11 de fevereiro de 2009

A bispalhada à portuguesa


Eu juro que o que me apetecia mesmo era malhar nos sotainas. De vez em quando saem das sacristias e vêm botar discurso à política. Foi assim em Itália, sobre a morte assistida no caso Eluana a que não tiveram pejo em catalogar de assassínio; é assim em Portugal tentando impedir que se discuta o direito de os homossexuais poderem constituir legalmente uma família, adiantando já que os católicos não deverão votar em partidos que o advoguem (já vieram tentar limpar a borrada que fizeram, mas a gente sabe como eles são).

Eu não acho que lhes esteja vedada a opinião sobre qualquer que seja o assunto da vida da sociedade, mas confesso (!!) que me incomoda o tom de ameaça e uma espécie de ódio a quem não os segue, com que o fazem. E que há outras prioridades e tal, e que os políticos deviam preocupar-se com outras coisas. Até poderá ser que assim seja (acho que não há maior prioridade que o reconhecimento dos direitos humanos) e que a sua participação na discussão seja importante, mas então, constituam-se com partido, movimento, associação, clube, ou como simples cidadãos, qualquer coisa terrena e sujeita às regras da democracia, em igualdade com todos e não com aquele ar de que são intérpretes da vontade de deus e que isso se sobrepõe à legitimidade democrática. Sujeitem as suas opiniões ao sufrágio da sociedade com as devidas consequências, em vez de ao julgamento divino.

Esta gente representa um Estado confessional que não se rege pelas regras normais das democracias. Já vimos invadir estados sobranos, provocar guerras e derrubar governos por motivos mais ou menos semelhantes.

Portugal é uma República e um Estado soberano não religioso. O que a bispalhada às vezes faz é uma ingerência inadmissível. Imaginemos que os altos funcionários da embaixada portuguesa no Vaticano tentavam influenciar os membros da Cúria romana (não sei bem se é este o órgão) para não elegerem tal cardeal para papa porque cheira mal dos pés. É basicamente a mesma coisa.

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