28 de março de 2008

Para não dizerem que não falei das flores


Imagem do Barlavento
As flores eram jacintos assim chamados a um ramo de rosas à espera de um casal numa loja de bolos e outro à beira mar à espera do outro casal que tinha um ramo de rosas à espera a que os cinco narradores insistiam em chamar jacintos.
À saída o Sérgio perguntava-me o que tinha eu retirado daquilo. Eu não sabia o que responder, mas levado pelo mesmo espírito da peça, saiu-me mais ou menos o que retiro de um quadro da Kandinsky, mas pronto, nem sei se era isto que eu achava.
Agora with flowers di-lo-ei assim uma espécie de cruzamento híbrido entre minimal repetitiva e pop art sobre o antitexto de uma short story. O texto em português e inglês até podia ser em chinês, desde que bem dito como foi, porque as palavras são música para sucessivas coreografias e movimentos cenográficos e de luz de grande beleza.
Depois, para acabar nada melhor que uma cena de free huggs capaz de contaminar o público.
Isto é para não dizerem que...

27 de março de 2008

AmoTeAtro

Descobri o teatro na infância a brincar no quintal da minha casa. Fiquei muitas vezes sozinho em casa durante as manhãs enquanto os meus pais se levantavam cedo para ir ao campo apanhar ou milho ou as favas ou a aveia que eram géneros que tinham que ser carregados antes do sol nascer para que não caíssem os grãos pelo caminho antes da debulha. Eu ficava a dormir e levantava-me e comia e brincava por ali apenas sob a vigilância de uma prima vizinha que escutava os meus passos e gestos do outro lado do muro que separava os dois páteos. Os brinquedos e outros entreténs eram poucos e muito rudimentares e assim sobrava muito para a invenção e a imaginação. Nunca me senti sozinho. Inventava personagens ou simplesmente reproduzia cenas que presenciava. Outras vezes aprumava um pau no chão com uma batata espetada a fazer de microfone e cantava as cantigas que ouvia ou inventava. Tudo isto para um generoso público constituído por um monte de abóboras ou por meia dúzia de vasos de flores (adorava aquela hortência enorme, junto à parede), para além da vizinha-prima que tinha uma monitorização permanente do meu estar sem sair de casa.
Mais tarde, na adolescência voltei a descobrir o teatro e aí era já amor e amador e combate. Valeu uma advertência do comandante da GNR, uma ficha na PIDE, mas o que ficou mesmo foi a experiência de um viver colectivo da construção de uma forma de expressão artística e de dizer algumas coisas que não podiam ser ditas de outra forma.
Depois seguiu-se uma experiência semiprofissional e uma outra aprendizagem. Contactei com pessoas que sabiam muito e tinham uma formação e experiência diferente. Talvez não tenha aprendido o suficiente ou achado em mim bastante talento e deixei que vida me fizesse seguir outro rumo. Mas o "bichinho", como todos dizem, ficou cá e sempre que vou ao teatro passeio-me pelo palco entre os actores, aproprio-me das "deixas" e antecipo as "falas" na minha cabeça.

Hoje, dia mundial do Teatro, vou dizê-lo com flores:


4 de março de 2008

Anni Versarium

O Contador de Gaivotas faz hoje quatro anos.
Foi criado, sem querer pelo Gregório Salvaterra porque embora seja um ser de existência duvidosa tem a mania de espreitar todas as portas e seguir por todos os caminhos especialmente aqueles que não têm placa indicadora. Assim do tipo "Algures: tantos km".
Um dia disse-me: Isto aqui é tudo a fingir Finjo que sou poeta ou político ou comediante e às vezes até finjo que sou eu próprio com os meus sentimentos e as minhas paixões Isto de fingir dá um trabalho do caraças Fica aqui e toma conta do contador Eu vou com as aves
E terminou mais ou menos assim a fingir que era o Eugénio.