6 de julho de 2010

O meu pai lê o Mirante

e diz que é um semanário de "grande circulação" em todo o Ribatejo (região que parece que já não existe) maior que os jornais nacionais que traz notícias de todas as terras e descobre muitas carecas autárquicas. Além disso não dispensa a leitura da "Voz" la da terra, um mensário da paróquia de que é assinante há mais de 40 anos.
E foi a folhear o Mirante que que me chamou a atenção do título Voto de pesar pela morte de José Saramago chumbado na Chamusca. Achei curioso porque me lembrava que a câmara deveria ser, no mínimo, do PS ou da CDU e fui ler. A proposta feita pelo único eleito do BE para a AM teve os votos contra (7) do PS e do PSD e (pasme-se!) 12 abstenções da CDU e mais 3 dos outros.
De repente reeditei na minha cabeça as inúmeras discussões e confrontos de há trinta e tal anos com a malta do PC para quem as propostas dos "esquerdistas" eram sempre para deitar abaixo, isolá-los como se tivessem peste e, se necessário dar-lhes um enxerto de porrada.

As idas à terra e à família são sempre uma viagem estranha. É bom vê-los, visitar os sítios da infância (e deixar que me conheças também por esses sítios), mas há sempre qualquer coisa de regressivo neste reencontro. Parece que estamos sempre a ser o que nos lembramos de ter sido numa espécie de ajustamento involuntário aquele modo particular de existir a que já só nos sentimos ligados pelo passado.

Ao fim de cerca de trinta anos sem nos vermos, estive com o meu amigo Rui. Foi meu companheiro de adolescência, cúmplice de aventuras e namoricos dos bailes de fora da terra e camarada "esquerdista". Interlocutor das mais variadas discussões em múltiplos desacordos sobre tudo e mais alguma coisa, mantivémo-nos amigos durante muitos anos.
Deixámos de ter contacto sem haver uma razão explícita, mas eu sempre pensei que os motivos talvez estivessem relacionados c om o facto de a minha deriva freak da altura e o seu conservadorismo essencial já não terem muita pachorra para se aturarem.

29 de junho de 2010

O jogo mundial da bola

A minha rapariga
embora não pareça
também vê o mundial
E até há já quem diga
que adora golos de cabeça
por ser uma intelectual.

Retrato subtil de uma rapariga que pára a escrita da tese quando ouve gritar golo.

22 de junho de 2010

SCUT zé ninguém

Oiço as notícias de buzinões e outras comichões de reacção à introdução de portagens das SCUT e não posso deixar de pensar numa espécie de remake do filme que viria a apear Cavaco e o PSD do governo. Estávamos em 1994 e já tinha havido a crise do feriado do Entrudo e a coisa começou com uma buzinas e acabou com a ponte bloqueada por camiões carregados, cargas policiais e um jovem paralizado por uma bala perdida. E tudo em directo, pelas rádios e televisões. O Presidente não dissolveu a AR e o governo não caiu, mas nas eleições a seguir o PSD caiu da maioria absoluta para a oposição e o Cavaco hibernou durante dez anos para preparar a sua candidatura a Belém, com excepção de raras aparições para que o povo não esquecesse a tabuada.
O que se está a passar não augura nada de bom. Há uma série de grupos organizados de interesses com grande pó a este governo e em especial ao Sócrates e não perderão a oportunidade de produzirem grande estrago. Há dias uma "greve" dos transportadores para terem combustíveis subsidiados falhou porque não interessava aos camionistas, mas contra as portagens os interesses podem muito bem convergir.
Em suma, o governo está metido numa alhada e será preso por ter e por não ter cão, com tantos a morder-lhes as canelas. Com a inevitável agitação social e Cavaco com contrato de arrendamento do palácio de Belém renovado só não dissolve o Parlamento se a crise ainda for demasiada para a camioneta do PSD. Sinceramente, não acredito que o PSD queira ou seja capaz de governar, mesmo que consiga ganhar as eleições à vontade.
Agora as portagens.
Não me parece que haja alternativa. Vai haver portagens. Com PS ou com PSD. Mas a questão fundamental não é essa, do meu ponto de vista.
No tempo do Cavaco primeiro ministro entrou dinheiro a rodos em Portugal e o que aconteceu foi um maná para as empresas de obras públicas. Foram as pontes para o futuro, as Lusopontes e as Brisas de sucesso e, apesar de tanto dinheiro Social Europeu o resultado dos negócios foi uma factura para pagarmos a seguir. O PS veio a seguir e fez mais ou menos o mesmo e agora é que está aflito. Ou seja, aflitos estamos nós pagantes.
O que está errado não é pagar portagens. É ser obrigado a pagar por não ter alternativa.
O conjunto dos impostos associados aos meios de transporte (IA, IVA, IUC e ISP) só fazem sentido se forem utilizados para proporcionar condições satisfatórias de circulação e de segurança rodoviária. As autoestradas pagas deveriam representar uma opção por uma qualidade extra de velocidade e segurança. Ora o que acontece é que o Estado gasta o dinheiro dos impostos noutras coisas em vez de criar e melhorar as vias normais de circulação.
Não o fazendo, o Estado faz duas coisas: prima, opera grandes negócios com grupos privados onde não é de estranhar que no meio de tantos milhões de derrapagens haja alguns que derrapem para bolsos privados e sempre se arranja um lugar para quando se sai do governo; seconda, como não deixa alternativas viáveis, obriga os condutores a serem clientes das autoestradas para garantirem a rendibilidade do investimento, mesmo quando os contratos já prevêm cláusulas compensatórias quando essa rendibilidade baixa.
Assim, onde deveria haver boas vias de comunicação, sem rotundas e dupla via quando isso se justifique constróem-se autoestradas que, ou não eram necessárias ou não cumprem mais do que o normal de uma estrada nacional (engarrafamentos em muitos troços, reduções de velocidade, alta densidade de tráfego) pela qual se paga.

Os liberais gostam de se embriagar com o "princípio do utilizador-pagador" e com isso pretendem justificar a justeza das portagens. No entanto, quem paga nas portagens já pagou também para a estrada por onde não vai, muitas vezes porque ela não existe ou não tem condições mínimas. É neste sentido que acho que devia aplicar-se o "princípio do pagador-utilizador". Quem paga adquire direito a um serviço. Neste caso dos impostos, um direito a um serviço a ser usado por todos.
O Estado o que faz muitas vezes são investimentos não necessários para o bem colectivo, mas altamente favoráveis a meia dúzia de grupos económicos e, ainda por cima arranja forma de proteger os negócios dos privados com quem emparelha.

19 de junho de 2010

Um bando de inúteis

A coisa chama-se assim:
Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à relação do Estado com a Comunicação Social e, nomeadamente, à actuação do Governo na compra da TVI

Ralizou 31 reuniões a tentar provar uma tese, a de que o primeiro ministro mentiu ao parlamento, claramente fora do âmbito enunciado na designação (outros detalhes estão omissos na página da AR) e nem isso conseguiram.
Não se sabe quanto custou ao país esta Comissão a secção Plano de Actividades e Orçamento aparece vazia o que por si revela uma falta de transparência dos órgãos de soberania. Podemos pensar que aquilo foi gastar à Lagardère.
Estes senhores prestaram um muito mau serviço ao país e o facto de terem sido eleitos e terem legitimidade democrática, não a têm para fazzer o que bem lhes apetece e mal. Se tivessem vergonha demitiam-se por manifesta inutilidade.
A lista é esta. Vejam em quem votam nas próximas eleições.

Mota Amaral (PSD, Efectivo, Presidente )
Osvaldo de Castro (PS, Efectivo, Vice-Presidente )
João Pinho de Almeida (CDS-PP, Efectivo, Vice-Presidente)
Ana Catarina Mendonça Mendes (PS, Efectivo)
Manuel Seabra (PS, Efectivo)
Miguel Laranjeiro (PS, Efectivo)
Ricardo Rodrigues (PS, Efectivo)
Sónia Fertuzinhos (PS, Efectivo)
Vitalino Canas (PS, Efectivo)
Agostinho Branquinho (PSD, Efectivo)
Carla Rodrigues (PSD, Efectivo)
Francisca Almeida (PSD, Efectivo)
Pacheco Pereira (PSD, Efectivo)
Pedro Duarte (PSD, Efectivo)
Cecília Meireles (CDS-PP, Efectivo)
João Semedo (BE, Efectivo)
João Oliveira (PCP, Efectivo)
Maria José Gamboa (PS, Suplente )
Fernando Negrão (PSD , Suplente )
Nuno Encarnação (PSD , Suplente )
Pedro Mota Soares (CDS-PP , Suplente )
José Manuel Pureza (BE , Suplente )
Bernardino Soares (PCP , Suplente )

18 de junho de 2010

O meu nome é Mago. Saramago

José Saramago morreu hoje e deixou-nos mais pobres.
A magia com que levantava as palavras deixou em mim, leitor, um rasto de lucidez para todas as leituras.
Sempre chegaremos ao lugar onde nos esperam. Escreveu um dia.
Ainda tenho umas coisas para ler...
Hoje é o ano da morte de Saramago.

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago Os Poemas Possíveis
Curiosa, a mensagem de Cavaco sobre a morte de Saramago.
É mais do que dever de um presidente de Portugal manifestar em nome de todos os portugueses, a homenagem a um escritor maior por ocasião da sua morte, mas neste caso deve ter-lhe dado algumas voltas às tripas. Ou ter-se-á esquecido que quando era primeiro ministro um seu serviçal deu a cara a um acto de censura sobre Saramago. Já era uma referência nessa altura. Quase apostava que Cavaco nunca leu uma linha de Saramago e, se o tentou fazer terá achado que o homem não sabia escrever e fazer pontuação. Ponto.


(Isto foi escrito depois como correcção de um erro de postagem)

16 de junho de 2010

"Vendedor planetário"

Levaste-me à praia. Lavaste as saudades de mar e eu ensaiei passos cautelosos na areia. Saboreámos o sol deitados na beira das ondas da maré baixa. Fantasiámos sobre a ausência das gaivotas e despertámos com o rappel dos pregões estivais. "Barquilhere..." clama o vendedor ambulante daquela espécie de bolacha torrada e poucas são as paragens. A praia quase vazia não é muito propícia ao negócio.
Passado pouco tempo ouvimos o peculiar pregão de outro vendedor já nosso conhecido. Já tínhamos feito várias conjecturas sobre o seu estado mental e persistiam dúvidas sobre se realmente vendia as bolas de berlim que apregoava com rimas:
"Bola de berlim
para a Joana e para o Delfim"
(continuo mentalmente: para a Mariana e o Serafim/ Para a Sara e o Martim...)
E continua:
"Olhem para mim que já venho tão cansado
comprem bolas de berlim para não ir tão pesado"
A sua figura podia ter saído dum filme fantasioso. É um sexagenário atarrecado de rosto redondo avermelhado de cabelos totalmente brancos (teriam sido louros em tempos). Chapéu de palhinha de abas levantadas a terminar em bico para a frente. Camisa larga sobre uns calções também largos pelo joelho. Usa uma meia elástica decontenção de varizes. Traz um cesto de piquenique montado no esqueleto do que terá sido um carrinho de ir às compras que sspende na mão direita e um saco térmico enfiado no braço esquerdo, segurando nessa mão a tenaz de inox ou alumínio. Interpela as pessoas tratando-as por "vossas excelências" incluindo nesse trato um grupo de adolescentes. Insiste nas rimas para elogiar a beleza desta praia e apresenta-se como "Mário: o vendedor planetário".
Penso para mim que este poderia ser o verdadeiro contador de gaivotas. Elas hoje, por solidariedade com a greve dos maquinistas ou por estarem a vigiar os exames de português, não compareceram e não se deixaram contar.
Mas, para que fique esclarecido, Mário, o vendedor planetário vende efectivamente bolas de berlim. As rimas dá-as a toda a gente e espalha-as na areia para quem as queira.

8 de junho de 2010

HD

High Definition? Hard Disk?
Nada disso!
Em português é hérnia discal. Agora vou ali deixar umas dores e já venho.

4 de junho de 2010

O estado de sítio

Aqui vê-se melhor.


O meu bairro vai ficar sitiado para que uma cambada de inúteis venha sacudir o penacho. Nunca o Sítio das Figuras foi invadido por tantos figurões. O meu bairro vai ficar interdito à circulação. De carro, só se pode sair e andar a pé. É claro que todas as zonas à volta vão ficar saturadas de carros e de circulação alternativa.

Podiam fazer a coisa no Estádio do Algarve. Afinal a gente já o está a pagar e assim não chateavam.
Mas o mais triste é esta demonstração salazarenta dum país pimbo-militar.




2 de junho de 2010

Dia de quem?

E eu a pensar que o 10 de Junho era o dia de Camões e o dia de todos os portugueses espalhados pelo mundo...
Este ano as comemorações oficiais são em Faro. Já sabíamos que Cavaco tinha já transformado este dia em «dia da raça» (da dele, certamente) e em dia suplementar das forças armadas e também sabemos que Cavaco anda informalmente em campanha para a sua reeleição desde que foi eleito, mas, pronto, tem a legitimidade que a democracia lhe confere para isso tudo e ainda lhe sobra tempo, para ensinar o nome dos netos ao papa.
O que me pergunto é que sentido faz, nos dias de hoje esta manifestação masturbante militarista, belicista e parola. O culto da guerra, dos seus instrumentos e símbolos devia ser coisa a banir da vida pública. Ofende-me que seja usado como expressão mais relevante do que chamam «dia de Portugal».
Além disso, parece que fazem um simulacro da lei marcial durante três horas e meia. A informação a que tive acesso não deixa dúvidas:

As comemorações do dia 10 de Junho obrigam a condicionamentos de trânsito no acesso à Escola Superior de Saúde, nas zonas circundantes e no estacionamento no parque da Escola.
Face ao exposto, informa-se a Comunidade Académica das alterações de trânsito e estacionamento no dia 9 de Junho:
Ø O acesso e estacionamento no parque da Escola só são permitidos das 8:00 h. às 12:30 h. Todas as viaturas têm que ser retiradas do parque até às 12:30 horas.
Ø Durante as 14:00 h. até às 17:30 h. o trânsito encontra-se encerrado nas seguintes ruas:

- EN 125 – Nó do Aeroporto (cruzamento da EN 125 com a EN 125-10) até à rotunda do Teatro Municipal de Faro.
- Avenida Calouste Gulbenkian – desde a Rua do Alportel até à rotunda do Teatro Municipal de Faro.
- Avenida Prof.º Dr.º Adelino da Palma Carlos.

Assim , a partir das 14:00 do dia 9, o acesso à Escola só será possível por via pedonal
.

Não se pode estacionar à volta do arraial militar. Deve ser por questões de segurança (toda a gente se lembra da paranóia securitária de Cavaco que manda interditar o espaço aéreo quando vai à praia) e começa logo na véspera. E eu que pensava estacionar lá o meu carro e pôr a tocar toda a tarde, com o volume no máximo "la cucaracha", já não posso.
Talvez convoque uma manifestação de gaivotas para sobrevoar o recinto das festas e cagar-lhes em cima.

31 de maio de 2010

Inter vs rogações

Quando um escritor ou uma escritora medíocre tem um estrondoso sucesso editorial, estamos perante uma besta célere?

30 de maio de 2010

Domingo

Praia, xadrez e bicicleta.
Contigo, seria mesmo perfeito.

Lembrei-me de outros domingos de outros olhares
Aqui fica um domingo-poema de um dos meus poetas


Poema de domingo
Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio algremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.

Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.


É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos

20 de maio de 2010

FaroVille

É quase à minha porta. No meu quintal. Praticamente.Primeiro interrogávamo-nos o que se estava ali a construir com a ajuda e o empenho da tropa. As máquinas eram verde-militar e os uniformes não deixavam dúvidas. Em vão procurei os cartazes obrigatórios, parece-me, em todas as obras que informam do que se está ali a fazer. Quando se trata de obras públicas até costuma estar lá o orçamento e as fontes de financiamento e o prazo de construção.


Aquele terreno está envolvido numa polémica desde há meia dúzia de anos. Assim em breves palavras, era um terreno do domínio público municipal que por proposta do presidente Vitorino e a concordância do PSD e do PS na A. Municipal, passou a domínio privado da Câmara, para o oferecer ao SCFarense, para este clube aí explorar uma bomba de combustíveis de modo a poder pagar as dívidas ao fisco e à segurança social, acumuladas por gestão danosa da SAD.
E isto só não seguiu assim porque os moradores do bairro interpuseram uma providência cautelar.
E fui vendo o avanço da obra com algum regozijo, porque fosse o que fosse, sempre era melhor que uma gasolineira redentora da delinquência fiscal. Mas continuava a não haver informação visível o que me fazia pensar que estaríamos perante uma obra ilegal, uma construção clandestina.
Ouvia vários comentários e alguém com ar de bem informado garantia que aquela obra era para as comemorações do 10 de Junho (e já nem sei bem o que se comemora nesse dia) e que vinha cá o Cavaco. Pensei logo que a coisa se deveria vir a chamar cavacódromo. Sua celência aroveita o feriado, vem à terra e faz um discurso para os magalas ali em sentido, ao sol, a desidratar.
Mas sempre é melhor que uma gasolieira.
Ainda procurei ali um rego directamente ligado à ria para passarem os submarinos do Portas, mas não vi nada. Ah... ainda não vieram da Alemanha...
Mesmo assim, eu que sou um bocadinho céptico e às vezes mesmo pirrónico não estou la muito convencido dessa coisa do 10 de Junho e das paradas militares.
Então não se está mesmo a ver que isto é a FarmVille farense.
Em tamanho real.

Até as crianças percebem!
Nota: Com tudo isto não está ainda afastada a possibilidade de nascer ali uma bomba de gasolina, o que é uma lamentável opção para a entrada da cidade. Vamos ver.



17 de maio de 2010

Realmente...

Vamos lá ver se alguém adivinha quem foi o real idiota que desovou estas pérolas.

Considera que o país está mais preocupado com as causas fracturantes do que com a realidade?
Claro! Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene. Praticamente é só isso, em vez de dar referências éticas e morais em relação ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Ao mesmo tempo, desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses.

Há questões, como o divórcio, que na Monarquia seriam impossíveis!
Hoje em dia é mais fácil despedir a mulher ou o marido do que um funcionário de uma empresa. Ora, a estabilidade de um emprego não é mais importante do que a estabilidade da família.

A questão do aborto também?
A lei do aborto livre é para muitos uma lei que escraviza as mulheres porque hoje ela pode ser obrigada a abortar pelos patrões, amantes e pais. Esta é a situação de muitas mulheres, pois é raro que queiram abortar por vontade própria. Esta lei, que as escraviza, é ultraliberal e ultracapitalista e não percebo como é que a esquerda em Portugal apoia isto.

Uma esquerda que também apoia o casamento homossexual...
Esse é um problema mais complicado porque há uma confusão entre o direito a viver junto, a ter alguns benefícios fiscais, a ter certo reconhecimento legal para pessoas que querem partilhar a sua vida e que muitas vezes até podem ser duas velhas amigas, vizinhas ou irmãos. A legislação sobre o casamento tem basicamente o objectivo de proteger as crianças e creio que não se devia confundir o casamento como unidade que pode produzir uma futura geração, educá-la e ter responsabilidades nela, com as uniões de facto que podem ser aquelas que interessam aos homossexuais. Dizia alguém – a brincar claro – que hoje os padres e os homossexuais é que se querem casar, os outros preferem as uniões de facto porque dão-lhes menos responsabilidades.


Não não foi o Cavaco. Esse apenas veio explicar ao papa que estava de mãos atadas e não tinha outro remédio que não promulgar a lei que permite que pessoas do mesmo sexo possam casar. Não disse, mas a gente percebeu que continua homofóbico graças a deus e à virgem santíssima.

13 de maio de 2010

Papanços e papalvos

A RTP, televisão pública continua a espremer Fátima. É a Fátima Campos Ferreira que já deve estar estar na fila para a próxima época de beatificação a fazer desfilar todos os beneméritos do amor ao próximo. As outras televisões já retomaram as suas programações e a RTP continua na sua missão apostólica. É caso para dizer que é mais papista que o papa.
A TSF também fez a sua emissão pastoral a partir de Fátima logo desde manhã cedo. Ainda ouvi uns comentadores a falar da dor e do sofrimento e de um deus que é bom e se não fosse deveríamos ser ateus. Uma freira aproveita para desancar no Saramago e eu a pensar que esta gente ou não lê a bíblia ou tem uma visão muito selectiva e quanto mais o ouço mais me espanto como é que gente que considero inteligente acredita nestas histórias. As histórias que se contam sobre um suposto deus e que são objecto de fé, negam-se a si próprias.
Então meu caro Anselmo Borges, estará lembrado do sacrifício que o deus da bíblia (suponho que é o mesmo de que falava) pediu a Abraão? Para ser coerente, deveria engolir as suas palavras e declarar-se ateu.

O apóstolo Cavaco acaba de dar mais um ar de labreguice presidencial, na RTP N (18:35). O ar com que conta como o papa até foi capaz de repetir o nome dos netos... Sinceramente!... Logo a seguir vem o testemunho de uma cura milagrosa da virgem maria. Nem sei para que é que ainda gastamos dinheiro no Serviço Nacional de Saúde. Deve ser porque o sistema divino dos milagres também tem as suas falhas que como se sabe começou logo por deixar morrer (negligência?) dois dos pastorinhos que dizem ter visto a aparição em Fátima.
Mas parece que somos poucos a dar por isso.

12 de maio de 2010

Quem semeia bento... um dia destes bai ber se chobe

Ouvir os discursos de Cavaco ao papa tratando-o por sua santidade e por santo padre, ainda por cima dizer que fala em nome de todos os portugueses dá-me vómitos. Aliás, em todo este processo, Cavaco não se tem comportado minimamente como chefe do Estado português, mas apenas como um vulgar chefe de família temente a deus e à virgem santíssima que recebe o papa como se estivesse em sua casa e chama os parentes mais próximos para virem cumprimentar o papa. Um nojo. Não me lembro de alguma vez olhar para este sujeito e ver nele o presidente de todos os portugueses. A mim, só me faz sentir vergonha. Pode ser que isso agrade e seja ao jeito da maioria dos portugueses, mas não passa a ser ético por isso. Ainda há dias foi à República Checa e ouviu o que outro quis dizer e amochou. Agora com o papa comportou-se como submisso sacristão. O homem tem demonstrado que não tem jeito nenhum para o cargo. Um verdadeiro lèche-bottes (ia escrevendo culs, mas até isso exigiria mais elevação) não pode ser chefe de um estado soberano.

Sócrates também foi à missa e hoje reuniu-se com o papa. Também lhe estou com tremendo asco, mas isso são contas de outro rosário (vejam como estou contaminado por esta overdose católica!) Ouvi Sócrates à saída do encontro com o papa e de facto não tem nada a ver com o comportamento de Cavaco. Teve uma pequena hesitação, mas tratou o papa por "sua eminência", foi respeitador e protocolar. Este contraste ainda me faz sentir mais a completa inadequação do comportamento de Cavaco.
O papa bem o podia levar para o vaticano. O homem farta-se de dizer que sabe de economia e isso deve fazer jeito ao Vaticano, embora eu não tenha grande fé nisso. Lembrei-me que se se aplicar à economia o que Abel Salazar dizia da medicina ("médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe") a coisa fica difícil. Por outro lado, também não há qualquer evidência de que os conhecimentos de economia de Cavaco tenham servido para alguma coisa. Bom, temos aquele bom desempenho ao nível da economia doméstica com as acções do BPN ou da SLN, mas aí também eu teria feito boa figura...
O homem dos tabús continua em campanha e um dia destes vem aqui a esta paróquia inaugurar o cavacódromo, mas sobre isso há-de haver outro escrito com bonecos e tudo.



Só por curiosidade, no Priberam, dicionário online, a palavra do dia é:
mirmecófago (grego múrmeks - ekos, formiga+ -fago) adj. Que se alimenta de formigas. = FORMICÍVORO. Ou seja, PAPA formigas.

11 de maio de 2010

O Tony Carreira faria o mesmo mais barato

Cheguei a casa e ligo a televisão que abre na RTP N (parece que qualquer um que fosse) e e stá a dar (é o que está a dar) a transmissão directa do terreiro do passo. A locutora diz que faltam 21 minutos para a eucaristia (de vida) celebrada pelo papa. A câmara percorre em panorâmica a primeira fila e tenho a impressão que lá estão as mesmas caras que estavam no concerto do Tony Carreira, no pavilhão Atlântico, ou no Campo Pequeno... já não me lembro.
Ontem alguém fazia as contas e dizia que se contabilizava em 75 milhões os custos observáveis desta visita papal. Não se incluem aqui os prejuízos das tolerâncias de ponto e do estado de sítio de meia cidade de Lisboa.
Eu sei que as pessoas precisam disto, mas não abusemos. Esta semana já houve a vitória do Benfica com 48 horas de festejos e recepção oficial na Câmara de Lisboa. Foram milhares e milhares de pessoas em celebração até de madrugada, incluindo inúmeras crianças em idade escolar e não houve sequer um dia de tolerância para os benfiquistas de alma e coração.
Isto prova que as pessoas, quando animadas pela fé não precisam de feriados nem tolerância de ponto e até são capazes de pagar para estar junto dos seus ídolos.
É bem verdade que a malta do futebol também gasta muito em segurança
e em cada jogo jogam cerca de trinta polícias por cada futebolista e que ao fim de um ano isso custa-nos um ror de dinheiro.
O Cavaco trata o papa por santo padre e diz que fala em nome de todo o povo português...
Estou a ver que de Portugal se pode dizer que é tanto um estado laico, como do vaticano que é um estado pedófilo.

Esta visita junta o delírio místico com a paranoia securitária. Para além do ridículo de que ninguém se parece importar.

Cenas dos próximos capítulos...

Cavaco recebeu a brigada do reumático.
Ex-ministros das finanças, orgulhosos do trabalho que fizeram por este país foram visitar Cavaco Silva que se encontra temporariamente no palácio de Belém no intervalo de duas acções de campanha para a sua reeleição e antes do seu trabalho temporário de salamalequear o papa que protege pedófilos.
Gostei de ver a brigada do reumático em romaria com direito a uma declaração à porta, a dizer não sei bem o quê, mas que era mais ou menos o mesmo que o Cavaco diz que já tinha dito há tempos e com ar de que todos ainda se lembram muito bem do que é a economia. Gostei. Fez-me lembrar outra visita mais antiga... O que se vai seguir?
Alguém vai cair da cadeira?

9 de maio de 2010

Pontuacções

Vem aí o papa, meninos!




Nota posterior:
O título desta posta não contém nenhum erro ortográfico. Aquela palavra não existe, acho. Será um neologismo que funde duas ideias numa só palavra (o Mia Couto é mestre nesta arte) e é nessa dupla leitura que a ironia se descodifica.
Voltei a pensar nisso e constatei que se já todos usássemos o acordo ortográfico e nos tivessemos esquecido do antigo português de Portugal essa leitura não seria possível.
De qualquer forma, apesar de achar que este acordo não era necessário, não sou dos que juram que lhe vão resistir até à morte, até porque isso será inútil . Aprendi a ler antes de 1963 e lembro-me que havia palavras que o meu pai escrevia de maneira diferente (escrevia à antiga) e passados uns anos foi assimilando as alterações ortográficas.

1 de maio de 2010

Viva o 1º de Maio

Acácias do meu bairro.

O 1º de Maio é dia do Trabalhador. Dia de luta e dia de festa. Também ligado a memórias tristes. Luto. Às vezes o sentido da vida parece pôr os ponteiros a rodar ao contrário e o que deveriam ser referências para o nosso viver colectivo perdem-se em residuais rituais folclóricos.
Quando vim para este sul, há trinta anos encontrei dois dias distintos e também misturados.
Dia de Maio: dia de "atacar o Maio" logo de manhã com um bom medronho; dia de ir para o campo comer panelões de caracóis a cheirar a orégãos; da "festa da pinha", das "abarcas", da entrada com archotes na aldeia de Estoi ao anoitecer, dos "maios" à beira da estrada...
O Primeiro de Maio: dia da festa sindical; dia das bandeiras vermelhas, dos discursos, das canções da memória revolucionária e de outras que se quiseram ligar a essa memória...
São festas populares. Já participei nas duas. A primeira acaba por ser a mais pagã mesmo que inclua missa na igreja matriz.
Dia de luta e dia de festa. Há muitas razões para lutar e a gente gosta mais de festa. Que fazer, Lenine?
Eu cá para mim era capaz de aderir a uma teoria absolutamente revolucionária, capaz de derrotar a actual deriva capitalista selvagem e louca.
Vamos vencê-los pela festa!