18 de junho de 2008

Fazer de conta


Tinha a cabeça cheia de números no deve e haver das quadrículas que ameaçam determinar o destino de pessoas. O meu fantasma de estimação que passa a sua eterna vida a sonhar com a libertação dos povos oprimidos e revoluções socialistas antes do pequeno almoço entretém-se a espetar alfinetes num vodu que tem a minha cara, com óculos e tudo. Cada vez que mudo um número de uma célula para outra, e ainda antes que a fórmula do excel reformule os resultados, lá vem alfinetada. Até parece que lhe oiço o riso sarcático: toma que é para não alinhares com estas políticas neoliberais!


Já não aguentava. Fiz de conta que aquelas contas não me interessavam e fui dar uma volta até à baixa a pensar que estaria muito mais feliz do outro lado do espelho. Onde as coisas são iguais ao lado de cá mas está tudo ao contrário.

Entrei na Europa-América e comprei.

É para oferecer às princesas.


Estás a ouvir a neve a bater nos vidros da janela, Kitty? Como é agradável e suave o som que faz! É como se alguém lá fora estivesse a encher a janela toda de beijos.

Lewis Carroll. Alice do outro lado do espelho.

1 comentário:

CCF disse...

É complexo, é contraditório, é difícil, não vale a pena fazer de conta que é simples, encher a boca de grandes dogmas. Valem-nos as gotas beijos na vidraça, essas serão sempre livres, puras, só precisamos de as encontrar para um pouco de felicidade.