13 de julho de 2010

Finalmente, a grande obra


Compare-se com o que consta de alguns planos de pormenor (propostas) patentes no site da CMF

Isto merecia uma inauguração com foguetes e banda a tocar e justificava o regresso de Cavaco ao local (onde viria pela primeira vez depois do último 10 de Junho).
Foi esta obra que motivou um comunicado da Câmara, e comentários incendiários em alguns blogs contra os "privilégios" dos moradores da Horta das Figuras. E tudo isto porque, uns quantos cidadãos farenses, entre os quais, também, meia dúzia de residentes nesta zona da cidade, acham que o que se está a preparar para esta entrada de Faro é aumentar a carga comercial, densificar o tráfego automóvel e desfigurar uma área onde existe um importante equipamento cultural, o Teatro Municipal e mais três ou quatro edifícios classificados. E porque estes cidadãos se acham no direito de discutir os destinos da cidade em que vivem, têm voz e capacidade de se fazerem ouvir, o que faz a Câmara e o seu presidente? Em vez de darem a cara pelos seus projectos fogem à discussão pública com o de que o assunto está nos tribunais (é parcialmente verdade, mas o que está na justiça não constitui a substância da discussão e tem a ver com decisões anteriores a esta Câmara), lança a ideia absurda de que os moradores desta zona querem um condomínio fechado e um parque verde para seu usufruto. Com isso convocam ódios antigos relacionados com a contestação da decisão da Câmara/Assembleia Municipal de desanexação de uma parcela de terreno do domínio público municipal para o domínio privado com o fim de o ceder ao SCF para aí instalar um posto de combustíveis. Criado o "bode expiatório" Horta das Figuras e anunciando acção imediata sobre a casta de "ricos" fica o caminho aberto para mais um atentado à racionalidade urbanística, à estética e funcionalidade de uma entrada (a principal) da cidade e sabe-se lá ( a suspeita é mais do que legítima) a que negócios pouco transparentes.
Estes procedimentos até poderão ser legais (do que duvido), mas abrem duas grandes feridas no estado de direito, na democracia e na cidadania:
Por um lado, há claramente uma apropriação daquilo que foi consig nado como património público para o colocar nas mãos e ao serviço de interesses privados, por outro, não promover uma discussão aberta sobre uma matéria tão importante para a cidade atenta contra o viver e o conviver cidadão e contra um exercício básico da participação democrática.

10 de julho de 2010

Obrigado, Macário!

Depois de ler aqui e aqui a referência ao comunicado da Câmara Municipal de Faro sobre uma importante medida para a cidade e, porque o Contador é um espaço aberto à participação cidadã, publico aqui uma reacção de um feliz habitante da Horta das Figuras, recebido por e-mail:

Obrigado Macário
A Câmara Municipal de Faro veio informar os munícipes que a partir da próxima sexta feira, dia 8 de Julho irá finalmente libertar os moradores da Horta das Figuras do seu enclausuramento urbano, uma espécie de condomínio concentracionário a que têm sido obrigados pelas anteriores administrações autárquicas. Acontece que apesar de a próxima sexta feira dia 8 de Julho só se verificar daqui a um ano, registamos com agrado que a maldita vedação de rede ali colocada e mantida pelos torcionários de anteriores vereações, já tinha sido retirada há cerca de dois meses e hoje já se encontrava derrubado o intransponível lancil que impedia a circulação entre a cosmopolita rotunda do fórum e a ostracizada Horta das Figuras.
Esta medida, para além de descongestionar a entrada de Faro, a Nacional 125 e, quiçá, mesmo a Via do Infante vem abrir novas perspectivas ao desenvolvimento do bairro. Inspirados noutras experiências como o projecto “Sabura” da Cova da Moura, os moradores já pensam em lançar o projecto “Na m’xaringues”, projecto baseado no empreendedorismo turístico com o qual pretendem dar a conhecer aos visitantes os amplos espaços verdes que cobrem os passeios (agora completamente secos de acordo com a época estival), os cuidados com o pavimento com intervenções artísticas pós-modernas a fazer lembrar vagamente a paisagem lunar, o eficiente e cómodo sistema de recolha de resíduos sólidos, tudo isto a par de uma exposição permanente dos recibos de IMI, taxas variadas e outras habilidades municipais. Tudo isto tem estado guardado há anos apenas para gozo dos privilegiados moradores o que tem gerado uma legítima inveja de todos os outros munícipes e é, na verdade, uma grande injustiça para os poderes edílicos.
Mas não se ficam por aqui os benefícios desta medida em boa hora antecipada em um ano e um dia. Os moradores da Horta das Figuras podem agora ir a pé fazer compras ao Jumbo e trazer o carrinho do supermercado até à porta de casa. Beneficia o Jumbo e beneficiam os moradores. Aliás o Jumbo, num gesto de agradecimento ao corajoso Presidente da edilidade vai erguer uma estátua em sua homenagem, a colocar junto dos bonecos que deitam água na praça do Fórum, em que sua excelência se apresenta vestido de Manneken-pis e também deita água com fartura.
E aqueles que acusam de desNorte e exagero o comunicado da Câmara quando refere que
o espaço público é de todos e nesse sentido, importa zelar pela circulação livre, sem constrangimentos ou embaraços de qualquer natureza, o que manifestamente não estava assegurado até esta intervenção’ um dia terão que se render às evidências, porque há coisas que ficam para a História e esta não tem tempo a perder com fracotes e é nas grandes obras que se vêem os grandes homens. Um dia Faro iluminará em leds multicolores uma rotunda com a lapidar e sábia divisa: O espaço público é de todos e nesse sentido.

Faro, 9 de Julho de 2010, sexta-feira
Morador da Horta das Figuras recém-libertado


Na verdade, nem sei como não se lembraram disto há mais tempo. Um verdadeiro ovo de Colombo, de Cristóvão Colombo. Tanta congestão rodoviária na entrada da cidade e a solução tão fácil afinal.

6 de julho de 2010

O meu pai lê o Mirante

e diz que é um semanário de "grande circulação" em todo o Ribatejo (região que parece que já não existe) maior que os jornais nacionais que traz notícias de todas as terras e descobre muitas carecas autárquicas. Além disso não dispensa a leitura da "Voz" la da terra, um mensário da paróquia de que é assinante há mais de 40 anos.
E foi a folhear o Mirante que que me chamou a atenção do título Voto de pesar pela morte de José Saramago chumbado na Chamusca. Achei curioso porque me lembrava que a câmara deveria ser, no mínimo, do PS ou da CDU e fui ler. A proposta feita pelo único eleito do BE para a AM teve os votos contra (7) do PS e do PSD e (pasme-se!) 12 abstenções da CDU e mais 3 dos outros.
De repente reeditei na minha cabeça as inúmeras discussões e confrontos de há trinta e tal anos com a malta do PC para quem as propostas dos "esquerdistas" eram sempre para deitar abaixo, isolá-los como se tivessem peste e, se necessário dar-lhes um enxerto de porrada.

As idas à terra e à família são sempre uma viagem estranha. É bom vê-los, visitar os sítios da infância (e deixar que me conheças também por esses sítios), mas há sempre qualquer coisa de regressivo neste reencontro. Parece que estamos sempre a ser o que nos lembramos de ter sido numa espécie de ajustamento involuntário aquele modo particular de existir a que já só nos sentimos ligados pelo passado.

Ao fim de cerca de trinta anos sem nos vermos, estive com o meu amigo Rui. Foi meu companheiro de adolescência, cúmplice de aventuras e namoricos dos bailes de fora da terra e camarada "esquerdista". Interlocutor das mais variadas discussões em múltiplos desacordos sobre tudo e mais alguma coisa, mantivémo-nos amigos durante muitos anos.
Deixámos de ter contacto sem haver uma razão explícita, mas eu sempre pensei que os motivos talvez estivessem relacionados c om o facto de a minha deriva freak da altura e o seu conservadorismo essencial já não terem muita pachorra para se aturarem.