27 de fevereiro de 2008

Viagens





Havia um sonho antigo à espera e assim vieste e depois abriste a porta e voámos juntos.
Obrigado

25 de fevereiro de 2008

Tanto mar para escrever


Dizem que na Preguiça não cai uma gota de chuva vai para dois anos. Por toda a ilha, os leitos das ribeiras são habitados por pedras secas e trilhos de cabras. As ubíquas acácias dançam dengosas, braços estendidos como quem tenta agarrar o vento. Os penedos parecem ecoar permanentemente o balanço de uma morna. Quente. E triste quanto baste.
Eu que já ouvi muita música, escutei-a, julgo que pela primeira vez, trauteada baixinho pelo Carlos, na Ribeira Prata, a caminho da "Rotcha 'Scribida". Subíamos por um trilho ao lado de um trapiche, onde também se destilava grogue. Voltei a ouvi-la dois dias depois na tocatina da 'Stancha. Continua-me no ouvido.
Fui procurá-la aqui pelos tubos das redes e saiu-me muito melhor que a encomenda. São quase sete minutos de puro sonho, a maior parte deles capazes de provocar chuva no Monte Gordo e Caleijão.

Vale a pena ouvir esta morna. Cesária e Paulino Vieira em Paris, 1995.

7 de fevereiro de 2008

Aprender a contar

Uma tangente à bem Querença capaz de Salir por aí a plantar amendoeiras em flor trazia desejos nos pés para a geografia da dança.
Afinal, era carnaval.


Vam ao baile vem ao baile
Pelo braço ou pelo nariz
Vem ao baile vem ao baile
E vais ver como te ris

Deixa a tristeza roer
As unhas de desespero
Deixa a verdade e o erro
Deixa tudo vem beber

Vem ao baile das palavras
Que se beijam desenlaçam
Palavras que ficam passam
Como a chuva nas vidraças

Vem ao baile, oh tens que vir
E perder-te nos espelhos
Há outros muito mais velhos
Que ainda sabem sorrir

Vem ao baile da loucura
Vem desfazer-te do corpo
E quando caires de borco
A tua alma é mais pura

Vem ao baile vem ao baile
Pelo chao ou pelo ar
Vem ao baile baile baile
E vais ver o que é bailar


Alexandre O'Neill