Resisto à republicação aqui da célebre imagem do ministro Pinho . Ela valha mais que as mil palavras que eu pudesse escrever sobre o assunto. Ainda, tentarei escrever algumas em jeito de contrapeso.
O ministro Pinho diz de si próprio que não é um político profissional e isso a gente já sabia. Falta-lhe aquele jeitinho especial para insultar os seus pares dentro das regras protocolares e a seguir vamos almoçar todos juntos e não se fala mais nisso. Políticos profissionais não se expõem assim e, mesmo quando o fazem há sempre uma cobertura desculpabilizante ou atenuante. Cavaco pode defender o gangue da banca, Manuela pode proferir as maiores tangas sobre a PT, o Citigroup, Jardim pode insulatar todo o "contenente", para só falar de alguns, que isso não fará mossa política. Dois deputados, em plena sessão, podem desafiar-se para resolverem as coisas "lá fora" (entenda-se, à porrada) e continuarem como se nada fosse e a fazerem parte de novo das listas porque as brumas da memória são verdadeiras muralhas de aço e já ninguém se lembrará. Santana fez a figura que fez na Câmara de Lisboa e como primeiro ministro e aí está de novo candidato à mesma autarquia numa espécie de virgindade recauchutada.
A imagem do ministro ontem no parlamento ficará gravada na memória e sempre que ele aparecer na política ela será reeditada. Dificilmente será chamado ao desempenho de um cargo político relevante.
Fiquei a pensar que se fosse assim para todos, se houvesse uma imagem tão forte como a do Pinho de indicadores espetados, ou da anedota do alumínio do Borrego, muitos dos políticos que por aí andam, e que muito mais mal já fizeram à coisa pública do que estes infelizes que foram obrigados a demitir-se, já estariam a fazer outra coisa ou simplesmente a viver dos rendimentos.
Paulo Portas daria seguramente um bom técnico de reprografia depois das 60 mil fotocópias à saída de ministro da defesa; Cavaco devia ter continuado a multiplicar as suas poupanças enquanto os amigos estavam todos no BPN/SLN e isso dava-lhe para uma vida desafogada sem essa maçada de ser PR e correr o risco de cada vez que abre a boca ter que evitar que entre mosca; Ferreira Leite fazia uma joint venture com o Citigroup e a taróloga Maya e abria uma tenda de consultoria financeira, quirologia, curas milagrosas e previsão meteorológica que são actividades nas quais se pode dizer o que vem à cabeça sem que se possa comprovar que se mentiu. E aceito sugestões para empregar condignamente mais uns quantos.
O ministro da economia, provavelmente não tinha muitos indicadores económicos para mostrar. Mas o seu gesto releva de um profundidade e dum saber imenso. Sem discursos sobre a política da verdade, ele é, e traduz, a verdade da política.
Ele mostra os indicadores do real estado da nação: uma verdadeira tourada!
Notícias de última hora dão conta de que a Associação Animal já convocou uma manif de protesto contra as touradas na Assembleia da República e a empresa Unilever (grupo Jerónimo Martins), em reconhecimento pelo extraordinário aumento de vendas de farinha Maizena motivado por Pinho, atribui-lhe um lugar de membro honorário no Conselho de Marketing e Publicidade Disfarçada
*Este título não tem nada a ver com as teorias com esse nome desenvolvidas por Knorr-Cetina... ou talvez tenha; há mais ciência política num simples gesto que em muitas horas de discussão par(a)lamentar.
3 de julho de 2009
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1 comentário:
Está cada vez mais difícil, assistir ás hipócritas cenas dos nossos políticos.
Temos o Alberto João, o Santana, o Paulo... que colocam o país perigosamente cada vez mais 'pimba' e quando alguém lhes responde á letra é um escandâlo. Enfim, é o que temos!!
Receio que este governo reformista (como há muito tempo não tinhamos), se acomode á política portuguesa
Ernesto Carreira
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