29 de setembro de 2009

Vulner(in)abilidades

O meu sistema tem também de facto algumas vulnerabilidades.
Não se aguenta com a vergonha de ter tal espécie em presidente do meu país.

Tição

Um cavaco queimado é um tição. E tição é coisa perigosa: pode incendiar tudo.

Cavaco falou e como eu previa não clarificou nada do que se estava à espera. Não se percebe o que é que ele pretende com tanta asneira, com tanta irresponsabilidade. Veio trazer mais uma acha (cavaco) para a fogueira.

O Daniel Oliveira escreve no Arrastão:
Das duas uma: ou Cavaco Silva está a ser sincero em toda esta novela e então o seu grau de paranóia é bem superior ao que se julgava; ou está a tentar manipular opinião pública num assunto de uma enorme gravidade e teremos de concluir que o país colocou em Belém um homem perigoso.

Pode ser. Mas também pode ser que esteja a criar o caldo de cultura para indigitar a Manuela para formar governo com o CDS. As declarações destes dois partidos não deixam muitas dúvidas de que se estão a pôr a jeito.
Se assim for, é um verdadeiro golpe de estado e devemos vir todos para a rua correr com essa corja.
À pedrada, se necessário.

28 de setembro de 2009

Afinal ganharam todos

É costume, na noite eleitoral, cada partido fazer os mais variados contorcionismos e vir dizer-se vencedor em qualquer coisa. Para além dos que realmente ganham, porque têm mais votos, mais deputados e por aí, todos nos habituaram a proclamar alguma espécie de vitória, porque, mesmo perdendo ficaram à frente do outro, elegeram um deputado no distrito X, ainda que perdendo dois ou três no distrito Y, Z ou W.
Mas desta vez foi mesmo a sério. Ganharam todos.
O PS ganhou as eleições por ser o que obteve mais votos e mais mandatos.
O BE ultrapassou os 500 mil votos e duplicou a sua votação.
O CDS passou a terceiro e chegou aos dois dígitos.
A CDU aumentou a votação e ganhou um deputado.
O PSD que todos pensam que perdeu, na realidade, também ganhou. Ganhou a grande oportunidade de se livrar da Manuela e enterrar de vez o cavaquismo serôdio, com o alto patrocínio do próprio Cavaco.

Ruído do Roído


imagem daqui
Dizem que é uma espécie de surdez sórdida ensaiada sob telhados de vidro e rabos de palha. O esposo da prima donna que está temporariamente a fazer as vezes de presidente da república portuguesa dos maracujás faz lembrar a anedota de um tipo que numa visita a uma fábrica de cerveja caiu dentro de um tanque da dita e, antes de se afogar veio três vezes à superfície para pedir tremoços. Este vem quebrar o silêncio para dizer que se vai manter em absoluto silêncio. E assim será até se afogar no seu próprio emunctório.
Há uns anos disse a alguém bastante devoto de sua excelência que ainda estariam por fazer as contas dos prejuízos que Cavaco já tinha provocado ao país e à democracia. Quando foi eleito para Presidente da República, senti vergonha e vontade de pedir a demissão de português. Sempre soube que o homem não tem nível nenhum e não votaria nele nem para a administração do condomínio.
Com tudo o que tem acontecido está tudo à espera que Cavaco fale. Que explique os imbróglios em que se tem metido e os que tem encomendado. Para já não falar na sua proximidade ao Bando Português de Negócios manhosos donde retirou lucros mais avultados do que o alegado suborno do Freeport dividido por todos os suspeitos (familiares também incluídos). Está tudo à espera que o senhor fale, eu não. O escândalo é tão óbvio que não são necessárias escutas, nem óculos para 3D, nem nariz de longo alcance. A coisa é tão ruidosa; tão claramente visível; cheira tão mal... que o melhor é mesmo não mexer.
A única coisa que poderia dizer ao país era pedir desculpa aos que o elegeram e ainda acreditam nele e resignar ao cargo.

Não sei o que é que a nossa constituição prevê em termos da destituição do cargo de Presidente da República; se há em Portugal alguma espécie de impeachment, ou como se traduz em português este processo.
Cavaco já ofendeu tanto o cargo que ocupa que se arrisca a provar que qualquer galo de barcelos acompanhado de um chalavar de caranguejos desempenharia melhor aquele papel e as instituições funcionariam regularmente, mais veto menos veto, ao sabor dos ventos e das marés na sua ordem natural.
Na minha modesta opinião devia ser destituído através de um processo de impeachment.
Fica-me apenas uma dúvida de tradução: não sei se devia ser "empessegado" se "empichado".

Pausa de semibreve.

26 de setembro de 2009

De votos

Ainda estás indeciso e não sabes em quem votar?




Don't worry

BE

happy

2 de setembro de 2009

Prova de vida




Vim só dizer que...






... qualquer notícia sobre o eventual desaparecimento ou morte do Contador


é, obviamente, muito exagerada.


Fotos (de telemóvel) obtidas no concerto de Emir Kusturika + No Smoking Orchestra, no passado sábado, na marina de Albufeira. Uma verdadeira loucura onde o Kusturika, seriamente, finge que toca.

15 de julho de 2009

Méquecoisa...

O senhor de suspensórios e boné à lavrador avançava à minha frente na caixa do supermercado ao ritmo do tapete rolante. Nenhum de nós se preocupou em separa o monte de meia dúzia compras com aquela barra "cliente seguinte" de modo que elas lá iam avançando. O senhor, aproximadamente com a idade do meu pai, porte muito direito, fez várias rotações de quase 180 graus, varrendo o horizonte como se fosse um farol. Já a senhora da caixa debitava o maquinal "tem cartão jumbo?" quando ele se vira para mim o que isto mudou em vinte anos! Era tão evidente que se dirigia a mim e respondi-lhe com cordialidade sim, sim... mudou muito. E ele insiste Faro mudou muito, isto aqui era tudo campo. Há cinquenta anos... a senhora da caixa anuncia o valor a pagar e ele entrega-lhe o cartão, marca o código sem nunca parar de falar. Sabe, eu andei muitos anos lá pelas américas e a coisa que mais gostava de admirar eram os grandes centros comerciais. Ele parecia procurar sinais do meu interesse pelo assunto, ao que eu moderadamente ia correspondendo. Por cá não havia nada parecido. Eu lá ia concordando, que sim, enquanto as minhas compras iam passando com apitos no leitor do código de barras. Mas agora quero-lhe dizer uma coisa, continuou, vir aqui e não comer um Biguemque é como ir a Roma e não ver o papa. E lá seguiu com os seus dois sacos na mão.
Enquanto aguardava a saída do talão ainda pensei que o devia ter convidado era para um xarém com irozes fritas e pedir-lhe para acabar a história que tinha começado, sobre o indivíduo que era o dono daqueles terrenos que iam dali até ao Alto de Rhodes e que era construtor de carroças e um dos homens mais ricos das redondezas.
Talvez tivéssemos perdido os dois uma bela oportunidade de fazer o gosto à conversa. E é já tão raro acontecer conversa. Mas, um Biguemeque...

14 de julho de 2009

Googlando a minha rua



Confesso. Sou um verdadeiro googlómano.


Sempre gostei de saber coisas. Todas as coisas, mesmo as mais inúteis.


Tenho uma curiosidade quase doentia por palavras, o seu significado, a sua origem. Igual curiosidade por saber onde ficam os lugares, como são as paisagens, como se vai para lá.


Dantes consultava dicionários, enciclopédias, mapas. Agora, num clique, o google dá-nos quase tudo.


O Google maps já tem para muitas cidades uma opção "vista de rua". Ontem tive oportunidade de ver como isso se faz. Chamou-me a a atenção uma viatura com um zingarelho às costas a andar de um lado para o outro. Só quando passou por mim é que reparei no autocolante na porta.


Daqui a uns tempos até sou capaz de aparecer, na minha rua de máquina fotográfica apontada.
Afinal há um número incontável e maior do que todas as coisas contáveis que existem.
Chama-se googol, nome inventado por um puto de nove anos para designar o número 1 seguido de 100 zeros.



3 de julho de 2009

Arenas epistémicas *

Resisto à republicação aqui da célebre imagem do ministro Pinho . Ela valha mais que as mil palavras que eu pudesse escrever sobre o assunto. Ainda, tentarei escrever algumas em jeito de contrapeso.
O ministro Pinho diz de si próprio que não é um político profissional e isso a gente já sabia. Falta-lhe aquele jeitinho especial para insultar os seus pares dentro das regras protocolares e a seguir vamos almoçar todos juntos e não se fala mais nisso. Políticos profissionais não se expõem assim e, mesmo quando o fazem há sempre uma cobertura desculpabilizante ou atenuante. Cavaco pode defender o gangue da banca, Manuela pode proferir as maiores tangas sobre a PT, o Citigroup, Jardim pode insulatar todo o "contenente", para só falar de alguns, que isso não fará mossa política. Dois deputados, em plena sessão, podem desafiar-se para resolverem as coisas "lá fora" (entenda-se, à porrada) e continuarem como se nada fosse e a fazerem parte de novo das listas porque as brumas da memória são verdadeiras muralhas de aço e já ninguém se lembrará. Santana fez a figura que fez na Câmara de Lisboa e como primeiro ministro e aí está de novo candidato à mesma autarquia numa espécie de virgindade recauchutada.
A imagem do ministro ontem no parlamento ficará gravada na memória e sempre que ele aparecer na política ela será reeditada. Dificilmente será chamado ao desempenho de um cargo político relevante.
Fiquei a pensar que se fosse assim para todos, se houvesse uma imagem tão forte como a do Pinho de indicadores espetados, ou da anedota do alumínio do Borrego, muitos dos políticos que por aí andam, e que muito mais mal já fizeram à coisa pública do que estes infelizes que foram obrigados a demitir-se, já estariam a fazer outra coisa ou simplesmente a viver dos rendimentos.
Paulo Portas daria seguramente um bom técnico de reprografia depois das 60 mil fotocópias à saída de ministro da defesa; Cavaco devia ter continuado a multiplicar as suas poupanças enquanto os amigos estavam todos no BPN/SLN e isso dava-lhe para uma vida desafogada sem essa maçada de ser PR e correr o risco de cada vez que abre a boca ter que evitar que entre mosca; Ferreira Leite fazia uma joint venture com o Citigroup e a taróloga Maya e abria uma tenda de consultoria financeira, quirologia, curas milagrosas e previsão meteorológica que são actividades nas quais se pode dizer o que vem à cabeça sem que se possa comprovar que se mentiu. E aceito sugestões para empregar condignamente mais uns quantos.

O ministro da economia, provavelmente não tinha muitos indicadores económicos para mostrar. Mas o seu gesto releva de um profundidade e dum saber imenso. Sem discursos sobre a política da verdade, ele é, e traduz, a verdade da política.
Ele mostra os indicadores do real estado da nação: uma verdadeira tourada!

Notícias de última hora dão conta de que a Associação Animal já convocou uma manif de protesto contra as touradas na Assembleia da República e a empresa Unilever (grupo Jerónimo Martins), em reconhecimento pelo extraordinário aumento de vendas de farinha Maizena motivado por Pinho, atribui-lhe um lugar de membro honorário no Conselho de Marketing e Publicidade Disfarçada


*Este título não tem nada a ver com as teorias com esse nome desenvolvidas por Knorr-Cetina... ou talvez tenha; há mais ciência política num simples gesto que em muitas horas de discussão par(a)lamentar.

26 de junho de 2009

In dubio... pronúncia


O professor criticava, na ausência da própria, uma aluna em termos exageradamente sarcásticos, apenas porque tinha pronunciado Curriculum Vitae como "currículum vite" e não como "currículum vitái", como ele achava correcto. Eu não tenho idade suficiente para alguma vez ter ouvido falar latim pelos genuínos falantes, mas lembrava-me de ter lido algures sobre uma espécie de convenção dos latinistas sobre fonética do latim e sobre as diferenças entre o latim clássico e o latim restaurado, pelo que logo ali fiquei com imensas dúvidas sobre as certezas daquele professor. Parece que também cada língua adopta a sua fonética (por exemplo, o termo latino media dizia-se média em português e cada vez se adopta mais a pronúncia - e até a grafia - mídia, porque é assim que os ingleses lêem). Mas, como costumava ouvir a um amigo meu, milium primum pardalorum est, deixei-me ficar com o ninho atrás da orelha e, logo que pude, fui tentar esclarecer a coisa.
Pois até dizem que é uma espécie de despautério (termo que vem do latim e significa grande asneira ou verdadeiro disparate).

De acordo com a pronúncia tradicional, curriculum vitae pronuncia-se currículum víte, e é esta que deve preferir-se. Pretender impor a articulação vítai (ou mesmo wítai), de acordo com a pronúncia restaurada, parece-me um exagero ou mesmo um pretensiosismo tão grande como seria exigir que se pronunciasse etc. (et cetera) da mesma forma que os romanos do tempo de Cícero: et kétera…
Também é de evitar a prolação vitái, como às vezes se ouve por aí, pois essa nem é tradicional nem clássica. É apenas um despautério…



A minha amiga Xantipa que trata gregos e romanos por tu é que certamente sabe e ainda lhe hei-de perguntar das suas razões.
O latim é uma língua morta e não dará voltas no túmulo se a gente não a pronunciar bem. Portanto para mim estão empatados, ou seja, ex-aequo ( aquele prof dirá ,seguramente, egzaikuo) e tanto faz. Até estou em crer que os latinos nortenhos pronunciariam, de certeza, currículom bite, carago!


Desde que ouvi uma vez um jornalista dizer que um determinado acontecimento tinha sido adiado "sáine dáie", já acho que tudo é possível.

23 de junho de 2009

Pedalanço






Andar de bicicleta na ponte é uma experiência extraordinária. Poder parar, olhar o Tejo, admirar a cidade, as duas margens, observar os mariscadores, as aves... Beijar a meio do tabuleiro da ponte faria o Vasco da Gama arregalar os olhos e cofiar a longa barba. Esta experiência vale os 60 euros e o levantar cedo.


O resto, não. A qualidade das bicicletas (talvez porque montadas à pressa e mal afinadas), a ausência de mais apoio técnico ao longo do percurso, quando as bicicletas se começam a desconjuntar, a intoxicação publicitária e o inenarrável speaker.


A iniciativa é interessante, tem o apoio do IDT, cuja mensagem se perde completamente. É pena que não prevaleça uma associação mais forte a uma ideia de vida saúdável, de respeito pela natureza, de sustentabilidade ambiental.


O que vale é que a gente com quem me cruzei nesta manhã parece não ligar patavina às marcas patrocinadoras e lá vai bem disposta e partilhando o prazer desta aventura. A mochila diz galp, mas a gente a seguir vai é abastecer ao jumbo e pronto.

Ai, um beijo na ponte...

Pedala que ped'alma (desculpa lá esta O'Neil)

20 de junho de 2009

Solestício

Previsões para amanhã:
Onda de calor na Amareleja e Bike Tour na ponte.

10 de junho de 2009

Ainda as europeias

Estive para titular este post como O ovo da serpente, o célebre filme de Bergam de 1977, sobre os sinais promonitórios do nazismo na Alemanha do pós-I Guerra Mundial. Só não o fiz porque ao pesquisar sobre o filme o Google devolveu-me, entre imensas outras alusões e títulos, um do Miguel Portas, muito recente e um outro mais antigo do "abominável César das Neves" e perdi a vontade a essa metáfora.
Ainda assim, e porque isto anda tudo ligado, mesmo que às vezes não entenda muito bem a cosa.
Ah, hoje era sobre as eleições para o parlamento europeu que decorreram no domingo. Decorreram bem, sim senhor, porque o presidente Cavaco em boa hora veio uns dias antes lembrar os portugueses que deveria estar bom tempo (ao contrário do que anunciava a meteorologia) e que na semana a seguir havia dois feriados seguidos e, embora não tivesse sugerido propriamente que dois ou três dias por conta do período de férias teriam um efeito multiplicador, os portugueses entenderam muito bem e aproveitaram a dica. O resto também ajudou. Europa? Ainda se fosse o europeu de futebol!...
Mas o que eu queria aqui deixar registado era outra coisa. Na noite eleitoral, já depois de se saber que o PSD tinha mais votos e o lipidinoso Rangel destilava vingança misturada com o que aprecia ser um programa político para o país, pondo-se em bicos de pés como se tivesse vencido as legislativas, impressionou-me a moldura juvenil que o cercava. De repente tive a sensação de já ter visto aquilo. As mesmas caras de parvo, as mesmas camisas às riscas metidas em calcinha bege de algodão... Estes jovens betinhos são os filhos dos betinhos da AD dos anos 80! Só têm de diferente aquelas lenga-lengas que caracterizam os (outros) hooligans da bola.
Quem viveu esse tempo reconhece os sinais.

2 de junho de 2009

As bestas, novamente

Imagem apanhada aqui


Há dias ouvi por aí nas notícias que alguém da igreja do vaticano teria dito algo como: o aborto é muito mais grave que os abusos sexuais de menores. Não tinha percebido bem o contexto em que tão absurda declaração era emitida, mas fiquei, até hoje, com a pulga atrás da orelha e fui procurar. Estes vermes de sotaina não fazem por menos: em meia dúzia de palavras querem branquear décadas de pedofilia nos colégios católicos irlandeses e combater o projecto de lei do governo espanhol sobre o aborto.


A besta chama-se António Cañizares Llovera e é cardeal. Mas podia ser qualquer um das centenas que ao longo dos anos abusaram de crianças que era suposto proteger, barraram investigações, sonegaram informação, queimaram relatórios, esconderam criminosos, durante muitos anos e em diversos países do mundo.
Daqui a muitos anos há-de vir aí um papa qualquer coisa XXVII pedir perdão ao mundo sobre estes pecados, mas isso não muda a vida das vítimas de abuso que continuam expostos a estes predadores.
É preciso dizer-lhes na cara que o abuso pedófilo é crime. E que, nas circunstâncias em que é perpetrado pelos membros da igreja católica, devia ser considerado crime contra a humanidade. As vítimas são frequentemente crianças já em estado de necessidade, ou aquelas cujas famílias as confiam a uma instituição que respeitam para lhes proporcionar o que julgam ser uma melhor educação.

Revolta-me que esta gente untuosa ande por aí impune e ainda tenha o desplante de vomitar estas baboseiras. Ao menos calem-se. Se quiserem, rezem. De preferência baixinho.

31 de maio de 2009

Nós, europeus. Nós cegos. Noz moscada

As eleições para o parlamento europeu poderão não reforçar a influência de Portugal em Bruxelas e Estrasburgo ou em Quelque-Chose-sur-Mer, mas já trouxeram um enriquecimento súbito (ai, o enriquecimento súbito!...) se não ao português, pelo menos ao politiquês de Portugal.
O candidato que já ganhou foi sem dúvida o Vital. E não me refiro apenas ao uso, com toda a propriedade, aliás, do termo "roubalheira", cujo significado transcende o normal - e parece que bem tolerado - roubo, mas faço. "Roubalheira" é uma verdadeira especialidade portuguesa e nem sei se há equivalente noutras línguas (assim como "saudade"). "Roubalheira" não é roubo, nem furto, nem apropriação do alheio porque isso é crime e, embora também se faça muito, procura-se que ninguém saiba. "Roubalheira" é roubar às claras, com manifesto sentido de impunidade. Num sentido mais popular, será roubar com "as costas quentes" ou ainda, roubar sem "ficar encavacado" que o mesmo é dizer, sem pinga de vergonha.
Mas este enriquecimento súbito (ai, outra vez o enriquecimento súbito...) não se fica por aqui, assim "chirleamente" ou "pedestremente". O verdadeiro euromilhões, o jé-que-pote de toda a campanha, o tempero que faltava ao charco de água chirla do discurso político é mesmo o uso do termo "tranquibérnias".
Outros países, estados membros da União terão as suas traquibérnias, mas duvido que até aqui algum deputado europeu as soubesse designar correctamente.
Acertastes-lhes no nó vital. Quase dez, a bem dizer...

tranquibérnia
s. f.
1. Mixórdia feita aos líquidos de venda para lhes aumentar a quantidade.
2. Negócio de má-fé.
3. Trapalhada; trampolinice; falcatrua; fraude; burla.

18 de maio de 2009

Bendito Mário!

Morrer é nada. Uma basfémia diletante de um procuro e não te encontro. Frente ao mar. Sempre frente ao mar a escrever estratégias na areia burocrática. Uma mulher despida no escuro ou um vice versa pequeno-burguês.
Aprenderei a dizer-te bem. O melhor que puder.

Mário Benedetti, poeta uruguaio "desexilado", faleceu ontem em Montevideo

Si Dios fuera una mujer
¿y si Dios fuera una mujer?
-Juan Gelman

¿Y si Dios fuera mujer?
pregunta Juan sin inmutarse,
vaya, vaya si Dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas.

Tal vez nos acercáramos a su divina desnudez
para besar sus pies no de bronce,
su pubis no de piedra,
sus pechos no de mármol,
sus labios no de yeso.

Si Dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos SIDA o pánico
nos contagiaría su inmortalidad.

Si Dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos,
sino que nos aguardaría en el zaguán del infierno,
con sus brazos no cerrados,
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles.

Ay Dios mío, Dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería,
qué venturosa, espléndida, imposible,
prodigiosa blasfemia.

17 de maio de 2009

Brincar café

A senhora de Fátima encontrou-se com o Cristo Rei. Foram fazer pastorinhos.

O Cristiano Ronaldo em cima de um andor também enchia o Terreiro do Paço.

13 de maio de 2009

Os meninos (escravos) da bola

Foto captada no que parece ser o site oficial da família Gonçalves

Acabei de ver na RTP1 uma reportagem perturbadora. Imagino que muita gente terá visto e entre eles, especialistas de saúde mental infantil, juristas, magistrados, membros das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens e, no meu imaginar, amanhã alguma destas pessoas terá abordado estes pais no sentido de salvar estes gémeos de sete anos e, eventualmente, a mãe.
Há momentos impressionantes nesta reportagem, e dois que persistem a atormentar-me a memória. À pergunta sobre o que gostava de fazer para além do futebol, um dos miúdos procura aflito com o olhar no vazio, no chão, uma resposta que não tem. Ainda pede um bocadinho para pensar e, depois de um penoso silêncio acaba por dizer: jogar à baliza, fazer fintas, marcar cantos... O outro momento é o olhar da mãe no seu silêncio obediente. É um olhar inerte. Tanto pode revelar uma angústia recalcada todos os dias como a distracção de um pensamento fútil, do género se calhar devia ter escolhido outra roupa para aparecer na televisão... ou o meu cabelo estará bem?
Um pai que se traveste de mister e manda os filhos encher quando falham um lance ou perdem o domínio da bola, precisa, no mínimo, que alguém com autoridade lhe diga que o que está a fazer pode considerar-se como sevícias e maus tratos e negação do pleno desenvolvimento a que todas as crianças têm direito. O que se passa aqui não difere muito do trabalho infantil de Padre padrone (1977) num remake dos tempos modernos.
Há psicopatas que disfarçam melhor.





12 de maio de 2009

Pressões de ar (*)

Afinal, parece que os magistrados são pressionáveis. E o mais curioso é serem eles próprios a dizê-lo. Não sei bem de que pressão se trata, se é atmosférica e anticiclónica ou se, sendo baixa é como a dos pneus. Agora temos o caso (chamado) Freeport na pneumologia depois de ter passado pela terapia da fala por causa daquele "t" que às vezes emudece.
Agora é oficial. Houve mesmo pressões. Ouvi nas notícias. Não sei bem como foi (o meu acesso às fugas de informação é muito limitado, apesar do Meo me oferecer o canal do Benfica em sinal aberto), mas arrisco um cenário bastante plausível.
Para aí a três quartos do almoço, naquele momento em que a segunda garrafa de Pera Manca se encontra naquela ambiguidade jurídica de estar meia cheia e meia vazia, o magistrado pressionador diz assim para o magistrado pressionado:
- sabes como isto está, não é?... a crise, e tal.... ouvi dizer que há contratos que não vão ser renovados, sabes como é?...
- já percebi, pá... é para arquivar aquilo, não é?
Deve ter sido assim. Não estou a ver como poderia ter sido de outra maneira. A não ser... ná, não acredito...
- ou arquivas aquela trampa, ou fica toda a gente a saber que a Cláudia Cardinali do parque eduardo VII és tu.
- ok. ok. manda lá vir outra garrafa e não se fala mais nisso...

Talvez até nem tenha sido nenhuma destas pressões, mas elas são impressionantes.

Agora o que eu acho é que devia haver uma grande pressão, sim senhor, para que a justiça funcione e seja célere. Se olharmos para os casos mais emblemáticos dos últimos anos, vemos que é uma desgraça total de embrulhadas, erros processuais, fugas de informação cirúrgicas... Tudo isto na completa impunidade. Ninguém avalia estes senhores.
Agoram brincam às pressões com o seu estatuto de impressionáveis.
Impressionante!



(*)Pressões de ar: são pequenas armas de recreio, utilizadas para tiro ao alvo ou para caçar pássaros. Eram também muito comuns nas feiras, nas famosas "barracas de tiro", onde por vinte cinco tostões se podia, com cinco tiros, tentar acertar num alvo que abria a porta de uma caixa donde saltava um boneco preso por um elástico. O prémio era era uma ginginha falsificada, mas não seria isso que levava lá os homens e os rapazes da minha idade. Eram as meninas de lábios pintados de vermelho que não se cansavam de lançar o famoso (na época) pregão "ó simpático, vai um tirinho?"

6 de maio de 2009

maio, maduro maio

Azibo, 3 de Maio

Terras de Trás-os-Montes: quilómetros de prazer (*).

As viagens são sempre descobertas. Talvez porque sejam sobretudo viagens por dentro de nós.
Encontramo-nos com gente tão igual e tão diferente de outra gente e as conversas misturam-se em tempos diferentes da nossa vida.

Foi bom sentir o olhar no mesmo sentido. Por cima e para lá de todas as serranias. E encontrá-lo lá naquele sítio de insondável bruma a que chamamos infinito.


(*) Off posting:
Eu sei. Este slogan já foi usado e, os mais velhos lembrar-se-ão, por uma marca de cigarros. A publicidade procurava então associar o acto de fumar à condução de um automóvel, dois traços inegáveis de status, classe e distinção que ainda perduram, às vezes criminosamente. Continuo a ver muita gente que conduz e fuma e joga a beata à estrada. Uns quilómetros à frente, poderão ouvir na rádio a notícia de mais um fogo florestal, "provavelmente de origem criminosa", carregar no acelerador e suspirar de alívio: ainda bem que não é na nossa casa...