Vão a caminho dos oitenta e repetem os mesmos gestos rurais todos os anos.
Repetem também os discursos com umas pequenas alterações, como se fosse uma matriz de dados que se preenche todos os anos: daqui do Valdaque já tirámos três mil e quinhentos quilos de uvas este ano; o Casalinho está um pouco melhor, mas tem menos grau, é da rega; na Guarita estragou-se muito, foram as geadas...
De muitas décadas de volta das vinhas sobra-lhes a angústia de não saber o que vai acontecer quando não conseguirem cuidar delas. Sei que para eles ver as terras por amanhar os fará morrer mais depressa. O rendimento que dali tiram não paga o trabalho e isso torna a exploração agrícola praticamente inviável. Isso é o que pensará qualquer agricultor, ou engenheiro ou qualquer pessoa. Mas não estamos a falar de uma exploração agrícola; é um modo de vida. Vivem do trabalho, do amor à terra e não do seu rendimento. Subsistem com uma parca reforma donde ainda tiram para comprar uns adubos ou gasóleo para o tractor.
Foi daqui que nasci e me criei. Comecei menino a fazer vindimas de sol a sol, um dia inteiro de mãos pegajosas do mosto, dores nas costas e algumas picadas de abelhas. Devia lá estar agora para o rancho ser maior.
5 de setembro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Devemos seguir as nossas vontades, a não ser que sejam mesmo impossíveis.
~CC~
Enviar um comentário