4 de fevereiro de 2010

Em favor dos pequenos e médios manifestantes


Hoje cruzei-me com uma manife. Eram os miúdos do básico e do secundário, para aí uns duzentos ou trezentos, de qualquer modo muito menos do que os que se costumam juntar nas sextas e sábados à noite na zona dos bares.
À cabeça da minife, um carro da polícia em marcha lenta. Os estudantes ocupavam ordeiramente uma das faixas de rodagem devidamente enquadrados por mais uns quantos polícias. Acho que se dirigiam para a Direcção Regional de Educação, mas seguramente seriam mais vistos pelos clientes e funcionários do Pingo Doce (é bem feito porque eles andam sempre a fazer publicidade a dizer: venha cá; e eles foram).
Pelo que ouvi nas notícias, manifestam-se contra as provas globais, o estatuto do aluno (não percebi bem o que está em causa) e exigem "aulas" de educação sexual. As razões até poderiam ser outras como "um ensino decente cá p'ra gente", ou mesmo "iPods à borla para todos", não é isso que interessa. O que interessa mesmo é uma manife a qualquer pretexto.
Entretanto li por aí nas notícias online e principalmente nos comentários que há quem ache que os miúdos nem sabem o que é que querem, que não querem é fazer nada, não ter exames e quais "aulas" de educação sexual se eles já sabem mais disso que os professores (as caixas de comentários são assim; quando as gente as abre tudo pode de lá sair) e se alguma coisa não está bem quem tem que se manifestar são os pais e não os filhos, porque são os pais que pagam e os sustentam.
Há também quem diga que a maior parte não sabe dizer o que está ali a fazer, o que me parece que é verdade. Mas também, ainda há pouco tempo quando os seus professores se andaram a manifestar porque não queriam avaliação, alguns entrevistados mostraram-se incapazes de expressar claramente o que pretendiam e o que ficou na imagem pública não terá sido muito abonatório.
Pois eu penso que fazem muito bem em manifestar-se, porque isso também faz parte da aprendizagem. Alguns vão esquecer-se disso depois, tal como fizeram muitos dos que ocupam hoje as cadeiras dos diferentes poderes, mas não faz mal. E, já agora, seria bom que a exigências fizessem algum sentido (é essa também uma das acusações que lhes fazem), mas até nisso estou com eles. Estão na idade em que faz todo o sentido fazerem coisas sem sentido, pelo menos para os adultos. O pessoal mais velho lembrar-se-á certamente da célebre palavra de ordem marcusiana Soyez réalistes, demandez l'impossible! (Sejam realistas, peçam o impossível!).
Estas manifestações não são isentas de risco, como, aliás, tudo na vida. É relativamente fácil transformar uma manife juvenil em carneiros de Panúrgio, mas até a evitar isso precisa de ser aprendido.
Adenda:
Lembrei-me de uma sugestão, uma ideia para novas lutas. Podem marcar já uma nova manifestação para uma luta que me parece justa e popular:
Substituir os exames nacionais por castings. Isso é que era sucesso escolar garantido.

Sem comentários: