22 de março de 2010

Água (se)benta

Um documento secreto do Vaticano, elaborado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, o actual Papa, terá sido utilizado durante 20 anos para instruir os bispos católicos sobre a melhor forma de ocultar e evitar acusações judiciais em caso de crimes sexuais contra crianças.(...) o documento de 39 páginas, escrito em latim em 1962 e distribuído pelos bispos católicos de todo o mundo, impõe um pacto de silêncio entre a vítima menor, o padre que é acusado do crime e quaisquer testemunhas ou pessoas a par do ocorrido. Quem quebrasse esse pacto seria excomungado pela Igreja Católica.

Tem sido notícia o pedido de desculpa do papa Ratzinger às vítimas de abusos sexuais por parte de padres católicos. Para muita gente isso constitui uma boa acção e um sinal de que este papa provoca uma mudança com o que tem sido a prática da hierarquia católica face à pedofilia e abusos sexuais a que têm sido sujeitas inúmeras crianças colocadas à guarda de instituições dessa igreja ou à confiança dos padres. Contudo, o que se sabe hoje dá razões para pensar que estamos em presença de mais uma tentativa de branqueamento do crime continuado de um grande número de padres, como ainda, e talvez isso seja o mais relevante, da cumplicidade e protecção da organização ao mais alto nível, ou seja, o próprio Ratzinger.
Os abusos sexuais de menores não são, infelizmente, uma prática exclusiva da igreja católica. É verdade que noutro tipo de organizações, do Estado incluídas, tem acontecido e tem movido a cumplicidade de muitos responsáveis na sua ocultação e obstrução à justiça. O que aconteceu na Casa Pia é um exemplo em cujo julgamento ficam de fora todos os responsáveis que durante décadas, tendo conhecimento se calaram, com o objectivo de proteger a instituição. O mesmo faz a igreja católica. Em todas as situações, isso não diminui o crime. Acrescenta-o.
Acho que no caso da Casa Pia, deviam estar em julgamento todos os responsáveis que no exercício dos seus mandatos silenciaram os crimes e no caso da igreja católica, o mesmo.
O estado do Vaticano continua a ocultar padres americanos acusados de crimes sexuais, numa espécie de asilo político, que os impede de serem julgados nos Estados Unidos.
E o papa continua a atirar água benta para os olhos do mundo.

18 de março de 2010

"Então porque não voas?...

... Então tu olhaste, depois sorriste..."
E eu a misturar canções do Sérgio, com memórias de noites passadas e depois chego e leio-te e a tua escrita também me parece uma canção. A várias vozes. Polifonia sem fronteiras quando se é fronteira aberta para todos os pólos.
Um passeio de bicicleta... À beira ria. Que bom se ria.

O Sérgio já não canta como cantava, mas continua a surprender na forma como se liga a músicos jovens e veste de novas linguagens velhas cantigas. Ouvir e cantar hoje que "só há liberdade a sério quando houver: a paz, o pão, habitação, saúde, educação" também ganha novos sentidos. Não é só nostalgia e revivalismo.

Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
Espalhem a notícia do que é quente
e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse

10 de março de 2010

Coisas da escola

Há dois meses vim (regressei) para a minha escola e à vida docente de que estive afastado tempo demais. Utilizo este período de dispensa de actividade lectiva para integração, actualização e socialização com os diferentes actores desta cena.
Tenho partilhado com um colega um gabinete acanhado, com uma janela onde não bate o sol que dá para um páteo relvado com alguns choupos limitado pela parede do edifício do auditório que trava a vista logo ali.
Hoje mudei para outro gabinete, virado para o sol e para a água.



Mesmo com longos períodos de contemplação, a tarde foi mais produtiva que muitos dias inteiros. Se calhar foi porque fiquei até mais tarde embalado pelo cair do sol.




8 de março de 2010

Mulher


Para mim, são todos os dias.

2 de março de 2010

Eu até sei o verdadeiro nome do Miguel Torga

Se quiseres eu digo-te, ó PPM e amanhã fazes mais uma manchete na primeira página.
O jornali põe hoje na primeira página uma grande revelação (já me fugia a verve para a sarjeta onde anda muito jornalista a beber e ia escrever refelação, porque a coisa parece mesmo encomendada e o "jornalista" não se fez rogado) mercê de uma laboriosa investigação que o caso não é para menos. Um autor de blogue que frequento diariamente há alguns anos que a Judiciária e a Interpol já tinham desistido de encontrar é finalmente descoberto. Boa!
Em resumo, este Paulo do i veio dizer na primeira página do jornal (é jornal?) uma coisa que uma data de gente sabe e que não interessa à maioria, é despropositada porque foi notícia há quase dois anos e ainda por cima erra nos factos, lança insinuações obscuras e apesar de ter contactado o visado, não usa o contraditório. O jornali acolhe um verme destes e pode ser que o papel que vendeu hoje seja pago com juros nas futuras tiragens. A não ser que passe a revelar em cada dia quem esteve por detrás dos heterónimos de Fernando Pessoa, porque parece que ainda há uns quantos portugueses que não sabem.
A mim só me apetece gozar com esta canalhice, mas o assunto é sério porque surge dentro de um caldo de bufaria pidesca de que poucos na comunicação social escapam. Acham que vale tudo para quem tem o poder de colocar todo o tipo de informação na rua. Estamos na devassa completa ao serviço de um clima de golpe de estado. E ainda reclamam que há atropelos à liberdade de expressão! Isto não tem nada a ver com liberdade de expressão é pura infâmia, banditismo e falta de um pingo de vergonha na cara.
O Jumento é um pseudómino de alguém que optou por não expor o seu verdadeiro nome. Muita gente o tem feito e continua a fazer, não porque tenham medo de dar a cara ou se queiram esconder atrás de um anonimato para fazer o que nunca fariam de cara descoberta. O Jumento é claramente um caso destes e conseguiu um lugar de respeito na blogosfera portuguesa, o que não significa que não erre (às vezes o português não é do melhor e comete erros imperdoáveis), mas também já errar e depois assumir o erro e repor a verdade. Mesmo que não esteja de acordo com alguma das suas posições, aplaudo sem hesitações a coerência, o espírito crítico, a independência nos juízos que faz, a honestidade intelectual, características que gostaria de ver nos jornais escritos e falados que ainda por cima pago para ler e ouvir.

Acho verdadeiramente que ao i sai o tiro pela culatra e espero que "jornalistas" destes acabem a lavar escadas (exteriores, porque ninguém lhes confiará a chave para entrar em casa) e jornais assim que por opção (ou sobrevivência, sei lá...) passam à categoria de pasquim, nem para embrulhar castanhas. O Jumento nem sequer precisa dessa publicidade. Deve ser mais lido que o i.


Aqui só para nós PPM, já descobriste o verdadeiro nome do autor da Pedra Filosofal?
Se precisares de ajuda, já sabes...