Ó que eco há aqui!...
Neste espaço a si próprio condenado
Dum momento para o outro pode entrar
Um pássaro que levante o céu
E sustente o olhar
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Com a tristeza acender a alegria
Com a miséria atear a felicidade
E no céu inocente da visão
Fazer pulsar um pássaro por vir
Fazer voar um novo coração
Alexandre O´Neill
Acompanha-me desde a infância a ideia de as coisas serem o que delas vemos. Este “ver” está muito para além do que os olhos vêem, porque se liga às coisas já vistas e também às imaginadas, ao estado de quem as vê, a uma disposição interior para ver. Em tempos chamei a este conjunto complexo simplesmente “olhar”. O meu “olhar”. Isto permitiu-me chegar também ao “olhar” dos outros.
Um dia li que um tal Moreno se tinha visto, quando menino, a voar de cima de um armário. Para a história ficou que inventou o psicodrama e ele próprio rapidamente se esqueceu das dores ou eventuais fracturas que isso lhe custou ao estatelar-se no chão. Mais tarde terá enunciado uma ideia ao mesmo tempo cruel e deliciosa mais ou menos assim:
(...)
Mais importante do que a poesia é o seu resultado,
Um poema invoca uma centena de actos heróicos.
(...)
Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
(...)
Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos
e colocá-los-ei no lugar dos meus;
e colocá-los-ei no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos
E tu ver-me-ás com os meus.
Assim, até a coisa comum serve o silêncio
Assim, até a coisa comum serve o silêncio
E nosso encontro permanece a meta sem cadeias:
O lugar indeterminado, num tempo indeterminado,
A palavra indeterminada para o Homem indeterminado.
Permaneço. Olho o mar e ele devolve-me o seu olhar do mundo.
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