5 de dezembro de 2008

O Modelo, a Popota e o Tony Carreira

O meu ouvido, musical e muito relativo, apreende discursos como fraseados sonoros, melodias, batidas rítmicas e, frequentemente ruídos (ia a escrever sem qualquer classificação musical, mas pensando melhor, não é bem assim).

Dum ponto de vista meramente convencional, a maior parte dos discursos que nos entram em casa em prime time, não passa de ruído. Mas, tal como na música, tanto o ruído como o silêncio podem servir intenções estéticas ou buscas transpoiéticas (esta até a mim me surpreendeu). O ruído de um tipo da bola que fala mal e nada tem para dizer vende uns minutos de publicidade num painel animado estrategicamente colocado por detrás. O Marcelo vende-se a si próprio nos gafanhotos que debita sobre tudo incluindo o partido de que já foi presidente e quer e não quer voltar a ser. A Ferreira Leite fica em silêncio cageano alternando com a aleatoriedade stockhauseniana. O Cristiano Ronaldo ganha uma bola de ouro enquanto que o Benfica tem que ganhar oito a zero a não sei quem para não sei o quê. Acontece-me às vezes, surpreender-me a trautear um comentário do Cavaco ou do PauloBento. Uma música pimba que nos fica no ouvido. Enfim.

Hoje queria falar do Modelo. A cacafonia dos últimos tempos faz-me lembrar um exercício antigo que consistia em inventar um relato de futebol numa suposta língua chinesa em que as palavras bola e golo se diziam como em português. É assim que me soam quer a Grande Orchestra Syndical quer a Camerata Ministerium:
只口喝的乌鸦在路边发现 modelo了一个装了半瓶水的长颈瓶。modelo 地直立在干涸的泥土里 modelo而且瓶口 modelo 比较细而且很深modelo 乌鸦的嘴巴根本够不着modelo 怎么办? modelo 聪明的乌鸦用嘴巴将路边的一块 modelo 块小石头放到了瓶子里。 不一会的工夫,石头已经填满了瓶子 modelo瓶子里的水位升高了。最后乌鸦终于喝到 popota tony carreira 甜美的瓶 中水neste natal 但瓶子牢牢

Há coisas incontornáveis. A invasão e a generalização de uma cultura de gestão por objectivos e a introdução de sistemas de avaliação nos diferentes níveis das organisações parece ser uma realidade donde não há fuga possível. Se calhar, o melhor mesmo é aproveitar algumas coisas boas que isso tem e procurar melhorar aquelas que são verdadeiras patetices irrealistas e que só estorvam o cumprimento da missão de um organismo.
A mobilização dos professores é admirável a vários títulos. Fez o que ninguém fez no resto da Administração Pública que já se entretém com o SIADAP há quase quatro anos. A princípio percebia-se o que queriam numa melodia mais ou menos cantabile e entendia-se a sua resistência a um processo que se desejava ver simplificado. Da parte do ministério, as vozes do que parecia um canto firme entram em sucessivo glissando e assiste-se a uma bemolização das ideias. A frente sindical empolga-se num crescendo até ao tutti finale no dia 3 de Dezembro. Só que, em sucessivas modulações, já se perdeu o tema em ambas as formações e o público já fica incomodado com a algazarra e daqui a pouco começa a patear.
Já se comenta entre o público que é preciso outro arranjo musical, outra harmonização.
O ministério sai mal, pela porta dos artistas e os professores, embora saindo pela porta principal autoglorificando-se como vêm cantando os seus hinos, não escutam as vozes que já lhes dizem que eles não querem é avaliação nenhuma - nem a do modelo nem a do pingo doce.
Como para o ano vai haver, para o próximo natal devemos ter novo concerto, desta vez com a Leopoldina e o Quim Barreiros.
(Já se diz por aí nas coxias laterais que o maestro vai substituir o outro na CGTP.)

20 de novembro de 2008

Coisas do amor na boca dos poetas


Entraste na casa do meu corpo,
desarrumaste as salas todas
e já não sei quem sou, onde estou.
O amor sabe. O amor é um pássaro cego
que nunca se perde no seu voo.

Casimiro de Brito. Intensidades. 1995




Ontem na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa - Sessão comemorativa dos 50 anos de vida literária de dois poetas por aqui nascidos ou crescidos. António Ramos Rosa e Casimiro de Brito.
Lançamento do livro de Casimiro de Brito, 69 Poemas de amor, apresentado por José Carlos Barros, leitura de poemas de Casimiro de Brito e de António Ramos Rosa pelo Afonso Dias e pela Tânia e apontamentos sobre a vida e a obra de Ramos Rosa, pelo Casimiro de Brito.
Confesso que conheço melhor e continuo a apreciar mais o Ramos Rosa, no entanto este livro surpreendeu-me muito positivamente. Contém 69 poemas, uns catados ao longo de toda a obra poética ( o primeiro data de 1957) e mais uns quantos inéditos. Percorrem o tema do amor do romantismo juvenil ao amor dos corpos na relva orvalhada. Um amor ao amor que se cresce vida e viagem que nunca acaba e se aproxima da morte nunca definitiva.
Neste livro, gosto particularmente dos Haiku como este:
Não grites, amor-
deixa-me escutar os teus rios
subterrâneos
(Eros mínimo -inédito)

Uma palavra ainda para a novíssima editora algarvia 4´guas (é assim mesmo que se escreve), um projecto de carolice que pretende subsidiar as edições de poesia com a venda da alfarroba da propriedade de um dos sócios. Sempre deve ser mais seguro que as fontes de financiamento da Byblos.

18 de novembro de 2008

Avaliação


Parece que já há um ministro avaliado e sem grandes burocracias.

livreiros entre outras coisas (III)

Há um amor comum a papéis pintados com tinta que às vezes nos leva para dentro de casas com cheiro a estórias e viagens escritas nas prateleiras. Procurávamos o último livro do Carlos Ruiz Zafón que tu nas tuas prodigiosas sínteses já chamavas a Sombra do Anjo e entrámos naquela perigosa livraria sobre a qual já aqui escrevi por duas vezes. Aquele caos é sedutor e apetece-nos ficar ali a remexer e a descobrir coisas que provavelmente já não existem noutros sítios. Os livros têm o preço escrito a lápis no canto da primeira folha e não têm aquelas etiquetas colantes com código de barras. E depois é uma livraria com um livreiro lá dentro que tem sempre uma história para contar, um comentário, uma reflexão sobre o mundo e a vida.
É impossível ir lá e não me lembrar com saudades de um outro livreiro e uma outra livraria que frequentei durante anos, na minha adolescência em Santarém. A Livraria Apolo do Manuel Castela era, pelos anos 70, uma verdadeira Escola-ATL- Sala de Estudo- AfterAulas para um vasto grupo de jovens que gostavam de livros, de música, de tertúlia e de aprender com os mais velhos. A maior parte de nós não tinha dinheiro para comprar livros ou discos, mas passávamos lá tardes inteiras a ler, a ouvir música, ou simplesmente a conversar. O Castela era assim uma espécie de tio da malta e deixava-nos ler os livros sabendo que não os iríamos comprar. E conversava connosco, e fazia perguntas sobre o que líamos e ia buscar outro e aconselhava a leitura. De vez em quando queixava-se de que alguém tinha roubado (acho que ele dizia levado) um livro, mas até parecia encarar isso como uma espécie de taxa para a elevação cultural. Pior era quando a Pide passava por lá e apreendia livros «comunistas» e discos do Zeca e outros revolucionários; aí ficava fulo e praguejava o dia todo.
O Castela morreu há cerca de 25 anos. Não sei se aquela cidade lhe fez alguma homenagem. Mas, se não fez, devia. Também eu lhe devo boa parte do gosto pelos livros, do gosto musical e do desejo de saber.
Para a memória.

4 de novembro de 2008

Sonhâmbulo


Depois de te ler lembrei-me de ter tido um sonho semelhante. Nele, interrogava-me se um país tão poderoso, capaz de armar uma guerra em qualquer parte do mundo, capaz de exportar para todo o planeta uma cultura de violência, de consumo exacerbado, mas também algum do bom cinema e muita da grande música jazz, não seria também capaz de promover a paz (de forma pacífica, entenda-se) no mundo e, usando da mesma ingerência com que derruba governos democraticamente eleitos e provoca golpes de estado, ajudar a combater o estado crónico de fome, sofrimento e doença. E tenho andado com esse sonho assim de um lado para o outro a desdobrá-lo e a tentar perceber nos seus interstícios se isso depende da eleição de um homem, ou daquele homem que nos parece simpático e autenticamente bem intencionado.

Eu não sou americano e não consigo saber se Obama é melhor que McCain. E não sei se, quando fora dos EUA, toda a gente votaria em Obama o faz porque ele é o melhor para o mundo ou para os Estados Unidos da América.

Se eu vivesse lá provavelmente não escolheria nenhum. Para os meus padrões, representam ambos a direita conservadora, por mais que se pintem de mudança progressista.

Para um hipotético (ou talvez nem tanto) governo do mundo, preferiria à partida que não fosse americano (preconceito meu certamente derivado de um antiamericanismo primário).

Mas voltemos a Obama (que a esta hora já deve saber quantos lugares tem no colégio eleitoral) e à esperança que nos faz entrar em casa à hora dos telejornais. Não me parece nada que ele tenha esse sonho. Acho que essa parte funciona apenas para nós, europeus. Para a maior parte dos americanos que votam nele o que funciona é o american dream: um indivíduo que vem de baixo, sobe a pulso e chega ao topo. Por mim não acho nada mal e aplaudo quem consegue demonstrar que é possível tornar esse sonho realidade, através do trabalho, do estudo, da persistência e não porque (à portuguesa) lhe sai o euromilhões ou tem relações privilegiadas com o poder e isso lhe abre as portas para negócios fabulosos com o estado (o que é mais ou menos a mesma coisa, mas aqui com maior probabilidade de ganhar).
Let´s call the whole thing off.

27 de outubro de 2008

Provavelmente

Durante o fim de semana ouvi na rádio uma notícia sobre uma campanha ateísta a ser levada a efeito na cidade de Londres que consta da exibição da frase «There's probably no God. Now stop worrying and enjoy your life» nos autocarros e outros suportes espalhados pela cidade.
Outras notícias especulam sobre as convicções religiosas de Obama. Para uns, é preto e provavelmente muçulmano e tem uma avó muçulmana e isso basta para que não sirva para presidente. Para os judeus, as suas ligações familiares à religião muçulmana até podem constituir uma vantagem para ajudar a resolver o conflito israelo-árabe.
Anselmo Borges, padre, filósofo e teólogo católico acha que a campanha é positiva porque provoca as pessoas e as faz pensar, mas sustenta que a existência de deus não é uma questão de ciência.

Eu costumo afirmar-me como ateu. Dizem-me muitas vezes como podes ter a certeza? ou quanto muito, és agnóstico. Continuo a dizer que sou ateu. Que sei que deus não existe. Não existe em mim, embora possa reconhecer que exista nos outros. Assim no plano puramente ontológico, concordo com Anselmo Borges: não é questão de ciência; é uma questão de crença e reinvindico a mesma validade para crença ateísta como a que é dada à teísta. E estaria disposto a concordar mais com Borges se a crença religiosa se limitasse a essa esfera íntima da relação de cada um com a sua consciência existencial, com os mistérios da vida e da natureza, com a transcendência. Mas no plano social e da vida da humanidade o assunto não pode ser escamoteado e varrido assim para o departamento da fé e não se fala mais nisso. É assunto de ciência, sim. Pode ser indagado pelas ciências sociais e políticas.
Estou convencido de que a existência de deus só tem feito mal ao mundo. Muito mais que a não existência. Os que crêem em deus tem-se revelado muitas vezes mais cruéis e desumanos que os não crentes. Já se matou e infligiu sofrimento a muito mais gente em nome de deus que em nome do ateísmo. Mas isto são apenas hipóteses que a ciência pode confirmar ou refutar. Provavelmente.

Nada tenho contra quem crê que deus existe e que é bom e é amor e nos conduz ao paraíso eterno. Que cada um viva essa crença da melhor forma e seja feliz.
Resistirei sempre aos que falam em nome de deus e apenas com essa autoligitimação procuram impor aos outros a sua verdade, o seu domínio, o seu controlo ou a sua opressão.
E, provavelmente, deus não existe. O melhor mesmo é procuramos viver de forma satisfatória, em equilíbrio com a natureza e tentar deixar este mundo habitável para as gerações seguintes.

22 de outubro de 2008

O puto


Mano. Desculpa lá esta franqueza, mas às vezes não me lembro de ti. Penso que isso não é bom nem mau; é, talvez, apenas o resultado de não nos termos vivido e crescido como irmãos no seio de uma família com pouco espaço para a construção colectiva, sobretudo de experiências lúdicas. Quando nasceste eu já era crescido e tive que aprender a tomar conta de ti. Mas ainda era criança e queria brincar e tu metias-te por dentro das brincadeiras dos rapazes mais velhos e eles aborreciam-se comigo. Mesmo assim não me zangava porque tu era pequeno de mais para ter culpa e lá íamos os dois para casa. Depois foste para a escola e eu para a cidade estudar. E depois trabalhar para longe e de novo estudar até sair em direcção ao sul.Não me lembro de nada que tivéssemos feito juntos, depois dos teus dez anos.Um dia voltei a casa e percebi que tinha um irmão quase adulto e nunca soube muito bem consertar isso. Se calhar contigo acontece o mesmo. Mas eu sou o mais velho cabe-me a mim dar esse passo.
Fazes hoje quarenta e cinco anos e quase me esquecia. Lembrei-me de ti ontem e liguei-te para saber saber como estavas da nossa maleita comum - dores nas costas - e gostei que me tivesses convidado para almoçar, mesmo sabendo que eu não iria estar. Hoje quando liguei de propósito à hora do almoço para te dar os parabéns tinha consciência de que era também para me sentir aí. Em família.
Sabes, mano? Há algum tempo comecei a descobrir uma outra família que também, por sua vez, me foi descobrindo e adoptando. Entrei por dentro das relações de irmãs e das formas de afecto com que existem umas com as outras e, até quando às vezes quase se zangam, me fazem ter inveja. Eu que também tenho um irmão e não me lembro de alguma vez me ter zangado com ele.
Estou convencido, mano, que crescemos os dois filhos únicos.
Puto! Toma lá um abraço do mano velho!

O contador vai de jumento

A partir de hoje, o Contador tem passe social de Jumento e pode viajar para todo o lado. Ali vai sentado no alforge do nosso lado direito (é a esquerda do bicho).

Por aqui, há muito que não dispensamos uma visita diária. Pelo apanhado das notícias, pelos comentários críticos, pelas belas fotos-jumento e sobretudo pelo bom senso de humor.
Um abraço (ou seja, um amigável par de coices)

10 de outubro de 2008

Em vias de mais ou menos assim-assim


Ouvi nos telejornais e acabo de ler aqui , citando o JN, que o governo decretou mais uma palermice absolutamente inútil para a grande maioria dos portugueses. Os postos de combustível vão ser obrigados a partir de 2009 a publicitar num sítio da internet, criado para o efeito, o preço dos combustíveis. Entretanto ainda ninguém cumpre a lei que obriga a afixar os preços nas autoestradas que está em vigor há quase três anos. E ninguém obriga a Galp e as outras donas do mercado a explicar os mecanismos de formulação de preços.

Desconfio que há alguns membros do governo que levantam assim umas poeiras para nos cegar ou então têm uma vocação nata para catar pulgas com luvas de boxe.

8 de outubro de 2008

Em vias de qualquer coisa


O país que inventou a via verde e generalizou o seu uso que vende simplex pelas esquinas e dá choques tecnológicos à parafrenia institucional afoga-se dia a dia no enredo normativo delirante e perde quase sistematicamente o fio às meadas legislativas que produz. Não se pode dizer que seja coisa de agora, pois sempre assim nos habituámos a viver, mas antes tinha uma racionalidade diferente a que se chamava burocracia. Nos últimos anos têm-nos convencido de que estamos a caminhar para a modernidade, para a simplificação de processos ao nível da administração, para a transparência, para a eficiência, enfim, para um melhor serviço ao cidadão.
Não duvido que haja nisto uma intenção honesta de progresso e de legítima defesa do interesse público, só que a par disto (ou mais à frente ou mais atrás, como facilmente se compreende num país a várias velocidades) coexistem movimentos nitidamente contrários a este propósito tantas vezes apregoada como marca distintiva do regime ou deste e daquele governo.
O que acontece é que muitas vezes a energia gasta, na maior parte dos organismos do estado, em torno dos mecanismos procedimentais e de controlo e avaliação, é extraordinariamente superior aquela que é utilizada no cumprimento da missão, ou seja, na produção efectiva de resultados, satisfação de necessidades que justificam a existência do próprio serviço.
Estou a lembrar-me de pelo menos duas situações para as quais se produziu legislação radical e depois de bem espremidinha a montanha nem um ratito pequinino de lá sai. Refiro-me a lei do tabaco e à que obriga à afixação do preço dos combustíveis nas autoestradas. Segundo julgo saber, a competência para fiscalizar o cumprimento da lei estará acometida à ASAE, para a primeira e à Estradas de Portugal; EPE para a segunda, organizações que já mereciam ser casos de estudo.
Quanto à lei anti-tabaco (Lei nº37/2007 de 14 de Agosto), as exigências colocadas aos estabelecimentos eram tão severas relativamente à separação dos espaços para fumadores e não fumadores que a muitos só deixou a possibilidade de espaço para não fumadores. A ASAE atacou em força, aplicou umas multas, mas nem sequer insistiu muito. É claro que os fumadores também protestaram, mas não se sabe bem que efeito é que isso teve. O que é facto é que a ASAE praticamente desapareceu e, nos sítios onde antes até havia uma convivência pacífica entre fumadores e não fumadores, por divisão não fisicamente separada de espaços, é hoje comum os cafés e restaurantes assinalarem com o autocolante azul todo o espaço com permissão para fumar. Ficou pior do que estava, pelo menos para os não fumadores e para a saúde de todos. A lei não foi alterada, mas não se aplica devido a uma espécie de desobediência civil incontrolável.
No caso da afixação obrigatória de preços dos combustíveis nas autoestradas dá-se uma situação semelhante. O Decreto-Lei nº 170/2005 de 10 de Outubro estabelece a obrigação de indicação do preço de venda dos combustíveis e cria regras para a sua indicação nos postos das auto-estradas e contém verdadeiras pérolas normativas no seu articulado como o que aqui se transcreve:

1 - A informação sobre o preço de venda a retalho dos combustíveis comercializados nos postos de abas- tecimento ao público existentes nas auto-estradas deve constar de um painel contendo a identificação dos combustíveis mais comercializados e respectivos preços oferecidos nos três postos de abastecimento seguintes no percurso em causa, no mesmo sentido de trânsito.
2 - Do último painel do percurso em causa, a colocar antes do penúltimo posto de abastecimento existente, deve constar a identificação dos combustíveis mais comercializados e respectivos preços oferecidos nos dois postos de abastecimento restantes.

É claro que ninguém está a cumprir a lei. O que faz sentido é obrigar cada uma das estações de serviço a informar sobre os seus preços e não sobre os dos outros; cabe ao consumidor decidir como entender. Ao que parece a lei que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2006 e não consta que tenha sido revogada, continua por aplicar. Parece também que nenhuma concessionária de autoestradas que é quem é reponsável pela afixação e actualização dos paineis terá sido multada.
Também aqui a fúria legislativa se esfuma na impunidade. Tanto dos prevericadores como daqueles a quem é suposto fiscalizar o cumprimento da lei.


Como às vezes tenho uns ataques de optimismo sou tentado a pensar quem nem tudo deve ser mau. Um país assim é capaz de estar, de certa forma, protegido em relação à actual crise financeira mundial. Talvez abane muito. Mas cair, não cai.

7 de outubro de 2008

Farrobinha de Outubro

Fui contá-las. Como não voavam foi fácil. Ainda pensei que me tinha enganado e voltei a contar. Não há dúvida: falta-me uma. Presumo que voou para um sítio que eu não sei. Mas sei que há-de enviar-me sinais assim disfarçados para que nos reencontremos. Espero só que não se ponha a falar por aí. Não tanto por aquilo que possa revelar, mas porque há já pouca gente capaz de escutar. Ainda são capazes de pensar que são alucinações e delírios. Vozes dentro da cabeça. Loucura.
Tirando isso, fico descansado.

Revolução de Outubro

Hoje é o dia mundial do beijo.

Paranós

Quantos dias beijos




2 de outubro de 2008

Optimus Home - um serviço do outro mundo



Parece humor negro. Já estou a imaginar uma campanha agressiva da Optimus para disputar um novo segmento de mercado:
Optimus Home - consigo até à última morada.

Os serviços públicos é que costumam ser o bombo da festa com estas situações anedóticas. Desta vez não é nenhum serviço público.


(recebido por mail)

25 de setembro de 2008

Conversa de caserna

Eu não posso dizer que o nosso ministro da administração interna é um «giraço» a não ser numa qualquer alusão forçada à polícia de giro que me arrastaria inevitavelmente para o beco das piadas de mau gosto. Também não diria que é «actriz» porque embora se esforce por fazer o seu teatro mediático às vezes é completamente atroz.
O nosso ministro foi a Bruxelas fazer não sei o quê numa reunião e toca de falar da mulher
do Sarkozi, mas depois lembrou-se dos microfones direccionais que captam tudo e estava uma câmara de televisão a filmar e acabou com a conversa.
Lembrei-me do que li aqui há dias sobre o comportamento dos seus subordinados e também acho que a quem representa a autoridade do país se deve exigir uma postura exemplar mesmo que esteja de folga.
O ministro de facto não é um «giraço», mas já vi um que girou por contar uma anedota.
Espero que a mulher e a filha tenham assistido.

Hoje também é

Dia de flor.

Dezasseis mil e setenta e quatro dias é a medida que já leva o poema.
Há sempre uma flor e um verso perfumado quando nasce o dia.



24 de setembro de 2008

Tempus fugit





O céu encontra-se parcialmente nublado, a temperatura ronda os 23 ºC e o teor de humidade do ar atinge os 69%. O BCE decide mais uma subida das taxas de juro e a Remax pendura mais uns cartazes nas varandas. O ponto de orvalho situa-se nos 17 ºC o que proporciona condições bastante favoráveis para a prática de carjacking, mas altamente desaconselháveis para o subprime. O vento sopra de sudoeste a uma velocidade de 3,1 metros por segundo e sugundo as notícias mais recentes, a Galp baixa dois cêntimos no preço do gasóleo, o que não é mau embora se situe ainda acima dos valores esperados para a época. A pressão atmosférica é de 1016 hPa, considerada estável no PSI20. A visibilidade vai até às 6,2 milhas, ou seja, mais ou menos 10 quilómetros, o que significa boas condições para os projectos a médio e longo prazo. Com o nível de radiação UV de apenas 4 em 16 não é de admirar que Manuela Ferreira Leite venha a terreiro dizer aos portugueses o que Cavaco vai dizer nas Nações Unidas.
Hoje o sol nasceu às 07:21 e o ocaso terá lugar às 19:25
Temos o Crepúsculo civil às 06:55 e às 19:51, o Crepúsculo náutico às 06:25 e às 20:21 enquanto que já o Crepúsculo astronómico ocorre 05:54 e 20:51. A Lua minguante está visível entre 01:54 e 16:46.
O dia de hoje tem a duração de 12h 03m. Amanhã o dia terá menos 2m 20s .
Por agora e até ao solestício não haverá amanhãs que crescem, mas a gente canta sempre.

17 de setembro de 2008

Radex e coisas assim mais ou menos mágicas


A Marlene era uma adolescente dos seus quinze ou dezasseis anos, loira oxigenada e brilhava nas festas das vindimas a dançar ié-ié com o Fialho no palco da Mesericórdia. Eu era dos poucos que sabiam que ela passava os seus dias fechada num escritório a lançar facturas e a dactilografar ofícios.
Aos onze anos, fui trabalhar para a loja que tinha tudo o que havia para vender. Atendia os fregueses ao balcão que pediam desde parafusos com cabeça de embeber dum tamanho que era uma esquisita fracção de polegada (do tipo 6/38) a uma mão de papel almaço.
De vez em quando lá ia ao pé da Marlene que me tinha quase adoptado e até me queria arranjar uma namorada que era uma amiga sua chamada Teresa e que trabalhava no escritório de um armazém de vinhos ali ao pé. Um dia, estava a escrever à máquina e enganou-se. Soltou umas pragas e raios te partam, mas não parecia muito chateada com o sucedido. Vi-a abrir a gaveta da secretária e tirar uma espécie de selo rectangular e dizer-me que aquilo era mágico. E a seguir premiu duas ou três vezes a tecla de retrocesso, colocou o selo sobre o papel, voltou a bater as mesmas letras com muita precisão e, magia!, onde estava um erro ficou o papel em branco e podia escrever-se de novo.
O selo de papel que utilizou tinha escrito de um dos lados várias vezes a palavra RADEX.
Aprendi aquela palavra mágica e voltei a lembrar-me dela anos mais tarde quando dactilografava os primeiros trabalhos académicos. Hoje nas arrumações caiu-me de entre papeis velhos um pequeno envelope com meia dúzia de selos correctores mágicos RADEX. É um produto da marca KORES, diz que "elimina erros dactilográficos" e duvido que alguém ainda consiga comprar.
Nunca mais vi a Marlene. Acho que voltou para a França que a viu nascer e onde tinha os pais emigrados. Provavelmente, hoje escreve num computador, mas tenho a certeza que não será mulher para utilizar corrector no ecrã como já ouvi numa anedota.

Portas

Abre-me essa porta mesmo que não saibas para onde dá.
Havemos de fazer o tal caminho que só se fará andando.

10 de setembro de 2008

Projectos

Quando for grande quero ser adulto.
Disse há dias G., filho de um colega meu e que ainda não fez 4 anos.

7 de setembro de 2008

Sal picos



Salinas do Ludo, Faro. Esta manhã
(Foto de telemóvel)



5 de setembro de 2008

Vindima

Vão a caminho dos oitenta e repetem os mesmos gestos rurais todos os anos.
Repetem também os discursos com umas pequenas alterações, como se fosse uma matriz de dados que se preenche todos os anos: daqui do Valdaque já tirámos três mil e quinhentos quilos de uvas este ano; o Casalinho está um pouco melhor, mas tem menos grau, é da rega; na Guarita estragou-se muito, foram as geadas...
De muitas décadas de volta das vinhas sobra-lhes a angústia de não saber o que vai acontecer quando não conseguirem cuidar delas. Sei que para eles ver as terras por amanhar os fará morrer mais depressa. O rendimento que dali tiram não paga o trabalho e isso torna a exploração agrícola praticamente inviável. Isso é o que pensará qualquer agricultor, ou engenheiro ou qualquer pessoa. Mas não estamos a falar de uma exploração agrícola; é um modo de vida. Vivem do trabalho, do amor à terra e não do seu rendimento. Subsistem com uma parca reforma donde ainda tiram para comprar uns adubos ou gasóleo para o tractor.
Foi daqui que nasci e me criei. Comecei menino a fazer vindimas de sol a sol, um dia inteiro de mãos pegajosas do mosto, dores nas costas e algumas picadas de abelhas. Devia lá estar agora para o rancho ser maior.



4 de setembro de 2008

Hesito. Êxito. Exit. Existo.


Entre o silêncio e a fala sibila-se um tremor nos lábios
nascido no peito

Desfiam-se e desafiam-se lembranças dum sol maior
de quinta perfeita

Acordo com a cor da fuga estupidamente gravada
no frio do espelho

Entre o luto e a luta há uma ponte suspensa de bruma
quase a esfumar-se

1 de setembro de 2008

Silêncios

4'33" de silêncio.

Uma composição de John Cage.
Já fiz melhor, mas sem público.


Este post vem em diferido e não corrresponde ao estado de alma.

28 de agosto de 2008

Sobre a ardósia

Declarações ao sol:
A sombra só se vê quando há luz e se está atento e de olhos abertos.
Aldeia de Pena, S. Pedro do Sul, Agosto 2008

29 de julho de 2008

Al 'Buhera

Diz-se que aqui nomearam os árabes como "castelo do mar". Talvez assim fosse. No domingo a praça talvez ficasse apenas meia cheia ou nem tanto. Como a lua decrescente.
Guardei o brilho do teu olhar enquanto dançávamos as canções rancheras.
A Lila Downs estava tão entretida a cantar que nem notou nada.

28 de julho de 2008

Concurso em curso

Há anos li uma pequena história, sobre a selecção e o recrutamento de recursos humanos que de vez em quando é trazida de novo à minha memória, por esta ou aquela circunstância.
A história, do século passado e é anterior ao choque tecnológico e à empresa na hora rezava mais ou menos assim:
Uma empresa de média dimensão precisa de preencher um posto de trabalho na área do secretariado de administração. Como é uma empresa moderna, com intenções de se lançar no mercado nacional e internacional e quer demonstrar que cortou com os métodos tradicionais de arranjar um emprego para o filho ou sobrinha de um amigo-a-quem-em-tempos-também-pediu-um-favor, ou porque a menina tem um palminho de cara e se nem sabe escrever à máquina, logo aprende... Não. Trata-se de uma aposta no futuro, um projecto proactivo e filiado nas boas práticas de gestão e por isso recorre a uma empresa especializada na selecção e recrutamento de recusos humanos. Esta, por sua vez, faz publicar um anúncio nos jornais, entre os quais e obrigatoriamente, o Expresso; recebe as candidaturas municiadas do respectivo Curriculum Vitae; após uma primeira selecção convoca os candidadtos e procede à entrevista; analisa e pondera todos os factores; elabora o relatório e prepara a apresentação ao seu cliente. São apresentados os três candidatos, duas mulheres e um homem que segundo os critérios da empresa de RH mais se ajustam às exigências do posto de trabalho. O administrador que é também o dono da empresa ouviu com algum enfado a apresentação e as explicações detalhadas das características e competências específicas de cada um. No final, folheou maquinalmente o relatório por mais uns momentos e proferiu com decisão: Muito bem. Contratamos a loira.

Também nos diferentes níveis da administração do Estado as coisas têm vindo a mudar. Ou não?
Hoje o processo de recrutamento para quase toda a administração pública é feito por consurso devidamente publicitado nos orgãos oficiais e obrigatoriamente no site da BEP (Bolsa de Emprego Público). Exceptuam-se os casos, também esses identificados e assumidos, em que a nomeação se faz por confiança política.
A mim nem me choca que um alto dirigente da administração pública, responsável por um determinado projecto possa nomear os seus colaboradores mais directos na base da confiança pessoal (não distingo se é política, ou técnica ou outra) desde que tanto uns como outros, estejam sujeitos a escrutínio e avaliação e tudo seja claro. Acho, de certa forma aceitável para o estado de direito não garantir sempre o princípio da igualdade de oportunidade em situações em que há delegação de competências e que a escolha possa ser feita por confiança. Tem é que ser transparente e público.

A administração local, só por si encerra um mundo de contradições muito particular. O Poder Local é uma das maiores contruções da democracia e tem-se mostrado capaz tanto das melhores realizações para o bem estar das populações, como dos piores e impunes crimes contra o ambiente, o urbanismo e a cultura. Mas fiquemos pelo recrutamento de dirigentes autárquicos.
As autarquias locais também são e muito bem, obrigadas ao processo concurso para recrutamento de pessoal, incluindo o pessoal dirigente, nomeadamente o de nível intermédio. Sabemos todos que ainda que por vezes se abre um concurso que apenas tem por finalidade regularizar a situação de uma pessoa que já desempenha e até com elevada qualidade, aquela função, ou para promover alguém que efectivamente até merece. Mas um concurso é um concurso; é aberto a todos que satisfaçam as suas exigências e... tudo pode acontecer. Sei de um concurso cujo aviso de abertura praticamente tinha as fotografias dos destinatários e vem alguém de fora e fica em primeiro. Tudo pode acontecer mesmo.
A primeira estratégia parece ser desencorajar os potenciais candidatos. Redigir um anúncio que dentro da forma regular possa deixar a ideia de que já há alguém para aquele lugar. Já vi muito disto, mas parece que há uma nova geração de génios criativos especialmente vocacionados para o non sense a trabalhar nos departmentos de RH.
Vejamos:

A Câmara Municipal de Loulé pretendendo recrutar dirigentes para as suas estruturas, no caso, a macroestrutura organizacional dos serviços municipais publicada no Diário da República, II Séria, N.º35 de 19 de Fevereiro de 2008 torna público através do DR e depois da BEP, a oferta de emprego com o código OE200807/0288, para Chefe de Divisão para o qual se exige a habilitação de Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, complementada com Mestrado na área. Até aqui quase tudo bem se não tivermos em conta que não se explicita qual a área funcional (suponho que é a que se refere no Dr nº 35 que não consultei) e que no conteúdo funcional se remete para o óbvio inerente ao cargo a prover. O cargo é de chefe de divisão e se não importa a área, para quê a especificação das habilitações?

O mais surpreendente, para quem esteja interessado em concorrer vem logo a seguir. No perfil, para além das competências comuns a este nível de dirigentes acrescenta-se algo finalmente clarificador: experiência profissional comprovada no âmbito da reabilitação e intervenção urbanas e na edificação e urbanização das autarquias locais e formação profissional específica e/ou relacionada com a área funcional posta a concurso, como não podia deixar de ser.

Um telefonema para o número indicado (geral da Câmara) passa de voz em voz até que finalmente (isto porque a terceira senhora foi um pouco mais simpática que as anteriores e disse que havia um número directo para os concursos, mas que mesmo assim ia passar a chamada à sua colega que ainda não era a última) me responde alguém que pode falar dos concursos.
Fiquei a saber que o lugar é para chefe de divisão da Biblioteca e arquivo Municipal e às minhas dúvidas quanto à relevância da experiência profissional exigida, não sabia responder porque receberam aquilo assim para publicar. Não desisti e quis saber quem podia esclarecer. Só a Directora de Departamento, a drª ***
Que azar o meu .

Tenho um amigo que tem as habilitações exigidas e até fez uma tese sobre "A poesia dos alçados laterais" e tem uma vasta experiência em dobrar esquinas. Estava para lhe dizer para concorrer, mas não sei se ele é moço para bibliotecas e arquivos. Ele é mais de andar ao ar livre e ler ao sol.


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21 de julho de 2008

Dar de Vaia -1984

De vez em quando vêm-me parar às mãos coisas que não resisto a partilhar. Estas fotos forma-me trazidas por um amigo de há muitos anos e parece que andaram esquecidas e perdidas até há umas semanas atrás. Um encontro ocasional trouxe a recordação e a promessa das fotos.
Aqui ficam duas. Duas histórias entre outras que talvez um dia conte ou reinvente.



Foi há tanto tempo!
Dois projectos diferentes em cima do mesmo palco. Uns, profissionais desde Sagres de 1976. Outros, amadores com música amada e profissionais de outros ofícios.
Trovante e Dar de Vaia, em Julho ou Agosto de 1984, na então Esplanada de S. Luís, em Faro.
Ambos os grupos já terminaram e o recinto polivalente rapidamente deu lugar a prédios altos e ao condomínio da Praça d'Alandra.
Assim. Sem mais cantigas.
Fotos digitalizadas a partir dos originais cedidos pelo autor Luís Costa, a quem agradeço.
Um abraço

Italiano senza maestro

Prima lezione.
Já aprendi outras línguas a cantar.

Encantemo-nos, pois. E a-prendamo-nos.

Dio Come Ti Amo

Nel cielo passano le nuvole
Che vanno verso il mare
Sembrano fazzoletti bianchi
Che salutano il nostro amore.
Dio come ti amo non é possibile
Avere fra le braccia tanta felicitá
Baciare le tue labbra che adorano di vento
Noi due innamorati come nessuno al mondo.
Dio come ti amo mi vien da piangere
In tutta la mia vita non ho provato mai
Un bene così caro, un bene così vero
Chi può fermare il fiume che corre verso il mare
Le rondine nel cielo che vanno verso il sole
Che può cambiare l’amore mio per te.
Dio come ti amo Dio come ti amo.

(Domenico Modugno)

19 de julho de 2008

Cuscuz

Foto daqui
O mais importante é a sêmola solta e no ponto!
Mais importante ainda é o peixe ser fresco e as postas sairem inteiras!
Então e os legumes bem estufados? Isso é que é!
Pode estar tudo muito bom, mas os pimentos!...


É este o segredo do cuscuz e talvez do mundo em que vivemos. O encontro dos diferentes ingredientes, ainda que com eles venham também alguns dramas e amargos de boca.

Ontem não te dei a mão no Charlot. Seguia-te pela strada 35 sem saber que te dirigias para Arezzo do Guido do solfejo. Também não sabia que aí tinha sido filmado "A vida é bela" quando pela manhã te escrevi buon giorno principessa. Há muitas coisas que eu não sei e depois penso que até parece que sabia.

Já penso noutro cuscuz doutras culturas. Papaia, sumo de manga, doce de tomate e um café acabado de fazer. Tudo à tua espera no quintal, debaixo do grande chapéu.

O segredo de um cuscuz /La graine et le mulet
Realizador: Abdellatif Kechiche
2007

(No filme há um barco chamado La Source. Não pude deixar de me lembrar da nossa Quinta da Fonte. Coincidências.)

4 de julho de 2008

Bebé Luís Filipe

Já perdi a conta aos anos e aos abraços de amizade que já demos.
Juntos, já estudámos , fizemos trabalhos, jantares, caminhadas, praia e amigos.
Há dias falámos ao telefone. Queria eu saber de férias e encontros e mais abraços.
Este anos não marcámos nada. Vou ter um bebé.
Senti-me logo culpado por nunca mais me ter lembrado dessas esperanças, nem ter perguntado nada sobre a gravidez. Sim, claro. Vais ser avó... Ao que ela prontamente atalhou. Vou é ter um bebé!
Hoje mandou-me um mail a apresentar-me o seu bebé.
A minha amiga está tão feliz e essa contagiante e terna felicidade só pode ser o melhor para se crescer bem.
É o que eu desejo a esta família com o maior carinho.
Grande abraço G. e também aos pais F. e S. e tia I.
Felicidades

2 de julho de 2008

Tenho dias

Há dias assim. O corpo cola-se à horizontal e só pede para ser embalado por uma onda mansa só para equilibrar esse mareio de cabeça que volta nas suas intermitências, ainda que muito mais doce.
Deve ser de dormir pouco. Explico-me assim eu que tenho a mania de desenvolver teorias sobre todas as coisas. Sobretudo durante aquele tempo matinal entre o sono que se foi e o acordar que ainda não chegou. Ou então, outra teoria, estarei a sicronizar-me com os ciclos. Assim como que por contágio, por simpatia.
Sei que há dias em que nos sentimos com menos energia e talvez devêssemos deixar-nos quietos ali a aboborar, mas isso raramente acontece porque há outros que precisam de nós, esperam por nós, esperam de nós, mesmo que seja apenas uma palavra, um sorriso, uma mão.
Curiosamente, é essa acção que também nos anima e activa a energia que julgamos não ter.
Há dias em que precisamos mesmo de ser abraçados ao acordar. E assim, a sonhar com o abraço, com a pele, acorda-se a força para abraçar mais e o ânimo para partilhar, somar e multiplicar, mesmo sabendo que nos espera um dia difícil.
Podia arranjar várias teorias explicativas para este estado de alma, mas parece-me que tudo isto se deve ao facto de estar cheio de saudades tuas.



23 de junho de 2008

Alma algarvia


Têm nove e dez anos. Completaram agora o primeiro ciclo da sua vida escolar e intitulam-se de finalistas. No Centro de Actividades de Tempo Livres formaram um «rancho». O «ensaiador» é um jovem Animador Sociocultural e também anima um centro de idosos. De lá trouxe um velho acordeonista e uma senhora que toca ferrinhos.

Com as tradicionais saias de barras, coletes, chapéus e lenços algarvios, mesmo que por vezes cruzados com sapatilhas allstar ou sapatos de vela, é uma delícia vê-los bailar o corridinho.
Esta manhã no Mercado Municipal

18 de junho de 2008

Fazer de conta


Tinha a cabeça cheia de números no deve e haver das quadrículas que ameaçam determinar o destino de pessoas. O meu fantasma de estimação que passa a sua eterna vida a sonhar com a libertação dos povos oprimidos e revoluções socialistas antes do pequeno almoço entretém-se a espetar alfinetes num vodu que tem a minha cara, com óculos e tudo. Cada vez que mudo um número de uma célula para outra, e ainda antes que a fórmula do excel reformule os resultados, lá vem alfinetada. Até parece que lhe oiço o riso sarcático: toma que é para não alinhares com estas políticas neoliberais!


Já não aguentava. Fiz de conta que aquelas contas não me interessavam e fui dar uma volta até à baixa a pensar que estaria muito mais feliz do outro lado do espelho. Onde as coisas são iguais ao lado de cá mas está tudo ao contrário.

Entrei na Europa-América e comprei.

É para oferecer às princesas.


Estás a ouvir a neve a bater nos vidros da janela, Kitty? Como é agradável e suave o som que faz! É como se alguém lá fora estivesse a encher a janela toda de beijos.

Lewis Carroll. Alice do outro lado do espelho.

15 de junho de 2008

€urocoisa

Maria aí ao frigorífico e traz umas minis que o jogo vai começar


Parece que a semana de trabalho pode ir até às 60 horas.
É uma decisão tomada pela maioria dos ministros do trabalho dos governos da UE que ainda falta ratificar pelo Parlamento Europeu.
Os ministros do trabalho de Portugal e Espanha estão entre os que se opuseram. Justiça lhe seja feita.
A comunicação social quase não falou disto.
Ah. A Suiça, pois...

Os flamingos

Fazer o caminho das salinas é sempre uma viagem muito maior que a distância percorrida. No exercício solitário e lento do pedalar também se sonha. E hoje sonhava assim com aquela bicicleta era viajeira e ia assim pelo mundo e transportava histórias de uns povos para os outros.
Ia nesta fantasia montado quando avisto o bando de flamingos. Tive sorte porque era hora de almoço e os bichos estavam muito entretidos com a refeição e deixaram-me aproximar mais do que é costume. Andam por ali outros pássaros que têm por missão dar o alarme quando alguém ou algo potencialmente perigoso. Desta vez bem piaram, mas os flamingos apenas levantaram a cabeça e mudaram de direcção ficando todos alinhados para o lado donde o vento sopra.
O que é surpreendente é a sincronia dos seus movimentos. Viram-se todos ao mesmo tempo sem sequer olharem uns para os outros numa coreografia ensaiada ao longo de muitos milénios. É isto que sigo conversando com a bicicleta. Até chegarmos à estrada ainda há tempo para discorrer sobre o nome desta ave que faz lembrar fogo. Chama. Flamingo é um pássaro em chamas. Já ouvi dizer que aquelas cores flamejantes resultam do limpar dos bicos sujos de marisco nas penas brancas, mas a bicicleta teima que não e afirma que aquilo é fogo mesmo. É o fogo do acasalamento.
Enfim. É melhor não a contrariar.

Fruta de um domingo a sul





Vencida a vertigem (coisa pouca) levanto-me devagar e abro as portadas e encho-me de sol, logo ali. A meus pés balouçam vinhas verdes que se misturam com goiabas.


O sol faz saltar a fruta que amadurece ao seu ritmo.
A ritmos diversos, como as pessoas.
Como eu sinto também que me amadureço a tempos diferentes. E me sinto ainda verde, em tantas coisas (e salta-me aqui na lembrança algo que li ainda criança, atribuído a Paracelso que dizia mais ou menos assim: Aqueles que pensam que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo que as cerejas é porque nada sabem das uvas) e com tanto ainda para aprender.


É claro que penso isto como uma forma de dizer a mim próprio que ainda me sinto jovem e tal. Mas, por outro lado, sem aquilo que vivi e deixei amadurecer em mim, talvez não fosse capaz de o dizer.



Na mesma árvore há fruta completamente madura e outra que lá chegará se antes não cair ao chão com uma rabanada de vento mais forte.

Quando soube que tinhas falado em domingo como fruta fora de tempo amadurecida em estufa, já tinha colhido esta manhã de domingo para trazer aqui fruta da época temprada pelo sol.









Acho que depois da próxima lua cheia podemos comer pêssegos.




13 de junho de 2008

Porra Pá


O tratado de lisboa foi assim assim mal tratado na irlanda Mas também não admira Aquela gente tirando os u2 e a guiness e o guliver parece que não tem mais nada de jeito É verdade que em menos de vinte anos atingiram um nível de desenvolvimento invejável mas isso é por serem muito católicos e serem contra o aborto Foram assim cobertos de graças divinas a que já se chama o milagre irlandês E depois parece que a maior parte não se conseguiu levantar antes das dez da noite para ir votar e mais uns quantos que levaram o dia a treinar sapateado e a beber black bush Só foram mesmo os que sairam de casa para ir à missa Para irem maltratar o tratado bem podiam ter ido antes beber uns pints Dizem eles que não iam votar uma coisa que não entendem tal como ninguém assina um documento sem o ler antes Estes irlandeses são muito tolos Se percebessem alguma coisa de política já tinha entendido que isso é o que faz a maior parte dos deputados que são porreiros votam sim sem hesitar Assim é que se trata bem o tratado

Agora dizem que está morto

Vaso de manjerico


Ocimum minimum L.


Meu amor soma vitórias,

bem melhor que a selecção.

É uma ardósia de estórias,

meu amor, minha paixão.


6 de junho de 2008

€urobola e outras manhas

Hoje visto-me de comentador desportivo. Desculpem-me a presunção com que o faço e assim me apresento, já que pouco competente sou na grande área júridica ou no meio campo da corrupção desportiva ou na defesa do tráfico de influências. Mas se começar por dizer que estou de consciência tranquila, penso garantir já uns créditos no assunto. Afinal, esta coisa da bola não sendo propriamente uma disciplina fácil e linear também não é um bicho de sete cabeças. É um assunto bem capaz de reunir na mesma discussão um arrumador de automóveis, um juíz, um cientista e vários deputados de todos os partidos da extrema esquerda à extrema esquerda, incluindo os ponta de lança.
E assim sendo, já lá vão uma data de linhas e ainda não disse nada, passemos à análise dos factos mais recentes. A selecção nacional foi primeiro para Viseu e não sei se passou por Fátima. Se não passou devia porque se essa santa foi capaz de livrar Portugal do Prestige mais facilmente soprará uma bola para dentro da baliza do inimigo, digo, adversário. E pelo que tenho observado a ajuda divina é tão importante como as tácticas. Em Viseu o povo saiu à rua e o Tony Carreira também. É o destino, dizem.
E o destino é a Suiça com bandeiras portuguesas nas janelas e sardinhas assadas com minis da Sagres. Os nosssos emigrantes que andam lá fora a ganhar a vida estão de alma e coração com a selecção. E com o Tony Carreira também.
Mas a bola não é só isto, ou não é sobretudo isto. Há um capítulo dourado e um outro final que pertencem a uma modalidade designada justiça desportiva. Há quem não entenda este aparteid judicial, mas isso é porque não vêem os telejornais. As televisões e os rádios gastam metade do seu tempo a tentar explicar estas coisas aos portugueses, todos os dias e mesmo assim há quem não entenda. Eu confesso que também resistia, mas assumo que era por puro preconceito. Agora entendo melhor porque tem que haver uma justiça desportiva, uma fiscalidade desportiva, uma ética desportiva e sobretudo uma consciência tranquila desportiva. Esta não sei muito bem o que é, mas se tanto o Valentim como Pinto como o Madaíl estão sempre a referi-la, é porque existe e é importante.
Entretanto, e seguramente para desviar as atenções do povo que está mobilizado para esta grande missão de apoiar a selecção, fazem uma manifestação contra as políticas laborais do governo que alguns teimam em afirmar que juntou quase um quarto de milhão de trabalhadores quando todos sabemos que pouco passou dos duzentos mil. Enfim, as confusões do costume.
E depois ainda são capazes de dizer que a bola é que dá discussões sem sentido.

Parece que a entrevista do Pinto da Costa teve mais audiência que a do Manel Alegre.
(Faz mais poemas ao Figo, faz!)
imagem daqui

Os preços do petróleo caem há mais de uma semana nos mercados internacionais.
A Galp aguenta-se, segura-se bem lá em cima e só se deixa escorregar meio cêntimo.

5 de junho de 2008

Teatro de roda

Parece que foi ontem. Começa assim o post do meu amigo HFR que sem ele saber me conduziu a uma viagem para trás e para a frente e a encontrar-me com amigos que fui mantendo desde aí e com outros que por motivos vários lhes fui perdendo a presença , mas não a memória.

Também eu passei pelo Teatro Laboratório de Faro. Tinha feito o primeiro curso logo em 1981/82 e era, simultaneamente "actor estagiário" na companhia. Percorremos o Algarve a fazer a "Alice no país das maravilhas" com cenários e adereços às costas desde Aljezur a Vila Real de Santo António, passando pela ilha da Culatra (muito antes de ter sido descoberta pela Olga Roriz). E quando digo, às costas, não é figura de estilo. Era mesmo a carregar. E a Isabel Pereira já tão grávida naquele verão tão quente. Depois foi o "Pic Nic" do Arrabal onde fui substituir o Zé Ananias e fazia de soldado acompanhado pelo "inimigo" Pedro Rosado visitado pelos pais Zé Louro e Isabel Pereira na frente de combate. O desempenho era seguramente melhor nos happenings que na peça, mas pronto.

No meio disto tudo lembrei-me da Veva que foi para a Comuna e depois disso só a vi uma ou duas vezes em faro e em Lisboa, assim por acaso. Lembrei-me dela, há dias também por outras conversas com a minha rapariga, sobre a Comuna e sabia que tinha feito uns coros com o José Mário Branco.
Descobri, numa rápida pesquisa que a moça anda aí com imensos projectos para crianças e não só.



Associo-me também aos parabéns pelos 25 anos do Teatro Análise da Casa da Cultura de Loulé.

Um forte abraço.

30 de maio de 2008

Isto está cada vez mais criativo


Imagem gamada à prima isabel troll e tal
Ah pois é


26 de maio de 2008



Imagem sacada sem autorização do Jumento


Há muito que não abasteço na GALP, na BP nem na REPSOL. Só mesmo em último caso.
Só por curiosidade. A GALP vende mais barato em Espanha. Para quem gostar muito.

20 de maio de 2008

Os TICs do presidente (ou os bons exemplos)


Sua excelência adora roteiros e bons exemplos e novas tecnologias e acho que lhe fica muito bem. Assim, sua excelência de vez em quando sai em roteiro à volta de um tema e procura chamar a atenção para os bons exemplos e desta vez parece que os bons exemplos vinham de uma escola da Caparica, com a qual sua excelência parece que comunicava por videoconferência. Não tenho a certeza se assim era; ouvi na rádio enquanto conduzia e não encontrei outras referências ao assunto. E ouvia-se sua excelência falando com um aluno: Então já foste à praia? disparou com um sorriso pendurado ao canto da boca como se fosse uma beata apagada. Perante tão interessante pergunta, o aluno apenas consegiu responder: Já... E o presidente ainda insiste com relevantes questões que procuravam certamente indagar se o aluno tinha desenvolvido poder de observação se detinha o conhecimento aferido, se sabia se o mar tinha muitas ondas e, o que seria revelador de um elevado sentido de excelência, quantas. Mas isso já não consegui ouvir porque a voz off do jornalista já anunciava a chegada do João que passa então a ouvir-se: Eu sou o João, disse sem que a voz lhe doesse, e queria saber o que pode fazer pelo nosso país. Sua excelência mastiga um curto silêncio, apenas o tempo de passar o sorriso para o outro canto da boca e trauteia a resposta nitidamente semitonado: Bom... isso é.... uma pergunta a que é muuuuuuuuuito (assim mesmo) difícil responder. Convenhamos que a pergunta não era fácil e, tratando-se de sua excelência até poderia justificar que se invocasse o «direito» de reserva, mas c'os diabos! O moço até nem estava a filmar com o telemóvel, nem disse ó velho, nem meu, nem cota. Nem perguntou porque é que ele tanto se agachou ao Jardim na Madeira, porque é que não tem opinião sobre coisa nenhuma, porque quando é confrontado fala na terceira pessoa como se fosse o Jardel, enfim... Talvez o rapaz devesse apenas perguntar se a amêndoa promete este ano em Boliqueime. Se está a pensar investir no biocombustível à base de alfarroba, mas parece que este jovem não é muito virado para a economia. Está apenas preocupado com o estado do país e com o futuro.

Esta história deixou-me a pensar no contributo que as crianças podiam dar à política. Em vez de jornalistas e grandentrevisteiros e mesaredondistas profissionais seria bom era pôr apenas as crianças a fazer perguntas aos que se querem fazer eleger. As crianças não votam, mas nada os impede de fazer perguntas.

Mas sua excelência tem outro caso com jovens adolescentes de uma escola, quando era primeiro ministro. Vi-a a reportagem recuperada por Júlio Machado Vaz, acho que na primeira série do Sexo dos Anjos, a que passava a horas decentes. Sua excelência visita uma escola que incluia contacto com os alunos. Nenhum político resiste à moldura das crianças que tão bem fica na televisão. Duas alunas entrevistam sua excelência, uma outra regista em vídeo. Senhor primeiro ministro, com tantos afazeres que dá governar o país, ainda tem tempo para o amor? Aqui ainda foi pior do que com o João. Sua excelência tem um esgar meio sorridente, os olhos procuram qualquer referência na memória. O amor..., a gente quase o ouve a pensar, eu dei isso... mas em que ano? em que manual? E a resposta lá vem. Bom... sabem?... Não são agora duas fedelhas, com perguntas manhosas, muito provavelmente industriadas pelos pais que atrapalharão sua excelência que a esta hora já nem sabe muito bem o que lhe perguntaram. Ainda me acho um homem jovem e, de certa forma atraente para as mulheres... E o resto foram sorrisos e subentendidos, como quem diz: Se acham que eu estou arrumado do ponto de vista sexual estão muito enganadas; vão lá dizer aos vossos pais que aqui o je ainda se sente muito homem e capaz de romper meias solas ou de pintar a manta como quem decora o valor do PIB. O que é que julgam?

Isto é que são bons exemplos que as TIC nos permitem ver. No tempo do Tomás e da dona Xtrudes os exemplos só eram conhecidos através de anedotas contadas baixinho.

21 de abril de 2008

Abrilosto


Imagem da Agenda Cultural de Faro*


Ele há meses assim. É pena porque Abril é Abril. Sempre.

Há muito tempo aprendi com o Boris um certo jogo dos meses e logo me pus a inventar, entre brumários e semeadores, meses de quinze dias e duas semanas consoante as luas.
De Janarço a Febrosto podem decorrer apenas três marés e dois dias de chuva miudinha, por exemplo. O natal é em Dezembrulho por via das prendas e o mês de todos os encantos é mesmo o Setembraio.

E tudo isto como forma airosa de não falar do turismo sénior na Madeira. Para não ficarmos mais encavacados com senhor que só traz bom tempo amais a sua dilecta senhora que não gosta de números. O que lembra um outro divertido casal que na primeira vez que lá foi, depois da última em que lá tinha estado, fez idêntica figura, aquando da inauguração do chafariz no largo da igreja.
Mas isso foi antes de Abril.

*O 31 de Abril foi descoberto pela Sofia

17 de abril de 2008

Paradoxos



MUPI = Mobiliário Urbano Publicitário Informativo

Esta mobília não se mexe porque está agarrada ao chão.
Ocupa mais de metade do passeio.
Tapa a visibilidade nos cruzamentos.
São uma verdadeira praga urbana.
Deviam informar a quem é que a gente se queixa disto.
Já agora

14 de abril de 2008

Primavera. A verdadeira. A primeira

Hoje acho que fui mesmo à primavera.
Uma segunda feira de primeira.
Afinal, não é preciso muito para se ser feliz.

Há muitas razões para achar estranhos os homens que apanham conchas. Li um dia.
O seu pensamento parece muitas vezes ser tão consistente como o desenho das ondas ou as pegadas que deixam na maré baixa. Mas isso deve ser do desejo constante de voar.
Depois misturam o cheiro da maresia com o da cama de estevas e espalham esse aroma pelos caminhos. E vão.

10 de abril de 2008

Madrugadas de chuva

Acordo frequentemente com o vento nas persianas e dos silvos da avenida molhada.
Vou até ao outro lado da cama colher um abraço que não mora ali.
No entanto, jurava que tinha sentido o teu respirar no meu ombro.
Volto a adormecer como se nos tivéssemos beijado.

3 de abril de 2008

Os dias assim

São de acordar cedo e imaginar uma primavera de pele.
É a luz que vai perdoando as saudades quando a ausência já doi.

28 de março de 2008

Para não dizerem que não falei das flores


Imagem do Barlavento
As flores eram jacintos assim chamados a um ramo de rosas à espera de um casal numa loja de bolos e outro à beira mar à espera do outro casal que tinha um ramo de rosas à espera a que os cinco narradores insistiam em chamar jacintos.
À saída o Sérgio perguntava-me o que tinha eu retirado daquilo. Eu não sabia o que responder, mas levado pelo mesmo espírito da peça, saiu-me mais ou menos o que retiro de um quadro da Kandinsky, mas pronto, nem sei se era isto que eu achava.
Agora with flowers di-lo-ei assim uma espécie de cruzamento híbrido entre minimal repetitiva e pop art sobre o antitexto de uma short story. O texto em português e inglês até podia ser em chinês, desde que bem dito como foi, porque as palavras são música para sucessivas coreografias e movimentos cenográficos e de luz de grande beleza.
Depois, para acabar nada melhor que uma cena de free huggs capaz de contaminar o público.
Isto é para não dizerem que...

27 de março de 2008

AmoTeAtro

Descobri o teatro na infância a brincar no quintal da minha casa. Fiquei muitas vezes sozinho em casa durante as manhãs enquanto os meus pais se levantavam cedo para ir ao campo apanhar ou milho ou as favas ou a aveia que eram géneros que tinham que ser carregados antes do sol nascer para que não caíssem os grãos pelo caminho antes da debulha. Eu ficava a dormir e levantava-me e comia e brincava por ali apenas sob a vigilância de uma prima vizinha que escutava os meus passos e gestos do outro lado do muro que separava os dois páteos. Os brinquedos e outros entreténs eram poucos e muito rudimentares e assim sobrava muito para a invenção e a imaginação. Nunca me senti sozinho. Inventava personagens ou simplesmente reproduzia cenas que presenciava. Outras vezes aprumava um pau no chão com uma batata espetada a fazer de microfone e cantava as cantigas que ouvia ou inventava. Tudo isto para um generoso público constituído por um monte de abóboras ou por meia dúzia de vasos de flores (adorava aquela hortência enorme, junto à parede), para além da vizinha-prima que tinha uma monitorização permanente do meu estar sem sair de casa.
Mais tarde, na adolescência voltei a descobrir o teatro e aí era já amor e amador e combate. Valeu uma advertência do comandante da GNR, uma ficha na PIDE, mas o que ficou mesmo foi a experiência de um viver colectivo da construção de uma forma de expressão artística e de dizer algumas coisas que não podiam ser ditas de outra forma.
Depois seguiu-se uma experiência semiprofissional e uma outra aprendizagem. Contactei com pessoas que sabiam muito e tinham uma formação e experiência diferente. Talvez não tenha aprendido o suficiente ou achado em mim bastante talento e deixei que vida me fizesse seguir outro rumo. Mas o "bichinho", como todos dizem, ficou cá e sempre que vou ao teatro passeio-me pelo palco entre os actores, aproprio-me das "deixas" e antecipo as "falas" na minha cabeça.

Hoje, dia mundial do Teatro, vou dizê-lo com flores: