1 comentário:

Serpinia disse...

A do positivimo linear de causa efeito é que fze marcar o golo de Portugal, poue é a ssima lógicas dos tablóides.