Durante o fim de semana ouvi na rádio uma notícia sobre uma campanha ateísta a ser levada a efeito na cidade de Londres que consta da exibição da frase «There's probably no God. Now stop worrying and enjoy your life» nos autocarros e outros suportes espalhados pela cidade.
Outras notícias especulam sobre as convicções religiosas de Obama. Para uns, é preto e provavelmente muçulmano e tem uma avó muçulmana e isso basta para que não sirva para presidente. Para os judeus, as suas ligações familiares à religião muçulmana até podem constituir uma vantagem para ajudar a resolver o conflito israelo-árabe.
Anselmo Borges, padre, filósofo e teólogo católico acha que a campanha é positiva porque provoca as pessoas e as faz pensar, mas sustenta que a existência de deus não é uma questão de ciência.
Eu costumo afirmar-me como ateu. Dizem-me muitas vezes como podes ter a certeza? ou quanto muito, és agnóstico. Continuo a dizer que sou ateu. Que sei que deus não existe. Não existe em mim, embora possa reconhecer que exista nos outros. Assim no plano puramente ontológico, concordo com Anselmo Borges: não é questão de ciência; é uma questão de crença e reinvindico a mesma validade para crença ateísta como a que é dada à teísta. E estaria disposto a concordar mais com Borges se a crença religiosa se limitasse a essa esfera íntima da relação de cada um com a sua consciência existencial, com os mistérios da vida e da natureza, com a transcendência. Mas no plano social e da vida da humanidade o assunto não pode ser escamoteado e varrido assim para o departamento da fé e não se fala mais nisso. É assunto de ciência, sim. Pode ser indagado pelas ciências sociais e políticas.
Estou convencido de que a existência de deus só tem feito mal ao mundo. Muito mais que a não existência. Os que crêem em deus tem-se revelado muitas vezes mais cruéis e desumanos que os não crentes. Já se matou e infligiu sofrimento a muito mais gente em nome de deus que em nome do ateísmo. Mas isto são apenas hipóteses que a ciência pode confirmar ou refutar. Provavelmente.
Nada tenho contra quem crê que deus existe e que é bom e é amor e nos conduz ao paraíso eterno. Que cada um viva essa crença da melhor forma e seja feliz.
Resistirei sempre aos que falam em nome de deus e apenas com essa autoligitimação procuram impor aos outros a sua verdade, o seu domínio, o seu controlo ou a sua opressão.
E, provavelmente, deus não existe. O melhor mesmo é procuramos viver de forma satisfatória, em equilíbrio com a natureza e tentar deixar este mundo habitável para as gerações seguintes.
27 de outubro de 2008
22 de outubro de 2008
O puto
Mano. Desculpa lá esta franqueza, mas às vezes não me lembro de ti. Penso que isso não é bom nem mau; é, talvez, apenas o resultado de não nos termos vivido e crescido como irmãos no seio de uma família com pouco espaço para a construção colectiva, sobretudo de experiências lúdicas. Quando nasceste eu já era crescido e tive que aprender a tomar conta de ti. Mas ainda era criança e queria brincar e tu metias-te por dentro das brincadeiras dos rapazes mais velhos e eles aborreciam-se comigo. Mesmo assim não me zangava porque tu era pequeno de mais para ter culpa e lá íamos os dois para casa. Depois foste para a escola e eu para a cidade estudar. E depois trabalhar para longe e de novo estudar até sair em direcção ao sul.Não me lembro de nada que tivéssemos feito juntos, depois dos teus dez anos.Um dia voltei a casa e percebi que tinha um irmão quase adulto e nunca soube muito bem consertar isso. Se calhar contigo acontece o mesmo. Mas eu sou o mais velho cabe-me a mim dar esse passo.
Fazes hoje quarenta e cinco anos e quase me esquecia. Lembrei-me de ti ontem e liguei-te para saber saber como estavas da nossa maleita comum - dores nas costas - e gostei que me tivesses convidado para almoçar, mesmo sabendo que eu não iria estar. Hoje quando liguei de propósito à hora do almoço para te dar os parabéns tinha consciência de que era também para me sentir aí. Em família.
Sabes, mano? Há algum tempo comecei a descobrir uma outra família que também, por sua vez, me foi descobrindo e adoptando. Entrei por dentro das relações de irmãs e das formas de afecto com que existem umas com as outras e, até quando às vezes quase se zangam, me fazem ter inveja. Eu que também tenho um irmão e não me lembro de alguma vez me ter zangado com ele.
Estou convencido, mano, que crescemos os dois filhos únicos.
Puto! Toma lá um abraço do mano velho!
O contador vai de jumento
A partir de hoje, o Contador tem passe social de Jumento e pode viajar para todo o lado. Ali vai sentado no alforge do nosso lado direito (é a esquerda do bicho).
Por aqui, há muito que não dispensamos uma visita diária. Pelo apanhado das notícias, pelos comentários críticos, pelas belas fotos-jumento e sobretudo pelo bom senso de humor.
Um abraço (ou seja, um amigável par de coices)
Por aqui, há muito que não dispensamos uma visita diária. Pelo apanhado das notícias, pelos comentários críticos, pelas belas fotos-jumento e sobretudo pelo bom senso de humor.
Um abraço (ou seja, um amigável par de coices)
10 de outubro de 2008
Em vias de mais ou menos assim-assim
Ouvi nos telejornais e acabo de ler aqui , citando o JN, que o governo decretou mais uma palermice absolutamente inútil para a grande maioria dos portugueses. Os postos de combustível vão ser obrigados a partir de 2009 a publicitar num sítio da internet, criado para o efeito, o preço dos combustíveis. Entretanto ainda ninguém cumpre a lei que obriga a afixar os preços nas autoestradas que está em vigor há quase três anos. E ninguém obriga a Galp e as outras donas do mercado a explicar os mecanismos de formulação de preços.
Desconfio que há alguns membros do governo que levantam assim umas poeiras para nos cegar ou então têm uma vocação nata para catar pulgas com luvas de boxe.
8 de outubro de 2008
Em vias de qualquer coisa
O país que inventou a via verde e generalizou o seu uso que vende simplex pelas esquinas e dá choques tecnológicos à parafrenia institucional afoga-se dia a dia no enredo normativo delirante e perde quase sistematicamente o fio às meadas legislativas que produz. Não se pode dizer que seja coisa de agora, pois sempre assim nos habituámos a viver, mas antes tinha uma racionalidade diferente a que se chamava burocracia. Nos últimos anos têm-nos convencido de que estamos a caminhar para a modernidade, para a simplificação de processos ao nível da administração, para a transparência, para a eficiência, enfim, para um melhor serviço ao cidadão.
Não duvido que haja nisto uma intenção honesta de progresso e de legítima defesa do interesse público, só que a par disto (ou mais à frente ou mais atrás, como facilmente se compreende num país a várias velocidades) coexistem movimentos nitidamente contrários a este propósito tantas vezes apregoada como marca distintiva do regime ou deste e daquele governo.
O que acontece é que muitas vezes a energia gasta, na maior parte dos organismos do estado, em torno dos mecanismos procedimentais e de controlo e avaliação, é extraordinariamente superior aquela que é utilizada no cumprimento da missão, ou seja, na produção efectiva de resultados, satisfação de necessidades que justificam a existência do próprio serviço.
Estou a lembrar-me de pelo menos duas situações para as quais se produziu legislação radical e depois de bem espremidinha a montanha nem um ratito pequinino de lá sai. Refiro-me a lei do tabaco e à que obriga à afixação do preço dos combustíveis nas autoestradas. Segundo julgo saber, a competência para fiscalizar o cumprimento da lei estará acometida à ASAE, para a primeira e à Estradas de Portugal; EPE para a segunda, organizações que já mereciam ser casos de estudo.
Quanto à lei anti-tabaco (Lei nº37/2007 de 14 de Agosto), as exigências colocadas aos estabelecimentos eram tão severas relativamente à separação dos espaços para fumadores e não fumadores que a muitos só deixou a possibilidade de espaço para não fumadores. A ASAE atacou em força, aplicou umas multas, mas nem sequer insistiu muito. É claro que os fumadores também protestaram, mas não se sabe bem que efeito é que isso teve. O que é facto é que a ASAE praticamente desapareceu e, nos sítios onde antes até havia uma convivência pacífica entre fumadores e não fumadores, por divisão não fisicamente separada de espaços, é hoje comum os cafés e restaurantes assinalarem com o autocolante azul todo o espaço com permissão para fumar. Ficou pior do que estava, pelo menos para os não fumadores e para a saúde de todos. A lei não foi alterada, mas não se aplica devido a uma espécie de desobediência civil incontrolável.
No caso da afixação obrigatória de preços dos combustíveis nas autoestradas dá-se uma situação semelhante. O Decreto-Lei nº 170/2005 de 10 de Outubro estabelece a obrigação de indicação do preço de venda dos combustíveis e cria regras para a sua indicação nos postos das auto-estradas e contém verdadeiras pérolas normativas no seu articulado como o que aqui se transcreve:
1 - A informação sobre o preço de venda a retalho dos combustíveis comercializados nos postos de abas- tecimento ao público existentes nas auto-estradas deve constar de um painel contendo a identificação dos combustíveis mais comercializados e respectivos preços oferecidos nos três postos de abastecimento seguintes no percurso em causa, no mesmo sentido de trânsito.
2 - Do último painel do percurso em causa, a colocar antes do penúltimo posto de abastecimento existente, deve constar a identificação dos combustíveis mais comercializados e respectivos preços oferecidos nos dois postos de abastecimento restantes.
É claro que ninguém está a cumprir a lei. O que faz sentido é obrigar cada uma das estações de serviço a informar sobre os seus preços e não sobre os dos outros; cabe ao consumidor decidir como entender. Ao que parece a lei que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2006 e não consta que tenha sido revogada, continua por aplicar. Parece também que nenhuma concessionária de autoestradas que é quem é reponsável pela afixação e actualização dos paineis terá sido multada.
Também aqui a fúria legislativa se esfuma na impunidade. Tanto dos prevericadores como daqueles a quem é suposto fiscalizar o cumprimento da lei.
Não duvido que haja nisto uma intenção honesta de progresso e de legítima defesa do interesse público, só que a par disto (ou mais à frente ou mais atrás, como facilmente se compreende num país a várias velocidades) coexistem movimentos nitidamente contrários a este propósito tantas vezes apregoada como marca distintiva do regime ou deste e daquele governo.
O que acontece é que muitas vezes a energia gasta, na maior parte dos organismos do estado, em torno dos mecanismos procedimentais e de controlo e avaliação, é extraordinariamente superior aquela que é utilizada no cumprimento da missão, ou seja, na produção efectiva de resultados, satisfação de necessidades que justificam a existência do próprio serviço.
Estou a lembrar-me de pelo menos duas situações para as quais se produziu legislação radical e depois de bem espremidinha a montanha nem um ratito pequinino de lá sai. Refiro-me a lei do tabaco e à que obriga à afixação do preço dos combustíveis nas autoestradas. Segundo julgo saber, a competência para fiscalizar o cumprimento da lei estará acometida à ASAE, para a primeira e à Estradas de Portugal; EPE para a segunda, organizações que já mereciam ser casos de estudo.
Quanto à lei anti-tabaco (Lei nº37/2007 de 14 de Agosto), as exigências colocadas aos estabelecimentos eram tão severas relativamente à separação dos espaços para fumadores e não fumadores que a muitos só deixou a possibilidade de espaço para não fumadores. A ASAE atacou em força, aplicou umas multas, mas nem sequer insistiu muito. É claro que os fumadores também protestaram, mas não se sabe bem que efeito é que isso teve. O que é facto é que a ASAE praticamente desapareceu e, nos sítios onde antes até havia uma convivência pacífica entre fumadores e não fumadores, por divisão não fisicamente separada de espaços, é hoje comum os cafés e restaurantes assinalarem com o autocolante azul todo o espaço com permissão para fumar. Ficou pior do que estava, pelo menos para os não fumadores e para a saúde de todos. A lei não foi alterada, mas não se aplica devido a uma espécie de desobediência civil incontrolável.
No caso da afixação obrigatória de preços dos combustíveis nas autoestradas dá-se uma situação semelhante. O Decreto-Lei nº 170/2005 de 10 de Outubro estabelece a obrigação de indicação do preço de venda dos combustíveis e cria regras para a sua indicação nos postos das auto-estradas e contém verdadeiras pérolas normativas no seu articulado como o que aqui se transcreve:
1 - A informação sobre o preço de venda a retalho dos combustíveis comercializados nos postos de abas- tecimento ao público existentes nas auto-estradas deve constar de um painel contendo a identificação dos combustíveis mais comercializados e respectivos preços oferecidos nos três postos de abastecimento seguintes no percurso em causa, no mesmo sentido de trânsito.
2 - Do último painel do percurso em causa, a colocar antes do penúltimo posto de abastecimento existente, deve constar a identificação dos combustíveis mais comercializados e respectivos preços oferecidos nos dois postos de abastecimento restantes.
É claro que ninguém está a cumprir a lei. O que faz sentido é obrigar cada uma das estações de serviço a informar sobre os seus preços e não sobre os dos outros; cabe ao consumidor decidir como entender. Ao que parece a lei que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2006 e não consta que tenha sido revogada, continua por aplicar. Parece também que nenhuma concessionária de autoestradas que é quem é reponsável pela afixação e actualização dos paineis terá sido multada.
Também aqui a fúria legislativa se esfuma na impunidade. Tanto dos prevericadores como daqueles a quem é suposto fiscalizar o cumprimento da lei.
Como às vezes tenho uns ataques de optimismo sou tentado a pensar quem nem tudo deve ser mau. Um país assim é capaz de estar, de certa forma, protegido em relação à actual crise financeira mundial. Talvez abane muito. Mas cair, não cai.
7 de outubro de 2008
Farrobinha de Outubro
Fui contá-las. Como não voavam foi fácil. Ainda pensei que me tinha enganado e voltei a contar. Não há dúvida: falta-me uma. Presumo que voou para um sítio que eu não sei. Mas sei que há-de enviar-me sinais assim disfarçados para que nos reencontremos. Espero só que não se ponha a falar por aí. Não tanto por aquilo que possa revelar, mas porque há já pouca gente capaz de escutar. Ainda são capazes de pensar que são alucinações e delírios. Vozes dentro da cabeça. Loucura.
Tirando isso, fico descansado.
Tirando isso, fico descansado.
2 de outubro de 2008
Optimus Home - um serviço do outro mundo
Parece humor negro. Já estou a imaginar uma campanha agressiva da Optimus para disputar um novo segmento de mercado:
Optimus Home - consigo até à última morada.
Os serviços públicos é que costumam ser o bombo da festa com estas situações anedóticas. Desta vez não é nenhum serviço público.
Optimus Home - consigo até à última morada.
Os serviços públicos é que costumam ser o bombo da festa com estas situações anedóticas. Desta vez não é nenhum serviço público.
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