As eleições para o parlamento europeu poderão não reforçar a influência de Portugal em Bruxelas e Estrasburgo ou em Quelque-Chose-sur-Mer, mas já trouxeram um enriquecimento súbito (ai, o enriquecimento súbito!...) se não ao português, pelo menos ao politiquês de Portugal.
O candidato que já ganhou foi sem dúvida o Vital. E não me refiro apenas ao uso, com toda a propriedade, aliás, do termo "roubalheira", cujo significado transcende o normal - e parece que bem tolerado - roubo, mas faço. "Roubalheira" é uma verdadeira especialidade portuguesa e nem sei se há equivalente noutras línguas (assim como "saudade"). "Roubalheira" não é roubo, nem furto, nem apropriação do alheio porque isso é crime e, embora também se faça muito, procura-se que ninguém saiba. "Roubalheira" é roubar às claras, com manifesto sentido de impunidade. Num sentido mais popular, será roubar com "as costas quentes" ou ainda, roubar sem "ficar encavacado" que o mesmo é dizer, sem pinga de vergonha.
Mas este enriquecimento súbito (ai, outra vez o enriquecimento súbito...) não se fica por aqui, assim "chirleamente" ou "pedestremente". O verdadeiro euromilhões, o jé-que-pote de toda a campanha, o tempero que faltava ao charco de água chirla do discurso político é mesmo o uso do termo "tranquibérnias".
Outros países, estados membros da União terão as suas traquibérnias, mas duvido que até aqui algum deputado europeu as soubesse designar correctamente.
Acertastes-lhes no nó vital. Quase dez, a bem dizer...
tranquibérnia
s. f.
1. Mixórdia feita aos líquidos de venda para lhes aumentar a quantidade.
2. Negócio de má-fé.
3. Trapalhada; trampolinice; falcatrua; fraude; burla.
31 de maio de 2009
18 de maio de 2009
Bendito Mário!
Morrer é nada. Uma basfémia diletante de um procuro e não te encontro. Frente ao mar. Sempre frente ao mar a escrever estratégias na areia burocrática. Uma mulher despida no escuro ou um vice versa pequeno-burguês.
Aprenderei a dizer-te bem. O melhor que puder.
Mário Benedetti, poeta uruguaio "desexilado", faleceu ontem em Montevideo
Si Dios fuera una mujer
¿Y si Dios fuera mujer?
pregunta Juan sin inmutarse,
vaya, vaya si Dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas.
Tal vez nos acercáramos a su divina desnudez
para besar sus pies no de bronce,
su pubis no de piedra,
sus pechos no de mármol,
sus labios no de yeso.
Si Dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos SIDA o pánico
nos contagiaría su inmortalidad.
Si Dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos,
sino que nos aguardaría en el zaguán del infierno,
con sus brazos no cerrados,
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles.
Ay Dios mío, Dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería,
qué venturosa, espléndida, imposible,
prodigiosa blasfemia.
Aprenderei a dizer-te bem. O melhor que puder.
Mário Benedetti, poeta uruguaio "desexilado", faleceu ontem em Montevideo
Si Dios fuera una mujer
¿y si Dios fuera una mujer?
-Juan Gelman
-Juan Gelman
¿Y si Dios fuera mujer?
pregunta Juan sin inmutarse,
vaya, vaya si Dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas.
Tal vez nos acercáramos a su divina desnudez
para besar sus pies no de bronce,
su pubis no de piedra,
sus pechos no de mármol,
sus labios no de yeso.
Si Dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos SIDA o pánico
nos contagiaría su inmortalidad.
Si Dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos,
sino que nos aguardaría en el zaguán del infierno,
con sus brazos no cerrados,
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles.
Ay Dios mío, Dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería,
qué venturosa, espléndida, imposible,
prodigiosa blasfemia.
17 de maio de 2009
Brincar café
A senhora de Fátima encontrou-se com o Cristo Rei. Foram fazer pastorinhos.
O Cristiano Ronaldo em cima de um andor também enchia o Terreiro do Paço.
O Cristiano Ronaldo em cima de um andor também enchia o Terreiro do Paço.
13 de maio de 2009
Os meninos (escravos) da bola
Foto captada no que parece ser o site oficial da família Gonçalves
Acabei de ver na RTP1 uma reportagem perturbadora. Imagino que muita gente terá visto e entre eles, especialistas de saúde mental infantil, juristas, magistrados, membros das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens e, no meu imaginar, amanhã alguma destas pessoas terá abordado estes pais no sentido de salvar estes gémeos de sete anos e, eventualmente, a mãe.
Há momentos impressionantes nesta reportagem, e dois que persistem a atormentar-me a memória. À pergunta sobre o que gostava de fazer para além do futebol, um dos miúdos procura aflito com o olhar no vazio, no chão, uma resposta que não tem. Ainda pede um bocadinho para pensar e, depois de um penoso silêncio acaba por dizer: jogar à baliza, fazer fintas, marcar cantos... O outro momento é o olhar da mãe no seu silêncio obediente. É um olhar inerte. Tanto pode revelar uma angústia recalcada todos os dias como a distracção de um pensamento fútil, do género se calhar devia ter escolhido outra roupa para aparecer na televisão... ou o meu cabelo estará bem?
Um pai que se traveste de mister e manda os filhos encher quando falham um lance ou perdem o domínio da bola, precisa, no mínimo, que alguém com autoridade lhe diga que o que está a fazer pode considerar-se como sevícias e maus tratos e negação do pleno desenvolvimento a que todas as crianças têm direito. O que se passa aqui não difere muito do trabalho infantil de Padre padrone (1977) num remake dos tempos modernos.
Há psicopatas que disfarçam melhor.
12 de maio de 2009
Pressões de ar (*)
Afinal, parece que os magistrados são pressionáveis. E o mais curioso é serem eles próprios a dizê-lo. Não sei bem de que pressão se trata, se é atmosférica e anticiclónica ou se, sendo baixa é como a dos pneus. Agora temos o caso (chamado) Freeport na pneumologia depois de ter passado pela terapia da fala por causa daquele "t" que às vezes emudece.
Agora é oficial. Houve mesmo pressões. Ouvi nas notícias. Não sei bem como foi (o meu acesso às fugas de informação é muito limitado, apesar do Meo me oferecer o canal do Benfica em sinal aberto), mas arrisco um cenário bastante plausível.
Para aí a três quartos do almoço, naquele momento em que a segunda garrafa de Pera Manca se encontra naquela ambiguidade jurídica de estar meia cheia e meia vazia, o magistrado pressionador diz assim para o magistrado pressionado:
- sabes como isto está, não é?... a crise, e tal.... ouvi dizer que há contratos que não vão ser renovados, sabes como é?...
- já percebi, pá... é para arquivar aquilo, não é?
Deve ter sido assim. Não estou a ver como poderia ter sido de outra maneira. A não ser... ná, não acredito...
- ou arquivas aquela trampa, ou fica toda a gente a saber que a Cláudia Cardinali do parque eduardo VII és tu.
- ok. ok. manda lá vir outra garrafa e não se fala mais nisso...
Talvez até nem tenha sido nenhuma destas pressões, mas elas são impressionantes.
Agora o que eu acho é que devia haver uma grande pressão, sim senhor, para que a justiça funcione e seja célere. Se olharmos para os casos mais emblemáticos dos últimos anos, vemos que é uma desgraça total de embrulhadas, erros processuais, fugas de informação cirúrgicas... Tudo isto na completa impunidade. Ninguém avalia estes senhores.
Agoram brincam às pressões com o seu estatuto de impressionáveis.
Impressionante!
(*)Pressões de ar: são pequenas armas de recreio, utilizadas para tiro ao alvo ou para caçar pássaros. Eram também muito comuns nas feiras, nas famosas "barracas de tiro", onde por vinte cinco tostões se podia, com cinco tiros, tentar acertar num alvo que abria a porta de uma caixa donde saltava um boneco preso por um elástico. O prémio era era uma ginginha falsificada, mas não seria isso que levava lá os homens e os rapazes da minha idade. Eram as meninas de lábios pintados de vermelho que não se cansavam de lançar o famoso (na época) pregão "ó simpático, vai um tirinho?"
Agora é oficial. Houve mesmo pressões. Ouvi nas notícias. Não sei bem como foi (o meu acesso às fugas de informação é muito limitado, apesar do Meo me oferecer o canal do Benfica em sinal aberto), mas arrisco um cenário bastante plausível.
Para aí a três quartos do almoço, naquele momento em que a segunda garrafa de Pera Manca se encontra naquela ambiguidade jurídica de estar meia cheia e meia vazia, o magistrado pressionador diz assim para o magistrado pressionado:
- sabes como isto está, não é?... a crise, e tal.... ouvi dizer que há contratos que não vão ser renovados, sabes como é?...
- já percebi, pá... é para arquivar aquilo, não é?
Deve ter sido assim. Não estou a ver como poderia ter sido de outra maneira. A não ser... ná, não acredito...
- ou arquivas aquela trampa, ou fica toda a gente a saber que a Cláudia Cardinali do parque eduardo VII és tu.
- ok. ok. manda lá vir outra garrafa e não se fala mais nisso...
Talvez até nem tenha sido nenhuma destas pressões, mas elas são impressionantes.
Agora o que eu acho é que devia haver uma grande pressão, sim senhor, para que a justiça funcione e seja célere. Se olharmos para os casos mais emblemáticos dos últimos anos, vemos que é uma desgraça total de embrulhadas, erros processuais, fugas de informação cirúrgicas... Tudo isto na completa impunidade. Ninguém avalia estes senhores.
Agoram brincam às pressões com o seu estatuto de impressionáveis.
Impressionante!
(*)Pressões de ar: são pequenas armas de recreio, utilizadas para tiro ao alvo ou para caçar pássaros. Eram também muito comuns nas feiras, nas famosas "barracas de tiro", onde por vinte cinco tostões se podia, com cinco tiros, tentar acertar num alvo que abria a porta de uma caixa donde saltava um boneco preso por um elástico. O prémio era era uma ginginha falsificada, mas não seria isso que levava lá os homens e os rapazes da minha idade. Eram as meninas de lábios pintados de vermelho que não se cansavam de lançar o famoso (na época) pregão "ó simpático, vai um tirinho?"
6 de maio de 2009
maio, maduro maio
Terras de Trás-os-Montes: quilómetros de prazer (*).
As viagens são sempre descobertas. Talvez porque sejam sobretudo viagens por dentro de nós.
Encontramo-nos com gente tão igual e tão diferente de outra gente e as conversas misturam-se em tempos diferentes da nossa vida.
Foi bom sentir o olhar no mesmo sentido. Por cima e para lá de todas as serranias. E encontrá-lo lá naquele sítio de insondável bruma a que chamamos infinito.
(*) Off posting:
Eu sei. Este slogan já foi usado e, os mais velhos lembrar-se-ão, por uma marca de cigarros. A publicidade procurava então associar o acto de fumar à condução de um automóvel, dois traços inegáveis de status, classe e distinção que ainda perduram, às vezes criminosamente. Continuo a ver muita gente que conduz e fuma e joga a beata à estrada. Uns quilómetros à frente, poderão ouvir na rádio a notícia de mais um fogo florestal, "provavelmente de origem criminosa", carregar no acelerador e suspirar de alívio: ainda bem que não é na nossa casa...
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