Podia chamar-se Agilulfo* na sua armadura branca, sempre brilhante com duraglit, a correr de um lado para o outro, para proteger as donzelas em risco de violação do estado de direito.
Ainda hoje uma donzela moura se queixava de tanta censura que tem apanhado e um juíz que deve ser seu primo erguia com uma das mãos e agitava o interesse público enquanto com a outra, qual Camões salvando os Lusíadas, tentava manter-se à tona. O Miguel ainda lhe deu uns carolos, mas isso não o afectou muito.
Mas o Agilulfo range lá na ferrugem interior do elmo donde saem vaporosas teorias políticas como humores fantasmáticos. O estado de direito é apenas formal, diz ele. Mas podemos dormir descansados porque ele, desdizendo tudo o que tão convictamente afirmara, deixa todas as mordomias europeias para nos salvar. Ainda bem que é só isso e não se lembrou de se sacrificar, não na cruz, mas numa daquelas setas do PSD.
Pois o Agilulfo também é um ser formal. É-o na aparência. Assim por fora, parece mesmo um ser vivo, vagamente humano. Mas por dentro, completamente vazio.
Continuo a achar que anda por aí tudo doido. Ou sou eu?
*personagem do romance de Italo Calvino, O cavaleiro inexistente.
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