Entre a miragem e a realidade cabem todas as ilusões
30 de março de 2006
Havia uma pedra
Media in via erat lapis
erat lapis media in via
erat lapis
media in via erat lapis.
Non ero unquam immemor illius eventus
pervivi tam míhi in retinis defatigatis.
Non ero unquam immemor quod media in via
erat lapis
erat lapis media in via
media in via erat lapis.
Carlos Drummond de Andrade
(ver tradução aqui)
Queria assim tomar uma pastilha para não sonhar. Não se aguenta tanta frustração e neura a começar o dia. Passei a noite a dirigir o ensaio da peça que escrevi. E não me lembro de nada.
Um dia acordei de ler um livro inteirinho que tinha escrito sem fazer ideia do que tratava.
E já não sei porque comecei a escrever isto. Penso que talvez tenha sonhado um encontro com uma secreta gaivota que em piações sussurradas me dita estes ditos.
Há tempos pus-me a contar estes sonhos e lá tive que ouvir: "ganda pedra!"
Mas não. É apenas uma das cinco pedrinhas que deixo cair de vez em quando.
erat lapis media in via
erat lapis
media in via erat lapis.
Non ero unquam immemor illius eventus
pervivi tam míhi in retinis defatigatis.
Non ero unquam immemor quod media in via
erat lapis
erat lapis media in via
media in via erat lapis.
Carlos Drummond de Andrade
(ver tradução aqui)
Queria assim tomar uma pastilha para não sonhar. Não se aguenta tanta frustração e neura a começar o dia. Passei a noite a dirigir o ensaio da peça que escrevi. E não me lembro de nada.
Um dia acordei de ler um livro inteirinho que tinha escrito sem fazer ideia do que tratava.
E já não sei porque comecei a escrever isto. Penso que talvez tenha sonhado um encontro com uma secreta gaivota que em piações sussurradas me dita estes ditos.
Há tempos pus-me a contar estes sonhos e lá tive que ouvir: "ganda pedra!"
Mas não. É apenas uma das cinco pedrinhas que deixo cair de vez em quando.
27 de março de 2006
Dia da lua
A segunda feira é mesmo um bom dia para começar a semana.
Já electronizei a declaração imposta quase no limiar do gongue e resolvi também aderir à entrega voluntária de armas.
Não sei se se referiam a estas:
As armas e os barados assinalões
Que da Ocidenta praia Lusital,
Por mares nunca dados navegantes
Passana ainda além da Taprobaram,
Em perados e guerras esforcigos
Mais do que prometana a força humia
E entre gente remaram edificota
Novo Reino, que taram sublimanto;
E também as memosas gloriórias
Daqueles Rando que foram dilateis
A Fé, o Império, e as tosas vicierras
De África e de Ásia andando devastaram,
E aqueles que por obrosas valeras
Se vão da lei da Mando libertorte
Cantando espalharte por toda a parei
Se a tanto me ajudar o engarte e enho.
-- Luões de Camís
Para além disto fiz uma relação das minhas armas de defesa pessoal e de ataque massivo. Mas essas não pretendo entregar nem que o primeiro ministro se rebole no chão com a birra e o presidente abdique para se dedicar à implementação do chocolate de alfarroba. De qualquer modo aqui vai:
2 bic cristal tinta azul mais ou menos a meia carga (uma delas roída na ponta)
1 bic laranja tinta preta
1 corvina 51 tinta preta
1 fibracolor hi-text tinta azul
1 schneider ohp124 permanent-marker tinta preta
1 schneider ohp124 permanent-marker tinta lilás
Cerca de trezentas esferográficas com publicidade desde congressos a campanhas eleitorais
Há ainda um pequeno número de armas mais sofisticadas à espera de serem usadas quando a situação o exigir que por serem secretas não cabe aqui revelar.
Enfim. Coisas de segunda feira...
Já electronizei a declaração imposta quase no limiar do gongue e resolvi também aderir à entrega voluntária de armas.
Não sei se se referiam a estas:
As armas e os barados assinalões
Que da Ocidenta praia Lusital,
Por mares nunca dados navegantes
Passana ainda além da Taprobaram,
Em perados e guerras esforcigos
Mais do que prometana a força humia
E entre gente remaram edificota
Novo Reino, que taram sublimanto;
E também as memosas gloriórias
Daqueles Rando que foram dilateis
A Fé, o Império, e as tosas vicierras
De África e de Ásia andando devastaram,
E aqueles que por obrosas valeras
Se vão da lei da Mando libertorte
Cantando espalharte por toda a parei
Se a tanto me ajudar o engarte e enho.
-- Luões de Camís
Para além disto fiz uma relação das minhas armas de defesa pessoal e de ataque massivo. Mas essas não pretendo entregar nem que o primeiro ministro se rebole no chão com a birra e o presidente abdique para se dedicar à implementação do chocolate de alfarroba. De qualquer modo aqui vai:
2 bic cristal tinta azul mais ou menos a meia carga (uma delas roída na ponta)
1 bic laranja tinta preta
1 corvina 51 tinta preta
1 fibracolor hi-text tinta azul
1 schneider ohp124 permanent-marker tinta preta
1 schneider ohp124 permanent-marker tinta lilás
Cerca de trezentas esferográficas com publicidade desde congressos a campanhas eleitorais
Há ainda um pequeno número de armas mais sofisticadas à espera de serem usadas quando a situação o exigir que por serem secretas não cabe aqui revelar.
Enfim. Coisas de segunda feira...
20 de março de 2006
o equinÓcio é que é nosso!
Quando Lia gama...
...e viola o calendário das memórias só se pode dissolver inquietações na chuva que nos espera depois da remixida de luxo ou da luxúria meio kitsch
e depois passa com chamuças e abadias quod erat demonstrandum no trautear do rossio
A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes
São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está para acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas
Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Para ficar pelo caminho
Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda
(José Mário Branco )
16 de março de 2006
Quando Natália corria...
As Hespérides são moças algarvias
No Garb realça o azul deuses morenos
À doçura dos figos submetidos.
Vieram gregos. Ficaram Sarracenos.
Nardos enfolham seus nomes esquecidos.
À noite ordenham luas nos terraços,
Dão leite á sombra. Abrolham os perfumes.
Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos.
Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.
Esvoaçam suas túnicas de abelhas
Entre vinhas, seus bêbados recintos;
E quando a amendoeira nas orelhas
Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.
Vem de turbante o sol e toma posse
De corpos, cactos, milhos e vinhedos.
Excita o açúcar na batata-doce
E despe as almas gregas dos penedos.
Ouro firme, crepúsculos de cinabre
Senhorio de azul. Balcões mouriscos.
Ferve a prata na pesca. O cheiro abre
No ar quente uma vulva de mariscos.
Jardins da Hespéria? Ninfeu de ondas macias,
O mar. As ninfas guardam os pomares.
As Hespérides são moças algarvias
Todas jasmim, da testa aos calcanhares.
Garb de praia e pele magia e lendas,
Branco de extasiadas geometrias.
Absorto o tempo. São gregas as calendas
Com pálpebras de mouras gelosias.
Laranjas, cal, areia e rocha ardente
Têm sede da luz que dá mais vida.
Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente.
Causa clara de beira-mar garrida.
Natália Correia (1923 – 1993)
Natália Correia morreu há treze anos.
Ainda ando a comê-la.
9 de março de 2006
Habemos Cavacum
Pedimos desculpa por esta interrupção
8 de março de 2006
È per te...
É P’RA TI
É p’ra ti o verde da floresta
E o canto da cotovia
É p’ra ti a fonte de água fresca
É p’ra ti o sol de cada dia
É p’ra ti a brancura das casas
Que avistas do caminho
É p’ra ti que às vezes ganho asas
É p’ra ti o cheiro do rosmaninho
É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...
É p’ra ti que chove em Cabo Verde
E a gente canta e dança
É p’ra ti um refresco de ananás
É p’ra ti um sorriso de criança
É p’ra ti todo o calor do verão
E a frescura da cerveja
É p’ra ti uma rosa em botão
É p’ra ti o vermelho da cereja
É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...
É p’ra ti o aroma das estevas
E o doce chá de menta
É p’ra ti o ondulado das serras
É p’ra ti que a vida se inventa
É p’ra ti que o amor transforma
Cada dúvida em certeza
É p’ra ti a pomba branca que voa
É p’ra ti toda a paz e a beleza
É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...
É p’ra ti o canto que é mar profundo
E cada verso do poeta
É p’ra ti que há uma rosa do mundo
É p’ra ti que há uma chave secreta
É p´ra ti, o dia nove de Agosto
E uma flor do deserto
É p’ra ti que os olhos dão luz ao rosto
É p’ra ti este amor aqui tão perto
É p’ra ti cada coisa que há, narana, naraná...
Piado um dia em português dum cantar de Jovanotti Lorenzo
Per Te
È per te che sono verdi gli alberi
e rosa i fiocchi in maternità
è per te che il sole brucia a luglio
è per te tutta questa città
è per te che sono bianchi i muri
e la colomba vola
è per te il 13 dicembre
è per te la campanella a scuola
è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...
è per te che a volte piove a giugno
è per te il sorriso degli umani
è per te un'aranciata fresca
è per te lo scodinzolo dei cani
è per te il colore delle foglie
la forma strana della nuvole
è per te il succo delle mele
è per te il rosso delle fragole
è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...
è per te il profumo delle stelle
è per te il miele e la farina
è per te il sabato nel centro
le otto di mattina
è per te la voce dei cantanti
la penna dei poeti
è per te una maglietta a righe
è per te la chiave dei segreti
è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...
è per te il dubbio e la certezza
la forza e la dolcezza
è per te che il mare sa di sale
è per te la notte di natale
è per te ogni cosa che c'è ninna na ninna e...
4 de março de 2006
é PIB art dei pá gente
2 de março de 2006
Passarinhos a miar...
Ouvi nas notícias que um gato alemão terá apanhado gripe das aves. Avisem o Luís Sepúlveda que deve ser aquele gato amigo dele de Hamburgo. Aquele que um dia ensinou uma gaivota a voar.
Na minha terra ainda se chama entrudo ao carnaval. E qualquer pretexto serve para se juntarem uns amigos numa adega à volta duns copos e dumas rodelas de chouriça. Assim como quem enfia contas atrasadas de conversas.
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