26 de agosto de 2005

arbeit macht frei


o grito não precisa de calçadeira e as hierarquias capitais abstergem até os suspiros
improváveis dias na marcial formatura investem na aprovação da calenda imobiliária
nada como espetar um prego na fachada espasmódica do engodo matutino inútil
quando se exorta à emundação das incertas e passífloras decisões


afinal
quantos anjos se podem pôr a dançar em cima da cabeça de um alfinete?

25 de agosto de 2005

Parabéns madame!


No ano de 2005 a coreógrafa Olga Roriz comemora 3 marcantes aniversários: 30 anos de carreira, 10 anos da sua Companhia e 50 anos de idade que não podem passar impunes nem ignorados.
(...) Para não esquecer que a morte existe é preciso festejar a vida.


Acho que já ninguém se lembra, mas há cerca de três mil anos aportou aqui um barco fenício. Descarregaram as ânforas e ficaram três dias na praia a cumprirem as celebrações do sal. Diz-se que se movimentavam no areal segundo a vontade dos deuses expressa nos sons da harpa eólica. Ao pôr do sol tudo parava. O vento calava-se.
E tudo recomeçava no dia seguinte até ao último que era o da partida. Aqueles movimentos repetiam iguais porque era a alma que levava o corpo com ela. Mais tarde chamaram a isto dança. Talvez porque derive de dansal.


FELICITAÇÕES MADAME – PARTE II:
dias 26, 27 e 28 de Agosto, às 18h30
Local: Ilha do Farol - Faro

Duração: 60 minutos
Para todas as idades
Entrada Livre

22 de agosto de 2005

"Cacha"

PINHAL ESCAPA AOS INCÊNDIOS
por falta de jornalistas disponíveis para cobrir o acontecimento

19 de agosto de 2005

Clair de lune



When the Moon is in the Seventh House,
and Jupiter aligns with Mars
Then peace shall guide the planets,
and love will steer the stars
This is the dawning of the Age of Aquarius ....

Harmony and understanding

Sympathy and trust abounding
No more forces of derision
Golden living dreams of visions
Mystic crystal revelations
And the mind's true liberation
(Aquarius, Hair, 1968, Broadway)


Consultei o calendário astronómico e fiquei a saber que a lua está completamente cheia. Eu já sabia porque tenho andado a mirá-la desde que apareceu assim baixinha, no céu, para os lados do poente, na forma de uma barquinha que vai crescendo... E esta tem o brilho mítico da lua de Agosto. Diz-me ainda o dito calendário que ela está em Aquário, mas isso nem discuto.
Cresci a vê-la aparecer sobre a crista dos pinheiros. Hoje vejo-a espelhar-se no mar. Não sei se é a mesma lua. Eu já não sou seguramente o mesmo rapazinho que fazia um esforço para não apontar para a lua, porque alguém tinha dito que isso fazia nascer cravos nas mãos.
Uns anos mais tarde nasceram cravos nas mãos de muitas pessoas, mas isso foi em Abril e já não parece haver assim tanta gente a lembra-se do brilho dessas noites.


("Clair de Lune" - DigitalArt por Corine Baron)

18 de agosto de 2005

Liga-me

Sentes o calor dos dias grandes?
É a vontade de sair por aí com muito pouca coisa na bagagem. Penetrar a geografia e suar pelos atalhos com a nostalgia das cascatas límpidas.

16 de agosto de 2005

Poema, ou faz-de-conta, e dedicatória também, mais ou menos a roçar o principalmente









(aos minutos surreais)




E tropeçaram pois
num sentimento em forma de assim
(diz ele)
a revolver os dias de manufacturas
inquietações.

Os amantes sabem pouco de profecias
e, por isso, entretêm-se
a olhara lua, o mar
(e a ponta dos dedos)
à espera de se acontecerem.

E, a conto,
tecem com as mesmas palavras
cortinas e vontades
sem saberem dos avessos
de silêncios impermeáveis.


(escrito [de en] contra a Poesia Completa de O'Neil, só para destrabalhar as coisas em concreto, a nove de agosto de dois mil e cinco)

10 abafos


(um) Há sempre duas estradas na mesma, ainda que tenham um só nome. Sim. Têm nomes de família e também nome próprio. A familia IP, a IC e família mais rica chamada A. Ah, pois... e há ainda uma velha família que ainda detém um título assim para o nobre, mas na maior parte dos casos já está completamente arruinada. Refiro-me às saudosas EN.(dois) E dizia eu que as estradas são sempre duas: uma para ir e outra para voltar; uma que aproxima e outra que afasta; uma que junta e outra que separa...(três) É por isso que os pensamentos têm direcções e os sentires riscam sentidos assim como setinhas nos mapas emocionais.(quatro) E não se pense apenas no prosaico "vamos para a festa!" - "vimos da festa..." porque a festa tem muitos sentidos e vir da festa pode ser mesmo ir para uma autêntica festa!(cinco) Pois eu já percorri muitas estradas e fui a muitos sítios.(seis) Também já quis fugir de mim e então ia e vinha por caminhos diferentes para estar sempre só a ir. Mas isso era no tempo em que ainda não me tinha apercebido que cada estrada era duas e que aquele de quem eu fugia ia ali sempre comigo também a fugir do mesmo.(sete) Agora é diferente. Vamos juntos e conversamos e até descobrimos que somos mais.(oito) E mais. Frequentemente trazemos outros e dramatizamos ali coisas que acontecem e que não acontecem.(nove) Fica para outras viagens o saber se isto serve para alguma coisa ou se é só para entreter quilómetros.(dez) Em todo o caso vou colocar um autocolante atrás a dizer: "miúdos a bordo".

(Piações de uma gaivota em terra)

3 de agosto de 2005

Micro-ondas...


Entre conversas e piações lidas também aqui e ali, decidi juntar-me à causa e fazer também uma ondita das minhas, assim, a capela, sem outro acompanhamento que não seja o da reverberação do bater de asas de algumas aves (dizem alguns que isso é capaz de provocar um furacão ou um tsunami) e o do eco das falésias indomadas.
No grasnar irónico de uma gaivota minha conhecida, temo um governo de Otários e um povo a ver passar os comboios (de alta velocidade).

O barrete oficial será distribuído gratuitamente a quem voluntariamente declarar aceitar um novo aumento de impostos para a realização da obra.

2 de agosto de 2005

Janelas para a terra


Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
Só suspenso por fios dum lado
E do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão
Levo a dormir
Sonhos que andei para trás
Ergo o porvir
Trago nos bolsos a paz
Tenho um corpo na morte espetado
Só suspenso por balas de um lado
E do outro a escapar
a escapar
de raspão
de raspão



Ponho a girar
Cantos que ninguém encerra
De par em par
Abro as janelas para a terra
Tenho um quarto na fome espetado
Só suspenso por água de um lado
E de outro a cair
a cair
no alçapão
no alçapão
Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
Só suspenso por fios dum lado
E do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão

Sérgio Godinho, in "os sobreviventes"

Por acaso até fiz umas curvas no destino. Logo de pequinino.
E aprendi a nadar e a amar e a sobreviver a todas as estradas e romances.
A liberdade continua a passar por aqui (por muito que lhe queiram cobrar portagens).

Sérgio Godinho hoje à noite no Forum Algarve




1 de agosto de 2005

Astrid entre Dalí e Rivera




Antes de aqui chegar só conhecia o mar dos teus olhos e a música do teu nome, Helena, sem as metamorfoses das guerras de colorir livros de história antiga.


Mas isto foi antes, muito antes do eclodir dos pirilampos nas cascatas do teu cabelo.


Já só me falta morrer nas punhaladas de um tango bendito em esquinas maiores.


As cinzas, já sabem, são para espalhar pelos oceanos.