As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Mas voámos todos um pouco e de repente toda a Serra era uma imensa escola verde e o Sado o recreio e a Pedra Anicha uma sala de aula frente ao Portinho ou era mesmo só a Pedra Anicha sobrevoada por gaivotas que éramos nós todos.
Por um tempo deixaste de ser a rapariga dos brincos de pérola e tornaste-te no poeta professor e toda aquela sala voou num caminho por ele fora sem tempo nem asas/almas encarceradas. Ficámos todos meninos a aprender e até o "Fosco" rabino desta vez ficou até ao fim.
Sessão comemorativa do nascimento de Sebastião da Gama, ontem em VN de Azeitão, no museu que tem o seu nome.
Melhor ainda é ler-te na primeira pessoa.
Singular.
Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, em 10 de Abril de 1924, e faleceu em Lisboa em 1952
"Encarcerar a asa é encarcerar a alma. Isso sim. É que há muita asa que não pensa; asas que não sintam é que não.Mas eu não preciso do símbolo para ver os pássaros na gaiola. Basta-me ser fraterno. Para que vivemos no mundo há tanto tempo, se não sabemos ainda que os bichos são criaturas com alma?... Até os das fábulas, quando calha... Ora pensem lá um bocadinho no " Leão Moribundo"... É um leão mesmo, ou é principalmente um leão. Quantas vezes se esquecem os fabulistas de que era de homens que queriam falar!
Asa encarcerada não. Nem asa de pássaro nem asa de grilo. Uma fê-la o Senhor e disse-lhe: " Voa!" À outra: " Canta!" A nenhuma ( nem a nós deu a ordem, claro está) que se metesse numa gaiola. No entanto é a gaiola o domicílio habitual muito habitual do pássaro e do grilo. Ao grilo prendem-no as crianças, sob o sorriso dos pais. Ao pássaro os pais sob o sorriso dos filhos. Má escola esta. Principalmente porque se diz: "Que bem que canta!, Que bem que canta!". Nem se chega a aprender a diferença que vai do canto ao choro. Pois um pássaro encarcerado canta lá?!... Os pássaros cantam é nas linhas do telefone, nas árvores, nas beiras do telhado... Os grilos é na toca ou ao pé da serralha. Na gaiola choram. É o fado dos ferros."
Sebastião da Gama (1947). O segredo é amar
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Um homem que sabia um segredo :)
Obrigada, mais uma vez, tambem por estas palavras aqui.
Beijo
~CC~
Enviar um comentário