29 de junho de 2010

O jogo mundial da bola

A minha rapariga
embora não pareça
também vê o mundial
E até há já quem diga
que adora golos de cabeça
por ser uma intelectual.

Retrato subtil de uma rapariga que pára a escrita da tese quando ouve gritar golo.

22 de junho de 2010

SCUT zé ninguém

Oiço as notícias de buzinões e outras comichões de reacção à introdução de portagens das SCUT e não posso deixar de pensar numa espécie de remake do filme que viria a apear Cavaco e o PSD do governo. Estávamos em 1994 e já tinha havido a crise do feriado do Entrudo e a coisa começou com uma buzinas e acabou com a ponte bloqueada por camiões carregados, cargas policiais e um jovem paralizado por uma bala perdida. E tudo em directo, pelas rádios e televisões. O Presidente não dissolveu a AR e o governo não caiu, mas nas eleições a seguir o PSD caiu da maioria absoluta para a oposição e o Cavaco hibernou durante dez anos para preparar a sua candidatura a Belém, com excepção de raras aparições para que o povo não esquecesse a tabuada.
O que se está a passar não augura nada de bom. Há uma série de grupos organizados de interesses com grande pó a este governo e em especial ao Sócrates e não perderão a oportunidade de produzirem grande estrago. Há dias uma "greve" dos transportadores para terem combustíveis subsidiados falhou porque não interessava aos camionistas, mas contra as portagens os interesses podem muito bem convergir.
Em suma, o governo está metido numa alhada e será preso por ter e por não ter cão, com tantos a morder-lhes as canelas. Com a inevitável agitação social e Cavaco com contrato de arrendamento do palácio de Belém renovado só não dissolve o Parlamento se a crise ainda for demasiada para a camioneta do PSD. Sinceramente, não acredito que o PSD queira ou seja capaz de governar, mesmo que consiga ganhar as eleições à vontade.
Agora as portagens.
Não me parece que haja alternativa. Vai haver portagens. Com PS ou com PSD. Mas a questão fundamental não é essa, do meu ponto de vista.
No tempo do Cavaco primeiro ministro entrou dinheiro a rodos em Portugal e o que aconteceu foi um maná para as empresas de obras públicas. Foram as pontes para o futuro, as Lusopontes e as Brisas de sucesso e, apesar de tanto dinheiro Social Europeu o resultado dos negócios foi uma factura para pagarmos a seguir. O PS veio a seguir e fez mais ou menos o mesmo e agora é que está aflito. Ou seja, aflitos estamos nós pagantes.
O que está errado não é pagar portagens. É ser obrigado a pagar por não ter alternativa.
O conjunto dos impostos associados aos meios de transporte (IA, IVA, IUC e ISP) só fazem sentido se forem utilizados para proporcionar condições satisfatórias de circulação e de segurança rodoviária. As autoestradas pagas deveriam representar uma opção por uma qualidade extra de velocidade e segurança. Ora o que acontece é que o Estado gasta o dinheiro dos impostos noutras coisas em vez de criar e melhorar as vias normais de circulação.
Não o fazendo, o Estado faz duas coisas: prima, opera grandes negócios com grupos privados onde não é de estranhar que no meio de tantos milhões de derrapagens haja alguns que derrapem para bolsos privados e sempre se arranja um lugar para quando se sai do governo; seconda, como não deixa alternativas viáveis, obriga os condutores a serem clientes das autoestradas para garantirem a rendibilidade do investimento, mesmo quando os contratos já prevêm cláusulas compensatórias quando essa rendibilidade baixa.
Assim, onde deveria haver boas vias de comunicação, sem rotundas e dupla via quando isso se justifique constróem-se autoestradas que, ou não eram necessárias ou não cumprem mais do que o normal de uma estrada nacional (engarrafamentos em muitos troços, reduções de velocidade, alta densidade de tráfego) pela qual se paga.

Os liberais gostam de se embriagar com o "princípio do utilizador-pagador" e com isso pretendem justificar a justeza das portagens. No entanto, quem paga nas portagens já pagou também para a estrada por onde não vai, muitas vezes porque ela não existe ou não tem condições mínimas. É neste sentido que acho que devia aplicar-se o "princípio do pagador-utilizador". Quem paga adquire direito a um serviço. Neste caso dos impostos, um direito a um serviço a ser usado por todos.
O Estado o que faz muitas vezes são investimentos não necessários para o bem colectivo, mas altamente favoráveis a meia dúzia de grupos económicos e, ainda por cima arranja forma de proteger os negócios dos privados com quem emparelha.

19 de junho de 2010

Um bando de inúteis

A coisa chama-se assim:
Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à relação do Estado com a Comunicação Social e, nomeadamente, à actuação do Governo na compra da TVI

Ralizou 31 reuniões a tentar provar uma tese, a de que o primeiro ministro mentiu ao parlamento, claramente fora do âmbito enunciado na designação (outros detalhes estão omissos na página da AR) e nem isso conseguiram.
Não se sabe quanto custou ao país esta Comissão a secção Plano de Actividades e Orçamento aparece vazia o que por si revela uma falta de transparência dos órgãos de soberania. Podemos pensar que aquilo foi gastar à Lagardère.
Estes senhores prestaram um muito mau serviço ao país e o facto de terem sido eleitos e terem legitimidade democrática, não a têm para fazzer o que bem lhes apetece e mal. Se tivessem vergonha demitiam-se por manifesta inutilidade.
A lista é esta. Vejam em quem votam nas próximas eleições.

Mota Amaral (PSD, Efectivo, Presidente )
Osvaldo de Castro (PS, Efectivo, Vice-Presidente )
João Pinho de Almeida (CDS-PP, Efectivo, Vice-Presidente)
Ana Catarina Mendonça Mendes (PS, Efectivo)
Manuel Seabra (PS, Efectivo)
Miguel Laranjeiro (PS, Efectivo)
Ricardo Rodrigues (PS, Efectivo)
Sónia Fertuzinhos (PS, Efectivo)
Vitalino Canas (PS, Efectivo)
Agostinho Branquinho (PSD, Efectivo)
Carla Rodrigues (PSD, Efectivo)
Francisca Almeida (PSD, Efectivo)
Pacheco Pereira (PSD, Efectivo)
Pedro Duarte (PSD, Efectivo)
Cecília Meireles (CDS-PP, Efectivo)
João Semedo (BE, Efectivo)
João Oliveira (PCP, Efectivo)
Maria José Gamboa (PS, Suplente )
Fernando Negrão (PSD , Suplente )
Nuno Encarnação (PSD , Suplente )
Pedro Mota Soares (CDS-PP , Suplente )
José Manuel Pureza (BE , Suplente )
Bernardino Soares (PCP , Suplente )

18 de junho de 2010

O meu nome é Mago. Saramago

José Saramago morreu hoje e deixou-nos mais pobres.
A magia com que levantava as palavras deixou em mim, leitor, um rasto de lucidez para todas as leituras.
Sempre chegaremos ao lugar onde nos esperam. Escreveu um dia.
Ainda tenho umas coisas para ler...
Hoje é o ano da morte de Saramago.

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago Os Poemas Possíveis
Curiosa, a mensagem de Cavaco sobre a morte de Saramago.
É mais do que dever de um presidente de Portugal manifestar em nome de todos os portugueses, a homenagem a um escritor maior por ocasião da sua morte, mas neste caso deve ter-lhe dado algumas voltas às tripas. Ou ter-se-á esquecido que quando era primeiro ministro um seu serviçal deu a cara a um acto de censura sobre Saramago. Já era uma referência nessa altura. Quase apostava que Cavaco nunca leu uma linha de Saramago e, se o tentou fazer terá achado que o homem não sabia escrever e fazer pontuação. Ponto.


(Isto foi escrito depois como correcção de um erro de postagem)

16 de junho de 2010

"Vendedor planetário"

Levaste-me à praia. Lavaste as saudades de mar e eu ensaiei passos cautelosos na areia. Saboreámos o sol deitados na beira das ondas da maré baixa. Fantasiámos sobre a ausência das gaivotas e despertámos com o rappel dos pregões estivais. "Barquilhere..." clama o vendedor ambulante daquela espécie de bolacha torrada e poucas são as paragens. A praia quase vazia não é muito propícia ao negócio.
Passado pouco tempo ouvimos o peculiar pregão de outro vendedor já nosso conhecido. Já tínhamos feito várias conjecturas sobre o seu estado mental e persistiam dúvidas sobre se realmente vendia as bolas de berlim que apregoava com rimas:
"Bola de berlim
para a Joana e para o Delfim"
(continuo mentalmente: para a Mariana e o Serafim/ Para a Sara e o Martim...)
E continua:
"Olhem para mim que já venho tão cansado
comprem bolas de berlim para não ir tão pesado"
A sua figura podia ter saído dum filme fantasioso. É um sexagenário atarrecado de rosto redondo avermelhado de cabelos totalmente brancos (teriam sido louros em tempos). Chapéu de palhinha de abas levantadas a terminar em bico para a frente. Camisa larga sobre uns calções também largos pelo joelho. Usa uma meia elástica decontenção de varizes. Traz um cesto de piquenique montado no esqueleto do que terá sido um carrinho de ir às compras que sspende na mão direita e um saco térmico enfiado no braço esquerdo, segurando nessa mão a tenaz de inox ou alumínio. Interpela as pessoas tratando-as por "vossas excelências" incluindo nesse trato um grupo de adolescentes. Insiste nas rimas para elogiar a beleza desta praia e apresenta-se como "Mário: o vendedor planetário".
Penso para mim que este poderia ser o verdadeiro contador de gaivotas. Elas hoje, por solidariedade com a greve dos maquinistas ou por estarem a vigiar os exames de português, não compareceram e não se deixaram contar.
Mas, para que fique esclarecido, Mário, o vendedor planetário vende efectivamente bolas de berlim. As rimas dá-as a toda a gente e espalha-as na areia para quem as queira.

8 de junho de 2010

HD

High Definition? Hard Disk?
Nada disso!
Em português é hérnia discal. Agora vou ali deixar umas dores e já venho.

4 de junho de 2010

O estado de sítio

Aqui vê-se melhor.


O meu bairro vai ficar sitiado para que uma cambada de inúteis venha sacudir o penacho. Nunca o Sítio das Figuras foi invadido por tantos figurões. O meu bairro vai ficar interdito à circulação. De carro, só se pode sair e andar a pé. É claro que todas as zonas à volta vão ficar saturadas de carros e de circulação alternativa.

Podiam fazer a coisa no Estádio do Algarve. Afinal a gente já o está a pagar e assim não chateavam.
Mas o mais triste é esta demonstração salazarenta dum país pimbo-militar.




2 de junho de 2010

Dia de quem?

E eu a pensar que o 10 de Junho era o dia de Camões e o dia de todos os portugueses espalhados pelo mundo...
Este ano as comemorações oficiais são em Faro. Já sabíamos que Cavaco tinha já transformado este dia em «dia da raça» (da dele, certamente) e em dia suplementar das forças armadas e também sabemos que Cavaco anda informalmente em campanha para a sua reeleição desde que foi eleito, mas, pronto, tem a legitimidade que a democracia lhe confere para isso tudo e ainda lhe sobra tempo, para ensinar o nome dos netos ao papa.
O que me pergunto é que sentido faz, nos dias de hoje esta manifestação masturbante militarista, belicista e parola. O culto da guerra, dos seus instrumentos e símbolos devia ser coisa a banir da vida pública. Ofende-me que seja usado como expressão mais relevante do que chamam «dia de Portugal».
Além disso, parece que fazem um simulacro da lei marcial durante três horas e meia. A informação a que tive acesso não deixa dúvidas:

As comemorações do dia 10 de Junho obrigam a condicionamentos de trânsito no acesso à Escola Superior de Saúde, nas zonas circundantes e no estacionamento no parque da Escola.
Face ao exposto, informa-se a Comunidade Académica das alterações de trânsito e estacionamento no dia 9 de Junho:
Ø O acesso e estacionamento no parque da Escola só são permitidos das 8:00 h. às 12:30 h. Todas as viaturas têm que ser retiradas do parque até às 12:30 horas.
Ø Durante as 14:00 h. até às 17:30 h. o trânsito encontra-se encerrado nas seguintes ruas:

- EN 125 – Nó do Aeroporto (cruzamento da EN 125 com a EN 125-10) até à rotunda do Teatro Municipal de Faro.
- Avenida Calouste Gulbenkian – desde a Rua do Alportel até à rotunda do Teatro Municipal de Faro.
- Avenida Prof.º Dr.º Adelino da Palma Carlos.

Assim , a partir das 14:00 do dia 9, o acesso à Escola só será possível por via pedonal
.

Não se pode estacionar à volta do arraial militar. Deve ser por questões de segurança (toda a gente se lembra da paranóia securitária de Cavaco que manda interditar o espaço aéreo quando vai à praia) e começa logo na véspera. E eu que pensava estacionar lá o meu carro e pôr a tocar toda a tarde, com o volume no máximo "la cucaracha", já não posso.
Talvez convoque uma manifestação de gaivotas para sobrevoar o recinto das festas e cagar-lhes em cima.