Tu é que morreste, ó Nietzsche. E viva o Nietzsche a rir às gargalhadas no meio das tragédias gregas!
O Nietzsche enfiou os dedos nas chagas de cristo crucificado. Escarafunchou sadicamente e o gajo nem se mexeu. O cristo não estava vacinado e, sabe-se hoje, aquilo de pregos ferrugentos dá tétano e mata, mesmo sem os respectivos opistótonos que pela sua espectularidade são sempre uma boa atracção. Foi, não tanto por isso que muita gente julgou tratar-se de deus, mas porque umas pessoas importantes e donos da comunicação social da altura disseram que estava-se mesmo a ver e que o algodão não engana.
O Nietzsche escancarou a porta para o homem (obviamente, branco) matar o pai (também, obviamente, branco) todo poderoso e protector e salvador e atrever-se, enfim, a conceber-se livre da angústia associada à impossibilidade de pensamento autónomo.
Daí a espalhar que deus está morto ainda vai uma certa distância, mesmo que hoje esteja muito mitigada pelas super-mega autoestradas e cinco gês. Sempre são uns quantos terabites de metafísica!
Lembro-me de uma história que ouvi ou li, não sei a quem, nem quando, nem onde, e que falava de um homem a quem chamavam louco por andar de candeias acesas durante o dia. Dizia que procurava deus e toda a gente se ria. No entanto, entre os não crentes alguém disse: "não vemos deus nenhum; será que o perdemos?"; e, logo outro: "terá fugido como uma criança?"; "se calhar está para aí escondido...". Houve quem dissesse que poderia ter emigrado, embarcado nesses botes que atravessam o mediterrâneo... Depois fez-se um longo silêncio. Até que um gajo de cabelos e barbas já bastante brancas, envergando uma camisola da selecção muito debotada e com dois ou três buracos elevou a voz de modo a projectá-la bem e gritou: "deus, sabem onde está?; matámo-lo!, somos todos assassinos!". Posto isto, olhou à volta e estavam todos a dormir. Abriu uma lata de sardinhas e por ali ficou.