O senhor de suspensórios e boné à lavrador avançava à minha frente na caixa do supermercado ao ritmo do tapete rolante. Nenhum de nós se preocupou em separa o monte de meia dúzia compras com aquela barra "cliente seguinte" de modo que elas lá iam avançando. O senhor, aproximadamente com a idade do meu pai, porte muito direito, fez várias rotações de quase 180 graus, varrendo o horizonte como se fosse um farol. Já a senhora da caixa debitava o maquinal "tem cartão jumbo?" quando ele se vira para mim o que isto mudou em vinte anos! Era tão evidente que se dirigia a mim e respondi-lhe com cordialidade sim, sim... mudou muito. E ele insiste Faro mudou muito, isto aqui era tudo campo. Há cinquenta anos... a senhora da caixa anuncia o valor a pagar e ele entrega-lhe o cartão, marca o código sem nunca parar de falar. Sabe, eu andei muitos anos lá pelas américas e a coisa que mais gostava de admirar eram os grandes centros comerciais. Ele parecia procurar sinais do meu interesse pelo assunto, ao que eu moderadamente ia correspondendo. Por cá não havia nada parecido. Eu lá ia concordando, que sim, enquanto as minhas compras iam passando com apitos no leitor do código de barras. Mas agora quero-lhe dizer uma coisa, continuou, vir aqui e não comer um Biguemque é como ir a Roma e não ver o papa. E lá seguiu com os seus dois sacos na mão.
Enquanto aguardava a saída do talão ainda pensei que o devia ter convidado era para um xarém com irozes fritas e pedir-lhe para acabar a história que tinha começado, sobre o indivíduo que era o dono daqueles terrenos que iam dali até ao Alto de Rhodes e que era construtor de carroças e um dos homens mais ricos das redondezas.
Talvez tivéssemos perdido os dois uma bela oportunidade de fazer o gosto à conversa. E é já tão raro acontecer conversa. Mas, um Biguemeque...
15 de julho de 2009
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