27 de novembro de 2006

cesariny


Nem penses que me enganas Pá
Sei de cor essas manhas de poeta
Um surrealista não morre Brinca com o próprio cadáver delicioso e esquisito Fá-lo beber vinho novo da mesma forma que os cavalos bebem nuvens nas lagoas da esperança até à embriaguês das tempestades
E continua a viver da única maneira possível
Bêbado
Apaixonado
Poeta
Tu é que sabes cesariny





Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny de Vasconcelos
(9 de Agosto de 1923 - 26 de Novembro de 2006)

23 de novembro de 2006

flor-estrela na pele de um dia triste


As estrelas existem
sim
Às vezes não as vemos porque andamos entretidos a olhar para outras coisas
ou mesmo a procurá-las em sítios onde não estão


Não estão
mas podiam estar
Portanto
não nos resta outra alternativa se não ir colocando uma estrela onde não há
Ainda que a tenhamos que arrancar do fundo do mar

16 de novembro de 2006

mar rio e mários

Pongo estos seis versos en mi botella al mar
con el secreto designio de que algún día
llegue a una playa casi desierta
y un niño la encuentre y la destape
y en lugar de versos extraiga piedritas
y socorros y alertas y caracoles.

Na terra onde nasci não há mar onde deitar garrafas (coisa hoje ecologicamente muito condenável) Há um rio que se sabia chegar ao mar embora só mais tarde viesse a deslumbrar-me com esse estuário encontro
Alguém viu há pouco a minha infância a brincar nas margens e a lançar na corrente barcos de papel que afinal eram de esperança
Pouca gente sabe é que eu tinha um amigo também ele mário com quem baralhava ciência e poesia E um dia pusémo-nos a separar da água o naipe do oxigénio para um lado e o do hidrogénio para outro Isto é Para dentro dum balão
E o balão elevou-se no ar e foi levado pelo vento como as correntes do mar transportam mensagens em garrafas. Já não me lembro do que escrevemos na mensagem Mas hoje apetecía-me pendurar-me assim num balão bem grande E

Sorrio a quem me relembrou este poeta e estas tentações agora ouvidas aqui


MEDIOS DE COMUNICACIÓN

No es preciso que sea mensajera
la paloma sencilla en tu ventana
te informa que el dolor
empieza a columpiarse en el olvido

y llego desde mí para decirte
que están el río el girasol la estrella
rodando sin apuro
el futuro se acerca a conocerte

ya lo sabes sin tropos ni bengalas
la traducción mejor es boca a boca
en el beso bilingüe
van circulando dulces noticias

15 de novembro de 2006

lincame mucho

Hoje linquei-me à senhora sócrates E ao blogue que ninguém lê E ainda às bebedeiras de jazz
Não se pode dizer que me tenha corrido mal o dia


Se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há uma mão desconhecida
a acenar - adeus, adeus - quando se parte prò mar;
Se tu soubesses
que o mar não tem fronteiras nem distâncias
é sempre o mar;
se tu soubesses
a noite nas águas
onde os barcos são berços
e os marinheiros meninos a sonhar:
se tu soubesses
o desamor à vida
quando o vento grita temporais
e a morte vem abraçar os homens na espuma das vagas;
se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há um sorriso
para quem chega do mar;
se tu soubesses
vinhas comigo prò mar.
Vinhas comigo prò mar
embora as nuvens do céu
e os ventos que vêm do este e do oeste, do sul e do norte
digam ao mundo que vai haver o temporal maior que todos!

Manuel da Fonseca Canção de Hans o marinheiro

13 de novembro de 2006

anda luz

Soou assim no cantar dos caminhos
Um verbo animado de de paredes caiadas a espalhar ainda mais o sol
Do sul

E foi a luz
E correu na mágica velocidade dos cês quadrados capazes de buscar energia só de olhar o infinito

Então
Podemos cantar em coro com os poetas e outras aves
E cantar alto


Balada para los poetas andaluces de hoy

¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre, ¿pero donde están los hombres?
con ojos de hombre miran, ¿pero donde los hombres?
con pecho de hombre sienten, ¿pero donde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.

¿Es que ya Andalucia se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Qué en los mares y campos andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?

Cantad alto. Oireis que oyen otros oidos.
Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.
Latid alto. Sabreis que palpita otra sangre.

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado. su canto asciende a más profundocuando,
abierto en el aire, ya es de todos los hombres.

Autor: Rafael Alberti (In Memoriam)

10 de novembro de 2006

felizaniversário



Há dias ouvi um jovem guardador de rebanhos a sério dizer que enviava mails Escrevia em blogs Conversava com uma data de amigos Mesmo sendo o único jovem da sua aldeia


Há coisas extraordinárias
Pois há

Hoje mando um bouquet de fleurs e parabéns à cristina no dia dos seus anos
É minha amiga E ainda não a conheço

Ele há coisas extraordinárias mesmo

7 de novembro de 2006

ou tu bro

7 de novembro
Comemora-se o início da revolução de outubro
Pois
Não admira

abraços


Dou abraços

Pela paz
Pela liberdade
Pela amizade
Pelo amor




De graça



Vejam bem
Que não há só gaivotas para contar

http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4

Recebi por mail da minha amiga Ginja
Tu levas um beijo

vou ver se chove



Gosto dos dias de chuva
Embaciam-se-me os óculos e permito-me ver outras coisas






(…)
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(…)
Fernando Pessoa - Chuva Oblíqua (1914)

ri vegouche





Pelo tejo vai-se para o mundo
Mas quem está ao pé dele fica contente por estar só ao pé dele
Não foi nada disto que disse o outro guardador que escrevia coisas de pé em cima de uma cómoda Coisas sobre flores e montes e vales e possivelmente nem sujou os sapatos de lama quando brincava com o menino jesus a correr atrás das raparigas Porque era tudo a sonhar
Digo eu que
fui à terra com outros olhos E outro nariz E outros ouvidos E outra pele E eu também
O meu rio está gordo e alimenta-me memórias de cheias a sério que não eram notícia
O meu rio sempre me disse que por ali se ia para o mar E fui Fui muitas vezes antes de ter ido Quando me detinha ali na margem esquerda debaixo dos salgueiros a flutuar os olhos na corrente

Foto roubada ao Troll Urbano
a uma Isabel que deve ter andado por aqui