Lembro-me da praia da Nazaré dos meus tempos de menino muitos anos antes de alguém sonhar com telemóveis e comunicações por satélite. Os pescadores entravam nos botes que os levavam às traineiras e partiam para a faina de dias ou semanas. As mulheres ficavam sentadas na areia a entoar um murmúrio que eu não entendia (alguém me explicou que eram rezas para que nada acontecesse aos seus homens), até a traineira se sumir no horizonte. Depois, iam às suas vidas, de canastas viradas para baixo à espera do próximo quinhão. Mas se havia notícia de temporal no mar, lá voltavam elas como um bando que pousava na areia e retomavam as ladaínhas sentadas nas suas sete saias de esperas.
Desta vez custou menos vê-la partir. Custou mais ficar em terra a mastigar a dor da falta de coragem de enfrentar as outras dores e todos os riscos que afinal se correm mesmo ficando.
Foi bom ouvir-lhe a voz outra vez do lado de lá do equador. E trazia um sorriso em forma de estrela. Do mar. Do Índico.