23 de fevereiro de 2007

eh zeca afonso

O zeca morreu fez hoje vinte anos
Alguém terá dito ou escrito na altura que a sua voz seria final e oficialmente calada numa placa toponímica numa qualquer rua secundária deste país E foi quase isso
Hoje ouvi-o na rádio
A rádio pública tocou vinte canções do zeca
Venha mais zeca


poeta andarilho do bairro negro à vila de olhão
soltou pombas brancas nas águas dum outono
cantou janeiras de embalar cavaleiro e anjo numa barquinha
cigano e maltês mendigo com tecto trouxe amigos donde o vento cortou amarras
pegou no arpão frente a vampiros e chacais eunucos e anjos na mortalha do canalha e com a foice duma ceifeira cairam todos num alguidar
por trás daquela janela fez um redondo vocábulo para um primo convexo e avisou a malta da presença das formigas e dos fantoches de kissinger






E não foram só canções e luta
A poesia não cantada do zeca está aí para ser descoberta
Eis um dos muitos poemas escolhido quase ao acaso
Ou talvez não

Sabia antigamente de palavras
E nelas eu dizia
Como é forçoso estar vivo
Mas não é fácil relembrar
de que espuma eram feitas
as primeiras sortidas.
alguma coisa do que sou e fui
foi em viagem
pela madrugada conforme
e nem por uma vez
deixou de repicar aos meus ouvidos
a mesma toada miúda.

Tratei de novo
motivar os dias
Refazer a infância
Pousar ainda a calote sobre a tábua
e espreitar;
o velho passeando no deque
os pássaros na brancura conduziam a barca
E tu silêncio, sempre vinhas





(...)
Será que existe
lá para as margens do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
Utopia. ura Fura 1978
Imagem colhida em www.domusvarius.pt

1 comentário:

CCF disse...

"Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera

Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia"

José Afonso

Pela poesia é que vamos.
~CC~