20 de julho de 2007

Sementes (três)



O rapaz mergulhou então numa espécie de sonho. Também ele conhecia esse mundo de tanto o percorrer. O hábito de observar as aves era mais do que um simples olhar. Voava com elas e com o seu olhar, no ir e vir das suas migrações, falava de terras distantes como se as tivesse calcorreado e até parecia entender o falar estranho de gentes longínquas.

O rapaz olhava para as cinco sementes e só agora começava a vê-las no seu essencial. Sentiu-lhes uma força contida de algo que quer nascer e pousou-lhes suavemente as mãos quase sem lhes tocar.

Eram muito mais que sementes de germinar e fazer crescer árvores e flores e frutas que é o que fazem todas as sementes. O rapaz que sabia de sementes raras, na posse de mestres que as guardavam como pedras preciosas e as protegiam da extinção, teve a clara visão de que estas não eram apenas sementes raras. Cada semente era única.

A rapariga mantivera o sorriso em silêncio e parecia seguir os pensamentos do rapaz como se os adivinhasse antes dele os ter. E disse-lhe: sim, cada semente é realmente única.

E a rapariga contou que lhe tinham sido dadas pela mulher velha antes da grande tempestade que se apropriou de todo o céu no tempo em que os homens ainda guardavam os rios.

1 comentário:

Anónimo disse...

na margem onde a areia, húmida e fina, se erguia do sono
aquecida de um sonho que teimava em não se esvair por entre os dedos

infinito, o sinal do voo

vi, um dia, um pássaro....


Camille