3 de janeiro de 2012

Foi na hora

The hour é uma série a passar na Fox Life que desenrola uma trama de jogos de poder, espionagem, sedução e jornalismo no interior da BBC dos anos 50. Talvez a passasse em branco, não fora os nossos serões conjuntos em que o comando da televisão só trabalha para as séries da Fox Life e um ou outro telejornal, mas passei a seguir esta interessante série e até já sei o dia em que dá. A minha rapariga também me aconselha a que dá a seguir, mas isso já é muito para mim e enquanto essa corria, fui procurar um poema do Cummings que o Freddie diz à Bel, do qual retive o último verso: nobody, not even the rain, has such small hands.
O Google deu-me o que queria e mais uma tradução brasileira e uma versão musicada e cantada por Zeca Baleiro. Da tradução que encontrei que não gostei particularmente e resolvi meter-me a um atrevimento que ainda não tinha ousado. Assim, com ajuda do Oxford Advanced Learner's Dictionary e de algumas ferramentas electrónicas fui-me a ele.



Imagem daqui


somewhere i have never travelled,gladly beyond

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands


(E. E. Cummings)


algures, aonde nunca fui, para além do prazer
de qualquer experiência, os teus olhos revelam o silêncio:
no teu mais frágil gesto há coisas que me prendem
ou que não consigo tocar por estarem demasiado perto

o teu mais leve olhar liberta-me facilmente
apesar de me ter fechado como os dedos,
tu abres-me sempre pétala a pétala tal como Primavera abre
(tocando hábil, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se o teu desejo é fechar-me, eu e
a minha vida fechar-nos-emos em beleza, de repente,
tal como o coração desta flor imagina
a neve a descer cuidadosa em toda a parte;

nada do que podemos perceber neste mundo iguala
o poder da tua intensa fragilidade: cuja textura
me obriga com a cor dos seus países,
a trocar a morte e a eternidade em cada respiração.

(não sei o que há em ti que fecha
e abre; apenas algo em mim compreende
que a voz dos teus olhos é mais profunda do que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas


Isto não é nada fácil e, além do mais, não sei assim tanto inglês para me armar em tradutor, ainda por cima de poesia. Há algumas ideias de difícil apreensão no original e não tenho nada a certeza de ter encontrado o equivalente em português. Ainda assim, gosto do resultado e sobretudo da aprendizagem que é esta experiência de traduzir poesia.

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