24 de janeiro de 2011

O primeiro dia dos próximos cinco anos

Ou seja, encavacados e mal pagos.

O país votou. Segundo as regras da democracia, Cavaco ganou a sua reeleição à primeira volta e continua a ocupar o lugar de Presidente da República Portuguesa. Nada disto está em causa. É assim.
Outra coisa é saber se o homem, pelo seu passado na política portuguesa como primeiro ministro por um período que niguém teve, pela forma como se comportou no primeiro mandato e pelas coisas que entretanto se têm vindo a descobrir, incorpora essa grandeza de carácter que o torna merecedor de ser o representante de todos os portugueses.
Há quem não aceite que se ponha em causa o carácter, a honorabilidade, a honestidade, o valor da pessoa. Mas , ou eu andei muito distraído ou nenhum dos candidatos apresentou um programa político de candidatura ao cargo, que já de si está bastante pré-determinado pela constituição deixando a variabilidade para o estilo pessoal do seu exercício, para a marca de dignidade que não poderá envergonhar nenhum português. E isso está no carácter da pessoa.
Ideologicamente não me identifico com nenhum dos anteriores presidentes, mas não hesito em reconhecer-lhes o mérito de terem sabido exercer o cargo sem me envergonharem de ser português. Cavaco envergonha-me.
Ideologicamente representa o que há de mais conservador e tacanho que existe na mentalidade portuguesa. Um provincianismo de sacristia. O chico-espertismo dos que são capazes de ultrapassar todos pela faixa de socorro (pela direita) e meter-se lá mais à frente. O sempre senhor professor ou professor doutor mesmo quando há tantos outros com igual titularidade a quem não é dispensado esse trato. A safadeza cobarde de quando confrontado com as embrulhadas optar sobraceiramente pelo silêncio ou mesmo pela mentira (não percebo nada de acções com nomes em inglês, não me lembro, só passei os cheques). Isto talvez só seja a ideologia dos que não têm carácter, mas ainda assim ideologia, porque pode passar, ser modelo identificador para alguns.
Cavaco, em suma, vende o mesmo produto que Salazar. Mas faz melhor que este. Tem a vantagem de ter sempre a seu lado a sua "senhora" e o resto da família já devidamente abençoada pelo papa do Vaticano.
De resto, se o homem não se assume como político, o que é que lhe pode exigir politicamente? É uma espécie de inimputável, desse ponto de vista.
Há, pelos vistos, muita gente que gosta. Eu não. E não me coíbo de o proclamar com o mesmo direito (embora com incomparavelmente menor alcance) que é dado ao próprio e a quem se identifica com o modelo.
Não desanimemos. Faltam só 1825 dias.

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