31 de outubro de 2005

B. Leza ê sabe

Por esta hora estará a decorrer uma despedida de um espaço de encontro de culturas.
Gostava de lá ir beber uma última cerveja e segredar ao ouvido duma mulata aqueles versos em criolo escritos pelas paredes.


Cá tem nada na és bida
Más grande que amor!
Se Deus cá tem medida,
Amor inda é maior!
Amor inda é maior,
Maior que mar, que céu!
Mas, entre ote crecheu,
De meu inda é maior!
Hora de bai,
Hora de dor,
Ja’n q’ré
Pa el ca manchê!
De ca bêz
Que’n ta lembrâ,
Ma’n q’rê
Fica ‘n morrê!
Hora de bai,
Hora de dor!

Sabura na dança - Kiki Lima

Ainda está activa uma petição on line aqui com o seguinte apelo:

« O palácio Almada Carvalhais acolheu o B.Leza e, com ele, tantos quantos os que quiseram vir e participar. Música e não só. Cinema, teatro, Exposições de Fotografia e Pintura, Acções de Solidariedade acompanharam anos de vida de um espaço que se tornou uma referência de lazer e cultura. Situado numa zona da cidade de Lisboa que privilegia o contacto com a comunidade africana, beneficiou desta proximidade, tornando-se um lugar de integração. A Lusofonia conquistou mais este espaço, ampliou alma e alegria. Foram muitos os que passaram pelo B.Leza. Se é um dos muitos que ficou, diga-nos que acredita na importância da continuação deste projecto, aqui ou acolá, subscrevendo este texto. »


ALERTA À POPULAÇÃO



DEVIDO AO PROVÁVEL SURTO DE GRIPE DAS AVES, AVISA-SE A POPULAÇÃO DE QUE
SE DEVEM DEITAR O MAIS TARDE POSSÍVEL.

NUNCA, MAS NUNCA,... SE DEITEM COM AS GALINHAS !!!!!!

(recebido por emalho do Alex)

Arre-piar / Ex-cavacar

Corremos o risco de ter um professor de economia a cuspir gafanhotos duma ciência que não lhe serviu para nada quando era suposto servir.
Veio assim a grande verdade num voo de norte para sul sem fios nem frios nem freios. A autoria já se perde por causa dos ecos nas esquinas do palavrar e assim não se pode render e rendilhar outra homenagem que não esta que é dar aqui por reproduzida a piação:
«Os economistas mandam tanto na economia como os metereologistas no tempo que faz»
O pior é que há tanta gente a acreditar que se o Costa Alves fosse primeiro ministro não teríamos tido um ano de seca.

30 de outubro de 2005

Candid'acto... ou l'optimisme

o senhor engenheiro belmiro acha que o senhor professor cavaco será um bom presidente da república. parece que também acha que o senhor engenheiro sócrates é um bom primeiro ministro e que achou o mesmo de quase todos os outros que o antecederam. lá terá as suas razões.
fui conferir com a minha vizinha zulmira faísca que é mulher trabalhadora que já criou quatro filhos e estava quase a reformar-se... disse-me que não percebia nada de política mas tinha a certeza de que o que é bom para o belmiro não o era para ela e fechou-me a porta na cara.
juro que vou pensar no assunto.

25 de outubro de 2005

Semiótica do querçdzer...


Olha Jacques... melhor seria que viesses ver o meu país de marinheiros. Aprendias a atirar solilóquios sobre as ondas assim a saltar como se faz com as pedrinhas achatadas.
Não sei isto é uma indicação ou uma expressão. Pois talvez não lhe tenha posto Bedeutung suficiente para ser considerado como Ausdrücke als bedeutsame Zeichen.
Na palavra que ob-jecto ofereço a voz ao eco e vens tu agora falar-me da Nicht-Existenz palavra e mais não sei quê. Querçdzer...
Assim não dá Derrida.

24 de outubro de 2005

Crónica de um voo inacabado

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
morreria no meu peito,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Alexandre O'Neill

E contava-me ela que uma amiga e companheira de arribações plurais sucumbiu com o peso dos recados e logo se encheram as bancadas e os céus de relatos com transmissões directas muito para lá das incumbências.

Resultado: Agá 5 - Ene 1.

Mas acho que o árbito estava comprado.

23 de outubro de 2005

Hamlet sem ovos


Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
Manuel Alegre

Desde que me treinei a escrever sem vírgulas tenho vindo a ser acometido de alguns pensamentos profundamente respirados sobre os silvos que cruzam o ar.
Fiz uma sondagem à boca do google sobre as intenções ocultas dos presidentidatos e os resultados são claros.
Manuel Alegre - 2.000.000 referências em 0,06 segundos
Mário Soares - 863.000 referências em 0,03 segundos
Cavaco Silva - 296.000 referências em 0,05 segundos
Jerónimo Sousa- 102.000 referências em 0,11 segundos
Francisco Louçã- 78.000 referências em 0,09 segundos
Verifica-se assim uma clara vantagem da poesia sobre o sono post-prandial apesar de tanto um como outro serem instituições a preservar e também que o Francisco Louçã é claramente prejudicado por ter um til no nome e se um til pode ser útil neste caso é absolutamente inútil.
Posto isto acho que devo aconselhar o Manuel Alegre a aceitar o cargo de presidente da rês pública desde que isso não acarrete prejuízo à poesia.



20 de outubro de 2005

Buganvília em Folha

(ou como os comentários podem ser comensais)

O contador afina pelo piar modal das gaivotas.
Percorre mais os fraseados menores da frígia dúvida existencial ao desconcerto lócrio da excentricidade.
É culpado de tudo menos da coerência. O soluçar das melopeias é mais um esculpir no vazio que nunca se saberá modal ou tonal.
Sentemo-nos. As sereias vão fazer a sua apresentação.

Elocução

Quando o chefe fala somos todos ovídeos.

18 de outubro de 2005

O orvalho aljofra
os bambús verdes.
Dir-se-iam lágrimas.
O vento dormente
perpassa no loto
fazendo tombar
uma pétala rósea.

Devagar a noite
estende o seu manto.
Pelo meu caminho
passam pirilampos.
Das bandas do leste
vem o canto suave
de uma flauta distante.

Huang Wan-Chiung (1712-1763)
China

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville.

Verlaine


Quando se não dorme acaba-se sempre voando sobre qualquer coisa. E assim foi. Um voo sobre um grande amor ou um grande equívoco (porque a vida real é tão simplesmente aquilo que lhe quisermos chamar) num tapete de poesia.
É verdade que a poesia pode servir para tudo. Até para comer. E ser seta envenenada na aparência bucólica e contemplativa dum lago chinês no século XVIII... E há setas fatais. O curare mata porque paraliza os músculos que nos fazem respirar. Morre-se de asfixia... e sem se matar a saudade lembrada na música que chega sobre as águas...

Estaciono o meu tapete. A vida segue dentro de momentos.

14 de outubro de 2005

Aves: truz truz

Erguem-se barreiras nos céus às aladas arribações. Por causa da gripe. Dizem.
Sabemos de ciência escrita que se não puserem cá os ovos os filhos morrem à nascença.
As que não dão sinais de fome e pobreza seguem pela via verde.

10 de outubro de 2005

e lições?

Esta noite não se ouviram buzinões das caravanas automóveis a cantar vitorias.
Parece que foram substituídos por uma manifestação mais moderna e apropriada ao objecto do festejo e mais económica e mais ecológica. O povo será tão soberano e tão sábio quando vota como quando cospe para o chão e atira beatas pela janela do carro e leva os cães a cagar nos passeios.
Mas apitos dourados não se ouvem na minha praia.